sexta-feira, 26 de agosto de 2011

DILMA CANSOU DE FAXINA



Dilma mudou de ideia. Não quer mais saber de faxina. Disse, quarta-feira passada, que vai deixar a faxina ética em segundo plano. Isso, segundo todas as fontes confiáveis, mas acredito que essas fontes interpretaram mal o pensamento da nossa presidenta com “a”. Como se sabe, Dilma fala o dilmês, uma língua própria, às vezes não devidamente interpretada pelos meros mortais que não pertencem à turma do MEC que tanto deseja destruir a língua portuguesa.

     Ou reconstruí-la de acordo com a inteligência superna dos votantes do partido do governo. Há quem afirme que a novilíngua que está sendo proposta e imposta pelos pós-doutores do MEC – para que os votantes acreditem que aquela máquina de votar é igual a uma urna eleitoral de verdade e que falar portugueis é o mesmo que falar português – é inspirado no português camoniano – ou camonesco, conforme ele diria – do Lula .

     Observem que agora, depois de deixar o governo, Lula transformou-se em um doutor. Diversas universidades amigas deram a ele o título de Doutor Honoris Causa – e ele acreditou. Conforme as informações confidenciais que tenho (quem dá mais?), o MEC teria se baseado no camonesco falar do doutor Lula, agora aperfeiçoado para o dilmês dílmico para lançar a língua do “nóis temo i nóis tamo” como inculta, mas bela.

     Língua que está sendo aperfeiçoada gradualmente pela futura doutora Dilma. Sempre que ela fala todos pedem intérpretes e, às vezes, os jornalistas a interpretam mal. Assim, quando ela supostamente disse que deixaria a faxina ética em segundo plano, penso que queria dizer que estava deixando a faxina e a ética em segundo plano. Ficaria mais adequado não só ao discurso dilmês como à realidade brasileira.

     No mesmo dia, ela disse que o Brasil não é igual à Roma antiga – o que, convenhamos, significa um grande avanço nos seus conhecimentos. Tenho certeza que ela fez essa declaração visando aprofundar a cultura dos seus votantes, pois muitos deles, talvez a maioria, acreditam que o Brasil é a Roma antiga. Ou qualquer outro país, menos o Brasil. De preferência os Estados Unidos. Mas Roma antiga também serve. Para extirpar esse erro - principalmente da mente dos trabalhadores do MEC – a trabalhadora Dilma disse que não, que o Brasil não é igual à Roma antiga.

     Não sei se ela afirmou isso para rejubilar-se, porque aqui não temos leões que comem cristãos em arenas, mas apenas arenas de futebol, sem nenhum leão dentro e as feras que restam no Brasil, como onças, por exemplo, estão sendo devidamente exterminadas por projetos contra a natureza, como Belo Monte, ou se ela afirmou que o Brasil não é igual à Roma antiga com um certo ar de nostalgia. Nunca se sabe exatamente o que Dilma fala, quando fala.

     Mas o fato é que ela disse que chega de faxina. Que não gosta nem da palavra faxina. Que a única faxina que fará será a faxina contra a miséria. Mas isso já está acontecendo, embora talvez ela não perceba. Não faltam polícias especializadas para matar suspeitos de miséria e pobreza, no Brasil inteiro. E Exército, Marinha e Aeronáutica estão atuando fortemente nos morros cariocas para extirpar a miséria, com seus tanques e metralhadoras, antes da Copa do Mundo. E também são mortos os trabalhadores sem terra e os que protestam contra o latifúndio, contra o desmatamento desenfreado e acelerado do Brasil de Dilma, que pensa que isso é progresso.

     Mas ela não quer mais faxina. Não só disse que faxina ética – ou faxina e ética – ficam para segundo plano no seu governo, como quer e está acabando com a miséria, ou a escondendo embaixo do tapete ou nas valas comuns. Não só afirmou – ou deu a entender - tudo isso como reconheceu que o Brasil não é a Roma antiga – para suspiros profundos de alguns e alegria de outros.

     E disse que não quer mais demitir ninguém, por mais que os jornalistas bradem e mostrem os antros de corrupção no Executivo, também conhecidos como ministérios. Demitir nem pensar! Principalmente se for de algum partido aliado ou aliadíssimo, como o PMDB. Já imaginaram se continua a demitir todos os corruptos do seu governo?

     Duas coisas aconteceriam. Primeiro, o povo brasileiro teria a certeza de que o governo Lula foi extremamente corrupto; governo que incluía Dilma, com dilmês e tudo. Porque Dilma apenas confirmou as equipes dos ministérios que eram do Lula. Segundo, Dilma seria a última a sair e teria a grande responsabilidade de apagar a luz.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

GETÚLIO, UM BRASILEIRO


Foi jornalista nos seus tempos de estudante de Direito. Era positivista e acreditava na doutrina de Auguste Comte, assim como toda a sua geração. Formou-se como bacharel e pouco atuou na advocacia; logo foi indicado para o cargo de promotor, onde ficou pouco tempo. A sua vocação era a política. Foi eleito como deputado federal e no Rio de Janeiro percebeu como a nossa pátria estava entregue aos interesses de paulistas, mineiros e cariocas. Como hoje.

     Mais tarde, como Presidente do estado do Rio Grande do Sul, que equivalia a Governador, liderou uma revolução, em 1930, liquidando com a República Velha e com feudalismo dos estados em relação à União. No poder, sentiu que não tinha poder. O Brasil não era dos brasileiros, e o seu governo, as suas idéias e a razão de ser da revolução somente teriam alguma força se fossem apoiados pela legítima força do povo.

     Mas o povo não sabia que tinha força ou que poderia ter força. Acostumara-se a ser escravo das oligarquias que desejavam se eternizar. E foram essas oligarquias que o combateram em 1932, porque se sentiam ameaçadas por um poder que para elas era estranho e começava a acontecer a partir do apoio popular.

     Mas foram derrotadas, porque naquela época, o Brasil tinha militares nacionalistas. Com a vitória, consolidou-se o poder. Criou o Ministério da Indústria e Trabalho, o Ministério da Educação, o Ministério da Saúde e o Ministério da Educação e Cultura. Criou o primeiro Código Eleitoral do Brasil, o voto secreto, o voto feminino e a Justiça Eleitoral. Outorgou a constituição de 1934, ampliou os direitos trabalhistas, consolidando-os pela CLT. Criou a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), o Correio Aéreo Militar, depois Correio Aéreo Nacional e o Departamento de Aviação Civil.

     Disciplinou o ensino superior no Brasil, criou o Departamento Nacional do Café, o horário de verão e o Departamento de Correios e Telégrafos (ECT). Regulamentou, no Brasil, o exercício da medicina, odontologia, medicina veterinária, da enfermagem e da profissão de farmacêutico. Instituiu, através do decreto nº 21.175, a carteira de trabalho, ou carteira profissional. Foi garantida, aos trabalhadores do comércio, a jornada de trabalho de 8 horas diárias e 48 horas semanais. Essa duração da jornada de trabalho foi estendida aos trabalhadores da indústria.

     Criou o Instituto Nacional do Açúcar e do Álcool, o Código Florestal, o Instituto Nacional de Estatística (IBGE), o Código da Águas.

     Regulamentou a sindicalização das classes patronais e operárias, tornando-se obrigatória a aprovação dos estatutos dos sindicatos trabalhistas e patronais pelo Ministério do Trabalho. Regulamentou, através de decreto, a concessão de férias aos empregados em estabelecimentos comerciais e bancários e em instituições de assistência privada bem como em secções comerciais de estabelecimentos industriais, assim como também regulamento a concessão de férias aos empregados na indústria, sindicalizados.

     Criou o Banco Central e em agosto de 1931, foi declarada uma moratória e renegociada a dívida externa brasileira, com um "Funding loan" de 3 anos, contado a partir de outubro de 1931, autorizado, em 2 de março de 1932, pelo decreto nº 21.113.

     Foram abolidos e proibidos, em 17 de maio de 1932, pelo decreto nº 21.418, os antiquados impostos sobre o comércio interestadual e sobre o comércio intermunicipal, extinguindo-se as barreiras nas fronteiras interestaduais.Também, no mesmo dia, o decreto nº 21.417-A, regulamentou as condições do trabalho das mulheres nos estabelecimentos industriais e comerciais, ordenando que se pagasse, a elas, salários iguais aos dos homens e proibindo o trabalho a gestantes, um mês antes e um mês após o parto.

     Foi proibido, em 7 de abril de 1933, os juros bancários abusivos, através do decreto nº 22.626, conhecido como lei da usura, não revogado até hoje. Em 15 de janeiro de 1934, pelo decreto nº 23.746, é revogado o decreto nº 4.743, de 1923, que era uma lei sobre crimes de imprensa muito repressiva, chamada de "lei infame", e são anistiados todos os condenados por aquele decreto. Em 1934, é iniciada a construção do Aeroporto Santos Dumont no Rio de Janeiro. As obras foram concluídas em 1936.

     Em 10 de julho de 1934, o decreto nº 24.645 estabelece medidas de proteção aos animais. Este decreto ficou conhecido como "lei de proteção aos animais". Está ainda em vigor.

     Antes do seu governo o Brasil não existia. Ou existia apenas para os latifundiários, banqueiros, usineiros e empresários. Como hoje.

     Criou a Carteira de Crédito Agrícola e Industrial do Banco do Brasil, a qual, pela lei nº 454, de 9 de julho de 1937, passou a captar recursos no mercado de capitais e nos fundos de pensões, para finaciamento da agricultura e da pecuária.

     Estatizou o Lloyd Brasileiro, pelo decreto nº 1.708, que explorava a navegação de cabotagem de médio e longo curso, dando início a um período longo de estatizações que se prolongou, no Brasil, até à década de 1980.

     Criou o Conselho Nacional do Petróleo, o Departamento Administrativo do Serviço Público pelo decreto-lei nº 579, de 30 de julho de 1938, com o objetivo de racionalizar a administração pública e que foi extinto, pelo decreto nº 93.211, de 3 de setembro de 1986, a Companhia Siderúrgica Nacional, a Companhia Nacional de Álcalis pelo decreto-lei nº 5.684, de 20 de julho de 1943, a Companhia Vale do Rio Doce pelo decreto-lei nº 4.352, de 1 de junho de 1942, o Instituto de Resseguros do Brasil pelo decreto-lei nº 1.186, de 3 de abril de 1939, a Companhia Hidrelétrica do São Francisco, o Conselho Federal do Comércio Exterior, a lei da sociedade anônima e a Estrada de Ferro Central do Brasil, através do decreto-lei nº 3.306, de 24 de maio de 1941, foi reorganizada como autarquia e ampliadas suas funções.

     Criou Ministério da Aeronáutica e da FAB, a construção de um novo quartel-general do exército, de novos quarteis e vilas militares, da nova escola militar em Resende (AMAN), criação de fábricas de armamentos para reduzir a dependência externa e novas leis de organização do exército, de promoções, de ensino, montepio e o Código de Justiça Militar.

     Criou o Código Brasileiro do Ar, para regular o transporte aéreo, que vigorou até 1966.

     Pelo decreto-lei 395 de 29 de abril de 1938, declarou de utilidade pública o abastecimento nacional de petróleo, tornou de competência exclusiva do governo federal a regulamentação da indústria do petróleo e criou o Conselho Nacional do Petróleo. Em 1939, em Lobato (Salvador), na Bahia, pela primeira vez, no Brasil, foi extraído petróleo.

     Foi promulgado o Código Penal Brasileiro, a Lei das Contravenções Penais, o Código de Processo Penal Brasileiro. Foi criado o Código Brasileiro de Trânsito. O Código de Processo Civil, de 1939, ainda vigora parcialmente. Pelo decreto-lei nº 1.985, de 29 de janeiro de 1940, é instituído o Código de Minas, que teve vigência até 1967, quando foi substituído pelo Código de Mineração. O Decreto-Lei nº 7.661, de 21 de junho de 1945, estabeleceu a Lei de falências, que vigorou até 2.005. Pelo decreto-lei nº 2.994, logo substituído pelo decreto-lei nº 3.651, foi criado o primeiro código nacional de trânsito brasileiro.

     Criou a Justiça do Trabalho, no dia 1 de maio de 1939, pelo decreto-lei nº 1.237. Criou o salário mínimo, e concedeu a estabilidade no emprego do trabalhador, após de dez anos no emprego.

     Foi golpeado em 1945 pelos militares brasileiros que voltavam da II Guerra Mundial e que desejavam seguir o imperialismo norte-americano.

     Voltou ao poder em 1950, por eleições livres e diretas e enfrentou uma incansável campanha difamatória financiada pelos Estados Unidos e promovida pela CIA, que tinha agentes no Congresso, como Carlos Lacerda, apelidado de “Abutre”.

     Mesmo assim, naquele período conturbado e tendo contra si a imprensa que já se tornava, naquela época, seguidora entusiasta da ideologia estadunidense, conseguiu várias realizações:

     • A lei nº 1.521, de 26 de dezembro de 1951, sobre crimes contra a economia popular, ainda em vigor.

     • A lei nº 1.522, de 26 de dezembro de 1951, que autoriza o governo federal a intervir no domínio econômico para assegurar a livre distribuição de produtos necessários ao consumo do povo. Esta lei foi substituída pela lei delegada nº 4, em 26 de setembro de 1962.

     • O decreto nº 30.363, de 3 de janeiro de 1952, que dispôs sobre o retorno de capital estrangeiro, limitando-o a 8% do total dos lucros de empresas estrangeiras para o país de origem, revogado em 1991.

     • O decreto nº 31.546, de 6 de outubro de 1952, regulamentou o trabalho do menor aprendiz e vigorou até 2005.

     • A lei nº 1.802, de 5 de janeiro de 1953, que definia os crimes contra o Estado e a Ordem Política e Social, e que revogava a Lei de Segurança Nacional de 1935. A lei 1.802 vigorou até 1967 quando foi substituída por outra Lei de Segurança Nacional.

     • A lei n° 2004, de 3 de outubro de 1953, sobre o monopólio estatal da exploração e produção de petróleo, revogada em 1997.

     • A lei nº 2.083, de 12 de novembro de 1953, sobre a Liberdade de imprensa que vigorou até 1967.

     • A Instrução Sumoc (Superintendência da Moeda e do Crédito) nº 70, de 1953, que criou o câmbio múltiplo e os leilões cambiais.

     • Em 20 de junho de 1952, pela lei nº 1.628, o BNDE, atual BNDES.

     • Em 19 de julho de 1952, pela lei nº 1.649, o Banco do Nordeste.

     • Pela lei nº 1.779, de 22 de dezembro de 1952, o IBC (Instituto Brasileiro do Café), o qual foi extinto em 1990.

     • Em 1953, a PETROBRAS, no aniversário da Revolução de 1930, 3 de outubro, pela citada lei nº 2.004.

     • Em 29 de dezembro de 1953, a lei nº 2.145, criou a CACEX, "Carteira de Comércio Exterior" do Banco do Brasil.

     • Em 11 de janeiro de 1954, foi criado o seguro agrário, pela lei nº 2.168, não revogada até hoje.

     Sancionou a lei nº 2.252, de 1 de julho de 1954, que dispunha sobre a “corrupção de menores”, esta lei vigorou até 2009, revogada pela lei nº 12.015.

     Era demais para os abutres de plantão, que pressionaram o seu governo com uma gigantesca campanha de desinformação. Na noite de 23 de agosto de 1954 reuniu o seu ministério pela última vez e pediu a todos que cumprissem com o seu dever. Na ocasião, um dos seus ministros, chamado Tancredo Neves, disse que a única solução seria a sua renúncia. Ele retrucou que somente morto sairia do Palácio do Catete. O seu corpo foi encontrado na manhã seguinte. Teria sido suicídio, informa a História oficial.

     Seu nome era Getúlio Vargas, um brasileiro.

domingo, 21 de agosto de 2011

BELO MONTE: A FAXINA CONTRA A VIDA


O que se esconde por trás da construção da usina hidrelétrica de Belo Monte – principal razão de Dilma Roussef ter sido eleita? Porque Dilma é a mentora do que ela apelidou de Projeto de Aceleração do Crescimento (PAC), que tem como jóia da coroa ou qualquer outro clichê do gênero a construção de Belo Monte.

     Além dos bilhões que o governo está gastando – quase a fundo perdido – com a construção do nefasto monumento à morte, que destruirá a região do Xingu e provocará o maior impacto socioambiental do planeta, destruindo fauna e flora e marginalizando as populações indígenas, qual o segredo de Belo Monte?

     Como pode uma pessoa – representando o pensamento do grupo que se instalou no poder – ter uma mentalidade tão doentia a ponto de desejar a qualquer custo levar avante um projeto que somente provocará destruição e morte?

     Será apenas megalomania, porque se Belo Monte for construída será a terceira maior hidrelétrica do mundo?

     Será porque está tão presa aos interesses do grande capital envolvido na obra, que desistiu de raciocinar a respeito?

     Será apenas pelo seu espírito autocrata, que a impede de ouvir o grito do povo do Xingu, o grito do povo da Amazônia, o grito dos brasileiros menos alienados, o grito dos povos do mundo inteiro que se unem contra a construção do gigantesco mausoléu?

     O que faz uma pessoa pensar que é dona de tudo e de todos e que pode dispor da natureza e das pessoas de acordo com a sua destrutiva vontade?

     Herança da época da ditadura militar?

     No sábado, 20, em diversas capitais do Brasil foram realizados atos contra a construção de Belo Monte. Igualmente, foram confirmados protestos na Alemanha, Austrália, Canadá, Estados Unidos, França, Portugal, México, Inglaterra, Holanda, Escócia, Taiwan, Turquia e País de Gales. A OEA (Organização dos Estados Americanos) já condenou Belo Monte.

     Em Belém, cerca de duas mil pessoas gritavam: “Governo Dilma, mas que vergonha, constrói Belo Monte e destrói a Amazônia!”.

     A manifestação de Belém aconteceu em sintonia com outras realizadas pelo Brasil e por vários continentes. Para o economista Dion Monteiro e membro do Comitê Metropolitano Xingu Vivo Para Sempre, este ato foi uma demonstração pública de indignação e repúdio em escala mundial contra esta mega ação destruidora, planejada pelo governo da presidenta Dilma Rousseff, “No mundo todo, as pessoas e as organizações estão unidas contra este projeto de destruição e morte que é Belo Monte. O governo vai ter que ouvir a população da Amazônia e a população do mundo todo dizendo Pare Belo Monte!”.

     Para o arquiteto e professor Edmilson Rodrigues, deputado estadual do Pará, Belo Monte é uma ameaça para a conservação da sociobiodiversidade da Amazônia, “É bonito ver a humanidade, é bonito ver os lutadores do povo no mundo inteiro, em todos os países, dizendo não a Belo Monte, dizendo não aos grandes projetos que alavancam as riquezas nas mãos de poucos e, ao mesmo tempo, produzem desgraça, assassinatos, prostituição infantil, enfim, ampliam as profundas desigualdades sociais. O Brasil e o mundo dizem não a Belo Monte. O povo paraense diz: Pare Belo Monte!”.

     Marcos Mota do Fórum da Amazônia Oriental avalia que as ações de protesto que ocorrem pelo mundo ajudam a esvaziar o discurso falacioso do governo, “De fato, a usina causará um impacto social e ambiental sem precedente na região e entre habitantes locais.”

     O povo grita, mas o Governo finge ignorar. O que há por trás dessa ignorância oficial?

     Por que os grandes meios de comunicação – como Globo, Bandeirantes, SBT, Record – também fingem ignorar o que está acontecendo na Amazônia e o desastre que a construção de Belo Monte provocará?

     Por que os deputados e senadores – com exceção de alguns poucos – fingem que tudo vai bem no Xingu?

     O que está escondido por trás da construção de Belo Monte?

     Por que a presidente – que se diz democrata e contra a corrupção – está a favor da corrupção da natureza?

     Existem faxineiras que, no afã de limpar, tiram tudo do lugar, quebrando algumas coisas, destruindo irremediavelmente outras e, ao fim do dia, ainda exigem o seu pagamento.

     Que tipo de faxina é a da Dilma?

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

O BRASIL DELES


Estava assistindo Internacional e Botafogo, um daqueles jogos terrivelmente ruins do nosso medíocre futebol brasileiro, onde um time não ataca e o outro também não e o pobre do narrador faz o possível para que os ouvintes e sofridos telespectadores acreditem que o jogo é entre grandes times e o triste do comentarista não sabe o que comentar e quando surge o único gol o atacante é incensado como grande craque e o gol é gritado histericamente com 84 “os” depois da palavra mágica que faz os brasileiros acordarem de vez em quando...

     ... Estava assistindo aquilo, ou meio dormindo e quase ouvindo e vendo quando fui completamente despertado por uma daquelas janelinhas interativas que é hábito nos canais de televisão globais, onde o torcedor aparece fazendo perguntas ou diluindo-se em exclamações e um torcedor do Internacional disse que estava briosamente torcendo pelo seu time do coração e tomando um mate gaudério(1).

     Era noite profunda na República do Rio Grande de São Pedro. Tudo indicava que iria chover e depois fazer um friozito(2) carioca(3) de dez ou quinze graus. Tudo normal. O Internacional vencia, o meu Grêmio tinha levado uma goleada – conforme o esperado, depois que Odone e Roth se uniram – e os quero-queros queroqueravam nos lugares planos do pampa(4). E o narrador comentou com o comentarista e o comentarista concordou com o narrador que a expressão “mate gaudério”, ou “chimarrão gaudério” deveria ser um mate fraco e eu pensei ó meu Brasil perdido entre cariocas e paulistas!

     Será que a culpa é do MEC e da sua novilíngua? Das marchas pela maconha? Dos ministros que são acusados de corrupção? Será que a culpa é da faxina da Dilma?

     O fato é que a língua oficiosa do Brasil é o carioquês misturado com o paulistês e que tudo aquilo que esses canais de televisão querem que entendamos como cultura brasileira, na verdade é a cultura (?) daquele eixo endinheirado que manda no nosso país. E como aquela cultura é uma subcultura, completamente aculturada pela também subcultura norte-americana, eles passam para o nosso povo um país Rio-São Paulo que nem cultura tem.

     Ou tem. Uma cultura que vem sendo engendrada há muito tempo, através das novelas e outros rituais televisivos, porque os donos do Brasil sabem que a televisão é que realmente educa o nosso povo. Ou deseduca.

     E esse deseducar implica em fazer o povo pensar que o nortista é um povo esfarrapado, que vive em barcas e é tão preguiçoso como o autor de “Macunaíma”(5) deu a entender; que o nordestino é um povo ignorante, que a cada três palavras diz “oxente” e vive sedento; que a região central do Brasil existe apenas para cultura de transgênicos e criação de gado, além de Brasília orquestrando tudo. E que no Sul, Paraná e Santa Catarina são os celeiros do Brasil, onde se planta de tudo e se fala, principalmente, alemão. E aqui no Rio Grande, essa cultura paulistês-carioquês informa o resto do Brasil que vivemos com lenços vermelhos amarrados no pescoço, de bombachas e botas e falando algumas palavras muito estranhas – como gaudério e milonga(6).

     Lembram da história da milonga? Se não lembram, eu lembro. Já faz anos, mas ficou eterna. Um daqueles célebres especialistas em futebol, às vésperas de um jogo importante entre um dos times deles e um time da Argentina, descobriu que a palavra milonga existia e intuiu ou lhe disseram que “milonga” era uma maneira de ser dos argentinos, um jeito entre traiçoeiro e malandro e que o time argentino iria empregar essa tal de milonga contra os brasileiros.

     No mínimo, engraçado, mas típico da subcultura que querem nos passar, da maneira como pretendem domar o povo brasileiro, fazendo-o acreditar que o bom mesmo é Rio de Janeiro e São Paulo e que o resto do Brasil deve apenas admirar e servir tão ricos e sábios senhores.

     Da mesma forma o “gaudério”. Quando aquele rapaz colorado disse para todo o Brasil que estava torcendo pelo seu time enquanto tomava um chimarrão gaudério, logo os globais intuíram ou inventaram que mate gaudério deveria ser um mate mais fraco. E o resto do Brasil que não é gaúcho acreditou.

     E assim vamos. Com ou sem a ajuda do já afamado MEC e da péssima educação brasileira, os donos da televisão brasileira seguem deseducando o nosso povo. Ou o povo deles.

----------

1. Gaudério - forte, másculo, gaúcho.
2. Friozito - friozinho; quase frio de verdade.
3. Friozito carioca - expressão usada no Rio Grande do Sul para designar uma temperatura amena, de 10 a 15 graus centígrados.
4. Pampa - região pastoril de planícies com coxilhas.
5. Autor de Macunaíma – Mario de Andrade.
6. Milonga - é um estilo de música tradicional muito tocada em vários países da América do Sul, assim como no Rio Grande do Sul.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

SIMON, CRISTOVAM & CIA



Pois o Pedro Simon, a Ana Amélia Lemos (que se diz independente), o Cristovam Buarque e outros senadores que fazem plantão permanente no Senado resolveram fazer um movimento que apelidaram de movimento de apoio à presidente Dilma no combate à corrupção. Dito movimento, que se move através de elogiosos discursos, baseia-se no fato de que a Dilma – segundo os citados senadores - está combatendo a corrupção no seu próprio governo. É risível, se não fosse dramático.

     O que a Dilma tem feito é o mesmo que o Lula fez, quando foram descobertos os esquemas de corrupção nos seus ministérios e no Congresso: demitir ministros e assessores.

     Nada mais que isso. Mas os senhores senadores afirmam que ela é um exemplo de perfeição, imune a qualquer desonestidade. Que desonestos são os outros. De Dom João VI a Lula. E que Lula teria namorado com a corrupção para o bem do Brasil e dos brasileiros, visto o bolsa-família e outras bolsas que elegeram Dilma.

     Cabe lembrar – porque a nossa memória de brasileiros diminui um pouco sempre que assistimos a uma partida de futebol ou quando chega a hora da novela, que Deus nos guarde! – que Dilma e Lula pertencem ao mesmo time. Tanto é assim, que Lula escolheu Dilma como sua sucessora, a qual, antes de ser candidata, era a ministra da Casa Civil, que é aquele ministério que organiza o “dando que se recebe”.

     Até aquele momento, Dilma era tão perfeita ou tão imperfeita quanto o seu chefe, o Lula. Mas, depois de eleita, e quando se sucederam as denúncias de corrupção no seu governo – denúncias que vieram da imprensa ainda não comprada e não devido à famosa faxina que esconde muita sujeira embaixo do tapete, como diz a jornalista Elaine Tavares, na matéria “A LIMPEZA DE DILMA E O QUE SE ESCONDE DEBAIXO DO TAPETE”, também publicada no jornal virtual Diógenes (http://www.diogenes.jex.com.br/) –, depois das denúncias, Dilma foi obrigada a demitir os denunciados, mas apenas isso. Igualzinho ao Lula.

     E os senadores citados, através dos seus nobres discursos, querem inverter a situação – porque além de futebol e novela, o que mais temos no Brasil é demagogia. Querem dar a entender que é Dilma, a Todo-Poderosa, que está de vassoura na mão, limpando os ministérios que ela própria formou, as pessoas que ela própria convocou para auxiliá-la em sua gloriosa gestão.

     Ou vocês acham que ela demitiria o Palocci, que foi o seu chefe de campanha, não fossem as denúncias da imprensa? Demitiria o ministro dos Transportes ou o pessoal do Dnit, não fossem as denúncias em jornais e revistas? Nem a demissão de Jobim foi por vontade própria, apesar do risco de ser golpeada no dia seguinte pelas forças que estão sendo armadas desde o governo Lula para o caso do governo ter algum “teor ideológico”.

     A faxina que ela está fazendo é uma forçada obrigação para que ela não seja demitida do seu cargo pelo grito dos que não agüentam mais tanta corrupção. Ou ela não conhecia o caráter das pessoas que convidou para seus ministérios? Será que todos foram nomeados pelo Lula?

     E esses senadores, que nada fazem a não ser falar e receber seus vultosos salários ao fim de cada mês querem dar a entender que não, que ela está “faxinando” o seu governo por vontade própria e que a apoiarão sempre, desde que continue assim, mas...

     Mas, no instante em que a diminuta oposição propõe uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre a corrupção no governo, os mesmos ilibados senhores senadores gritam, desesperados, dos seus tronos, dizendo que isso não! Que deixem a Dilma trabalhar misteriosamente, porque ao povo não pode ser dado conhecer e saber o que realmente acontece em Brasília.

     E ficam ainda mais excitados e nervosos quando a Polícia Federal, que apenas cumpre honestamente o seu papel, prende, com o apoio da Lei, os criminosos do Executivo. Ou, pelo menos, alguns deles. Dizem que assim não pode ser, que a Polícia Federal deve ser mais branda, que os juízes não devem emitir ordens de prisão contra aqueles que foram contratados pela Dilma, que investiguem, mas não prendam e que, de preferência, sequer investiguem. Crime é para favelado e não para quem usa paletó.

     E nisso se resume o movimento pró-Dilma de Simon, Cristovam & Cia.

     Tentam inverter a situação, colocar a culpa nos jornais e revistas que denunciam e demonizar a Polícia Federal que prende, ao mesmo tempo em que elevam Dilma ao altar da pureza e, subliminarmente a candidatam a um segundo mandato desde agora.

     A Polícia Federal, que tem sido obstada de todas as maneiras em seu trabalho, não só pelos demagógicos deputados e senadores como, também, por juízes amigos do poder, lançou um manifesto. Chama-se “Manifesto da Associação Nacional dos Delegados da Polícia Federal” e pode ser encontrado em vários sites e blogs, assim como o “Movimento Ordem e Vigília” (http://movimentoordemvigilia.blogspot.com/2011/08/nota-de-esclarecimento-atuacao-da.html), mas segue abaixo.

Nota de Esclarecimento: atuação da Polícia Federal no Brasil.  

12/08/2011

     “A Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal vem a público esclarecer que, após ser preso, qualquer criminoso tem como primeira providência tentar desqualificar o trabalho policial. Quando ele não pode fazê-lo pessoalmente, seus amigos ou padrinhos assumem a tarefa em seu lugar.

     “A entidade lamenta que no Brasil, a corrupção tenha atingido níveis inimagináveis; altos executivos do governo, quando não são presos por ordem judicial, são demitidos por envolvimento em falcatruas. 

     “Milhões de reais – dinheiro pertencente ao povo- são desviados diariamente por aproveitadores travestidos de autoridades. E quando esses indivíduos são presos, por ordem judicial, os padrinhos vêm a publico e se dizem “ estarrecidos com a violência da operação da Polícia Federal”. Isto é apenas o início de uma estratégia usada por essas pessoas com o objetivo de desqualificar a correta atuação da polícia. Quando se prende um político ou alguém por ele protegido, é como mexer num vespeiro. 

     “A providência logo adotada visa desviar o foco das investigações e investir contra o trabalho policial. Em tempos recentes, esse método deu tão certo que todo um trabalho investigatório foi anulado. Agora, a tática volta ao cenário.

     “Há de chegar o dia em que a história será contada em seus precisos tempos. 

     “De repente, o uso de algemas em criminosos passa a ser um delito muito maior que o desvio de milhões de reais dos cofres públicos. 

     “A Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal colocará todo o seu empenho para esclarecer o povo brasileiro o que realmente se pretende com tais acusações ao trabalho policial e o que está por trás de toda essa tentativa de desqualificação da atuação da Polícia Federal. 

     “A decisão sobre se um preso deve ser conduzido algemado ou não é tomada pelo policial que o prende e não por quem desfruta do conforto e das mordomias dos gabinetes climatizados de Brasília.

     “É uma pena que aqueles que se dizem “estarrecidos” com a “violência pelo uso de algemas” não tenham o mesmo sentimento diante dos escândalos que acontecem diariamente no país, que fazem evaporar bilhões de reais dos cofres da nação, deixando milhares de pessoas na miséria, inclusive condenando-as a morte. 

     “No Ministério dos Transportes, toda a cúpula foi afastada. Logo em seguida, estourou o escândalo na Conab e no próprio Ministério da Agricultura. Em decorrência das investigações no Ministério do Turismo, a Justiça Federal determinou a prisão de 38 pessoas de uma só tacada.

     “Mas a preocupação oficial é com o uso de algemas. Em todos os países do mundo, a doutrina policial ensina que todo preso deve ser conduzido algemado, porque a algema é um instrumento de proteção ao preso e ao policial que o prende.

     “Quanto às provas da culpabilidade dos envolvidos, cabe esclarecer que serão apresentadas no momento oportuno  ao Juiz encarregado do feito, e somente a ele e a mais ninguém. Não cabe à Polícia exibir provas pela imprensa. 

     “A ADPF aproveita para reproduzir o que disse o ex-ministro Márcio Thomaz Bastos: “a Polícia Federal é republicana e não pertence ao governo nem a partidos políticos”. 

     “Brasília, 12 de agosto de 2011.”

Bolivar Steinmetz
Vice-presidente, no exercício da presidência.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

POEMA EM DESCONSTRUÇÃO


                                     (para ouvir Piazzolla)

Há algo que não se define
Que ficou suspenso
Em algum momento
Que perdeu peso e concretude
E não se projetou nem foi além
Para espraiar-se em objetivo ou realização
Mas está lá
Em algum lugar que não é lugar
Momento que não é momento
Nem preso nem solto
Apenas inerte
Em sua quase possibilidade
Estanque em vir a ser intangível
Sem perpetuar-se
Em instante de vácuo
De força em inação
Esperando...


 
               mesmo em mistura perfeita de tango e flamenco
               castanholas,
               leque,
               olhos frios e sedutores
               tamancos no tablado,
               dó sustenido de Piazzolla gemendo,
               ardendo na alma
               la sangre del toro derramada en la plaza,
               estrugir de motores na pálida manhã,
               rebentar de canhões que atropelam as almas,
               paixão intensa e brutal dos amantes alucinados...

Hay algo indefinido
Preso na inquietude
De sonhos sufocantes
Brumosos y calientes
Esperando

como la sangre del toro derramada en la plaza
fremente, dorida a cada gota espargida
em tímida unção,
viva, mas a morir.

Inquietos, expectantes, ansiosos
Todos são mortos-vivos nesta cidade de aparências
Com a arrogância dos bêbados histriônicos
Pensam que são eternos em sua cansativa ebriedade,
Em sua necessidade infantil de trocar as máscaras
Que os unem na mesma perplexidade ante a morte,
Na mesma letargia estupidificada de todos os dias,
Que os faz traçar com rapidez seus caminhos rotineiros
Na tentativa de beber a mesma água da mesma chuva
Que ainda não caiu.

Há algo que não se define.
Como uma planta
Em estado germinal,
Como a explosão de uma bomba
Ainda não fabricada
Ou um verso nunca tentado
De uma poesia que jamais será escrita,
Presa na eternidade de impossível ritmo,
Esperando.

como la sangre del toro derramada en la plaza
fremente,
dorida a cada gota espargida
como tímida unção,
viva, mas a morir,
hay algo indefinido,
preso en la calle por los pies
de los caminantes sufocados
por sus apresados miedos
da rotineira vida que os estrangula
a poco y poco.

O súbito enlouquecido grito daquele
Que todos matam de fome
Que todos matam de fome que todos matam de fome
Que todos matam
E mandam comer o lixo feito das migalhas
Das migalhas esquecidas pelo sarcasmo... O olhar perdido, parvo 
Condenado à eternidade do desespero pelos olhares bem nutridos
Bem nutridos que alimentam e engordam a miséria
A miséria não provoca pesadelos nos sonhos dos diletantes
Pesadelos nos sonhos dos diletantes esguios
Esguios em sua filosofia de prazeres
Insensíveis
Fechados em casas, casulos, castas
Em grades contra os gritos da loucura
Da fome
Do desespero
Em ritmo estanque, assustado, mórbido
Em eterna pausa mortiça

Hay algo indefinido
Preso na inquietude
De sonhos sufocantes
Brumosos y calientes
Entorpecidos em momento de concha
E aquário
Esperando




                         em mistura perfeita de tango e flamenco
                             tamancos no tablado
                                Piazzola ardendo na alma
                                    derramada en la plaza
                                         na pálida manhã dos amantes
                                            alucinados
                                               em seu momento de concha
                                                    cansativa ebriedade de prazeres
 


Hay algo indefinido
Como se cautivo,
Parvo em la perplexidad letarga
De imposible cadencia
Esperando




                                                        o súbito enlouquecido grito
                                                     do condenado à eternidade
                                                  do esquecimento,
                                               o olhar perdido
                                            vagando na impossibilidade...
                                          máscaras histriônicas
                                        sucedendo-se no carnaval da miséria
                                      em sádico divertimento
                                    feito de migalhas de sonhos,
                                  eternos em perplexidade,
                                imersos em esguios pesadelos,
                             sustentados em instante de vácuo
                          por medos represados... concha e aquário
                        esperando

Há algo indefinido
Preso nas gargantas de rios viscosos
Encobertos por neblinas de manhãs estranhas
A que sucedem tardes que se esgueiram,
Errantes em sua ânsia de caminhos,
E noites que revelam galhardia em sua escuridão,
Sempre misteriosa e sedutora,
Feita para o tatear de cegos
Em estradas escorregadias de esperanças,
Embrutecidas por pedras e desníveis,
Entorpecidas pelos inevitáveis tropeços
De instintivos passos em esquivas tentativas,
Na ambígua necessidade de ir além
E tentar espreitar.

...Y se queda involucrado en el aire
E não se decide a tornar-se em gotas
Ou pedaços,
Teoremas ou hieróglifos.

Não se faz determinado ou escuso,
Quieto ou instigante.

Apenas quase
Silente
Ominoso

Como fumaça despercebida
Que não se vê nem se desfaz
Em luxúria
De equívocas brisas
Trêfegas
Em seu bailar sorrateiro
A insinuar instantes
Imersos na volúpia
Da possibilidade

Como um staccato de Piazzola ao bandonion
Prestes
Casi

En la calle
Recuerdos de tus pasos
Un estupendo voltear en la memória
Las noches de nuestros corazones
Sequiosos y calientes
Súplices
A esperar


 
                         como rajadas de suspiros
                         transformados em murmúrios
                         que se revelam desnudos gritos
                         castanholas trepidantes
                         implacáveis
                         em sublime mistura de tango e flamenco


 
Há algo que não se define.
Como passos súplices,
Sequiosos,
Murmúrios implacáveis,
Rajadas de suspiros
Trepidantes, desnudos, a insinuar,
A espreitar
A memória de nossos corações.

A esperar
Equívocas brisas...

Passos imersos
Na volúpia da possibilidade,
Como fumaça despercebida
Em bailar sorrateiro...

Há algo indefinido
Que perdeu o seu momento de ser
De desnudar-se em perpetuidade
De desfazer a ansiedade de enigma
E permanece
Em seu deserto de esfinge...

Como sustenida nota
Perene
Inalcançável
Em estado de quase solidão

Como insensível dor
Em momento de quase
A espreitar


 
                       enquanto                         
                         corre                           
                                 o                  
                                 rio                         
                      em                            
                      desvairada           
                   liberdade                              
                    de águas                        
                       paixão                    
                         total                      
                           fúria               voluptuosa harmonia
                                                                             sombras e reentrâncias
                                                                    ruborizadas   
                                                          flores a nascer
                                                               tímidas
                                                    inquietas          temerosas
                                                       em destemor de vida

Ergo-me sobre meu coração
Volumoso impulso líquido
Desentranhar em etéreas espumas
Encachoeirar em súbitas águas
Desenfreada busca interna
Mansidão e espera
 
 
Lá!                                                             em mim
                                                              no aconchego
                                                                  da pele
 
                                                                         Sinto

Algo que não se define
Que não se decide a ser...
Como uma folha solta
A desfazer-se na ilusão
Da totalidade do pó,
Apenas um sopro...

A quase possibilidade
Da brisa
Do vento
Do redemoinho
Em louco movimento
De tango ou flamenco

Entorpecer de sonhos,
Inebriar...

Lá!

                                  Onde finge o campo
                                  De tecido verde
                                  Ou de cortina sacra
                                  Eu me deleito na suave
Solidão da espera 


Imerso                                              Solene

                          em                                        meu
                              totalidade                            perfeito
                                   de nadas                                estar

Embriagante quase...

Há algo que não se decide,
Não se define,
Que perscruta cada passo
De cada inquieta busca,
Como desnudada nota sustenida

Presa
Instigante
Desafiando eternidades
Desconstruindo-se em ritmo
Desatinada na sombra de sua mudez
Incrédula pela força interna informe
Desfazendo-se em sóbrios contrapontos
Desvendando extenuantes loucuras
Desabrochar de silêncios
Gota a gota
Pausa

                                                           Pausa
                                                          

                                                                  Ritmo
                                                        Tamancos no tablado
                                                 Força interna informe
                                        Sóbrios contrapontos
                               Medos represados em concha e aquário
                        Sustentados em instante de vácuo
                 Em sublime mistura de tango e flamenco
         Nas noites de nossos corações
  Indefinido quase                               como o espreitar da flecha
     Como rajadas de suspiros
          Como passos súplices
              Como fumaça despercebida
                  Como uma planta em estado germinal
                     Como a explosão de uma bomba ainda não fabricada

Como sustenida nota
Como insensível dor
Como um verso nunca tentado
De uma poesia que jamais será escrita
Como um staccato de Piazzola ao bandonion

Lá!
                                        
                                         Onde finge o campo de tecido verde
                                         Ou de cortina sacra
                                         Eu me deleito na suave solidão
                                         Imerso em totalidade de nada

Momento que não é momento,
Preso na inquietude de sonhos sufocantes,
Na eternidade de impossível ritmo...
Esperando...
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...