segunda-feira, 22 de março de 2010

XANTIPA


Sócrates molhava seus pés
Com altivez
Nas nuvens
Quando guerreava
As certezas inquietas
Com a impavidez da dúvida.

Os pés gelados
Lembravam-lhe
Seu ínfimo ser efêmero
Que insistia em partejar
Em sonhos e idéias
A possibilidade de existir
Em plenitude.

Xantipa, a Séria,
Com seu olhar
Histérico e mortiço,
Odiava em Sócrates
O dáimon
Que o instava a combater
Olhares pobres e parados.

Não entendia seu amor por Alcibíades
- Mesmo que socrático –
E sua indiscreta admiração por Aspásia
- A mulher que pensava.

E o que mais a fazia
Amar e odiar
Aquele estranho homem
Eram os momentos de extrema abstração
Que o tornavam alheio
E, ao mesmo tempo,
Intenso e participante
De um outro mundo
Que ela não ousava sonhar.

2 comentários:

  1. Belo poema que nos faz pensar. Ah! Grécia e seus pensadores. Conheci Sócrates através de ti,Fausto. Obrigada, e parabéns!.

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  2. Bela poesia! Voltando no tempo e parando na Grécia.

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