terça-feira, 31 de agosto de 2010

A CLAQUE




Thomas Carlyle , em A História da Revolução Francesa, conta sobre os claqueurs, 270 pessoas que Luís XVI tinha contratado, em 1792, depois da frustrada tentativa de fuga que terminou em Varennes e de seu aprisionamento nas Tulherias. Eram pessoas pagas para aplaudir o rei sempre que ele saía para alguma pequena volta. Estava preso, mas podia dar essas pequenas saídas, desde que não fosse além dos muros de Paris. Fico imaginando o casal real dando alguns passos até onde fosse possível e aquelas pessoas gritando “Vive le Roi!”, “Vive le Reine!” – e vaiados pelos jacobinos.

     Pois no domingo passado, 29 de agosto, eu estava em casa aí pelas seis da tarde quando comecei a ouvir buzinas, apitos e similares. Pensei que tinha havido um Ba-Guá o clássico de futebol de Bagé, e que o meu time, o Bagé, teria perdido de novo, porque as buzinas vinham do lado do estádio do Guarani e o Bagé anda tão mal das pernas que, no último Ba-Guá, quando perdemos por 2x0 para o “tradicional adversário”, a única coisa que pude responder no dia seguinte, quando um torcedor do Guarani veio me cornetear, foi: “Pois é, o Bagé tá tão ruim que até perdeu pro Guarani!” - o que deixou ele meio desconcertado, pois esperava uma outra reação. E não deixa de ser verdade a triste situação dos nossos clubes, que há muito tempo estão na 2ª divisão, sem condições de subir. Restringiram-se a “celeiros” de jogadores para os times mais fortes, e quando surge um jogador um pouquinho melhor imediatamente é vendido. E os clubes de futebol profissional daqui vivem da possibilidade e do sonho. Ouvi falar de casos de jogadores da várzea que foram convidados para treinar no Bagé ou no Guarani e recusaram, porque não teriam futuro.

     Mas tinha me enganado: não acontecera nenhum Ba-Guá. Espiei pelas janelas e não vi cores de times, mas cartazes de candidatos colados em carros, e um grupo que gritava e tocava tambores - até com certo ritmo. Pensei: “Contrataram algum bloco carnavalesco...“ Buzinas, carnaval e foguetes = política atual. Só poderiam ter contratado. De sã consciência, ninguém, hoje em dia, sai gritando, atirando foguetes e buzinando alegremente por qualquer candidato que seja. E todo candidato tem a sua claque pronta para fingir alegria para aqueles que, como eu, ficam olhando. Parece que acreditam que o barulho faz votos.

     E o pior é que faz. Tem gente que espera a época das eleições para ver quem faz mais barulho para decidir o seu voto, ou para ser contratado para algum serviço que diga respeito à campanha de algum candidato, não interessa qual, desde que pague... Não será por mera coincidência que os candidatos que gastarem mais provavelmente serão eleitos. E não se pode culpar o povo por vender o seu voto. Este é um país de muita miséria e extrema desigualdade social. Época de eleições é o momento de ganhar algum dinheiro a mais.

     Também por isso, período de eleições no Brasil é o momento em que a democracia é mais fraudada.

     Não há como chamar de democracia um sistema em que alguns candidatos gastam milhões – investindo em marqueteiros, pesquisa monitorada e todo o tipo de propaganda induzida – e os outros candidatos mal tem condições de fazer a sua propaganda. Não é democracia: é plutocracia, o governo dos ricos.

     Não pode ser democracia quando o espaço na televisão para alguns candidatos é quase irrestrito e para os outros é quase inexistente. E não adianta dizerem que tem uma lei que prevê isso, porque com certeza é uma lei injusta.

     Democracia para quem? Apenas para um pequeno grupo que já detêm o poder ou para o outro grupo que já o teve nas mãos. Os dois grupos defendendo o mesmo sistema, com unhas e dentes e, com unhas e dentes – e bastante repressão – farão de tudo para que nada seja mudado.

     Eleger Dilma ou Serra é a mesma coisa.

     Dilma é o continuísmo do lulismo, que se vendeu às multinacionais, entregou o campo aos grandes fazendeiros e empresas de cultivo, incentivando o plantio de sementes transgênicas e a derrubada das matas nativas para plantar pasto.

     O lulismo da construção de grandes barragens, como a de Belo Monte, para ganhar dinheiro com a exportação de energia, destruindo o ecossistema e expulsando o povo das suas terras.

     O lulismo da repressão aos trabalhadores sem terra e sem teto; o lulismo da repressão ao povo miserável das favelas, que transformou o exército em polícia e a polícia em exército de assassinos sem lei.

     O lulismo da corrupção consentida no Congresso, da proteção aos grandes banqueiros e ao capital internacional.

     O lulismo que promoveu a invasão ao Haiti e a lidera, oficialmente; o lulismo que fez um espúrio tratado militar com a matriz do império e que defende a política intervencionista dos Estados Unidos na América Latina.

     O lulismo hipócrita da verborragia demagógica.

     E Serra é tudo isso e mais o golpismo.

     Dilma e Serra são como “Plano A” e “Plano B”. Ambos tem o apoio da mídia, que joga para os dois lados. Os dois lados de uma mesma moeda, de um mesmo plano maquiavélico para o Brasil.

     Marina não chega a ser um “Plano C” – é uma caricatura de oposição. Traz para o seu lado os descontentes, a elite paisagística dos intelectuais que se reúnem no fim de tarde nos bares do Rio – ou nos bares de qualquer outra cidade do Brasil – e querem votar “verde” porque está na moda e é bonito. Sem ideologia alguma.

     Os outros seis candidatos são abafados totalmente pela mídia antidemocrática e pelo antidemocrático sistema eleitoral.

     A razão é que alguns deles são perigosos para o sistema; tem outras idéias e até propostas ideológicas que poderiam levar o povo a pensar. E tudo o que o sistema – através dos seus mentores – não quer é que o povo pense.

     Futebol, carnaval e programas de televisão é a receita para evitar pensamentos e idéias próprias. Sexo e drogas também. Os cinco sentidos devem ficar satisfeitos para que a mente não funcione. É uma receita que garante o voto nos candidatos indicados pela mídia, mesmo que subliminarmente. E que garante que tudo que a mídia disser seja aceito por você - se você não pensar, se não usar aquele filtro, se não procurar saber mais, além do que lhe é oferecido.

     Por falar nisso, você já pensou de onde vem os milhões que os candidatos do sistema anunciaram que estão gastando nesta campanha eleitoral?

     Marina anunciou que gastará um máximo de 90 milhões de reais; Serra anunciou um gasto provável de 180 milhões de reais e Dilma estima a sua campanha em 157 milhões de reais.

     Quem dá todo este dinheiro a eles? E com qual objetivo? Com certeza não são os respectivos partidos. Alguém gasta a fundo perdido para ter o seu retorno depois, quando um deles for eleito Presidente e os outros obtiverem cargos de confiança no governo do eleito. Quem pode gastar tanto assim com campanhas eleitorais? Pense. Pensar faz bem.

     Acrescente a esse pensamento o fato de que, no Brasil, apenas 15% da população pode ser considerada alfabetizada. Segundo dados do IBOPE, de 2005, 75% da população brasileira é formada por pessoas que não sabem ler e escrever ou por analfabetos funcionais. Somente 7% são totalmente analfabetos. Os demais 68% são pessoas que sabem ler e escrever, mas não possuem o domínio pleno da leitura, da escrita ou das operações matemáticas. Ou seja, não sabem interpretar o que lêem, tem pouca capacidade de compreensão.

     É para esses 75% da nossa população que as barulhentas campanhas eleitorais são feitas; para eles a propaganda é dirigida; é neles que se baseiam as esperanças dos candidatos para se elegerem. Porque sabem que a ilusão faz parte das campanhas eleitorais em países como o nosso, composto de pessoas com mentes subdesenvolvidas.

     E esta é uma das razões principais para o nosso sistema de ensino ser um dos piores do mundo: há grande interesse para que continue assim.

     Enquanto isto, as tediosas campanhas eleitorais na televisão, nas rádios e em todos os lugares. Por mais que a claque grite e toque tambores e atire foguetes nas passeatas, os candidatos não tem nada a dizer, porque são desprovidos de qualquer ideologia, de qualquer proposta mais séria. São o reflexo do sistema que os produziu – amorfos, mas vorazes.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

A CAPIVARA



Naquele tempo, era comum as pessoas se reunirem à volta duma fogueira, tomando um mate amargo e contando causos. No serão. Coisa bonita de se ver: as estrelas se encachoeirando quando a noite vai ficando velha, luzindo no firmamento. Bebia-se o mate com devoção, quietamente. Às vezes, alguém pegava um violão e cantava alguma milonga, uma chimarrita e até uma rancheira, se havia maior motivo de alegria ou de regozijo – ou se o dia seguinte fosse livre para feriar. Mas nada de muito folgado – folgança era para os dias de baile. Um cantar breve, comedido, para alegrar e tirar o susto – quiçá houvesse em algum coração – da escuridão que confrangia a todos e impunha o respeito pelos silêncios da noite.

     Lá pelas tantas, depois que as mulheres já tinham se retirado pras casas, o violão tinha parado e os cuidados do chimarrão tinham passado para o mais moço, alguém pigarreava, se mexia e falava:

        “Pois... como eu tava dizendo..."

     Era o sinal. Todos se ajeitavam mais comodamente para ouvir o primeiro causo, a que se seguiam outros, como se fosse um torneio. A gurizada de menos de trinta anos não tinha direito de participar – ainda não tinham vivido -, só o de escutar e de exclamar alguma coisa, quando muito.

     Os causos eram os mais diversos e o tema da noite era ditado por aquele que contava o primeiro, mas sempre ligados aos mistérios da vida na campanha. E sempre ouvidos com muita atenção, por mais que fossem repetidos a cada serão. Eram entremeados de expressões exclamativas a cada pausa do proseador. E eram muitas as pausas, enquanto o fogo ia virando brasa.

- É verdade!...

- Quem haveria de dizer?!...

- Mas bá!...

     Por mais incrível que fosse a estória, todos concordavam, ao final, que era a mais pura verdade. Aquele que tinha terminado de contar um causo, olhava em volta, como numa espécie de desafio, ajeitava o bigode e completava: “Pois foi isso!” Ou, simplesmente: “Foi assim”.

     Ninguém sequer sonhava em desdizer. Seguia-se um silêncio profundo. Depois, alguém se mexia no seu lugar, pigarreava, cuspia de lado e, por sua vez, começava: “Pois eu, certa vez, lá pros lados do Banhado Velho...”

     E assim continuava, até completar a roda. Depois, quando terminava, o mais velho se levantava, calmamente, ajeitando as bombachas, e costumava dizer:

     “Buenas, já são horas, daqui a pouco o galo vai cantar..."

     E todos se levantavam e se despediam com fortes apertos nos braços e tapas nas costas - como se tivessem acabado de participar de rituais misteriosos e trocado mensagens sigilosas que a noite, o fogo e o campo tinham propiciado - e se afastavam, lentamente.

     Certa vez, a conversa enveredou pras caçadas e pescarias, e foi um tal de contar causos de feitos espetaculares que, quando o seu Chico contou como pegou um jundiá enorme que tava dormindo em um recanto próprio do lagoão e, mesmo depois de levar o esporão na mão (e mostrava a cicatriz pra todos) carregou ele pra margem, segurando pelas guelras, e foi quando ouviu o bicho dizer que não era direito acordar ele assim da sua sesta, e o seu Chico, mais respeitoso que assustado, devolveu ele pra água – que um dos guris que estava ao meu lado, com pouco mais de vinte anos, desatou a rir, para minha vergonha e o constrangimento de todos.

     Enquanto uns olhavam pra baixo e outros pra cima, o seu Chico gritou “Arre!”, pegou o guri pelo lenço do pescoço e gritou na cara dele: “Mas tu tá duvidando de mim, seu mijado?!” E se o qüera não tivesse atinado em dizer que estava rindo era do susto do jundiá ao ser acordado daquele jeito, a coisa teria ficado muito feia.

     Meio aperreado, o seu Chico sentou de novo e foi quando o meu tio Pedro, que era liso de esperto, disse alto:

     “Pois eu já falei até com capivara. E tá pra nascer o macho que duvide disso!”

     Todos atentaram. Causo contado pelo meu tio era causo para ser lembrado para sempre.

     O meu tio pigarreou, limpando a garganta, pediu mais um mate, sorveu uns dois goles e falou:

     “Pois, certa feita eu estava numa roda que nem esta aqui; roda de causos, de mate e de canha”. Bebeu mais um gole do mate e continuou:

     “Mas tinha chegado gente da cidade, gente boa, gente amiga, mas muito de contar prosa. E falavam de caçadas e de pescarias, e disso e daquilo, como se soubessem tudo do campo, e das armas que usavam e dos calibres que preferiam – esse tipo de coisa...”

     Todos espicharam as orelhas. Ninguém gostava muito de gente da cidade, porque era metida a inventar estórias, e o causo do meu tio prometia. Até o guri que tinha rido estava mudo ao meu lado, cabisbaixo, mas atento. Meu tio olhou um por um e recomeçou, devagar:

     “Foi quando eu aparteei. Disse pra eles que isso de matar os pobres dos bichinhos de Deus com arma era até covardia. Queria ver pegar à mão. Eles meio que tentaram rir, mas eu olhei sério e acrescentei: - amanhã cedo vou pegar uma capivara na unha.

     “De manhãzita, encilhei o meu cavalo e segui a trote para o rio, umas duas léguas daqui. Era lá que as capivaras iam se dessedentar, quando acordavam. Quando voltei, perto do meio-dia, estava todo molhado e embarrado e trazia as botas numa das mãos. Todos já estavam inquietos, me esperando pro almoço.

     “Um deles me perguntou:
     “Matou a capivara, seu Pedro?
     “Eu respondi: - Eu não disse que ia matar, disse que ia pegar à unha, e peguei.
     “E ele: - E onde está o bicho? 
     “Olhei firme nos olhos dele e falei:

     “Quando cheguei lá, de manhã cedo, o bando de capivaras já estava bebendo água. Deixei o cavalo pastando, ali perto, tirei as botas e entrei no rio, devagarito pra não espantar. Mas capivara é bicho manso, não se assusta assim no más. Olhei pra uma, olhei pra outra e escolhi a mais encorpada. Quando cheguei perto e peguei firme, mas sem machucar, ela me olhou nos olhos e disse:

     “O que é isso, Pedro? Deu pra nos caçar, agora?
     “Meio envergonhado, respondi:
     “Foi uma aposta...

     “Ela me olhou de novo e se afastou, devagar, tranquilita. Eu fiquei um pouco por ali, olhando pras capivaras e pras capivarinhas, tão mansas... Depois de um tempo molhando os pés e pensando na vida, voltei. E foi isso!...

     “Ninguém falou mais nada. À tardinha - depois de conversarmos sobre tudo, menos caçadas e pescarias - foram embora. Foi assim.”

     Tio Pedro parou de falar e todos ficaram quietos durante um bom tempo. Depois, aos poucos, nos levantamos e começamos a nos despedir, sem pressa. O galo já cantava. O seu Chico abraçou o tio Pedro com força e vi no seu rosto, no canto do olho, o que parecia ser uma lágrima. Ao meu olhar, ele disse: “É um cisco...” E passou a mão no rosto.

     Foi assim.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

"UM DENSO E IMPENETRÁVEL VÉU DE FUMO AVERMELHADO"




NOTÍCIA:

"Habitantes de diversas regiões da União Europeia têm sofrido com os transtornos causados por incêndios em áreas florestais. A Espanha já registrou oito mortos devido ao fogo, sendo que sete eram bombeiros. Desde janeiro, 37 mil hectares de área verde já foram destruídos no país, apenas 3 mil a menos que em todo o ano passado.

    Somente no estado de Almeria, no sul da Espanha, cerca de 1.500 residentes e turistas tiveram de ser levados a áreas de maior segurança. A razão da medida é um incêndio que já consumiu cerca de 5 mil hectares da Serra da Cabreira.

    Também no estado de Aragão, no norte do país, cerca de 10 mil hectares de florestas já foram queimados e seis cidades tiveram de ser evacuadas. O transporte ferroviário entre Madri e Saragoça, capital de Aragão, também foi interrompido por quase 20 horas, obrigando cerca de 7 mil passageiros a seguir viagem em ônibus.

     Vento forte e temperaturas de até 40°C dificultam o trabalho dos mais de mil bombeiros e soldados que tentam combater os incêndios em pelo menos 20 focos em todo o território espanhol.

     Outros países europeus com clima mais ameno também têm sofrido com incêndios nos últimos dias. Na ilha italiana da Sardenha, ao menos seis focos destruíram aproximadamente 10 mil hectares de florestas. Na Grécia, as chamas se alastram principalmente na península do Peloponeso e na ilha de Evia, destruindo fazendas e florestas.

     Na França, cinco bombeiros foram feridos combatendo três incêndios que já destruíram 4 mil hectares em matas da ilha de Córsica. Dez casas e aproximadamente 50 carros também foram consumidos pelas chamas. Um incêndio supostamente provocado pelo Exército francês durante um exercício militar nas proximidades de Marselha queimou 1.300 hectares de área verde e destruiu algumas casas antes de ser controlado na noite de quinta-feira."





CARTA DO JORNALISTA ARTHUR MONTEIRO PARA A ESCRITORA URDA ALICE KLUEGER:


"Urda. Coisa terrível.

Voce sobrevoa essa região do Sudeste/Centro Oeste como fiz semana passada e não parece cháo: apenas um denso e impenetrável véu de fumo avermelhado fruto das queimadas, que se multiplicam por quilômetros.

Estive este mes andando pelas regiões da Sardenha, Catalunya, Andaluzia e arredores de Lisboa em direção à Galícia e não se ve uma arvore acima de tres metros que não seja eucalipto ou pinnus, Os incendios nestas nefastas florestas plantadas que ocupam milhares de hectares assombram Portugal. e estão virando moda no Brasil também, para desgraça de nossos recursos hídricos.

Rios completamente secos se multiplicam por todas aquelas regiões européias. Na Sardenha fiquei hospedado na casa de um amigo, cujos fundos dava para um camping cercado de pinus. Passarinho zero Um verdadeiro escândalo. E a prefeitura de lá chega ao cúmulo de juntar aquela palha pontudinha que cai pinheiro e cobrir os passeios com ela, com automóveis, às dezenas, estacionados sobre estes colchões prontos para virar fogueiras. Estão literalmente brincando com o fogo.

Todo este abuso na Sardenha está sendo denunciado pelo Movimento em favor da Republica Sarda Independente.


Grande abraço
Arthur."


De: urda@flynet.com


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Enquanto a Europa queima em seu mais terrível verão, provocado pela desenfreda sede de lucro das grandes empresas e pelo descaso dos governos, que não tomam qualquer medida contra os desastres climáticos provocados por eles mesmos, na América do Sul oscilamos entre o mais terrível inverno e períodos de inversão climática que trazem um estranho calor para esta época do ano.

     Mas o inverno está chegando ao fim, aqui, e já teve a sua cota de mortos - sempre as pessoas mais pobres, sempre os desabrigados, sempre os explorados. Os ricos, os exploradores, tem suas casas climatizadas, bem alimentados com a mais-valia do trabalho dos que exploram, o cérebro maquiavélico e a alma já vendida ao demônio que pagar mais.

     Oficialmente, parece que nada está acontecendo. As pessoas continuam sendo enganadas e querendo acreditar em quem as engana: assistem novelas, jogos de futebol, "reality shows", vivendo em seu mundo virtual, devidamente programado para que continuem alienadas e conformadas, para que nada façam a respeito, a não ser as repetidas exclamações no twiter e os enfadonhos scraps no orkut; fingindo felicidade e alegria para que os "amigos" também finjam felicidade e alegria e possam dormir, a cada noite, um sono menos difuso em seus sonhos, como se realmente esta realidade que vivemos ficasse resumida a um dia a dia de repetidas mediocridades.

     Daqui a pouco menos de dois meses começará o calor aqui. Todos se queixarão da terrível seca, das queimadas, do governo e das multinacionais que depredam o meio ambiente, plantando eucaliptos para vender para as fábricas de celulose; das multinacionais que vendem sementes transgênicas para os agricultores que querem grandes lavouras e lucro rápido; do governo que incentiva o desmatamento, que protege as multinacionais, que estimula a cobiça dos agricultores.

     Um governo que terá sido votado e aclamado por multidões embriagadas pelo momento das eleições e que terão entregado o seu poder, o poder do povo, para um grupo de políticos profissionais que, por sua vez, entregarão esse mesmo poder para os oligopólios que os governam.

     E quando alguns grupos se revoltarem, no campo e nas cidades, a bem adestrada polícia será atiçada contra eles e usará todas as armas para ferir e matar aqueles que não se conformam, que sabem que são roubados e espoliados todos os dias, mas que preferirão a luta e a resistência para tentar salvar o pouco que resta do coração brasileiro, da alma latina.

domingo, 22 de agosto de 2010

GETÚLIO VARGAS



“Mais uma vez, as forças e os interesses contra o povo coordenaram-se e novamente se desencadeiam sobre mim. Não me acusam, insultam; não me combatem, caluniam, e não me dão o direito de defesa. Precisam sufocar a minha voz e impedir a minha ação, para que eu não continue a defender, como sempre defendi, o povo e principalmente os humildes.”

Para esta atual geração brasileira será difícil entender alguém que se suicide por ela, ou alguém que lute por ela. Principalmente um presidente da República. É uma geração que perdeu a sua identidade e até a sua música sertaneja virou country. Seus bailes são baladas onde se dança funk e as músicas que compõe, entre dois “você” aparece um “baby”. Uma geração conformista: “Eles venceram e o sinal está fechado pra nós/ que somos jovens...”. É a geração celular-ipod-twiter, que vive no mundo virtual, só pensa em como ganhar dinheiro da maneira mais fácil e somente se preocupa com o seu pequeno mundinho existencial. Uma geração não pensante, repetidora de idéias prontas vindas da mídia, ansiosa por sexo e drogas e qualquer coisa que altere os seus parcos cinco sentidos. Uma geração que não sabe ser nação, mas aceita ser massa e que entende país como território a ser barganhado.

      É claro que eu me refiro apenas aos 95% de jovens e não jovens que tem a mente colonizada. Deve haver 5% que ainda raciocinam por si mesmos e desconfiam que a vida não deve ser só o que aparece na televisão ou nas notícias da rede. Para eles este texto.

      Neste período de campanha para as eleições presidenciais em que vemos dois ou três candidatos mais destacados pela imprensa – justamente os candidatos que defendem o sistema político vigente, caracterizado pela entrega das nossas riquezas ao capital internacional, pela desigualdade social, miséria e corrupção – é justo que lembremos Getúlio Vargas, um presidente que foi, antes de tudo, nacionalista e defensor do povo – exatamente a antítese dos lulas, dilmas, serras e outros do mesmo gênero.

      Pode parecer estranho, mas houve um período na história do Brasil, aliás, um período muito mal contado pela oficial História do Brasil, durante o qual o povo acreditou que poderia ajudar a criar um país com identidade própria. Isso aconteceu dos anos ’30 aos anos ’50, com algum rescaldo até ’64, ano em que o Brasil foi dominado por forças trogloditas.

      Mas, em 1930, contra todas as expectativas, surgiu um movimento revolucionário a partir do Rio Grande do Sul e com o apoio da Paraíba e Minas Gerais, que depôs o então presidente Washington Luís e instalou no governo Getúlio Vargas. Longe de ser mais um movimento golpista – dentre todos os movimentos golpistas que permearam a nossa história, desde o Império, passando pela instauração da República e até aquele presidente deposto – a revolução de 1930 teve como objetivo o fim das velhas oligarquias e a tentativa de um Brasil novo.

“Sigo o destino que me é imposto. Depois de decênios de domínio e espoliação dos grupos econômicos e financeiros internacionais, fiz-me chefe de uma revolução e venci. Iniciei o trabalho de libertação e instaurei o regime de liberdade social.”

      Aqueles que dominavam o Brasil até Getúlio Vargas, e que voltaram a dominar após 1964, não suportaram as reformas do Governo Provisório. Tanto foi assim, que em 1932 o poder econômico de São Paulo forjou uma segunda revolução, esta bem mais sangrenta, na tentativa vã de recuperar os seus anteriores privilégios. Era uma época em que parte do exército brasileiro ainda era nacionalista. E tendo a bandeira do nacionalismo como objetivo principal, o governo Vargas, que perdurou por 15 anos, como ditadura apoiada pela maioria do povo, até 1945, transformou a vida dos brasileiros que, até então, eram totalmente destituídos de direitos trabalhistas e sociais. Algumas das suas realizações:

      - Criação da OAB, do Correio Aéreo Nacional, do Departamento Nacional do Café, do Departamento de Correios e Telégrafos, da carteira de trabalho, do Instituto Nacional do Açúcar e do Álcool, do Código Florestal (vigente até 1965), do IBGE, do Código Brasileiro de Telecomunicações, da Lei de Proteção dos Animais (ainda em vigor).

      Foi criado o salário mínimo, a Consolidação das Leis do Trabalho, a Previdência Social, o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço, a Justiça do Trabalho, a estabilidade no emprego, o descanso semanal remunerado. Foi regulamentado o trabalho dos menores de idade, da mulher e o trabalho noturno. Fixada a jornada de trabalho em oito horas diárias de serviço e ampliado o direito à aposentadoria a todos os trabalhadores urbanos. Foram abolidos os impostos nas fronteiras interestaduais, já em 1931, e foi modernizado e ampliado o imposto de renda. Criado o Código de Minas e a Lei de Falências.

      Da mesma forma que a Argentina, com Peron, aos poucos o Brasil de Vargas ia-se firmando como país independente em busca de seu próprio rumo. Isto era claramente contra a política dos Estados Unidos. Com a eclosão da Segunda Guerra Mundial o Brasil foi obrigado a declarar guerra à Alemanha, depois que navios brasileiros foram afundados por navios estrangeiros que ostentavam a bandeira nazista. Até então, o Brasil tinha se conservado neutro na guerra e muitos estranharam o fato, por não haver nenhuma razão para a Alemanha hostilizar o Brasil, mas os Estados Unidos desejavam muito que o nosso país entrasse na guerra européia.

      25.000 pracinhas foram mobilizados e o exército brasileiro foi enviado para a Itália, onde ocupou o lugar do exército dos Estados Unidos, que pode, então, se mobilizar para invadir a Alemanha. Naquele período começaram os contatos entre militares brasileiros e dos Estados Unidos. A palavra “democracia” era usada para todos os motivos; difamava-se o governo Vargas, alianças eram feitas.

“Tive de renunciar. Voltei ao governo nos braços do povo. A campanha subterrânea dos grupos internacionais aliou-se à dos grupos nacionais revoltados contra o regime de garantia do trabalho. A lei de lucros extraordinários foi detida no Congresso. Contra a justiça da revisão do salário mínimo se desencadearam os ódios.”

      Com o fim da II Guerra, em 1945, os militares brasileiros derrubaram o governo de Getúlio. Seguiram-se eleições e foi eleito o general Dutra que reforçou a aliança com os Estados Unidos, dilapidou as reservas cambiais com a sua política de importação dos Estados Unidos, o que fez com que houvesse o desaceleramento da indústria nacional e crescimento da dívida externa.

      Eleito senador por dois estados – Rio Grande do Sul e São Paulo -, em 1946, foi o único parlamentar a não assinar a Constituição de 1946, atuando como opositor do Governo Dutra, a quem considerava um traidor, e da nova ordem que se instalava. Depois de dois anos no Senado, retirou-se para a sua cidade natal de São Borja.

“Quis criar liberdade nacional na potencialização das nossas riquezas através da Petrobrás e, mal começa esta a funcionar, a onda de agitação se avoluma. A Eletrobrás foi obstaculada até o desespero. Não querem que o trabalhador seja livre.”

      Aos 68 anos, concordou em concorrer nas eleições de 1950 para a presidência da República. Com um discurso de conciliação, percorreu 77 cidades na sua campanha eleitoral, lembrando as suas realizações durante o Estado Novo. Era alvo do ódio dos entreguistas manipulados por Washington e pagos por Wall Street. Um deles, Carlos Lacerda, dono do jornal Tribuna da Imprensa, chegou a declarar: “O senhor Getúlio Vargas, senador, não deve ser candidato à presidência. Candidato, não deve ser eleito. Eleito, não deve tomar posse. Empossado, devemos recorrer à revolução para impedi-lo de governar”. Lacerda foi um precursor do jornalismo golpista, tão comum em nossos dias.

      Eleito, Getúlio procurou fazer um governo claramente nacionalista, batendo de frente contra os interesses dos Estados Unidos – que queriam um Brasil colonizado e submisso aos seus interesses, conforme presenciamos hoje. Entre as suas muitas realizações de cunho nacionalista, as mais marcantes foram:

      O decreto nº 30.363, de 1952, que dispôs sobre o retorno de capital estrangeiro, limitando-o a 8% do total dos lucros de empresas estrangeiras para o país de origem, revogado em 1991.

      A lei n° 2004, de 1953, sobre o monopólio estatal da exploração e produção de petróleo, revogada em 1997.

      Marcantes, porque essas leis tocaram nos privilégios das oligarquias. Naquela época, os agentes dos Estados Unidos fizeram correr o boato de que o Brasil não tinha petróleo e quando finalmente se verificou o contrário, tentaram passar uma lei de privatização no Congresso, que entregaria para eles todo o controle da extração do petróleo, enquanto o Brasil receberia apenas os “royalties”, ou seja, uma espécie de aluguel pela extração por empresas multinacionais - o que acontece hoje.

“Não querem que o povo seja independente. Assumi o Governo dentro da espiral inflacionária que destruía os valores do trabalho. Os lucros das empresas estrangeiras alcançavam até 500% ao ano. Nas declarações de valores do que importávamos existiam fraudes constatadas de mais de 100 milhões de dólares por ano. Veio a crise do café, valorizou-se o nosso principal produto. Tentamos defender seu preço e a resposta foi uma violenta pressão sobre a nossa economia, a ponto de sermos obrigados a ceder.”

      Mas na época de Getúlio não era tão simples assim. Foi criada a PETROBRÁS (que, então, era totalmente brasileira) que deu ao Estado o controle sobre o petróleo. E a lei que criou o monopólio estatal do petróleo no Brasil foi revogada em 1997, durante o governo podre de Fernando Henrique Cardoso, que vendeu o Brasil ao capital estrangeiro.

      A outra lei que tocou no bolso dos mercadores foi a de remessa de lucros para o exterior. Na época, era um carnaval. Uma empresa instalava-se aqui, utilizava a nossa mão de obra barata, produzia riquezas para si e exportava todo os seus lucros para a matriz, no exterior – conforme é hoje.

      Mas com Getúlio não era tão simples assim. Fez promulgar um decreto que previa o envio de apenas 8% dos lucros das multinacionais no Brasil. Decreto que foi revogado em 1991, durante o governo de Collor de Mello, colocado e retirado do poder pela Rede Globo.

      E a Rede Globo da época de Getúlio eram o Jornal Tribuna da Imprensa, de Carlos Lacerda – que também era dono da Rádio Globo -, o jornal O Estado de São Paulo, que atacava a política nacionalista (como até hoje o faz, quando algum político menos corrupto tenta ser nacionalista) e os Diários Associados, de Assis Chateubriand, que também era dono da rede Tupi de televisão. Muito dinheiro rolava para subvencionar esses veículos de (des)informação.

      Mas a lei que detonou o golpe contra Getúlio foi aquela que reajustou o salário mínimo em 100%, em fevereiro de 1954.

“Tenho lutado mês a mês, dia a dia, hora a hora, resistindo a uma pressão constante, incessante, tudo suportando em silêncio, tudo esquecendo, renunciando a mim mesmo, para defender o povo, que agora se queda desamparado. Nada mais vos posso dar, a não ser meu sangue. Se as aves de rapina querem o sangue de alguém, querem continuar sugando o povo brasileiro, eu ofereço em holocausto a minha vida.”

      A partir daquele momento as forças mais reacionárias mostraram as suas unhas. E os seus canhões. Os militares, liderados por Golbery do Couto e Silva, escreveram o “Manifesto dos Coronéis”, retirando o apoio a Getúlio na área militar. E foi armado o que foi chamado de “Atentado da Rua Tonelero”. Naquele suposto atentado, um major (Rubens Vaz) foi assassinado e Carlos Lacerda teria sido ferido no pé.

      Lacerda afirmou que o autor teria sido Gregório Fortunato, um agregado de Getúlio. Mas há diversas versões para o fato. O "Jornal do Brasil" entrevistou o pistoleiro Alcino João do Nascimento, aos 82 anos em 2004, o qual garantiu que o primeiro tiro que atingiu o major Rubens Vaz partiu do revólver de Carlos Lacerda. Existe também um depoimento de um morador da rua Tonelero, dado à TV Record, em 24 de agosto de 2004, que garante que Carlos Lacerda não foi ferido a bala. Os documentos, laudos e exames médicos de Carlos Lacerda, no Hospital Miguel Couto, onde ele foi levado para ser medicado, simplesmente desapareceram.

“Escolho este meio de estar sempre convosco. Quando vos humilharem, sentireis minha alma sofrendo ao vosso lado. Quando a fome bater à vossa porta, sentireis em vosso peito a energia para a luta por vós e vossos filhos. Quando vos vilipendiarem, sentireis no pensamento a força para a reação. Meu sacrifício vos manterá unidos e meu nome será a vossa bandeira de luta. Cada gota de meu sangue será uma chama imortal na vossa consciência e manterá a vibração sagrada para a resistência. Ao ódio respondo com o perdão.”

      A partir daquele fato o governo foi envolvido no que Getúlio chamou de “mar de lama”. O Exército deu a ele a possibilidade de renunciar. Simples assim. Os aliados sumiram. O Ministro da Justiça, Tancredo Neves, sugeriu o licenciamento e Getúlio respondeu que somente sairia do governo morto.

      Getúlio Vargas cometeu suicídio com um tiro no coração em seus aposentos no Palácio do Catete, na madrugada de 24 de agosto de 1954. Junto a ele foi encontrada uma carta, que depois seria chamada de carta-testamento que, em seu final, diz assim:

“E aos que pensam que me derrotaram respondo com a minha vitória. Era escravo do povo e hoje me liberto para a vida eterna. Mas esse povo de quem fui escravo não mais será escravo de ninguém. Meu sacrifício ficará para sempre em sua alma e meu sangue será o preço do seu resgate. Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto. O ódio, as infâmias, a calúnia não abateram meu ânimo. Eu vos dei a minha vida. Agora vos ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na História.

(Rio de Janeiro, 23/08/54 - Getúlio Vargas)”

___
Os trechos em negrito e em itálico são da carta-testamento de Getúlio Vargas.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

JURAMENTO DE HIPÓCRITAS



Se, por infelicidade, depois de um dia estressante e de uma noite de trabalho, você se sentir mal a ponto de necessitar chamar o Pronto-Socorro, em Bagé, não o faça.

      Se o fizer, prepare-se para surpresas ruins. Não por culpa dos enfermeiros. Eles virão à sua casa, verão a sua pressão e os batimentos cardíacos e o encaminharão àquele lugar, o Pronto-Socorro. Você não saberá dizer exatamente o que sente, porque, afinal de contas, você estará doente e o seu raciocínio não estará claro.

      Lá, enquanto a sua esposa faz a sua ficha e você espera sentado em uma cadeira, subitamente sofre uma convulsão. Rotineiramente, os enfermeiros o colocarão em uma maca e o levarão para uma sala de observação, onde será injetado em sua mão esquerda 5 miligramas de Valium e, na mão direita, soro. Depois de alguns minutos, surgirá um outro enfermeiro, que empurrará bruscamente a maca onde você está deitado, levando-o para um corredor. Supostamente, você já foi “observado” e o consideraram bem. 

      Aquele corredor é muito frio e você sabe que não está passando bem. Quando saiu de casa, estava vestido de qualquer jeito, e é inverno. Dali, você enxerga o movimento: pessoas doentes passam em macas empurradas por enfermeiros; alguém, em outra sala de observação à sua frente, está passando mal, cuidado apenas por um parente, que está sem meias, porque não teve tempo de vestir-se adequadamente, e passa frio –tanto como você e o doente na outra maca. Não aparece nenhum médico, apenas enfermeiros e enfermeiras, que passam por você rapidamente. Você se sente quase abandonado. Por sorte, a sua esposa está do seu lado. Mas ela também precisou sair para ir no banheiro. Quando volta, está apavorada com a sujeira que presenciou naquele lugar. Está quase amanhecendo e você tem medo que ela também adoeça.

      Acima de você, uma janela está aberta, o vento que entra sacode o recipiente do soro, que começa a pingar mais rápido. Nenhum médico ainda apareceu. Súbito, um outro enfermeiro chega bruscamente e começa a tirar o seu casaco para verificar a sua pressão. É nesse momento que você tem a segunda convulsão. O enfermeiro pensa que você está reagindo a alguma coisa que só ele pensa e chama outro enfermeiro que lhe imobiliza com uma chave de braço. E você está tendo uma convulsão. É nesse momento que aparece o médico; a convulsão está passando e você grita com o enfermeiro para soltá-lo, mas ele aperta ainda mais você. É quando ouve a sua esposa perguntar ao médico, que apenas assiste a cena, se ele não vai fazer alguma coisa. Ele responde: “Fazer o quê? Só então, você percebe com clareza que está no Brasil e, o que é pior, em Bagé. Então você reage. Levanta-se da maca, arranca a agulha do soro e vai embora daquele lugar de horrores.

       A sua mão ainda está sangrando, mas não importa. O principal é você sair rapidamente dali, chegar em sua casa, tomar um café para aquecer, deitar e tentar esquecer. Quando acorda, lembra que não houve nenhum atendimento hospitalar de verdade; que, depois que teve a primeira convulsão não foi encaminhado para uma tomografia computadorizada, para ser verificada a possibilidade de danos no cérebro. Apenas lhe deram paliativos e devem ter ficado felizes quando você foi embora.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

CIO




Rapatiné preferiu dançar de botas.
Era a única maneira de mostrar
seus joelhos bem feitos
para Maria,
que namorava os longos dedos
de João dos Rios,
feitos para levantar âncoras
de navios afundados pelo peso de uvas.

Tropeçou: olhar beatificante - teus olhos são
línguas de fogo.

Teu olhar me dignifica. Teu olhar me reduz.
Teu olhar me eleva. Teu olhar me destroça.
Apelo dos pés de botas clama.
Teus pés nus: tempo de mares, tempo de marés.

Gargantíferas gargalhadas gordas cacarejaram gosmentas
a um canto do salão.

Rapatiné olhou, não viu: sentiu
que seus ouvidos gemiam
a esse soluçante som.

Além do mais,
suas botas apertavam,
orgulhosas de seu dia de festa.
Brilho farisaico e fastidioso diria algures algum alcagüete.

Não foi aquele o primeiro dia de sua vida,
mas sorriu
quando viu por ali um alguém lindo de se querer,
mas as bestas botas apertavam seus pés.

Fez olhei-não-vi e fingiu procurar o chapéu.
Alguém disse: na janela, perto da janela...
Na janela olhavam.
Olhava.

A Lua olhava
gorda
satisfeita de seu despudor
insinuava...

Um tio ou tia ou alguém velho em tempo velho lembrava:
tempo de marés de explosão de coito de cutelada: Cio.

Olhares? Faca se maneja na horizontal
rasgando peitos
(meus pés nus, meu sangue livre)

Lua olhava. Por quê não?
Rapatiné cuspiu, passou o pé, cruzou os braços
e pensou: Pois.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

SEXTA-FEIRA 13



Quase todos os anos temos uma sexta-feira 13 e as pessoas se apavoram porque corre a superstição de que é um dia de azar, quando coisas terríveis podem acontecer. E terríveis coisas podem acontecer, mesmo, em uma sexta-feira 13, assim como podem acontecer coisas não menos terríveis em qualquer outro dia do ano. Mas a sexta-feira 13 está marcada pela crença popular como sendo um dia azíago, e se for em agosto, pior ainda. Como surgiu esta superstição?

      Há várias explicações. A mais conhecida é a da Santa Ceia. Estariam treze pessoas em torno à mesa, naquela quinta-feira à noite. Uma delas – Jesus – iria ser assassinada no dia seguinte, sexta-feira. Por isso, as pessoas acreditariam que quando há treze pessoas juntas uma deverá morrer, etc. A outra versão da mesma versão é que haveriam treze pessoas à mesa naquele dia e uma delas – Judas Iscariotes – era um traidor.

      Portanto, cuidado quando se reunirem treze pessoas – sempre haverá um que morrerá em breve ou um traidor... Ou, como naquele dia, um traidor que provoca a morte de outro que está à mesa. No entanto, neste caso a conta não estaria certa. Mas, Jesus, que é o Verbo Encarnado, em sua onisciênca deveria saber disso e, se sabia, porque convidou doze seguidores e não outro número qualquer? Na verdade, é muito mais provável que não houvessem somente treze pessoas naquele jantar há mais de dois mil anos. Doze foram os principais apóstolos e aquele movimento espiritual de Jesus comportava muitos seguidores e seguidoras e é bem provável que tenha sido um ágape muito concorrido.

      A outra explicação sobre a superstição da sexta-feira treze, que a cada ano pega mais força, é a que envolve os templários.

      Templários foi o nome popular de uma ordem guerreira e religiosa, nascida em 1118, por ocasião da primeira Cruzada. Oficialmente, o nome da ordem era: Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo de Salomão. O seu objetivo seria o de proteger os peregrinos e combater os muçulmanos e obedeciam diretamente ao Papa, ficando acima de todos os governos.

      Com o passar do tempo aquela ordem de pobres cavaleiros transformou-se em uma ordem de riquíssimos cavaleiros. Por meios não se sabe exatamente quais, receberam grandes doações que incluíam imensos latifúndios em diversos países da Europa. Os membros não combatentes da Ordem geriam uma vasta infraestrutura econômica, inovando em técnicas financeiras que constituíram o início do sistema bancário e do capitalismo.

      Em pleno feudalismo eles estavam acima dos reis e dos senhores feudais, devido à sua riqueza e poder. Todo esse poder do que, na época, constituía-se em uma verdadeira multinacional inatacável, provocou o ciúme e a desconfiança de muitos reis. Entre eles, Felipe IV, da França. Unido ao Papa Clemente V, Felipe IV, que também era chamado de “Felipe, O Belo”, preparou uma armadilha para os templários franceses, que foram presos, em sua maioria, no dia 13 de outubro de 1307 (uma sexta-feira). O objetivo foi o de apoderar-se do tesouro dos templários e extinguir uma ordem secreta que ameaçava gangrenar a força da Igreja católica e dos reis a ela submissos.

      Parece que nem uma coisa nem outra foi alcançada. O tesouro dos templários desapareceu e a ordem - que já era secreta e atuava em quase todos os países da Europa - tornou-se mais secreta ainda. Apenas os templários franceses foram presos e, assim mesmo, uma parcela deles. A partir desses fatos seguem-se as lendas a respeito e, ultimamente, os templários tem sido até mitificados, através da sucessão dos livros dito “esotéricos”, que, na verdade, são livros de propaganda de uma nova ordem que está se afirmando e da qual temos os resultados todos os dias. Ou, como disse Jesus: “Por seus frutos os conhecereis”.

      Dos templáros aos Illuminati são alguns séculos. Mas o que são alguns séculos para a história da humanidade?

      Illuminati, ou Iluminados da Baviera foram – ou são – uma seita secreta, fundada por Adam Weishaupt, no século XVIII, que teria por objetivo final simplesmente o domínio do mundo, através da penetração dos seus membros em todos os setores da sociedade e da manipulação dos bens materiais e das consciências. Seu símbolo é o Olho Que Tudo Vê e o seu ritual de iniciação era (é?) constituído de treze graus, sendo o 13º “Rei”.

      De acordo com Paul H. Koch, autor do livro ILLUMINATI, o número 13 é muito importante para os Illuminati. Como estão infiltrados fortemente nos Estados Unidos, país-sede do atual império mundial, é lá que podemos ver essa importância do 13.

      Os Estados Unidos foram fundados por 13 colônias. Na cédula de 1 dólar estadunidense aparece o “Olho Que Tudo Vê”. A iconografia mostra no reverso da cédula uma pirâmide composta por 13 degraus. Acima da pirâmide e do “Olho”, vê-se a frase “ANNUIT COEPTIS”, que tem 13 letras e que significa: (Ele) aprova (nosso) começo. Na mesma cédula aparece uma águia calva que leva na pata direita um ramo de oliveira com 13 folhas e 13 frutos e na pata esquerda 13 setas. Sobre o seu peito ostenta um escudo com 13 barras e um lema com 13 letras, que reza: “E Pluribus Unum” (de muitos, um) e, finalmente, 13 estrelas sobre a sua cabeça.

      Ou seja, os “Pais da Pátria” estadunidense tinham um objetivo quando a criaram, e vê-se hoje, no mundo inteiro, que esse objetivo visa a dominação global, mesmo que isso provoque destruição e morte. E como ícone principal do império aparece o número 13.

      Se a sexta-feira 13 é uma superstição formada por diversos mitos gravados no imaginário popular, o número 13 como símbolo daqueles que desejam dominar o mundo apenas por interesses egoístas realmente assusta.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

O DEMIURGO





Podemos até rir do Sistema - das roupas que usa para se apresentar aos olhos dos crédulos – pois sabemos que o rei está nu, embora o próprio rei não saiba disso e se acredite forte e poderoso em sua voragem de poder e glória. Podemos apontar para ele e ridicularizá-lo, esperando que se encolha, perceba a sua nudez e fuja para o seu castelo de sonhos e volúpias. Mas não podemos esperar que realmente isso aconteça - como na fábula.

      Seria bom se fosse assim, mas este sistema é constituído por pessoas sem consciência, egocêntricas e de tal forma dominadas pelo mal que, se apontássemos para o ridículo da sua nudez, para a crueldade com que tratam a natureza e a todos os seres que nela habitam, para a miséria que provocam com a sua ganância desenfreada, não se arrependeriam. Ao contrário. Do fundo do seu orgulho atávico, procurariam razões para justificar a barbárie em que imergiram o mundo.

      É como se realmente tivessem um pacto com um demônio. Não o dáimon de Sócrates; mais provavelmente o Demiurgo que, segundo os gnósticos, seria um ente de arrogância, típica dos que se acham onipotentes. Um pacto antigo, celebrado na Idade Média, a Idade das Trevas. Através dele, e de pai para filho, de “irmão” para “irmão”, esses seres que dominam o planeta e que se pensam humanos trocariam sangue por poder. Mas não o seu próprio sangue.

      O Demiurgo necessitaria de muito sangue para cristalizar o seu poder, o seu trono, neste planeta. Em troca, passaria alguns segredos cabalísticos para que seus servos e cultores possam dominar e manipular as pessoas e convertê-las em escravos mentais dos donos do poder. Esse sangue viria das guerras, freqüentes e necessárias para pagar o tributo em forma de holocausto ao deus vampiro.

      É uma possibilidade absurda? Talvez, mas há outra? Observem que os gnósticos afirmam que o Demiurgo seria Javé – aquele ser que apareceu primeiramente a Abrão, depois a Isaac, depois a Jacó, e posteriormente a Moisés, prometendo-lhes terras e riquezas em troca de constantes holocaustos. Na época, a palavra holocausto significava a morte de animais, que depois eram queimados em oferenda ao deus. Javé ofereceu uma troca: bens materiais por sangue. O sangue era necessário para que ele (Javé), que era um ser astral e não corpóreo, obtivesse, assim, uma âncora na Terra, através do fluido vital que está no sangue.

      Observem, também, que o Templo de Salomão, e, antes, a Tenda das Oferendas, nada mais era que uma grande casa onde animais eram abatidos e queimados diariamente. Isso era necessário para que a troca se concretizasse: sangue, fluido vital, por poder terreno. Simples assim; nada a ver com espiritualidade. Basta lerem o Pentateuco. Quando diminuíam as oferendas, através da descrença ou de outras razões, Javé afastava-se – como ligar ou desligar uma tomada. E o poder do povo por ele escolhido diminuía. O povo em si não tinha culpa nenhuma; apenas obedecia aos sacerdotes, que formavam a casta privilegiada que escolhia os reis e a maneira de dispor o poder adquirido.

      Com o passar dos tempos e com a evolução dos povos muito dos costumes daquela época foi esquecido. Mas os sacerdotes, agora transformados em homens de negócios, executivos, que sempre guardaram aqueles segredos, sabem a maneira de ligar e desligar aquela tomada com o mundo astral – diretamente com Javé, ou Baphomet, ou a Serpente Astral, se preferirem.

      Por isso as guerras ininterruptas. Quanto mais guerras, mais sangue e quanto mais sangue mais poder para aquela casta e maior força vital para aquele ser astral.

      Ou o Príncipe deste mundo, como disse Jesus, quando alertava os discípulos a negar-se a este tipo de servidão demoníaca. Ou a qualquer tipo de servidão material. Porque a servidão demoníaca nada mais é que a servidão à matéria. E pessoas que buscam a espiritualidade não devem se submeter ao seu oposto.

      Ou não terão o reino do Pai – a evolução espiritual que leva a outras realidades mais perfeitas - mas apenas o desta terra, para continuarem a destruí-la. A sua hipocrisia, por mais que queiram, não permite unir as duas faces de uma mesma moeda. Seria mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

SAUDADE DESSA ÁGUA...



Saudade dessa água que me espera
                                              plena,
Prenhe dessa espera que me torna
                                              quase...
Turbilhão contido em refrega
                                              muda,
Espero o eterno barco em entrega
                                              brusca.


Estranho este desgosto em minha boca
Tão seca e rouca...
Esta voz que gorgoleja a chama
Que dentro clama
Seu momento de fogo então exposto,
Mesmo suposto,
Um instante de vida em mim festeja,
Ou me graceja.

domingo, 1 de agosto de 2010

E AGORA, LULA?




A ambígua política de relações exteriores do governo Lula, desde o seu primeiro mandato, faz com que neste momento de tensão e probabilidade de guerra entre Venezuela e Colômbia o governo não saiba exatamente a quem apoiar ou que posição tomar. É um governo de tendência claramente neoliberal, ou seja, um governo capitalista que defende a liberdade de mercado aliada à desestatização.

      Ao mesmo tempo, finge ser um governo de “esquerda”, baseando-se no fato de que Lula é de um partido que já ameaçou ser de esquerda, mas preferiu aderir ao modismo keynesiano na economia, ao neoliberalismo, afastando-se de qualquer possibilidade de socialismo. Nesse sentido, para fins políticos e eleitoreiros foram criados alguns mecanismos, como o Bolsa Família e outros, que deram à política governista uma cara assistencialista ao atuar nos bolsões de maior miséria e pobreza, como válvula de escape social, justamente para impedir a probabilidade de qualquer revolta popular.

      Na política externa, desde o primeiro momento o governo Lula se revelou como um aliado dos Estados Unidos. Isso ficou claro no instante em que preferiu Davos ao Fórum Social Mundial, enviou o ultra-reacionário exército brasileiro para chefiar a Minustah no Haiti, como legítima filial do império, e, finalmente, para carimbar a sua decisiva guinada para a direita, assinou uma aliança militar com os Estados Unidos no mesmo período histórico em que na América do Sul era fundada a UNASUL (União de Nações Sul-Americanas), uma zona de livre comércio continental, com a exclusão dos Estados Unidos, à qual o Brasil não aderiu.

      Ficou claro que o objetivo do atual governo, na política externa, é meramente o de chefe de negociações para a abertura de novos mercados. Por isso as inúmeras viagens de Lula e seu “staff” para todos os países da América Latina. Não para aderir à política socialista de Venezuela, Cuba, Equador e Bolívia; também não para apoiar o fascismo de um Uribe ou a indecisão de um Lugo, mas para entabular acordos comerciais.

      Mesmo assim, para muitos países que estão tentando livrar-se do domínio secular dos Estados Unidos, como alguns dos citados acima, e para outros que ainda procuram alternativas políticas, como Uruguai e Argentina, além daqueles, como Chile e Peru que, a exemplo do Brasil, permanecem em compasso de espera, apenas trocando as velhas oligarquias por uma juventude carreirista sequiosa de poder, os contatos com o governo brasileiro foram proveitosos no lado comercial.

      A propaganda petista continua insistindo que o governo brasileiro é progressista, fazendo parecer que o Brasil tomaria uma posição a favor da emergente luta pela independência latino-americana, mas os mais atentos perceberam que o Brasil está se transformando em um país imperialista. Com uma capacidade muito grande de barganha, devido à sua política de exportação e à extração de minérios, como o petróleo, que enriquece o bolso dos já muito ricos, o governo brasileiro descobriu outra grande mina nos negócios que está a realizar com os países vizinhos de idioma espanhol.

      Para continuar assim, Lula joga dos dois lados, conversando com Fidel, em Cuba ou com Chávez, na Venezuela, auscultando as idéias do novo presidente eleito da Colômbia, Santos, indo ao Paraguai para tentar cooptar Lugo para o seu modelo desinvolvimentista ou aumentando as exportações para o Uruguai, com a idéia de torná-lo um país dependente da nossa economia. Uma política para as empresas, para as grandes empresas, que necessita de paz para que os negócios aconteçam naturalmente na região.

      Súbito, nesse céu idílico dos grandes negócios, quando o governo brasileiro, inclusive, já ameaça reatar as relações com o governo golpista de Honduras; quando as eleições presidenciais já estão ganhas, graças à propaganda das grandes empresas de comunicação, que tem a sua parte nesse festejado bolo, surge a real possibilidade de guerra entre Colômbia e Venezuela. Uma guerra, que, se acontecer, poderá se estender para outros países, como Bolívia e Equador, e permitiria a entrada em cena do exército dos Estados Unidos, que apenas espera uma oportunidade como essa para tentar liquidar com a Venezuela bolivariana e tentar impor, novamente, o seu poder na América do Sul.

      E tudo isso saudado ufanisticamente pelos meios de comunicação brasileiros, como Globo & Cia., através dos seus diversos canais e enésimos programas de TV satanizando Chávez, Fidel e outros menos cotados. Os mesmos meios de comunicação que apoiaram, de maneira explícita ou subliminar, as duas eleições de Lula e fazem o mesmo, agora, com Dilma, a Lula de saias. E se Lula não obedecer às diretrizes políticas desses verdadeiros consórcios da informação e apoiar “o lado errado”, as eleições estarão perdidas e o projeto político do PT será extinto, porque uma verdadeira campanha difamatória surgirá, varrendo Dilma e Lula do cenário político.

      O que fazer? Se a guerra acontecer, a política de bobo equilibrista de Lula ficará a descoberto, porque será obrigado a apoiar a Colômbia, ou, ao menos, demonstrar uma neutralidade equívoca. Não poderá nunca apoiar a Venezuela, porque tem uma aliança militar com os Estados Unidos – que serão os principais interessados na guerra. E se os Estados Unidos entrarem na guerra o Brasil terá de fazer o mesmo ou, no mínimo, colocar o nosso exército nas fronteiras com a Venezuela para, na hora certa, tentar pegar a sua parte do botim. E o rei estará nu.
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