sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

MATAR A ALMA


A maneira mais tradicional que se conhece para matar árvores é através de um machado que, aliás, está ficando obsoleto, dando lugar ao estrelismo da motosserra em filmes trash de terror e pânico. Aquelas coisas que adolescentes adoram assistir. Terror e pânico também para as árvores, mas os matadores especializados dizem que árvores não tem alma, assim como nenhum outro ser vivo irracional e a motosserra foi criada especificamente para abater, derrubar, cortar o seu passivo e indefeso alvo verde. Matar rapidamente.

     Bilhões de pessoas acreditam que matar é um ato maléfico relacionado somente aos seres humanos. O primeiro dos Dez Mandamentos diz “Não matarás”. E ficou subentendido que não se deve matar os humanos. Vegetais e animais poderiam ser mortos à vontade, sujeitos à vontade e imaginação destrutiva do rei dos predadores. Se bem que aquela lei, ou mandamento, é contraditada quando o mesmo deus manda matar pessoas de outras nações para os desalojar e desapossar da terra da Canaã. E mais uma vez o mandamento é reinterpretado implicitamente para “Não matarás aqueles do nosso povo”.

     As leis existem para serem interpretadas, conforme temos visto inúmeras vezes. Caso contrário, o que seria dos juízes? Perderiam muito da sua importância. Lembram como o Joaquim Barbosa e o Lewandovski duelaram, recentemente, por ocasião do julgamento do Mensalão? No entanto, o fato era um só: a existência de crimes contra o Estado perpetrados por uma quadrilha organizada. Todos sabiam disso. E lembram dos pudores jurisprudenciais do Joaquim Barbosa quando teve chance de mandar para a cadeia os criminosos e não o fez? Eram criminosos importantes.

     Este é o país dos crimes não julgados e de criminosos sentenciados à liberdade. Se você deseja ser um criminoso impune, em primeiro lugar consiga um cargo no governo. Qualquer governo. Poderá ser o secretário do último dos secretarios municipais da sua cidade. Se o crime for descoberto, no máximo você será exonerado e responderá a um interminável processo.

     Um dos crimes mais corriqueiros é contra o meio-ambiente. As leis que tratam do assunto são absurdas. Quando alguém é pego em flagrante é solto imediatamente com pedido de desculpas. O que é o Novo Código Florestal senão um gigantesco crime ecológico? Ressalte-se que um crime ecológico oficializado, aprovado por senadores e deputados. E olhem que o Genoíno ainda não tinha sido empossado!

     O Governo ganha bastante com os impostos sobre exportação. Fazendeiros e multinacionais agropecuárias enriquecem ainda mais exportando. Os países europeus adoram importar os baratos produtos brasileiros. Os fabricantes de transgênicos aumentam muito as suas fortunas esterilizando o solo do país.

     E as matas e florestas? Eles ganham de duas maneiras: 1) Desmatando e vendendo as madeiras nobres e tranformando as menos nobres em celulose; 2) Aproveitando a área desmatada para plantar ou utilizar para a pecuária. A frase da época da ditadura militar voltou com toda a força: “Plante que o Governo garante”.

"Crimes contra a flora"

     "Destruir ou danificar floresta de preservação permanente mesmo que em formação, ou utilizá-la em desacordo com as normas de proteção assim como as vegetações fixadoras de dunas ou protetoras de mangues; causar danos diretos ou indiretos às unidades de conservação; provocar incêndio em mata ou floresta ou fabricar, vender, transportar ou soltar balões que possam provocá-lo em qualquer área; extração, corte, aquisição, venda, exposição para fins comerciais de madeira, lenha, carvão e outros produtos de origem vegetal sem a devida autorização ou em desacordo com esta; extrair de florestas de domínio público ou de preservação permanente pedra, areia, cal ou qualquer espécie de mineral; impedir ou dificultar a regeneração natural de qualquer forma de vegetação; destruir, danificar, lesar ou maltratar plantas de ornamentação de logradouros públicos ou em propriedade privada alheia; comercializar ou utilizar motosserras sem a devida autorização. Neste caso, se a degradação da flora provocar mudanças climáticas ou alteração de corpos hídricos e erosão a pena é aumentada de um sexto a um terço."

          Como todo crime no Brasil, o crime ambiental, exceto em caso de flagrante,  deverá ser denunciado, aceita a denúncia pela promotoria para só então ir a julgamento, quando será interpretado e poucas vezes condenado. Condenações ridículas. Vejam Belo Monte. Um gigantesco crime ambiental denunciado pelo mundo inteiro. No entanto, continua a ser cometido porque agrada ao Governo. E aqui temos um interessante falso silogismo: se o Governo deseja perpetrar crimes e sendo o Governo eleito pelo povo, logo, quem comete os crimes é o povo. E o povo, ou o Governo, é soberano também quando criminoso.

     Belo Monte é o exemplo mais escrachado, mas olhem para os lados, em suas respectivas cidades. Pedem licença ao povo os governos municipais para cometerem os seus ‘pequenos’ crimes ambientais?

     Matar. Quando começaram a destruir as árvores em Bagé a maioria das pessoas não se importou. Grandes placas diziam que as praças estavam sendo “revitalizadas”, mesmo que nelas não se percebesse qualquer sinal de ausência de vitalidade. Cortaram e arrancaram árvores pela raíz. Árvores conhecidas e amigas dos verdadeiros bajeenses que já estavam acostumados à sua presença. Comentários esquivos; tímidos e canhestros protestos. Esta não é uma cidade com grande consciência ecológica e a maioria das pessoas prefere não se incomodar. Os representantes do povo, também chamados de vereadores, na verdade são porta-vozes do Executivo e as árvores continuaram a ser derrubadas. Algumas eram centenárias.

     Ao mesmo tempo, os canteiros foram depredados. Os canteiros das praças. Quem nasceu aqui e tem amor a esta terra ainda se lembra dos belos e faceiros gramados, um dos orgulhos naturais da cidade. Não foram mais cuidados. Sumiram.

     O corte de árvores continuou não só nas praças como nas calçadas. Basta algum empresário amigo pedir e lá vai a turma da motosserra. Em uma dessas ocasiões, o ex-vereador Valentim Cassali acorrentou-se a uma das árvores condenadas. Quase foi vítima do louco da motosserra. Dizem que famosos cineastas e atores da terra estavam a postos para fazerem um filme na hora. Teriam ficado frustrados pela realidade do tema.

     Depois foram os antigos e confortáveis bancos das praças. Nós, os bajeenses de verdade, tínhamos orgulho daqueles bancos. Eram aconchegantes; contavam e lembravam histórias. E os postes de luz – belos, altaneiros, graciosos. Numa daquelas revitalizações para turista ver eles cometeram o crime. Alguns que ainda dormiam, acordaram dizendo: “Será que eles querem acabar com os indícios da nossa História?” Pequena história, íntima história, tímida história, mas nossa, não a deles.

     A deles é construída com palavras, gestos, discursos; a nossa está sendo desconstruída gradativamente, perseverantemente. Matar também é matar a memória.

     Dia desses fui passear na Praça da Estação que, bem no meio, tem um antigo canhão apontando diretamente para o Centro Administrativo, como a dizer: “Comportem-se, ou...” Não pensem que é um canhão tradicional. Foi colocado lá na época da ditadura militar. Os donos do poder tem o hábito de marcarem a sua passagem. Começam por modificações nas praças. Continuam pelo amordaçamento e passividade do povo. No lugar do canhão havia um belo chafariz do qual pouca gente se lembra. Matar a memória é um ato ditatorial infalível.

     Eu estava lá, observando os estragos - o capim crescendo no lugar dos antigos gramados, as árvores esperando o seu momento de despedida – e me lembrando que em menos de um mês a praça será invadida e devastada mais uma vez por centenas de pessoas que tentarão assistir a desfiles de blocos ou, como preferem, escolas de samba, no curralzinho apelidado de sambódromo que todos os anos – desde que eles chegaram - é construído entre a praça e o Centro Administrativo, porque também o antigo carnaval dos verdadeiros bajeenses acabou, devido a supostas misteriosas razões monetárias e logísticas... quando vi.

     Árvores marcadas para morrer. Ao lado delas, a grama que ainda existia foi arrancada e estão sendo criados espaços de pedra ou grandes calçadas ou que nome eles dêem aquilo. Devem chamar de revitalização. Toda a praça está marcada para morrer. O que ainda resta dela.

     Desta vez, porém, preferiram não usar as motosserras. Por enquanto. Primeiro estão matando as árvores escolhidas. Cortam as raízes, as árvores secam e então eles as derrubam e aumentam o espaço revitalizado.

     Não se sabe exatamente o que os dois últimos prefeitos pretendem com essas revitalizações, além de deixarem a sua triste marca no destino da cidade. Mas tenho certeza de que muitos bajeenses de verdade já não reconhecem a sua cidade.

     Alguns dizem que o ex-prefeito e o atual, como não são de Bagé e não viram a cidade crescer, não tem apego às nossas pequenas coisas que consideramos tão grandes, sinais particulares que nos distinguem, características que faziam de Bagé a nossa cidade – embora tudo indique que essa afirmação poderá ser mais uma tentativa de sofisma. Chê Guevara era argentino e foi lutar pela libertação de Cuba e de outros países. Morreu na Bolívia, depois de preso e torturado.

     Claro que nem todos tem o desprendimento de um Chê Guevara, atualmente. Aliás, pouquíssimos. Pode-se contar nos dedos de uma das mãos e sobrarão dedos. Não se pode exigir esse altruísmo de pessoas que só pensam em eleições e reeleições, que multiplicam secretarias para se manterem nos cargos. Esses, se for o caso, farão o Carnaval na Quaresma e conservarão os canhões nas praças. Destruirão árvores.

     Árvores não votam. São consideradas como objetos decorativos que podem ser deslocados, trocados, mortos. Estamos na época do desamor, do inerte e estéril racionalismo utilitarista, do consumo pelo consumo, dos carnavais insanos que engordam alguns e iludem a maioria, da ausência de sentimentos puros, simples e honestos e da morte da alma.

sábado, 19 de janeiro de 2013

SEU CHICO, O MARINHEIRO E O PAPAGAIO





Eu estava voltando de um passeio pela desfigurada Praça da Estação e resolvi visitar o seu Chico que mora ali por perto. Encontrei-o feliz, alegre, disposto, com cara de quem viu passarinho verde.

     - E vi mesmo! – foi logo confirmando. – Ou por outra: ouvi. E não era passarinho, mas papagaio.

     - Não me diga que o senhor ouviu de novo o programa “O Marinheiro e o Papagaio”?

     - É a diversão dos sábados. O Marinheiro falava e o Papagaio ali, de um ombro para o outro, imagino, só repetindo.

     - E sobre o que o Marinheiro falou desta vez?

     - Ciências ocultas. O Papagaio papagaiava muito e, por momentos, até parecia que ria aquele riso fininho dos papagaios bem treinados. E eu mal entendi o que o Marinheiro dizia. Fiz força pra adivinhar que eram coisas muito metafísicas.

     - Num programa radiofônico, seu Chico! Deviam proibir. Como é que o povo vai entender?

     - Ora, o povo... O senhor sabe que o Marinheiro não é muito chegado no povo. Deve ser trauma de infância. E desde que um certo juiz transformou os jornalistas em padeiros...

     - Estava tão ruim assim o programa?

   - Ao contrário. Muito divertido, quando se conseguia ouvir. Em determinado momento, o Marinheiro inventou de dizer que não é reacionário. E o Papagaio repetindo.

     - Um papagaio muito bem ensinado, seu Chico. Deu um ótimo repetidor. Então o Marinheiro não é reacionário? Será algum revolucionário desconhecido?

    - Não leva jeito. Mais provável que seja um  conservador esclarecido, primo-irmão dos antigos déspotas esclarecidos, que eram esclarecidos mas continuavam déspotas. O senhor sabe que conservador é aquele que ajuda a conservar a dor.

     - Pois é. Mas falando sério, seu Chico, o que será o conservadorismo? Uma espécie de morte em vida?

     - Ou de vida em morte, porque o conservador é aquele que considera que a vida deve continuar assim como ela está – porque está boa pra ele. Por isso não olha pros lados, para os demais. Apenas para si, para o seu grupo social, que costuma ser uma casta muito bem organizada em torno de interesses materiais.

     - Mas é uma tristeza viver assim, seu Chico.

    - Para o conservador é uma alegria, mesmo que viva com medo. Qualquer sinal de mudança na sociedade é uma tortura. Entenda que o conservador inevitavelmente é uma pessoa que tem privilégios sociais e os cultua – por isso o medo. Medo de perder os privilégios, de sofrer alguns estremecimentos na sua vida tão petrificada.

    - Fico imaginando como será o dia-a-dia do conservador...

    - Penso que é um noite-a-noite. Imagino que deverá ter uma grande preocupação com a aparência, não somente física, mas dentro daquilo que ele entende como sociedade, que é o grupo onde ele circula e considera como o único verdadeiro e merecedor de todas as benesses. Preocupa-se com valores tradicionais, e quanto mais tradicionais maior será a sua segurança interior. Deve pertencer a uma religião que dê guarida a esses valores; uma família obediente, onde ninguém pode criticar o previamente estabelecido; idéias imutáveis sobre o que é certo e o que é errado; é guiado por agendas e horários, somente se sentindo bem dentro do círculo conhecido. Enfim, um animal gregário, previsível e sonambúlico.

     - Credo!, seu Chico... O coitado do conservador não tem alegrias na vida?

     - Muitas. A principal delas é a certeza diária de que a sua vida continua a mesma. É claro que irá a festas programadas com antecedência e dirá as palavras esperadas e decoradas no momento oportuno. Até se mostrará simpático, bonachão, com prováveis sorrisos e gargalhadas para ditos e anedotas prováveis. Um boa praça.

    - Isso me alivia, seu Chico. Não gosto de pessoas tristes, agarradas em bens materiais. Mas, voltando ao Marinheiro e o Papagaio...

     - Pois o Marinheiro continua o mesmo, como bom conservador que é. Imutável dentro do seu rancor contra o povo. E olhe só: contra o nosso povo conservador, movido a pão e circo e seguindo líderes cada vez mais conservadores, quando não abertamente corruptos.

     - É uma decepção, seu Chico. Logo pessoas que se diziam revolucionárias, progressistas...

   - Chegaram ao poder e se bandearam; se entregaram pros homens na primeira oportunidade e a grande revolução que querem fazer é a do futebol. Tornaram-se conservadores e reacionários e dão o mau exemplo pro povo, que acaba pensando que mudança é carnaval e se torna igualmente conservador, como aqueles que elegeu e mitificou.

    - Não adianta, seu Chico. “Povo que não tem virtude acaba por ser escravo” – como diz o nosso hino. Breve teremos milhões de escravos iguais ao Marinheiro.

    - E, como ele, pensando que mudança social é sinônimo de eleições, e eleições dentro dos Estados Unidos, lugar onde ele seria, obviamente, do Partido Republicano.

     - Mas não existe nenhuma diferença entre aqueles dois partidos dos Estados Unidos. Ambos são imperialistas e demagógicos.

     - Sem contar que é um país fascista. O Marinheiro sempre fala nos Estados Unidos por força do hábito. É o seu ideal de país; gostaria de ter nascido lá. Os outros países não existem para ele, a não ser aqueles que seguem o mesmo modelo.

   - Até parece a nossa imprensa oficial, que dá notícias somente sobre alguns países, e sempre os Estados Unidos em primeiro lugar: o Obama isto, o Obama aquilo, a mulher do Obama, as filhas do Obama, a Dilma e o Obama...

    - Pois o Marinheiro tá ficando igualzinho. Com o detalhe de que ele fala de outros países que o incomodam. Cuba deveria afundar, Chávez só morto, Argentina e Brasil de volta para os militares, e por aí vai... Repete tudo que a imprensa conservadora e golpista escreve e diz.

     - E o senhor ainda acha engraçado...

   - Mas não é engraçado ouvir uma pessoa tão viajada como o Marinheiro repetir as mesmas palavras e as mesmas frases no mesmo dia da semana, à mesma hora? Às vezes eu o confundo com o Papagaio. E olhe que ele é um causídico!

     - Ele é advogado?

   - Isso eu não sei, mas gosta muito de contar causos, sempre os mesmos. Se bem que tem gente que afirma que ele anda com a Constituição embaixo do braço.

     - Vai ver que ele é, seu Chico.

   - Foram ver por mim. Não é a Constituição. Ele passa lendo uma compilação das frases e discursos de Carlos Lacerda, General Figueiredo, General Emílio Médici...

sábado, 12 de janeiro de 2013

A REVOLUÇÃO BOLIVARIANA



Ouvi alguns absurdos hoje,12 de janeiro de 2013, em programa de rádio bastante popular e que tem por característica dar a palavra por uma hora, durante os sábados, a pessoa ou pessoas que se destacam pelo reacionarismo1. Mais que entrevista é discurso somente interrompido por comerciais. Obviamente, a rádio em questão é de extrema-direita2 e procura influenciar aquelas pessoas que não tem capacidade de discernimento.

     O entrevistado de hoje mostrou um ferrenho ódio a Hugo Chávez. Influenciado, talvez, por aquele tipo de jornalismo golpista do qual deve colher as suas informações, disse coisas como:

     “O povo é figura abstrata que não tem existência concreta.”
     “O povo mandando é o fim da democracia.”

    Desejo acreditar que é apenas despreparo intelectual (veja-se a redundância da primeira frase), desconhecimento de política (observe-se o ridículo da segunda frase) ou simplesmente ignorância (do verbo ignorar = desconhecer). Pessoas assim existem aos milhões no Brasil, um país que bate recordes em subdesenvolvimento mental e que possui uma das mais altas taxas mundiais de analfabetismo, sendo que o analfabetismo funcional – pessoas que sabem ler e escrever, mas não entendem o que leem ou tem grande dificuldade de interpretação – é muito grande.

     Pessoas assim confundem revolução com golpe de estado, povo com entidade abstrata e democracia com desigualdade social. Para elas, convém lembrar que democracia é o governo do povo, que tem existência concreta, sim, quando sabe da sua imensa força.

     Como na Venezuela, onde Hugo Chávez vem sendo reeleito pelo povo desde 1999, e o mesmo povo,  em sua maioria, concordou em implantar o que é chamado de Revolução Socialista Bolivariana. Uma revolução que não é sangrenta. Ao contrário: principalmente com a privatização do petróleo, a Venezuela deixou de entregar a sua principal riqueza para potências estrangeiras, investindo o dinheiro dos royalties no seu povo.

     Após 2003, quando passou 100% para o controle estatal a petroleira PDVSA financia a maioria dos programas sociais. Trezentos bilhões de dólares há foram investidos nos programas sociais. Principalmente nas Missões Bolivarianas, que levam saúde, educação e alimentos em casa e atendem a 20 milhões de venezuelanos, ou 60% da população.

     A Missão Robinson teve como objetivo erradicar o analfabetismo no país e a UNESCO, em 28 de outubro de 2005, declarou a Venezuela um território livre do analfabetismo.

     Revolução é sinônimo de transformação. Quando um país está doente devido aos seus vícios políticos que levam à corrupção, ao empreguismo, à imoralidade e às grandes desigualdades sociais, só há um caminho: a transformação do país através de uma revolução social. A outra possibilidade é deixar tudo como está para ver como é que fica e, cedo ou tarde, desfazer-se dos seus símbolos e da sua dignidade, como Porto Rico que é mais uma estrelinha na bandeira dos Estados Unidos. A Venezuela escolheu o caminho da revolução.

     E o centro da revolução venezuelana é o seu povo. Diz o jornalista Roberto Martínez: “É o poder social transformado em poder político e, muito além disso, em poder político de libertação. Isto é uma verdadeira revolução, quando a sociedade é construtora do seu próprio destino”.

     É através das Missões Bolivarianas que a revolução venezuelana se realiza.

     Bairro Adentro é uma das missões pioneiras. São oferecidos serviços de saúde nos 335 municípios do país e em mais de 7 mil consultórios. No território político da população são resolvidos os problemas sanitários, os médicos vão às comunidades, às montanhas e lugares mais distantes. Além disso, foram instalados os Centros de Diagnóstico Integral (CDI) como mecanismo da prevenção de doenças, serviços de alta qualidade, com tecnologia de ponta, 24 horas do dia.

     A Missão Milagre devolve a luz às pessoas com padecimentos oculares. É realizada dentro e fora da Venezuela para as famílias pobres. A Missão José Gregorio Hernández para as pessoas que, por acidente ou problemas congênitos, carecem de algum membro do corpo, que as limita em algumas capacidades motrizes.

     A Missão Esporte é fazer desta atividade uma na qual o ser humano se sinta mais pleno, saudável e ativo. Para que a juventude e as crianças exercitem mente e corpo. Além disso, existem as missões educacionais Robinson, Rivas, Sucre. A Venezuela é completamente livre de analfabetismo. Os níveis educacionais e de aproveitamento superam todos os números da história do país. A educação pública superior é gratuita e sem custo algum para as famílias.

     Existem ainda as missões técnicas, como a Che Guevara e de participação comunitária, como a 13 de Abril. A Missão Meninos e Meninas do Bairro que atende crianças de rua, e a Missão Negrita Hipólita que atende aos mais desvalidos.

     Na educação, o Estado venezuelano garante, de acordo com o artigo 6 da Constituição, “o direito pleno a uma educação integral, permanente, contínua e de qualidade para todos e todas com equidade de gênero, em igualdade de condições e oportunidades, direitos e deveres; a gratuidade da educação em todos os centros e instituições educativas oficiais até o nível universitário”.

     Muitos pensam que se Hugo Chávez morrer a revolução bolivariana morrerá com ele, o que é um erro, porque a revolução pertence ao povo e não a líderes que, inevitavelmente, passam. Além disso, a revolução bolivariana não se restringe unicamente à Venezuela, mas agrega países como Equador, Bolívia e Nicarágua e tem a simpatia de diversos outros, como Uruguai e Argentina.

     É uma revolução nitidamente anticapitalista, a favor do bem-estar do ser humano em harmonia com a natureza e isso atrai o ódio de pessoas não só mal informadas, como a acima referida como exemplo, mas de todos aqueles que desejam com veemência que 90% das riquezas da humanidade continuem a pertencer a 10% de exploradores.

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1 - Reacionarismo. Atitude ou modo de ser de pessoas, grupos ou partidos políticos que tem grande medo do povo e de mudanças sociais.

2 - Extrema-direitaAtitude ou modo de ser de pessoas, grupos ou partidos políticos que tem grande medo do povo e de mudanças sociais e que , ao mais das vezes, defendem golpes de estado.

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

SEU CHICO E A NUMEROLOGIA DE 2013





Visitei seu Chico ainda há pouco para lhe desejar um feliz ano novo e todas aquelas coisas que a gente deseja para os amigos no início de cada ano, e depois que veio o chimarrão e uns bolinhos de arroz que a sua esposa tinha feito “para dar sorte no ano novo” e já estávamos ouvindo “Gaudêncio Sete Luas” e outras excelentes músicas gaúchas da antiga Califórnia de Uruguaiana, cidade que hoje prefere o carnaval e outras carioquices que dão mais dinheiro, seu Chico perguntou:

- Pois então o senhor prevê que este ano de 2013 é o ano do equilíbrio...

- Não foi exatamente isso que eu disse, seu Chico, mas entrevista é assim mesmo. Aliás a jornalista, muito simpática e inteligente, fez uma excelente matéria. É que conversa vai, conversa bem...

- Me explique.

- Explico. 2013 é um Ano Universal 6, que reflete uma vibração de equilíbrio. Também de amor à família, à comunidade e, por extensão, ao mundo. Essa vibração, traduzida pelo número seis, ajuda as pessoas a buscarem o equilíbrio, a ponderação.

- A acertarem as pontas...

- Isso! E sempre dependendo de cada um. Vou lhe dar um exemplo figurado: no ano passado, 2012, vibrava o número cinco que representa, ao meu modo de ver, um cavalo xucro que não se deixa manear e enlouquece todo mundo. Um ano em que as pessoas estavam desejosas de fazer tudo ao mesmo tempo.

- Mas nem o gigante Briaréu, que tinha cem braços, segundo o Dom Quixote, conseguia fazer tudo ao mesmo tempo!

- Pois é. Lembra da figura do número 5? Parece uma roda girando, uma pá de moinho. Pega embaixo e joga pra cima...

- Deve ter sido por isso que o Cavaleiro da Triste Figura atacou os moinhos de vento. Mas e o número seis, o que lhe lembra?

- Um boi, seu Chico. Um boi que deve receber uma aguilhoadas, de vez em quando, para andar. E um boi que pode virar touro se for muito cutucado. É por isto que eu também disse que o Ano Universal 6 é um ano muito sério. Nem lá nem cá. Nem calma demasiada, nem empurrão. Um ano em que se deve buscar o equilíbrio. Vou lhe dar outro exemplo. O número cinco – 2012 – é como um adolescente que está descobrindo a vida e faz todas aquelas loucuras típicas; já o número seis – que vibra neste ano - representa o pai de família, cheio de responsabilidades, o que pode provocar tensão.

- Mas então é um ano pra se levar na ponta dos dedos!...

- E com muito carinho, seu Chico.

- Ouvi dizer por aí que é um ano bom pra casar.

- Bom pra namorar, casar, bom pra tudo o que se relacionar com família. No entanto... O senhor sabe que sempre tem os dois lados...

- Ultimamente estão dizendo que tem três ou quatro lados... E qual é o outro lado?

- O outro lado é que se existem problemas entre o casal, poderá haver briga. Briga séria para resolver os problemas, bem entendido. Depois, se se gostarem de verdade, voltam às boas com os problemas consertados.

- E guerras?

- Isto também. Se há tensão para guerras é quase inevitável que ocorram. Não que eu deseje... Assim como pode acontecer a paz com a resolução dos problemas pendentes. No entanto, se alguém fincar pé... E tem o aspecto bom deste ano, que é a arte, a estética, a busca da harmonia através da criatividade.

- É o que mais me agrada! Por falar nisso, e o seu livro a quantas anda?

- Pelos últimos capítulos, seu Chico. Talvez ainda demore uns dois ou três meses.

- Eu sei que o amigo é perfeccionista. E vai e volta e arruma aqui e ajeita ali... Entendo que seja melhor assim, principalmente num ano em que deve haver equilíbrio, harmonia, ponderação. Quem diria... Um romance... A la putcha! Deve ser uma coisa cansativa. Mas como foi que surgiu?

- Um dia eu lhe conto, seu Chico, quando já estiver publicado. O que posso adiantar é que foi exatamente assim: surgiu. A estória pediu para ser escrita, as personagens me envolveram...

- Deve ser uma coisa de louco! E o Papa? O senhor ouviu o que o Papa disse no seu sermão de fim de ano?

- Essa eu perdi, seu Chico.

- Pois eu gostei de ver! É o primeiro Papa que fala como macho! Olhe só... Deixe eu pegar esses jornais aqui... Olhe só: ele disse que os focos de tensão e conflito são causados por crescentes desigualdades entre ricos e pobres e pelo predomínio duma mentalidade egoísta e individualista que se exprime inclusivamente por um capitalismo financeiro desregrado. Dá pra acreditar? E me diziam que este Papa era reacionário. Dá uma lição em muito presidente por aí.

- O senhor não vai querer que a Dilma fale contra o capitalismo...

- Mas!... Tem que ser macho, como eu disse. E tem mais: denunciou as ideologias do liberalismo radical e da tecnocracia. O que lhe parece?

- Me parece que assustou muita gente por aí afora. Periga quererem matar este Papa, como fizeram com o João Paulo I.

- Morrer, se morre sempre, basta estar vivo. O importante é fazer alguma coisa que fique, que ajude os que vem por aí. Começo a ter esperanças de que este venha a ser um bom ano de verdade.

- É tudo que eu desejo, seu Chico: um bom ano para todos!
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