sábado, 19 de fevereiro de 2011

CHUVA PEQUENA


O rumor das águas
Que me submerge
A sentir caminhos,
Desvendar lugares,
Penetrar desvãos,
Recolher-me em nichos,
Espreitar segredos,
Espiar meus sonhos
Que deixei vagar
Ao sabor das águas,
A correr tão dentro
Num sentir profundo
De chuva pequena
A se espraiar,
Penetrar raízes,
Ir além da terra
E do rumorejar,
Buscar no silêncio
A noite que veste
Seu disfarce pó...


O fingir-se pó,                            
Embriagar-se em tempo,
Enfeitar-se em caos,
Desfazer-se em nadas,
E deixar vagar
Ousar enfrentar,
Com a calma dos sonhos,
Lucidez perfeita,
A profunda ausência
De supostos eus
Sempre a insinuar,
A buscar guarida,
No rumor das águas,
Indefiníveis águas,
Que me submergem
Num sentir profundo
De chuva pequena
A buscar silêncio
Na noite que veste
O disfarce pó...

O sentir-se pó,                
Inevitável pó,
Desvendar a terra,
Inefável terra,
Transformar-se em seiva
E fazer brotar
A força da vida,
Infinita vida,
Disfarçada em verdes,
Tão suaves verdes,
E todas as cores,
Um fremir de cores
A dançar no olhar...

E deixar-se estar,      
Como a mergulhar,
Ou desabrochar,
Somente existir
Sem se perguntar,
Só o devanear
De saber-se pó,
Tão vibrante pó
A se enlanguescer
Ao sorver da água,
Tão sublime água,
No seu toque tímido
De chuva pequena
Ou no seu jorrar
De chuva extrema,
Em breve infinito,
Em leve infinito
A deixar-se amar.

Um comentário:

  1. Linda poesia! Existencialismo descrito através da água, do verde... Parabéns!
    Lidia.

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