segunda-feira, 26 de setembro de 2011

DIGA NÃO


Estamos aceitando tudo muito facilmente. Estamos aceitando que a Dilma realmente fará uma faxina nos seus ministérios, quando sabemos que a corrupção no Planalto vem desde o governo Lula, ou antes, com o Fernando Henrique; ou ainda antes, muito antes... Porque a corrupção está entranhada na alma brasileira e os nossos governos e governantes nada mais fazem que repetir o que essa alma conspurcada de “jeitinhos” pede.

     Somos um povo de corruptos porque elegemos corruptos; e mais corruptos ainda ficamos quando os corruptos oficiais mostram a sua cara corrupta e nada fazemos, a não ser apontar as feridas e rirmos delas.

     Estamos aceitando e rindo do que fazem conosco, mas nada fazemos porque temos medo ou porque nos sentimos impotentes ante o poder tão poderoso dos poderosos corruptos que assolam o país ou porque nos acostumamos a nada fazer, porque há uma lei brasileira que diz que malandro deve ser reverenciado e até cantado em óperas e uma corrupção maior será sempre uma malandragem maior e não exatamente um grande crime.

     Estamos ficando tristemente acostumados a aceitar a impunidade como lei, porque é através da lei que os corruptos ficam impunes; e a pensar que a cada vez que nos tiram um pedaço devemos agradecer porque foi somente um pedaço; e se nos escravizarem ainda mais, devemos rezar porque é uma servidão branda, que levará à morte em suaves prestações.

     Estamos ficando cínicos, debochados, tristes, apalermados, ridicularizados pelos povos que lutam pelos seus direitos, porque entregamos os nossos direitos justamente àqueles que denunciamos como corruptos, esperando que façam alguma coisa contra os seus próprios desmandos.

     Como crianças, esperamos que papai e mamãe nos consolem com mesadas e promessas.

     Estamos perdendo o ímpeto, a força, a energia. Não sabemos mais dizer não.

     Não dizemos não quando uma classe média alienada e deslumbrada passa quinze dias ouvindo música no Rock in Rio, enquanto a esmagadora maioria do povo trabalha para que eles se divirtam.

     Não dizemos não quando a Câmara Federal, através de dois deputados, com o plenário vazio, aprova 118 projetos em poucos minutos, sem discussão ou debates. E dois deputados que seriam, na aparência, de partidos opostos – PT e PSDB –, mas que se unem para defender os seus interesses comuns.

     Não dizemos não quando dois estados apadrinhados pelo governo federal – Espírito Santo e Rio de Janeiro – recebem todo o dinheiro oriundo dos royalties do petróleo extraído no que deveria ser o território brasileiro.

     Não dizemos não quando o governo investe milhões para a Copa do Mundo de 2014 – que será um evento que trará benefícios e ganhos somente para o governo e empresários aliados – ao mesmo tempo em que deseja lançar novos impostos, que seriam, talvez, para a área da saúde.

     Não dizemos não quando não há licitação para as obras da Copa do Mundo.

     Não dizemos não quando deputados corruptos são inocentados através do corrupto voto secreto.

     Não dizemos não quando os morros são invadidos por tanques e o povo é espezinhado em seus direitos, em clara demonstração de que a ditadura não acabou - apenas trocou de roupa.

     Não dizemos não quando a famosa Comissão da Verdade faz um acordo com os militares para que a verdade seja encoberta ainda mais.

     Não dizemos não quando filmes fascistas, que defendem o assassinato e a tortura – como os dois “Tropa de Elite” -, que instigam a violação dos direitos humanos, são veiculados como se fossem obras de verdadeira arte – quando são exemplos da natureza morta em nossos corações.

     Não dizemos não contra as comissões de parlamentares que apenas discutem a fome, apenas discutem o analfabetismo e a miséria, apenas discutem a falta de justiça em nosso país – em ambientes luxuosos, através de discursos emocionantes que não são mais que palavras vãs, pois se sabe que eles nada farão de concreto e visam apenas os votos dos passivos.

     Não dizemos não quando destroem as nossas florestas, liquidam com a fauna e flora, para plantarem transgênicos que provocarão a desertificação do solo.

     Não dizemos não quando constroem hidrelétricas que provocam cataclismos climáticos e ecológicos e expulsam os povos indígenas das suas terras ancestrais – apenas para dar dinheiro a um grupo de empresários.

     Não dizemos não quando o governo faz a opção obsoleta e assassina pela energia nuclear.

     Não dizemos não quando o governo diz não à energia eólica e à energia solar.

     Não dizemos não quando empresas de pecuária e agricultura extensiva transformam a terra que deveria ser dos brasileiros em imensos desertos.

     Não dizemos não quando empresas estrangeiras compram o Brasil aos pedaços.

     Não dizemos não quando o ensino brasileiro é um dos piores do mundo e os professores recebem salários de miséria.

     Não dizemos não quando as informações que recebemos são filtradas de tal maneira pelas agências de notícias, que sabemos no máximo 5% do que acontece no país e no mundo; e muitos são tão massificados que realmente acreditam que Nova Iorque é a capital do mundo.

     Não dizemos não quando nos tratam como massa, como bois no curral esperando pelo abate; como incapazes e inconscientes.

     Não dizemos não quando eles pedem os nossos votos.

     Raramente dizemos sim às lutas dos povos oprimidos, às lutas dos povos segregados, à luta dos martirizados por uma política que diz não ao povo.

     Diga não. Não somente para as grandes corrupções neste país de tantos carnavais. Diga não a si mesmo quando perceber que está concordando em ser roubado pelos impostos, roubado pelas falsas informações, roubado quando acredita nas promessas dos políticos que dizem não a você, roubado quando acredita que eleições resolverão todos os males, roubado quando não é atendido nas repartições dos governos que você ajudou a eleger, roubado quando espera nas eternas filas para receber atendimento médico, roubado quando eles aumentam ainda mais os próprios salários e não lhe dão nada, a não ser, talvez, um olhar de escárnio.

     Diga não, comece a dizer não, experimente dizer não. Continue dizendo não, insista em dizer não.

     Diga sim à sua dignidade.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

CAI A MÁSCARA DA ONU



Em 14 de maio de 1948, a recém formada Organização das Nações Unidas (ONU) autorizou que os judeus dispersos pelo mundo inteiro invadissem a terra dos palestinos, no Oriente Médio, e formassem um Estado. O Estado de Israel. Na verdade, muito antes daquela data, judeus do mundo inteiro tinham emigrado para a Palestina, fugindo de perseguições e seguindo orientações da Organização Sionista Mundial, que desejava que o estado judeu fosse formado na terra dos palestinos.

     Quando do Primeiro Congresso Sionista, realizado em 29 de agosto de 1897, na cidade suíça de Basiléia, sob a presidência de Theodoro Herzl, discutiu-se onde deveria ser instalado o estado judeu e venceram os partidários da Palestina, com o argumento de que aquela era a região de origem de toda a identidade judaica na Antiguidade.

     Desde aquela época, realizaram-se 21 congressos sionistas até a eclosão da Segunda Guerra Mundial. Depois da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) a Palestina ficou sob o domínio britânico, mas logo após o término da Segunda Guerra Mundial, quando os aliados estavam decidindo qual a melhor maneira de dividir o mundo entre eles, concluíram que o sonho sionista de fundar um estado judeu na Palestina era uma justa recompensa aos seus aliados de sempre.

     Em 1945, logo após a vitória sobre as forças do Eixo, Estados Unidos e União Soviética estabeleceram um acordo que permitiu a criação do Estado de Israel. O acordo previa a constituição de um Estado judeu com 57% do território e um Estado Palestino com 43%. Os árabes rejeitaram a proposta. Naquele momento viviam no território da Palestina, 1,3 milhões de árabes e 600 mil judeus.

     Em 29 de novembro de 1947, na assembléia geral da ONU presidida pelo brasileiro Osvaldo Aranha, o plano britânico de divisão da palestina é aprovado. Os países da Liga Árabe (Egito, Líbano, Síria e Jordânia), rejeitaram o plano. Em 30 de novembro de 1947 se iniciou o conflito entre forças sionistas e as palestinas, ao mesmo tempo em que as forças britânicas se retiravam do território. Com a derrota das forças palestinas cerca de 400 mil palestinos foram expulsos iniciando o êxodo que continua até os dias de hoje.

     Em 14 de maio de 1948, terminou o mandato britânico sobre a Palestina, sendo proclamado o Estado de Israel. O Estado de Israel substituiu as forças britânicas que dominavam o Oriente Médio, especialmente a Palestina. Com o apoio bélico e político dos Estados Unidos puderam enfrentar vitoriosamente a revolta dos países árabes, desalojar os palestinos e murá-los em duas estreitas regiões – Cisjordânia e Faixa de Gaza.

     Hoje cai a máscara da ONU. O presidente da Palestina, Mahmoud Abbas estará pedindo, na Assembléia Geral da ONU o reconhecimento do Estado Palestino. Não somente isso. Os palestinos pedem a delimitação de seu Estado a partir das fronteiras de 1967, que incluem a Cisjordânia, a Faixa de Gaza e Jerusalém Oriental - territórios ocupados por Israel, que rechaça veementemente a decisão palestina.

     O que é lógico, porque o único interesse de Israel é o expansionismo, jamais a limitação do seu território.

     A ONU é uma organização estranha. Os países que a ela pertencem são totalmente dominados por apenas cinco países. Assim, para ingressar na ONU é necessário obter uma maioria simples de nove votos. Mas, além disso, os cinco países que detém o poder nuclear e, por esta razão, o poder de veto – Estados Unidos, França, Reino Unido, Russia e China - é que realmente são os donos da ONU. Desta forma, se o pedido palestino for aceito pela grande maioria da Assembléia Geral da ONU, um único país que tenha o poder de veto poderá barrar esse pedido.

     E os Estados Unidos já disseram que vão vetar o pedido da Palestina.

     O sonho da Palestina de ser reconhecida pela comunidade das nações como um Estado de direito cairá por terra, mas a ONU estará desmascarada como uma organização que não tem força alguma; que representa apenas os interesses dos países que tem armas nucleares.

     A luta dos palestinos continuará, mesmo que a pedradas, porque o julgamento da História é inexorável contra os opressores.

     Mas fica a pergunta: por que o Brasil de Lula e Dilma quer entrar para o conselho de segurança da ONU, que é uma organização que somente defende o interesse dos muito poderosos?

sábado, 17 de setembro de 2011

"MOSTREMOS VALOR, CONSTÂNCIA..."


[…] Regule V. S. suas marchas de maneira que no dia 14, às duas horas da madrugada possa atacar as forças a mando de Canabarro, que estará nesse dia no Serro dos Porongos. […] No conflito poupe o sangue brasileiro o quanto puder, particularmente da gente branca da Província ou índios, pois bem sabe que essa pobre gente ainda nos pode ser útil no futuro. […] Não receia a infantaria inimiga, pois ela há de receber ordem de um ministro de seu general-em-chefe para entregar o cartuchame sob o pretexto de desconfiarem dela. Se Canabarro ou Lucas forem prisioneiros deve dar-lhes escápula de maneira que ninguém possa nem levemente desconfiar […]

(Assinado por Luiz Alves de Lima e Silva, Barão de Caxias. Reconhecido como documento autêntico pelo Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul).


     Nos festejos dos 170 anos da Revolução Farroupilha muita coisa bonita é falada sobre aquele acontecimento, nos meios de comunicação gaúchos. Documentários sobre caudilhos como Garibaldi, Bento Gonçalves, general Neto, tomam conta das telas de televisão e as pessoas se ufanam como se estivessem em plena revolução. No entanto, nada se fala sobre as mais de mil famílias de agricultores sem terra que ainda esperam assentamento.

     Nem se comenta sobre o solo deteriorado, em pleno processo de desertificação, provocado pelo desmatamento, pecuária extensiva, monocultura de produtos transgênicos, como arroz e soja, e excesso de agrotóxicos.

     As terras gaúchas estão entregues aos grandes latifundiários, aos grandes agricultores e às empresas de papel e celulose. A Revolução Farroupilha nada adiantou porque nada revolucionou. Trouxe dinheiro para alguns – aqueles que venderam as suas almas – que já eram muito ricos antes do início da revolução e se tornaram milionários após o seu término, em 1845 e que, cerca de duas décadas depois, em 1864, estavam a serviço do Império na Guerra do Paraguai.

     Naquela revolução o povo foi traído por grupos elitistas de bacharéis e fazendeiros que se reuniram no sigilo das Lojas, primeiro para derrubar o governo do estado; depois, como a revolução se tornou inevitável, para propor uma república que eles sabiam impossível naquele momento histórico e, mais tarde, para pactuarem com os agentes do Império a melhor maneira de acabar com a guerra, através de um armistício espúrio, somente assinado por David Canabarro – que ficou famoso pela batalha de Porongos, da qual não participou, ocasião em que desarmou os Lanceiros Negros e os deixou à mercê dos soldados de Caxias.

     Para que houvesse o armistício era necessário acabar com o sonho de liberdade dos negros do Rio Grande do Sul. Os negros tinham recebido a promessa de libertação, desde que lutassem ao lado dos patrões brancos. Como os patrões brancos decidiram com os outros patrões do império que a revolução deveria ter um fim – mesmo que esse fim resultasse em um armistício e não numa rendição dos revolucionários – Caxias e Canabarro urdiram a extinção do batalhão dos Lanceiros Negros no que foi chamado, mais tarde, de batalha de Porongos - que, na verdade, foi o massacre de Porongos.

     Logo depois foi assinado o armistício, que foi chamado de “Paz de Ponche Verde”, e o que restava do exército riograndense era extinto, enquanto Neto e Bento Gonçalves iam para as suas fazendas no Uruguai.

     Não por acaso, Garibaldi ficou pouco tempo entre as tropas farroupilhas e preferiu participar de uma revolução libertadora de verdade, no Uruguai, liderando a coluna dos italianos.

     Não foram poucas as traições, e entre todos, tornou-se famoso Bento Manoel Ribeiro, que começou ao lado da Revolução, passou a apoiar o Império, voltou para a Revolução e terminou defendendo o Império e ajudando Caxias. Talvez fosse uma espécie de leva e traz entre os maçons dos dois lados.

     (Anos mais tarde, quando o Império se transformou em república, devido à quartelada dos generais, aconteceram as revoluções libertadoras – também chamadas de revoluções federalistas – entre maragatos, ou libertadores, e chimangos - que estavam do lado do poder. Mas foram cruelmente derrotadas).

     O povo não entendeu direito porque tinha perdido a guerra que não era guerra, a revolução que nada tinha feito de revolucionário. Mas foi domado aos poucos, com o passar dos anos, quando as glórias da revolução foram sendo lembradas pelos CTGs (Centros de Tradições Gaúchas), que insistiam que a revolução não tinha sido perdida, mas postergada para um futuro remoto e que a República Riograndense continua a existir, mesmo que sob o apelido de estado do Rio Grande do Sul, que pertence à República Federativa do Brasil – uma república dentro de outra república.

     Restaram as tradições gaúchas, a cultura gaúcha e o “sentimento de gauchismo”, que é uma espécie de sensação de liberdade dentro da prisão. A sensação de que vivemos em uma pátria gaúcha, embora presa ao Brasil. Os mais otimistas dizem que somos brasileiros por opção, mas a verdade é que somos brasileiros por obrigação.

     E essa obrigação faz com que tenhamos governos e governantes estaduais que pouco se interessam com a nação gaúcha e que são ligados estreitamente às tradições brasileiras que colocam a corrupção e o entreguismo em primeiro plano.

     Por isso temos tantos sem terra, quando a terra deveria ser de todos. E também por isso, essa terra que deveria ser de todos está sendo castigada, desertificada, tornada em pó.

     Nos festejos destes 170 anos que lembram a gesta farroupilha muita carne tem sido assada, mas o churrasco é para os que tem dinheiro. A grande maioria do povo apenas assiste pela televisão eles churrasquearem. No dia 20 de setembro teremos grandes desfiles, quando eles, os donos das terras, mostrarão os seus belos cavalos e as suas pilchas cada vez mais sofisticadas.

     O povo de verdade ficará olhando e aplaudindo, talvez com lágrimas nos olhos.

     Ao povo resta cantar o hino riograndense e lembrar que “povo que não tem virtude acaba por ser escravo”. E acreditar que tudo é possível, até uma nação justa e igualitária, desde que “mostremos valor, constância...”.

sábado, 10 de setembro de 2011

SEU CHICO, O FUTEBOL E A REPÚBLICA RIOGRANDENSE


Estava espairecendo na noitinha do sábado que precede o famoso dia 11 de setembro e pensando na melhor maneira de ajudar a Dilma, que diz que não desistiu, só cansou de faxinar, quando encontrei o seu Chico que estava com ares de quem viu passarinho desconhecido.

     - Como vai, seu Chico, tudo bem?

     - Pra lá de bem! O senhor viu esse tempo. Só ameaça chover e nada. Arisco... Enquanto isso, lá em Santa Catarina o povo está debaixo d’água. De novo!

     - E nas mesmas cidades da outra enchente, seu Chico.

     - A dinheirama que esses políticos ganharam com aquela enchente pra arrumar tudo e evitar novos alagamentos... Pra onde terá ido? O senhor sabe?

     - Saber com certeza eu não sei, seu Chico, mas será que nessa faxina da Dilma ela não encontrou esse dinheiro embaixo de algum tapete lá do Planalto?

     - Pois é... Seria o causo de perguntar... Mesmo porque aquela senhora anda cansada de faxina, louca pra se aposentar... Enquanto isso, os servidores da Câmara receberam um aumento federal - o senhor viu?

     - Federal mesmo, seu Chico. Dizem que esses servidores estão ganhando mais que jogador de futebol da Arábia Saudita.

     - E mais não sei quantos milhões para o Corinthians. Parece que é pra algumas obras.

     - Eles são muito obreiros, seu Chico. Trabalham muito. Estão sempre conseguindo um dinheirinho pra um ou pra outro.

     - Por falar, indiciaram o chefe da quadrilha. O tal de Zé Dirceu. Quero ver quem vai ter caracu pra condenar!

     - Vai ser a maior surpresa, seu Chico, se condenarem alguém daquela turma dos quarenta ladrões.

     - E o Ali Babá, o senhor sabe onde anda?

     - Voando como uma mariposa. Tem dinheiro sobrando para passeios.

     - Foram oito anos. Deu pra juntar algum troquinho, o senhor não acha?

     - Acho que não precisa mais mendigar. Qualquer coisa é só falar pra companheira, que guarda o assento dele lá no palácio.

     - Essa gente vive de palácio em palácio, e o povo sendo agredido nas favelas, nos morros, nos barracos.

     - É que eles acreditam que povo é descartável, seu Chico. Usa-se durante as eleições e depois se joga fora. E os que reclamam levam chumbo.

     - Parece que agora não é mais chumbo. Eles estão ficando sofisticados. Deve ter sido o treinamento no Haiti. Agora eles atiram com balas de borracha, que só fura e provoca algumas contusões, quebra algumas costelas, um ou outro traumatismo craniano. E também usam aquele gás especial, que dizem que é recolhido nas sessões da Câmara e do Senado, porque faz chorar.

     - Alguma coisa também se recolhe nos arredores do Planalto, seu Chico. Mas, trocando de saco pra mala: o senhor chegou a ver o jogo da tardinha?

     - Pois não é que eu vi! Eu estava ouvindo o canto do sabiá, lá no pátio, quando a patroa me chamou dizendo que estava passando o meu jogo de sábado. Obedeci e fui ver. As mulheres tem dessas coisas: às vezes pensam que estão agraciando quando estão ofendendo... Mas é assim mesmo... Fazer o que? Sentei e comecei a ver dois bandos de jogadores correndo atrás de uma bola. Cada bando ostentava o nome da sua empresa na camiseta.

     - E viu as expulsões?

     - Mas tinha que ver! O narrador se esgoelava dizendo que era um jogo maravilhoso e eu fiquei bem atento para tentar achar a tal de maravilha e não encontrei por mais que tentasse. Até falaram que tinha um grande craque no time de branco e eu pensei se não seria o goleiro, que era o que mais se mexia naquele time. O senhor não acha?

     - Até acho. Mas o que eles chamam de craque é um rapaz que até chuta bem no golo e tem uns olhos arregalados. Gosta de fazer malabarismos...

     - É de circo?

     - Pois não sei se é de circo, seu Chico, mas o que me impressionou é que bastava chegar um dos de azul perto dele para ele cair e o juiz dar falta.

     - Isso acontece muito. O senhor sabe que esses meninos muito frágeis devem ser protegidos, principalmente se for chamado de craque pela imprensa. Não sei porque, mas a imprensa, vez que outra simpatiza com um desses meninos.

     - Pois eu também não sei, seu Chico. A imprensa futebolística é muito gozada. Falam cada coisa estranha... Mas então o senhor viu as expulsões?

     - Mas como não?! Foi o próprio menino que não agüenta o tranco que caiu duas vezes e duas vezes o tal de juiz, que dizem que é muito bom, expulsou os jogadores que chegaram bem pertinho dele. Parece que ele vale muito.

     - Milhões e milhões, seu Chico.

     - E pra fazer aquilo – caindo uma vez e outra também?

     - Pois dizem que o futebol brasileiro agora é assim, seu Chico. O melhor é aquele que cai mais.

     - E também o que cai mais no agrado da imprensa, pelo que vejo. Mas se são tantos milhões assim...

     - Incalculáveis milhões!

     - Se é assim, porque não vendem esse menino frágil pro exterior e melhoram a saúde do povo, o SUS, dão moradia pros pobres...

     - Vender eles querem vender, seu Chico, mas o dinheiro vai é pro bolso dos clubes, do que é vendido, dos empresários...

     - E pro povo nada, não é? O povo não vale nada pra eles.

     - Só nas eleições, seu Chico.

     - E se alguém se queixar, bala de borracha nos queixos e gás parlamentar.

     - Lá no Brasil é assim, seu Chico. Eles não perdem essa mania de matar gente da torcida que aplaude jogador rico. Não que aqui não aconteça.

     - É verdade. Não que aqui não aconteça alguma coisa parecida. Mas inventa de botar tanques pra cima do povo aqui no Rio Grande pra ver o que acontece de verdade!...

     - E o que, seu Chico?

     - Cantamos o hino da República Riograndense na cara deles e eles se micham na hora. Principalmente quando for cantada aquela parte da letra: “Povo que não tem virtude acaba por ser escravo”.

     - Isso é verdade, seu Chico. E vamos pra cima deles, gritando: “Mostremos valor, constância...”.

     - Saem correndo na hora, porque não sabem o que é valor, nem constância, mas adoram ser escravos.

     - Escravos de ilusões, seu Chico. Do futebol, das novelas, do consumismo e de outras ilusões.

     - Mas então Santa Catarina está debaixo d’água, de novo...

     - Pois é, seu Chico.

     - Terra de Anita Garibaldi... Dá o que pensar...

terça-feira, 6 de setembro de 2011

INDEPENDÊNCIA PARA QUEM?



Quem comemora independência no dia 7 de setembro? Com certeza não será o povo que recebe esmolas do governo para continuar apenas povo, sem nenhuma participação na política do país. O povo perdeu a sua independência desde que mataram Getúlio e, posteriormente, com o golpe militar de 1964, quando o Brasil foi entregue, gradativamente às multinacionais.

     E até hoje, com o governo entreguista de Dilma Roussef, um governo sem personalidade, apenas a extensão e a continuidade do corrupto governo Lula, com um Parlamento igualmente submisso a qualquer demanda do exterior. Esses festejam a independência. A independência deles, mas não a da nação.

     Independência que não existe, principalmente para a grande maioria de brasileiros que tem a miséria e a pobreza como único presente dos donos do país. E os verdadeiros donos, além das multinacionais, são os banqueiros, os latifundiários e os grandes empresários. Esses lucram com a miséria moral do governo e com a miséria de um povo que apela para outra moral para continuar sobrevivendo.

     E por isso é atacado e bombardeado pelas forças da repressão nos morros e favelas onde tenta subsistir.

     Não é por acaso que no dia da independência deles, há um aparatoso desfile militar em quase todas as cidades do Brasil. É para lembrar ao povo que, qualquer coisa, qualquer sintoma de revolta, os militares estarão atentos e bem armados para usar a sua argúcia e as suas armas contra o povo.

     Temos independência no Brasil com milhões e milhões de pessoas passando fome e sendo alimentadas apenas pelos discursos do poder? Há independência em um país que conta milhões e milhões de analfabetos que são usados como massa de manobra pelos escravocratas de mentes famélicas?

     Há independência em um país onde a grande maioria do povo só tem de seu a vontade de gritar contra uma situação da qual sabem que não podem sair e que não apresenta futuro para os seus filhos?

     Qual a independência que se pode festejar no dia 7 de setembro?

     A independência de um governo que destrói a Amazônia, que entrega os minérios da nação para quem der mais, que destrói as matas e o solo do país por ganância – através dos transgênicos, da monocultura e do desmatamento?

     A independência de poder votar periodicamente e nada mais além de poder votar? Votos que se transformam no poder de um grupo de conformistas e aproveitadores, aliados de todas as impurezas que mancham a nossa bandeira e a transformam em um pano colorido, sem qualquer significado para o povo?

     Qual a independência que existe no país que tem o maior número de impostos do mundo, que possui um dos piores sistemas de saúde e previdência social, que promove a deseducação no ensino, que empurra a maioria do seu povo para favelas, que tem fome no campo e nas cidades e um governo que diz que tudo vai bem?

     Independência para quem?

sábado, 3 de setembro de 2011

OS QUADROS


Estavam todos lá. Lula, Dilma, Zé Dirceu e os inumeráveis que mamam nosso dinheiro diariamente. Todos lá. Não faltou ninguém. O nome da coisa era Congresso do PT. Talvez ainda estejam lá. Um congresso não dura somente um dia. Ainda há chances. Por que pegar um por um em processos distintos?

     É claro que não é só o PT. Dizer que o PT é o único partido corrupto do Brasil é uma injustiça. A maioria daqueles partidos que formam o Congresso brasileiro são aliados, e os que não são aliados querem participar da grande aliança. Tem dinheiro para todos, novos partidos estão surgindo com a intenção de participar da festa.

     O dinheiro é nosso, mas quem somos nós? Apenas povo. E eles não ligam para povo a não ser em época de eleições. E nas eleições, todos sabemos como funciona aquela estranha máquina arrecadadora de votos, que eles chamam de urna eletrônica. Ou talvez não saibamos. Povo existe para não saber; somente para votar e ficar calado. Se for funcionário do governo deve aplaudir sempre, para garantir o emprego. Se não for, deve se contentar com futebol, carnaval e novela.

     Mas estavam todos lá. Ou estão todos lá. Festejando, discursando, trocando cheques e segredos místicos da política. É uma grande chance que não pode ser desperdiçada.

     É claro que a Veja errou ao dizer que o Zé Dirceu estava conspirando contra a Dilma. Faltou visão jornalística. Dilma é apenas um quadro, aquele que aparece para os discursos oficiais. Fazendo hora no governo, esperando o tempo passar, para depois dar lugar ao Lula, aos zés do PT, Palocci e todos os demais. Inumeráveis. O dinheiro é muito. Sobra para todos eles e para os seus aliados.

     Dilma foi escolhida para ser presidente porque não havia outro quadro disponível. Todos os outros chefes eram suspeitos de corrupção. A Dilma ainda não. Até agora. E tinha aquela estória de ter sido guerrilheira, de ter assaltado o Ademar de Barros, de ter sido torturada... Tudo isso atrai os votos dos ingênuos. Fora isso, Dilma nada. E os chefes do PT precisavam de alguém assim. Caiu do céu.

     Dilma é um quadro, nada mais. E um quadro é para ser usado, colocado ali, mudado pra lá. Mas quem manda mesmo? Lula? Zé Dirceu? Palocci? Algum general oculto nas sombras do poder?

     Provavelmente o PT também é um quadro, assim como os demais partidos que participam do jogo. Todos são quadros manipuláveis – os indivíduos e os partidos aos quais pertencem. Ganham muito dinheiro para continuarem como quadros. Ali, parados, fazendo o papel deles, com caras expressionistas ou impressionistas; alguns até cubistas, outros apenas abstratos. Mas quadros. À disposição dos donos.

     E estavam e estão todos lá. Trocando sorrisos e discursos de bem-aventurança; prometendo-se santidade e perfeição. Estavam e estão do jeito que sempre os conhecemos. Quadros na parede do poder a sorrir para a eternidade. E as mãos nos bolsos, segurando as cuecas, disfarçadamente. Todos lá. Que chance desperdiçada...!

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

A CONQUISTA DO PARALELO 33


O Paralelo 33 norte, que abrange grande parte das terras emersas, tem sido objeto de guerras de conquista através de toda a História conhecida das civilizações.

     O Império Romano não descansou enquanto não conquistou o Egito, a atual Líbia, e toda aquela região do norte da África. Expandiu-se um pouco mais e alcançou a Palestina e Israel. Dominou inteiramente o mar Mediterrâneo e as regiões adjacentes, a ponto de chamar o Mediterrâneo de Mare Nostrum. E ali fincou o bastão do seu império.

     Alguns séculos antes, Alexandre tinha feito o mesmo trajeto de conquistas, com a diferença de que foi até a Índia e parou às margens do Ganges, por exigência dos seus soldados, cansados de tantas guerras.

     A tomada do Egito por Napoleão foi considerada inexplicável para alguns, porque fugia do teatro da guerra européia, mas muito proveitosa para os sábios que acompanharam aquela expedição guerreira, porque ali, no Paralelo 33, puderam tomar contato com outros povos e adquirir novos conhecimentos. Sempre é bom lembrar que foi Champollion que deu início à decifração dos hieróglifos ao deparar-se com a pedra de Rosetta. Isto, o que sabemos; a ponta do iceberg que foi permitida ser tocada pelos historiadores. Napoleão era maçom e tivera conhecimento de assuntos que a nós profanos, são vedados.

     Durante a II Guerra Mundial ficaram famosos os combates na Líbia, principalmente em Tobruk. Calculavam os estrategistas dos dois lados em confronto, que aquele que tomasse o norte da África e demais regiões do Paralelo 33 estaria com a vitória a meio caminho. Nunca é demais lembrar, também, que a I Guerra Mundial começou nos Bálcãs, a região mais estratégica da Europa, bem perto do Paralelo 33. E o atentado que serviu de estopim para aquela primeira guerra européia, segundo muitos, teria sido ordenado pelos Iluminados da Baviera – os Illuminati.

     Desde o início deste século temos visto a invasão de países, como Afeganistão e Iraque, em 2003, sob a desculpa de terrorismo islâmico, pelos Estados Unidos e seus aliados. Não foi um ato repentino ou impensado, mas planejado com todo o cuidado, que teve como motivo aparente a derrubada das torres gêmeas do World Trade Center, em Nova Iorque. Sabe-se, mesmo dentro dos Estados Unidos, o quanto aqueles atos são suspeitos de terem sido feitos por pessoas ligadas ao governo estadunidense e aventou-se a possibilidade de que por trás estariam os Illuminati infiltrados na Maçonaria, que governa o governo dos Estados Unidos. Há vários indícios que apontam para isso, que eu coloquei em três de minhas matérias neste blog.

     Os Illuminati, ou Iluminados da Baviera, é uma organização secreta luciferiana, criada por Adam Weishaupt, no mesmo ano da independência dos Estados Unidos, em 1776. Se somarmos 4 mais 7 (julho – dia da independência), encontramos o número 11, um número muito importante para os Illuminati – basta lembrarmos o 11 de setembro de 2001. E se acrescentarmos ao 11 o número do ano (2001) que as torres gêmeas foram derrubadas, que é 3, encontramos o número 5.

     O número cinco equivale ao pentagrama no simbolismo ocultista, sendo que o pentagrama pode ser utilizado, em operações mágicas, de duas maneiras. A primeira é com a ponta virada para cima, simbolizando uma estrela e a busca de contato com seres espirituais. A segunda maneira é com a ponta do pentagrama virada para baixo, lembrando um bode, que revela a busca de poderes materiais através das forças telúricas, a magia negra.

     Observe-se que o dia da independência dos Estados Unidos – 4/7/1776 – é igual ao número cinco (5), quando se somam todos os números, reduzindo-os, depois, para um único número da escala numerológica de 1 a 9. Ou seja: 4+7+1+7+7+6 = 32 = 3+2 = 5. O mesmo acontece com o dia em que as torres gêmeas foram implodidas, ou derrubadas, como queiram. Somando-se 11+9 (setembro) + 2001 encontramos 23 ou 2+3 = 5. E o número 5 também significa mudança. Naquele dia do atentado às torres gêmeas, os Illuminati estariam anunciando aos seus confrades que estava começando uma mudança que instituía a Nova Ordem Mundial. Cabe lembrar que a sede da máquina de guerra dos Estados Unidos foi construída na forma de um pentagrama - e por isso é chamada de Pentágono.

     Vários pesquisadores tem afirmado que os Illuminati se infiltraram na Maçonaria com o objetivo de utilizá-la como veículo para a concretização dos seus objetivos. Que muitos maçons nada saberiam a respeito, principalmente aqueles iniciados nos primeiros graus da seita. Mas, se é assim, porque os maçons, que sempre controlaram o governo dos Estados Unidos e demais governos europeus, se deixaram induzir facilmente pelos Illuminati? Não seria mais lógico admitir que a própria Maçonaria atual e os Illuminati são uma coisa só, com um único objetivo, que seria o total domínio do mundo e o controle das pessoas?

     Saint-Martin, que deu origem à Ordem Martinista, foi maçom, mas pediu para sair da Maçonaria quando soube que os objetivos daquela seita, na época da Revolução Francesa, deixavam de ser espirituais, pregando o ateísmo e o domínio da razão. Também por isso os martinistas foram muito perseguidos durante aquela sangrenta revolução, sendo que mais de quarenta dos seus membros foram guilhotinados, segundo Papus. O mesmo Papus (pseudônimo de Gerard Encausse) considerava a Maçonaria da sua época algo bastante superficial no que tange a aspirações místicas e espirituais. As lojas maçônicas tinham se transformado em lugares onde se conspirava ao velho estilo Illuminati.

OS TEMPLÁRIOS

     Na época, a Maçonaria tinha apenas três graus: Aprendiz, Companheiro e Mestre. C.W. Leadbeater, em “O Rito Escocês Antigo e Aceito” (http://www.samauma.biz), conta como o cavaleiro Ramsay proferiu célebre palestra em 1737 na Grande Loja Provincial da Inglaterra em Paris. Naquela ocasião, Ramsay, que era graduado pela Universidade de Oxford e membro da Real Sociedade, teria feito afirmações revolucionárias que originaram o Grau 33. Ainda conforme Leadbeater, no texto referido, “foi um discurso toleravelmente bom, porém sem nada de extraordinário; não obstante, logrou dar o impulso que justamente se necessitava para por em atividade o movimento francês do alto grau, e daí em diante os criadores dos altos graus passaram a considerar Ramsay seu padrão e modelo.”

     Entre outras coisas, Ramsay afirmou que a Maçonaria se originava dos cavaleiros Templários, o que foi uma surpresa para burgueses e nobres que se reuniam em lojas maçônicas para conspirar contra Luís XVI e apenas sabiam da Maçonaria que era uma herança das antigas guildas de operários que construíram as catedrais – a Compagnonage. Depois, a Maçonaria Operativa – que usava palavras e sinais de passe entre os irmãos construtores para que o segredo das construções permanecesse dentro daquela classe de trabalhadores – foi influenciada a deixar que ilustres membros da nobreza inglesa a infiltrasse, em troca de proteção. Formou-se a Maçonaria Especulativa, em1717, fortemente influenciada por tradições e lendas judaicas que, mais tarde, passou a chamar-se simplesmente Maçonaria, uma organização secreta altamente elitista, permeada pelos Illuminati, que se arrogava o direito de prescrever o mundo no qual as pessoas deveriam viver.

     Por isso, naquela noite em que o cavaleiro Ramsay proferiu uma palestra em que dizia que a Maçonaria provavelmente fosse mais antiga que os maçons, os nobres e burgueses presentes ufanaram-se da sua antiguidade, uma vez que antiguidade costuma relacionar-se com nobreza e posses.

     Principalmente a posse de segredos, porque o maior poder do mundo continua a ser a informação privilegiada – como diria Palocci. E uma das informações privilegiadas daqueles cavaleiros que se diziam defensores dos peregrinos da Terra Santa – e ficaram conhecidos como Templários, porque tinham como sede o templo de Jerusalém – teria sido a descoberta, conforme Leadbeater, no texto citado, “numa sepultura, pelos Cruzados Escoceses, da inefável Palavra há muito perdida, em cuja procura tinham de trabalhar com a espada numa mão e a trolha na outra”.

     Na verdade, não era mais o Templo de Jerusalém, mas a Mesquita de Omar que foi ocupada pelos Templários. O primeiro Templo, que teria sido construído durante o reinado de Salomão foi destruído completamente pelos babilônios no ano 586 a.C. Aquele era o templo que continha a arca da aliança. O segundo templo foi construído por Zorobabel, com permissão de Ciro, rei da Pérsia (atual Irã), pela elite judia que tinha sido levada cativa por 70 anos – mas já não continha a arca da aliança. O povo judeu que construiu o segundo templo não recuperou o antigo poder e teve de se submeter aos povos da região (hoje chamados de palestinos), à invasão de Alexandre da Macedônia e, posteriormente, ao imperialismo romano.

     Foi na época do domínio romano que houve uma completa reforma do segundo templo – que foi apelidado de “terceiro templo” – aumentando-se a altura do templo de sessenta côvados, mas sem que as suas estruturas fossem mexidas ou alteradas. Quando houve a revolta dos judeus contra os romanos, o templo foi totalmente destruído, no ano 70 d.C. No entanto, o imperador mandou que o pedaço de um muro da cidade, próximo ao templo, não fosse destruído, a fim de que se construíssem fortalezas, o que, entretanto, não ocorreu. Este pedaço do muro que ficou intacto, hoje é considerado o mais sagrado dos locais do Judaísmo e chamado de “Muro das Lamentações”.

     Mais tarde, com a conquista de Jerusalém pelos muçulmanos foi construída, no mesmo local do primeiro templo, a Cúpula da Rocha ou Domo da Rocha. Segundo antigas tradições, teria sido o lugar de partida da Al Miraaj (viagem aos céus realizada pelo profeta Maomé). A Cúpula da Rocha serviu para os alicerces em que estão apoiadas as fundações localizadas no subsolo da Mesquita de Omar. Segundo as estimativas de historiadores mais minuciosos, sob essas fundações existe uma "rocha sagrada", localizada exatamente sob a cúpula da Mesquita de Omar. Ou seja, no cume de um altiplano denominado Monte Moriah existe uma construção que inscreve um altar usado em sacrifícios. A Mesquita de Omar, que está sobre a Cúpula da Rocha, ainda não pode ser retomada ou destruída pelos judeus porque é parte integrante da paisagem de Jerusalém e patrimônio da humanidade reconhecido pela UNESCO como interesse histórico, turístico e arquitetônico.

OS SANTOS SEGREDOS

     Naquele lugar sagrado e misterioso os nove cavaleiros que deram origem à Ordem do Templo teriam feito uma importante descoberta. Muito provavelmente, não uma descoberta por acaso. A mídia oficial devidamente doutrinada costuma passar para o público que as guerras acontecem devido a uma necessidade de conquista ou motivadas pela fé, como foi o caso da expansão muçulmana e das Cruzadas.

     Como todos sabem, as Cruzadas surgiram como consequencia de um grande movimento patrocinado pela Igreja que tinha como motivação oficial a conquista da Terra Santa. E principalmente a conquista de Jerusalém.

     Em 1118, depois que Jerusalém já era território cristão, nove cavaleiros apresentaram-se ao rei Balduíno II dizendo que tinham o propósito de fundar uma ordem para proteger os peregrinos. Imediatamente o rei lhes cedeu um lugar nas proximidades da Mesquita de Omar, que tinha sido construída por volta de 692, exatamente no lugar do primeiro templo judeu.

     E ali aqueles nove cavaleiros ficaram durante quase dez anos, até que o papa Inocêncio II, em 1128 e por intercessão de Bernardo de Clairvaux, que escreveu a regra da Ordem do Templo, aprovou a Ordem e a colocou diretamente sob a autoridade do Vaticano.

     A pergunta que todos se fazem é o que aconteceu naquele período em que os Templários se organizaram como ordem quase secreta? O que eles descobriram? Alguns dizem que foi o Graal; outros, que teria sido a Arca da Aliança. Informa Leadbeater que em uma sepultura teria sido descoberta “a inefável Palavra há muito perdida”. O que dá o que pensar.

     Se invertermos o que se conhece da história daquele período e dissermos que, devido a informações confidenciais alguns nobres europeus teriam formado uma ordem secreta, antes das Cruzadas, e passado alguma coisa dessas informações para o Vaticano, incentivando-o a promover as Cruzadas, não para conquistar a Terra Santa por motivos místicos, mas para tomar posse de determinados itens sagrados que lá se encontravam, talvez não estejamos errados.

     Porque é muito provável que os nove cavaleiros que foram à corte de Balduíno II requerer um lugar para fundar a Ordem dos Pobres Soldados de Cristo e do Templo de Jerusalém – os Templários – já soubessem exatamente o que fazer quando ali chegaram. E teriam passado aqueles quase dez anos trabalhando como arqueólogos, na busca da corroboração das informações recebidas. E somente quando tiveram aqueles itens em mãos foram reconhecidos pelo Vaticano como uma Ordem especial. E ficaram imensamente poderosos em toda a Europa por mais de duzentos anos.

     Uma das acusações que pesou contra os Templários, quando da extinção da ordem, foi justamente a de renegar Cristo. Renegarem a santidade de Jesus e se aliarem a outras ordens secretas do Oriente Próximo – como a dos sufis e a do Velho da Montanha - que lhes teriam passado interessantes segredos mágicos, mas magia negra, magia ligada à conquista dos bens terrenos.

     O fato é que eles procuraram e acharam algo dentro ou nas imediações do antigo templo de Jerusalém, e Jesus, assim como a primitiva religião cristã, nada tinha a ver com o Judaísmo ou com o Templo. Apesar de a Bíblia conter os principais livros das duas religiões, Judaísmo e Cristianismo tem concepções opostas. Basta lembrar que o Cristianismo primitivo pregava a igualdade e a busca de bens espirituais e não dos bens terrenos. E os Templários teriam achado alguma coisa, ou uma série de itens, dentro do antigo Templo judaico que lhes trouxe poder material, apesar de estarem unidos ao Vaticano, mas este já tinha judaizado desde Constantino e o I Concílio de Nicéia.

     Outro fato interessante é que a Maçonaria é toda ela baseada no Judaísmo, a começar pelos templos maçons, que são réplicas do Templo judaico. Além disso, os maçons adotam o calendário judaico e não o cristão, e os três primeiros graus tem como base a Lenda de Hiram, que teria sido o construtor do 1º Templo de Jerusalém. Por esses tópicos, não estará errado se afirmar que a Maçonaria é uma extensão do Judaísmo. Um Judaísmo ocidentalizado, com grande força de penetração nos governos europeus, desde que esses começaram a se organizar durante a Idade Média e necessitaram do dinheiro que captavam dos judeus – que estavam dispersos, mas atuantes em toda a Europa - através de vultosos empréstimos.

O RITO ESCOCÊS

     O rito Escocês, com trinta e três graus, embora tenha sido aparentemente criado a partir do discurso de Ramsay, na França, se estabeleceu primeiramente nos Estados Unidos, exatamente em Charleston, por onde passa o Paralelo 33.

     Lá, sempre segundo Leadbeater, “em 1761, apenas três anos após a sua fundação, o Conselho dos Imperadores do Oriente e Ocidente outorgou uma carta patente a um tal Stephen Morin para estabelecer a perfeita e sublime Maçonaria em todas as partes do mundo, constituindo-o Grande Inspetor do Rito de Perfeição.” Mas, “Stephen Morin foi também infeliz na escolha de seus lugares-tenentes, pois em muitos casos eram judeus de reputação não muito boa, e é por meio destas mãos algo sujas que temos de investigar o Rito de Perfeição durante os quarenta anos subseqüentes. O rito atravessou um período de obscurecimento, quando os graus eram vergonhosamente vendidos a quem quer que comprasse os seus títulos, ao passo que o significado interno das cerimônias foi quase esquecido” – lamenta-se Leadebeater.

     Continua Leadebeater: “Mas embora se houvesse perdido o esplêndido conhecimento oculto dos Imperadores e os ritos fossem despidos da maioria de seu poder, as sementes da sucessão foram ainda assim transmitidas, mesmo de judeu a judeu - Moisés Cohen, Isaac Long, Moisés Hayes, Isaac da Costa de Charleston e outros - até que para o Rito foi guiada uma classe superior de egos, iniciando-se então uma nova era. Este Rito foi estabelecido em Charleston em 1783 por Isaac da Costa, que foi nomeado Deputado-Inspetor em 1783 por Moisés Hayes. Ver-se-á que as autoridades do Rito se atribuem definitivamente uma sucessão.”

     Durante aquele período do estabelecimento do Rito Escocês a partir dos Estados Unidos, talvez para dar maior ênfase ao rito, alegou-se que Frederico II, em seu leito de morte, teria ratificado as leis que ainda regulam o Rito Escocês e que ele teria constituído pessoalmente o grau 33, delegando seus poderes, como Soberano da Maçonaria, a nove maçons em cada país. Mas outros afirmam que tudo isso não passa de invenção. Sempre segundo o texto citado de Leadebeater, “a verdade é que Frederico não tomou nenhuma parte ativa no Rito de Perfeição; jamais ratificou a Constituição nem criou o 33º”. Mas, acrescenta o mesmo autor, “Em 1785, um ano antes da morte do rei, encontramos uma carta endereçada a Frederico por um tal Salomão Bush (judeu, com certeza), Deputado Grande Inspetor da América do Norte, pedindo-lhe o reconhecimento de uma Loja que ele havia consagrado”.

     Salomão Bush.

     O fato é que o Rito Escocês teve grande acolhida nos Estados Unidos. Tendo como ponto principal a idéia da vingança de Jacques De Molay, que justificava a lenda da morte de Hiram e sua vingança posterior, deu motivo a que os maçons norte-americanos acreditassem que eram herdeiros de grandes verdades e que os Estados Unidos estariam destinados a conquistar o mundo. Tudo segundo a agenda Illuminati.

     Como qualquer organização política, mas com cunho ocultista, os maçons estadunidenses passaram a ter uma “ideologia” esotérica que justificava as suas ações imperialistas. Consideram-se herdeiros de verdades ancestrais, verdades essas que teriam pertencido aos cavaleiros Templários que em sua época foi a organização mais poderosa do Ocidente.

     Entre essas verdades está a descoberta do Paralelo 33 norte, que a partir de Charleston, onde foi criado o Rito Escocês com trinta e três graus, passa por lugares extremamente estratégicos. E um país que deseja conquistar o mundo deve dominar esses lugares.

     O Paralelo 33 passa pela Argélia, Tunísia, Líbia, Israel (principalmente os disputados montes de Golan), Síria, Jordânia, Iraque, Irã, Afeganistão, Paquistão, Caxemira, Índia, Aksai Chin, China, Japão, Estados Unidos, Portugal, Marrocos e Argélia. Passa pelo Mediterrâneo, Mar da China Oriental e partes do Oceano Pacífico e Oceano Atlântico. Quem conquistar a maioria dessas regiões será dono do mundo.

     Depois que destruíram a União Soviética, que era o principal entrave à sua expansão – durante a “guerra fria”, que poderia ser considerada como a legítima Terceira Guerra Mundial – a partir dos anos 1990 os Estados Unidos reiniciaram os seus planos de conquista. Quando entrou o século 21, os objetivos estavam claramente delineados – a conquista deveria ter como base a posse dos países do Paralelo 33, a espinha dorsal estratégica da humanidade.

     Primeiro foi o Afeganistão, depois o Iraque e o Paquistão, que não está oficialmente ocupado, mas tem diversas bases militares norte-americanas. Pensaram em atacar o Irã, mas perceberam que, primeiro, deveriam ter os países do norte da África nas mãos. Para isso usaram a alienação das massas, muita infiltração dos seus serviços secretos e a tecnologia da Internet, como Facebook e Twitter. Os fatos históricos, assim como a vida, não ocorrem por geração espontânea.

     Tunísia e Egito foram conquistados facilmente, locais onde os governos foram trocados para que o principal entrave do norte da África – a Líbia – pudesse ser infiltrado em uma penetração em forma de cunha – através do Leste e do Oeste do país - por mercenários fortemente armados, que apelidaram de “rebeldes”. Como isso não foi o suficiente, as forças da OTAN encarregaram-se do resto.

     Agora é a vez da Síria. A estratégia é a mesma que foi utilizada na Tunísia e no Egito, e tentada na Líbia. Insuflar o povo através da Internet. Na hora certa, a OTAN entrará em cena. Com a destruição próxima do governo da Síria, Israel poderá expandir-se. Depois virá a Jordânia e o Irã, assim como a Argélia. O caminho estará aberto para uma grande pressão sobre a Índia, talvez forçando uma troca de governo pró-Ocidente. A partir da Índia, o Tibete estará a um passo e a China cercada terá de ceder às pressões econômicas ou aceitar a guerra.

     Esta a visão linear de uma estratégia bem organizada para a conquista do Paralelo 33 e do mundo. Mas a História não é linear.
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