domingo, 28 de outubro de 2012

O VOTO DA FALSA DEMOCRACIA





Comentaristas políticos centram as suas atenções para a capital paulista, no segundo turno das eleições para prefeito. A vitória de Hadad sobre Serra está em todos os noticiários, como se fossem não eleições para uma prefeitura, mas para a presidência da República. É certo que a cidade de São Paulo tem o maior colégio eleitoral do país, mas ninguém desconhece que é um eleitorado flutuante que tem o hábito de eleger prefeitos de direita. Se é assim, qual a surpresa na eleição do afilhado de Lula?

     Já faz muito tempo que o PT é um partido de direita. Há quem não entenda o que seja direita ou esquerda; este não é um caracterizado pela politização do seu povo. Milhões de pessoas acreditam que ser de esquerda é vestir uma camisa vermelha e fazer promessas reformistas. Os próprios integrantes da direita chamam os petistas de “comunistas” numa clara demonstração de seu total desconhecimento sobre política. E o pior e mais alienante: membros do PT se acreditam de “esquerda”. E ainda há pior: milhares de pessoas dizem que tanto faz, não tem interesse na política. Justamente os que são utilizados como massa de manobra. É sabido que todo aquele que se diz de centro ou apolítico, seguramente será de direita, mesmo que inconscientemente, porque será um acomodado, cego boi a pastar.

     É claro que além de São Paulo, o PT obteve poucas vitórias importantes, perdendo em capitais como Fortaleza, Cuiabá, Salvador e grandes cidades do interior, como Campinas (SP), Diadema (SP) e Pelotas (RS) – mas isso não é garantia de que a corrupção diminuirá.

     Alguns grupos petistas mais fanatizados acreditam que a vitória de Hadad na cidade de São Paulo é sinônimo de que o julgamento e condenação dos mensaleiros mais conhecidos – como José Dirceu, Genoino, Marcos Valério e Delúbio, entre outros – foi injusta. Ora, ocorre que dos 11 ministros do STF, César Peluso aposentou-se nos primeiros dias do julgamento e dos 10 que restaram, Tófoli e Lewandowski agiram quase como advogados de defesa dos petistas. Restaram oito e ainda assim a justiça prevaleceu, os mensaleiros em sua maioria foram considerados culpados e condenados e é até muito provável que alguns dentre eles sejam presos.

     O que aconteceu em São Paulo foi a vitória da direita esperta contra a direita enfadonha. Lula, aliado com Maluf e não improváveis outras alianças subterrâneas, elegeu o seu candidato. O PT sozinho jamais conseguiria mais que 30% do eleitorado em qualquer lugar do país.

     A bipolarização partidária alimenta ainda mais os dois grupos neoliberalistas que tomaram conta do país: PT e PSDB. Qual a diferença política entre eles? Qual a diferença entre Serra e Hadad? Um veste branco e o outro vermelho. Talvez o PSDB não seja tão escancaradamente corrupto, como o PT – mas como saber? O modelo desses dois grandes grupos políticos é um só; tentam a alternância no poder para que o povo não desconfie do óbvio. Um grupo necessita do outro para que a farsa da democracia, com eleições a cada dois anos e mais nada, continue.

     Desejam o modelo estadunidense implantado aqui: dois blocos partidários iguais que fingem algumas diferenças. O povo torce por “A” ou por “B” como se fossem times de futebol ou blocos de carnaval. Vencer ou perder significa a vitória ou a derrota de determinada pessoa, nunca de um projeto político.

     Cartas marcadas. Urnas suspeitas que são usadas no Brasil e em poucos países, além do nosso. Os países sérios não usam urnas eletrônicas, a não ser que o eleitor receba o comprovante do seu voto. Mesmo assim, urnas eletrônicas não são usadas na maioria dos países que se consideram dignos e civilizados. E não é por falta de tecnologia, mas por respeito ao cidadão. Como pedir recontagem de votos em urnas eletrônicas? Além do que, são facílimas de fraudar.

     Cartas marcadas, falsa democracia.

     Para exemplificar, qual a grande transfomação que ocorrerá com a derrota do Serra para o Hadad ou do candidato do PT para o ACM Neto, em Salvador? Os dois vitoriosos sabidamente estavam apadrinhados ou herdaram votos. Não há qualquer mérito pessoal na política brasileira construída através de conchavos. Tenho certeza que os dois vencedores apóiam a entrega do Brasil ao capital estrangeiro, são fascinados pelos Estados Unidos, são antiecológicos e demagogos e só sobrevivem na política graças à sua subserviência. Talvez os discursos sejam diferentes, mas não passam de discursos que na prática não se confirmam. E assim, todos. Lembram dos discursos revolucionários do Lula? Depois de eleito, mensalou. Ou formou um ministério composto por mensaleiros.

     O que muda com as eleições de 2012? As caras dos políticos, talvez, mas não a cara da política brasileira. Alguns afirmam que é um prenúncio das eleições presidenciais de 2014. Ilusão ou gigantesca desinformação. Em 2014, teremos a Copa do Mundo, que o Brasil deverá vencer, e Dilma só não será reeleita se não concorrer.

     E continuaremos bancando os bobos e deixando que eles mensalem.

     Falam em reforma partidária, reforma política. Para eles, para seus interesses. É necessário mais do que reformas no Brasil ou seremos o último vagão do trem da História. E um vagão descarrilado devido ao excesso de carnaval dos passageiros.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

SEU CHICO E A DOSIMETRIA





Estava passeando nos mesmos lugares onde o povo passeia nesta cidade, quando me deparei com uma banca onde estava escrito: “VENDE-SE O MISTÉRIO DA DOSIMETRIA”. Sob o toldo, seu Chico, chimarreando. Ao lado dele, um guri vendia por 1 pila um pequeno texto sobre dosimetria. Uma fila gigantesca que dobrava a praça e subia pela General Osório a perder de vista, segundo me disseram, formada por pessoas pacientes e muito preocupadas com a situação política e jurídica do país, estava diante da banca. O guri se despachava, vendendo os papéis e recebendo o dinheiro. Seu Chico, entre um mate e outro, ia imprimindo e colocando em envelopes os papéis, onde estava escrito no cabeçalho: “DOSIMETRIA: UMA HISTÓRIA VERÍDICA”. Seu Chico me viu e convidou para entrar, oferecendo um banco ao lado do computador e da impressora. Estava afogueado, mas parecia feliz. Passou mais uma pilha de envelopes para o guri, um mate para mim e foi logo falando.

     - Pois veja o senhor que nestes últimos dias só o que se fala é sobre dosimetria.

     - Foi o que percebi, seu Chico. Em todas as rodas. Tentei até puxar assunto sobre futebol e novelas – coisas mais interessantes e alegres – e de nada adiantou. Sempre alguém voltava ao assunto, comentando sobre dosimetria e os demais se entusiasmavam, falando interminavelmente sobre o assunto.

     - O nosso é um povo muito politizado, como o senhor deve saber. Acompanha tudo, discute tudo e a tal de dosimetria é o assunto do momento, como não poderia deixar de ser. Me contaram – mas cá entre nós – que alguns casais estão até se separando por causa disso.

     - Mas qual o motivo, seu Chico?

     - Descobriu-se recentemente, logo após o advento da dona Dilma, que mulher é mais inteligente que o homem; além disso, todos sabem que as mulheres são bem mais práticas. Daí que com todas essas virtudes, algumas mulheres casadas ou muito bem acompanhadas quando lembravam ao marido ou companheiro certas praticidades da vida íntima, eles começavam a falar sobre dosimetria.

     - É dose, seu Chico! Bem que elas tem razão...

     - Pois não é? E eu ouvindo sobre essas coisas, e ainda outras que nem convém lembrar aqui, me resolvi a pesquisar sobre o tema, e da pesquisa veio a ideia de tentar esclarecer esse povo e uma coisa leva a outra e aqui estou, fazendo o que considero um dever cívico.

     - Ótima iniciativa, seu Chico. Pode ser que com os seus esclarecimentos as pessoas voltem a falar em futebol, novelas, coisas saudáveis, e deixem de lado mensalão, corrupção e suas dosimetrias – assuntos que nos levam a pensar que este não é um país sério.

     - O que é um pecado! Um país tão bonito... Cheio de praias... Poluídas, mas praias. Com imensas florestas... Estão sendo desmatadas, mas florestas. Ainda. Com governantes tão... Como direi?

     - Não diga que é melhor, seu Chico.

     - Então não direi. E o senhor? Passeando?

     - Passeando é força de expressão, não é seu Chico? Quem passeia neste país que não nos engana mais?

     - Tem os que passeiam. Tem os que passeiam muito. Com o nosso dinheiro, mas passeiam. E como passeiam!

     - Já que o senhor está com a mão na massa, me esclareça uma coisa. Como é que um bandido que leva quarenta anos de prisão, não pode ficar mais do que trinta anos na cadeia?

     - Coisas da nossa sábia lei... Mistérios impenetráveis...

     - E esse mesmo bandido, que pega uma pena de quarenta anos e, devido a esses mistérios impenetráveis da nossa sábia lei, ficaria apenas trinta... Esse mesmo bandido que ajudou a assaltar os cofres públicos, a roubar o nosso dinheiro, seu Chico!... Esse bandido ficará preso apenas um sexto da sua pena, ou seja, cinco anos. De quarenta anos para cinco, e talvez...

     - E talvez não fique nem cinco anos é o que o senhor quer dizer, pois não? Sendo amigo do rei e da rainha, ele ficará preso somente oficialmente.

     - E os que forem condenados a dez anos, seu Chico?

     - Pois veja bem: eu li num desses jornais do centro do país que pessoas de bens não devem ficar presas, que cadeia é coisa para bandido que anda armado. Os que forem condenados a dez anos, se forem pessoas mansas, que não usam armas, ficarão soltos. É o que eles chamam de regime semiaberto. Sem contar que existe o regime aberto.

     - Então, para que esse julgamento tão longo, seu Chico, se já se sabe de antemão que ninguém vai pra cadeia?

     - A nossa sábia lei exige o julgamento, exige que os culpados sejam condenados. Exige até que haja a tal de dosimetria, palavra que intimida, mas, quanto à punição... Não se pode prender pessoas de bens junto a bandidos pobres. No máximo, apreende-se os bens.

     - Não estou entendendo, seu Chico.

     - Não é tão difícil assim. Não é uma sociedade dividida em classes? Certas classes são punidas; outras não. Membros das classes mais altas, quando cometem algum tipo de delito, por mais grave que seja, sempre são considerados como travessos ou aloprados. Jamais como bandidos. Caso contrário, a classe que os pune estaria punindo a si mesma.

     - Mas não é a nossa sábia lei?

     - Não deixa de ser uma lei sábia, mas nossa...

     - Seu Chico, me deixe ver o que tem neste seu texto.

     Seu Chico me deu um dos papéis. Abri e ali estava escrito: “Mistérios insondáveis... Impenetráveis...” Olhou para mim e disse:

     - O que o senhor esperava por 1 pila?

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

STF RESGATA NOSSA DIGNIDADE





“Quando é que a pessoa começa a ficar ditador? É quando a pessoa se sente superior aos demais…sabe, quando a pessoa se sente superior às instituições, às organizações da sociedade civil, quando a pessoa começa a entender que não precisa ouvir mais ninguém, quando a pessoa só tem boca, não tem ouvido, a pessoa começa a ficar com atitude de ditador”.

“Eu acho que o parlamento brasileiro funciona como uma espécie de bolsa de valores. A verdade é que as pessoas de boa índole, as pessoas sérias, as pessoas comprometida com as suas concepções ideológica são minoritárias no Congresso. Aquilo é um balcão de negócio”.

(Trechos de entrevista de Lula a Augusto Nunes, em 1987).


     Um sufoco! A última chance de acreditarmos no Estado. Perguntava-se: qual será o tamanho da pizza? Já se sabia que, dos dez ministros, dois eram petistas, ou quase isso. Lewandowski e Dias Tóffoli. O primeiro, por uma questão de simpatia às teses da defesa. Tóffoli, este sim declarado petista que não honrou o cargo de ministro do Supremo quando decidiu não pedir a própria suspeição. Foi advogado do Lula e nomeado para a Advocacia-Geral da União pelo ex-presidente. Seria leal aos companheiros. Sobravam oito ministros isentos. Supostamente.

     No entanto, a irrefutável verdade dos autos, a irretocável peça acusatória de Roberto Gurgel, Procurador Geral da República, e a clareza com que Joaqquim Barbosa, relator, encaminhou o processo não permitiu dúvidas quanto à culpabilidade da maioria dos acusados. Houve momentos em que até Dias Tóffoli e Lewandowski concordaram em condenar algum peixe miúdo.

     Os brasileiros ansiosos por justiça ao menos uma vez respiravam, enquanto as empedernidas hostes petistas bufavam, xingavam, ameaçavam. Lula dizia que era tudo uma farsa. Quando foi acusado por Marcos Valério, calou-se. Em entrevista à revista Veja, Valério disse que Lula foi o verdadeiro comandante do mensalão. Afirmou: “Não podem condenar apenas os mequetrefes. Só não sobrou para o Lula porque eu, o Delúbio e o Zé não falamos”.

     O que poderia salvar Lula de uma investigação e provável acusação da Procuradoria Geral da União seria a sua incapacidade cognitiva; impossibilidade de compreensão dos fatos. Não devido somente à baixa escolaridade, mas pela pouca inteligência. No entanto, dizem que Lula é muito inteligente. Outros vão além – dizem que Lula é Deus.

     Quando Marta Suplicy ganhou de presente o Ministério da Cultura, não conteve e exclamou: "Lula é deus, eu sou a pessoa que faz e Dilma é bem avaliada". Deus. Nem Moisés pode ver a face de Deus; Marta Suplicy, talvez por ser do PT o reconheceu em Lula. Agora sabemos: Lula é Deus. Sendo assim, Lula deveria saber, porque Deus é Onisciente.

     Recentemente, Lula declarou que não está ligando para o julgamento do mensalão, que é uma trama das elites, segundo ele. Prefere futebol. Onde estará o templo do deus Lula? No estádio Itaquerão, doado ao time do (ex?) presidente?

     Pobre e desacreditado Lula, que elegerá Hadad prefeito de São Paulo com o apoio de Paulo Maluf e da torcida do Corinthians... Agora o PT é malufista. Será Paulo Maluf uma espécie de arcanjo do deus Lula? A aliança de Lula com Maluf é um lulufismo? Quando houve a histórica aliança, Mafuf disse que “o malufismo é um estado de espírito”. Será que ele não quis dizer “um Estado do Espírito”, referindo-se a Lula? Não é improvável. Até Marilena Chauí, a filósofa do petismo, disse que Maluf é um grande administrador que sempre se apresentou como um engenheiro.

     Não me perguntem o que é filosofia petista. Eu não saberia responder. Perguntem à Marilena. Talvez se relacione com engenharia. O mensalão foi uma corrupta engenharia política. Pega-se o dinheiro de um banco, de lá para outro banco, lava-se o dinheiro, vai para fora do país, volta limpinho, compra-se parlamentares de outros partidos. Tudo engenhosamente organizado.

     “Eu uso o Poder”, disse, certa vez, Roberto Marinho. O PT xingou, mas anotou a frase e deu a ela um sentido pecuniário. Poderoso chefão e companhia acreditaram que usar é o mesmo que comprar pessoas com o dinheiro público. Acreditaram que o dinheiro público era delegado a eles através dos votos; continuam acreditando.

     Restou aos brasileiros o Supremo Tribunal Federal, última instância de apelação. Poucos acreditavam, eu inclusive. Tem sido tantas as decepções... Funcionou até agora e respiramos. Entretanto, muitos perguntam se os condenados serão presos. Serão presos, senhores ministros do STF? Desejamos continuar acreditando.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

DUDA MENDONÇA E O ARBITRÁRIO DESTINO


Estava demorando. O STF absolveu Duda Mendonça pelos crimes de lavagem de dinheiro e evasão de divisas. Acredita a maioria dos honoráveis ministros que o famoso publicitário nada sabia a respeito do que estava acontecendo nos bastidores e recebeu inocentemente milhões de reais do exterior.

     Ele abriu conta em banco das Bahamas para receber o dinheiro, por orientação de Marcos Valério. Consideram os ilustres ministros do STF, em sua maioria, não somente Tófoli e Lewandowski, que o fato do publicitário ter aberto conta no estrangeiro não significa, necessariamente, evasão de divisas ou lavagem de dinheiro. Foi um ato inocente.

     Duda Mendonça elegeu Lula, em 2002. Também elegeu Paulo Maluf à Prefeitura de São Paulo, em 1992. Agora, Lula e Maluf estão irmanados na campanha pró-Hadad para a mesma Prefeitura. São iguais, como declarou Maluf.

     O publicitário é um profissional, não escolhe cores partidárias. Reelegeu a ex-prefeita de São Paulo, Marta Suplicy, em 2004 e elegeu Ciro Gomes a governador do Ceará, em 2004. Também elegeu Siqueira Campos, RoseAna Sarney, Lindberg Farias e Ricardo Coutinho, entre outros. É muito benquisto por todos os setores dos três poderes, ou do único poder.

     Alegam os que o absolveram (além de Tófoli e Lewandowski) que não tiveram absoluta certeza da culpa do publicitário, restou uma razoável incerteza, dúvida, a acusação teria formulado mal a denúncia, Duda até poderia ser culpado, mas como saber? Ele recebeu muitos e muitos milhões do exterior? Pois é, todos recebem, dívidas que o PT estaria saldando com o credor, coisas assim...

     Dinheiro do exterior para Duda Mendonça deve ser o mesmo que dinheiro do banco mais próximo a uma das suas residências. Atuou na campanha que elegeu Pedro Santana Lopes como primeiro-ministro de Portugal, país onde foi eleito Publicitário do Ano, em 2009, e onde tem uma rede de supermercados chamada Pingo Doce.

     É um cidadão do mundo, conhece a todos e todos o conhecem e conhece tudo de todos. Homem muito bem informado, conforme exige a sua profissão.

     É criador de cavalos de raça Quarto de Milha e é tão conhecido mundialmente que fundou a agência Duda Polônia, adivinhem em que país?

     A denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra Duda Mendonça indica que a evasão de divisas ocorreu por meio de remessas ilegais a uma conta da offshore Dusseldorf Company Ltda, nas Bahamas. O dinheiro teria vindo do “núcleo publicitário”, composto por Marcos Valério e seu grupo, que atuava como fiador do PT em empréstimos ao partido nos Bancos Rural e BMG. Esses empréstimos, para a PGR, seriam apenas uma maneira de disfarçar a origem dos valores desviados de contratos fraudulentos das agências de Valério com empresas públicas, como o Banco do Brasil.

     No entanto, a maioria do STF (incluindo, é claro, Lewandowski e Tófoli) acredita que o publicitário, a exemplo de Lula, nada sabia do esquema do mensalão – embora Lula realmente não possa ser imputado de qualquer crime referente ao dito esquema, não só porque, na época, como Presidente da República vivia no ar, viajando de cá para lá e vice-versa, como também devido a sua alardeada insuficiência acadêmica, escolar, etc.

     Ocorre que Duda Mendonça é muito inteligente, tem curso superior, conhece literalmente todo o mundo, mas, quanto ao mensalão, a maioria do STF o absolveu alegando que ele ignorava tudo – vejam só!

     Que coisa... Esperemos os próximos capítulos e ficam as perguntas:

     Os condenados na Ação Penal 470 – vulgo Mensalão – serão presos?

     Se forem presos, serão soltos imediatamente?

     Duda Mendonça é o verdadeiro Cara, no lugar de Lula?

     Você tem feito três refeições diárias, conforme promessa de campanha do Lula?

     Gosta do carinho da Dilma?

     Acredita em fraudes em urnas eletrônicas?

     Duvida que o Fluminense esteja marcado pelo arbitrário destino para ser o campeão brasileiro de 2012?

terça-feira, 9 de outubro de 2012

DE LAVADA





Seu Chico estava quieto, observando a chuva sob a aba daquela construção eternamente inacabada do Consórcio, ali perto do quiosque da dona Neusa, onde se toma o melhor cafezinho de Bagé, quando eu me aproximei, cumprimentei e fui logo perguntando:

     - Votou bem, seu Chico?

     - Muito bem! E o senhor?

     - O mesmo, seu Chico. Desta vez até parece que foi fácil, apesar de toda a barulheira.

     - Mas por demais! Por demais a barulheira e por demais a diferença na votação. Surpreendeu todo mundo. Mas eu tenho uma teoria a respeito.

     - E qual é essa teoria, seu Chico?

     - Pra bem da verdade é uma teoria que pode ser dividida em duas partes. A primeira, é que não se deve fazer passeata da vitória na véspera da eleição. Dá azar. Essa coisa de ficar dizendo que já ganhou, já ganhou, atrai más influências, quando não provoca dores estomacais. Outra coisa que pode provocar é excesso de adrenalina. O senhor sabe que todo excesso pode ser prejudicial. Daí que o eleitorado da dita coligação de oposição dormiu nas palhas depois da tal de passeata da vitória.

     - E esqueceu de votar no dia seguinte?

     - Não exatamente. Veja o senhor que quem comemora antes acredita tanto na vitória que quando vai votar está tão faceiro que é capaz de errar o número do candidato.

     - Eu não tinha pensado nisso... E a outra parte da teoria?

     - Pois veja a seca que estava, todo mundo pedindo água pro vizinho para poder tomar mate e não é que deu pra chover justamente no dia da eleição? Diz-que o Prefeito, que já foi seminarista, tem lá os seus tratos, as suas ligações, até as suas benquerenças com o pessoal lá do Céu – o que não é pra duvidar, porque numa hora dessas não se duvida de nada. Há quem afirme que ele teria prometido chuva, se eleito fosse. E na hora que o povo sai pra votar... - olhe o aguaceiro!... E segue chovendo de entortar torneira e afogar peixe. O que o senhor acha?

     - Não dá pra desdenhar dessa teoria, seu Chico. Com certeza tem lá o seu pouco de verdade. Mas e agora, seu Chico? Passaram as eleições, todo mundo já está se acomodando aos eleitos e reeleitos, alguns choram, outros fazem festa... Daqui a pouco, nada mais é lembrado... Como fica o povo?

     - É o que eu me perguntava, ou perguntava pra chuva, quando o senhor me encontrou. E tenho comigo que o povo vai ficar esperando outro momento de grande barulho, se entretendo com futebol, novelas e outras coisitas que ajudam a levar a vida. E assistindo e torcendo...

     - Torcendo para os seus times?

     - Isso também, e principalmente torcendo para que os políticos eleitos realmente cumpram as suas promessas.

     - Um dia o povo vai perceber que democracia não é só votar, não é seu Chico?

     - Isso vai depender de todos os que ainda tem alguma consciência. Do senhor, de mim e de muita gente que acredita que democracia tem que ser participação permanente e não delegação de direitos.

     - Pelo andar da carruagem, ainda vai demorar um bom pouco para que isso aconteça, seu Chico.

     - Pode ser que essa carruagem dê uma acelerada. Aqui, consciente ou inconscientemente, o povo não acabou de derrotar a direita ultra-reacionária? Não dá pra desacreditar no processo histórico. Às vezes é cansativo como um dia de chuva ou devagar como os dias mormacentos, mas continua.

     - É uma luta diária, seu Chico.

     - Uma luta para toda a vida e que é alcançado através de pequenas vitórias, como as eleições.

     - É verdade, seu Chico. E desta vez foi de goleada.

     - Pois não foi? E graças ao belo tempo de chuva, que outros chamam de mau tempo, até se pode dizer que foi de lavada.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

O CORRUPTO CARNAVAL DAS URNAS




Lula-Lá ou Lu-Lalau? Sabia ou não sabia o ex-presidente o que ocorria nas suas antigas barbas? E Dilma, que era ministra todo-poderosa da corte? O que ela sabe ou não sabe? Ínclita Dilma, domadora de (quase) todos os partidos, que a ela se aliam em troca de... dinheiro? Trocar ministérios e secretarias e outros que tais por apoio político é ou não é uma maneira de corromper? É necessário que o dinheiro esteja escondido em roupas íntimas e seja “lavado” através de bancos e outras formas muito conhecidas dos quadrilheiros famosos para que seja caracterizada a corrupção? Este sistema não é idealmente corrupto para os que fazem da política uma profissão muito lucrativa?

     Neste exato momento, votos estão sendo comprados em todo o Brasil. Milhões de pessoas estão vendendo a sua consciência, ou o que dela resta. Este é o país da corrupção, ativa, passiva, mista, subjetiva, objetiva, psicológica, aparelhada. País dos passivos. Como são passivos os que desejam tanto ganhar com as eleições, e como as esperam avidamente, ansiosamente, esperançosamente!... Quando a campanha eleitoral chega – finalmente! – oferecem-se de corpo e alma para fazer a propaganda e votar naquele que der mais. Quem dá mais? – se perguntam os que desejam prostituir a desmemoriada mente.

     E os ativos? Os ativos são manipuladores, rápidos, espertos. Dão a impressão de estar perdendo muito dinheiro, apostando a vida, endividando-se para mostrar ao eleitorado quão bons eles são, foram e serão. Farão de tudo pelo povo. Até o momento em que são eleitos. Depois... depois dão um jeito de recuperar e multiplicar o dinheiro investido.

     A política no Brasil está transformada numa questão monetária. Foram-se as ideologias, as causas, a defesa de ideias, de valores. Acabaram-se os ideais. Este é um país de muitas siglas, somente siglas, inexpressivas siglas. Siglas endoidecidas por dinheiro, bebendo votos, cheirando consumo e fumando alianças.

     Além do Mensalão, Lula e Dilma se aliando com Maluf, um dos dez mais procurados pela Interpol, faz com que o PT consiga ficar à direita da extrema-direita. Para ganhar votos. Uma questão de estratégia, de pragmatismo, de momento político, de compras e vendas, de definitiva e consciente alienação...E corrupção? E com eles vai o resto: a militância que agora é paga e não voluntária e que não sabe exatamente pelo que está militando. Talvez por pessoas, honra (honra?), hábito, uma cor partidária que nada mais significa. Quem sabe significa dinheiro?

     Alguém aí falou em Mensalão, em Lewandowski, em Tóffoli, em aliados do poder? A ponta do iceberg. O poder não está entrincheirado em Brasília. Tem seus tentáculos em todos os rincões; em todos os lugares espalha o seu cheiro adocicado de carne velha muito temperada.

     É prática do poder dizer-se carinhoso, amável, preocupado com o povo. Como o poder se preocupa com o povo... Discretamente, com belas promessas e muita polícia. Diz ao povo “Eu quero!” e o povo responde “Eu também!” Forma-se a cumplicidade. Alguns, muito poucos, cada vez menos, dizem “Não!” Ainda restam alguns.

     Em Bagé, minha cidade, concorrem três pessoas à Prefeitura. O atual prefeito petista que quer continuar prefeito e aliou-se com parte das permanentes forças burguesas e para elas governa. E diz que governa para o povo. Uma grande coligação o apóia.

     Uma ex-vereadora do PT, agora candidata pelo PTB – partido do Roberto Jefferson - que quer ser prefeita e se aliou com a outra parte das permanentes forças burguesas e para elas quer governar. Forças burguesas que incluem DEM, PP e agentes da União Democrática Ruralista (UDR), que não é um partido, mas uma união não democrática de grandes fazendeiros que são contra a reforma agrária e tem por hábito aterrorizar o pessoal do MST. O lema dessa candidata é “Vai Melhorar!” Pergunta-se: para quem? Diz que vai governar para o povo e uma grande coligação a apóia.

     O terceiro candidato é do PSDB, um partido pequeno e dividido por interesses, que conseguiu o milagre de postar-se à esquerda das duas grandes coligações, não pela ideologia, mas pela sinceridade do candidato que, no entanto, caso fosse eleito, não o impediria de se aliar às permanentes forças burguesas que dominam a cidade. Diz que governará para o povo.

     E o povo? O povo vai atrás de quem grita mais alto, faz promessas mais bonitas, mostra-se mais exitoso e influente, tem melhores padrinhos e, principalmente, tem mais dinheiro.

     Somos um povo corrupto ou os degradados que governam pela força do dinheiro querem nos convencer de que a corrupção é natural no ser humano?

     Passadas as eleições, o momento do orgiástico carnaval das urnas, quais as grandes mudanças que ocorrerão?
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