domingo, 7 de novembro de 2010

O FEMININO DE HOMBRIDADE


Nós não merecemos, mas o Lula merece a Dilma. Sem dúvida, é a sua legítima sucessora.

     Declarou que vai cuidar das mulheres. Já é alguma coisa. Isso de cuidar das mulheres é muito justo. Provavelmente ela acabe criando uma polícia feminina especializada na Lei Maria da Penha. Constituída por mulheres mesmo. De verdade. E para outras funções, talvez. Mas fica no talvez.

     Muito justo e louvável. Pergunta-se quem cuidará dos homens. Acredito que a mesma polícia especial, só que de outra maneira. Uma maneira especial. Na verdade, a Dilma não falou que iria cuidar dos homens, porque homem não precisa ser cuidado. Homem é homem. Isto é... Há controvérsias.

     Durante o governo provavelmente ditatorial/feminista da Dilma, dizer a expressão “homem é homem” poderá implicar em processo. Processo por ameaça de homem ser homem. Mais simples: processo por machismo. Qualquer expressão que for considerada machista será enquadrada. Estou delirando? Mas não estamos todos delirando? Deliremos, pois.

     E nesse delírio todo, eu tenho pensado, já faz dias, sobre o feminino da palavra “hombridade” – e não consigo achar. Meu vocabulário é escasso e talvez haja um feminino, mas cadê?

     E a expressão “palavra de homem”, vai sumir completamente, ou também vai ser considerada crime de machismo? Porque, por incrível que possa parecer, ainda existem homens machos. Nem todos são aquilo que os nordestinos chamam de “boiola”. Mas falar em nordestino, atualmente, está ficando muito perigoso. Taí!, achei! É claro que a Dilma, como uma espécie de Grande Mãe, vai cuidar dos homens... nordestinos. Eles precisam de muitos cuidados. Aquele problema da seca, entre outros. Mas desde que falem baixinho, naquele sotaque tão característico. E a chamem de Mãinha.

     Pois estava eu, tomando meu chimarrão, de manhã cedo, pensando na melhor maneira de me exilar no Uruguai – onde os homens são homens, as mulheres são mulheres e as crianças são crianças, naturalmente – ou de ficar no Brasil, apenas assistindo eles tomarem conta definitivamente de tudo o que é de todos, porque é isso que eles pensam que podem e devem fazer, depois que foram sagrados nas urnas, principalmente com os votos nordestinos, quando alguém bateu na porta.

     Pensei: “Deve ser a polícia da Dilma, encabeçada por alguma pseudo-mulher, dessas que estão sendo fabricadas às dúzias hoje em dia, com olhares agressivos, coturnos nos pés e dentes que mordem os lábios quando falam. Provavelmente, alguém me ouviu preparar o chimarrão e estão vindo me prender com base na Lei Maria da Penha por pensarem que eu estou machucando a erva-mate”. “Resistirei até o fim, me defendendo com a bomba de mate” – decidi.

     E já me preparava para isso, quando ouvi alguém gritar: “Ó de casa!”. Reconheci a voz do seu Juca e abri a porta.

     O seu Juca me olhou e disse: “Mas o que é isso, vivente? Até parece que viu assombração a esta hora da manhã! Mas toca aqui”.

     Nos cumprimentamos e eu tentei me desculpar com ele, dizendo que estava ficando meio paranóico desde que as eleições tinham terminado e que não levasse a mal eu ter demorado pra atender.

     - Estou chegando de fora e pensei em passar aqui pra trazer um mel fresquinho, colhido ontem ainda.

     - Não precisava, seu Juca... E lembrou de mim?! Mas se achegue que o mate tá novinho, ainda nem encilhei.

     - Pois mate eu já tomei de manhã cedo, com o cantar do galo, mas não vou fazer desfeita. Mas me diga como foram as eleições... É verdade que agora temos uma mulher como presidenta?

     - É verdade, seu Juca. Mas isso não tem importância. O pior é que aquele pessoal continua no poder.

     - Aqueles mesmo? Mas não se pode fazer nada a respeito?

     - Nada, seu Juca. É esperar para ver.

     - Mas já estamos vendo há oito anos, esse menino. E olha só a tristeza que está no campo. Quem tem uma chacrinha, como eu, ainda pode se virar, mas e essa pobre gente que eu vejo passar, volta e meia, como se fosse em procissão, com os filhos a tiracolo, parando aqui, dormindo ali, sendo corridos pela polícia do tal de lulalá?

     - Pois é. Mas o tal de lulalá está indo embora. Agora é a dona Dilma.

     - Dona Dilma!... Olha só!... Até me arrepia os bigodes. A única dona Dilma que eu conheci – e deve estar velha, agora – foi uma senhora muito distinta, viúva, que tinha uma casa de meninas que eu visitava de vez em quando. Tudo muito certo, arrumadinho, as meninas limpinhas. Em outros tempos, esse menino.

     - Bons tempos, seu Juca!

     - Bons tempos! Mas me diga lá, como é que o povo elegeu uma mulher? Não que eu seja contra, muito pelo contrário, eu acho que se a pessoa tem gabarito pode ser homem ou mulher que não tem importância... Mas dá o que pensar...

     - Pois é, seu Juca. Mas dizem que ela é até uma pessoa boa, cheia de boas intenções...

     - De boas intenções o inferno está cheio, esse menino, como dizia o meu pai velho. Mas, pelo menos terá algum homem ajudando ela?

     - É claro seu Juca. Mas aquela mesma turma. Eles só trocam as caras e continuam os mesmos.

     - Ficam sorteando os cargos entre eles, não é esse menino? Gente sórdida, sem vergonha na cara, já li cada coisa sobre eles... Que saudade do Getúlio!... É por isso que eles acabaram botando uma mulher na presidência, porque falta hombridade!

     - Por falar nisso, seu Juca, eu tava pensando... O senhor sabe qual é o feminino de hombridade?

     - Deixa eu ver... Agora me escapou. Se tem, me escapou. Hombridade...Feminino... Qual será, esse menino?

     - Pois me escapou também, seu Juca. Se tem, não consigo lembrar. Mas tome mais um mate.

     - O último. Já estou ficando verde por dentro e ainda tenho que comprar algumas coisas antes de voltar pras casas. Mas te afirmo, esse menino, que hombridade é uma palavra que tem a ver com honra. Essa palavra nasceu no tempo em que os homens faziam uma promessa e davam um fio de bigode como garantia. Pois é, não pode ter feminino, mulher não tem bigode.

     - É verdade, seu Juca. Talvez seja feminilidade. Mas eu entendo feminilidade por beleza, coquetice, sensualidade...

     - Coisas difíceis nas mulheres, hoje em dia, esse menino. Tudo isso junto é muito difícil. E lhe falo que beleza só não adianta.

     - É eu que tô ficando louco ou elas tão falando cada vez mais grosso, ultimamente, seu Juca? Quero dizer, não grosso com voz de homem, mas daquele jeito agressivo, como se estivessem sempre na defensiva?

     - Pois eu tenho percebido isso também, esse menino, e achei que era coisa só da minha cabeça... Ora veja!... Um jeito estranho, não é? Como se quisessem bancar os homens...?

     - É isso aí, seu Juca. E não necessariamente aquele tipo de mulher que não gosta de homem, o senhor sabe, não é disso que eu estou falando.

     - Eu sei, eu entendi. E olhe que nós não somos os únicos homens que pensamos assim, esse menino. Tem muito homem por aí que não quer nem casar, porque as mulheres estão sendo educadas de outra maneira, ficando mais inquietas, meio metidas. A gente até estranha quando topa com uma mulher assim, e mulher de verdade, não é...

     - Pois eu sei, seu Juca. Mulher de verdade, mas daquele jeito que não dá nem pra conversar direito.

     - Como se tudo estivesse invertido esse menino, aquelas que já vêm com quatro pedras na mão, se a gente pergunta alguma coisa pra elas, não é?

     - Mais ou menos isso, seu Juca. Daquelas que passam a mão no nariz se a gente só olha de esguelha.

     - Pois isso é a educação, esse menino! A falta de educação. As mulheres estão ficando tão enfezadas que já nem sabem como mulher deve se comportar. Chegamos ao ponto de ter uma mulher presidenta! Pelo menos essa é meiga, gentil, com um jeito afetuoso?

     - Olha, seu Juca, se eu lhe disser o senhor vai sair triste daqui.

     - Não me diga...! Pois ela é assim?...

     - Nem quero lhe dizer!

     - A la pucha! Mas e aqui no Rio Grande ela ganhou?

     - Não, seu Juca, aqui ela perdeu. Por pequena diferença, mas perdeu.

     - Bom, mas então estamos bem defendidos. Parece que ainda tem homem nesta terra. Qualquer coisa, fazemos outra revolução. E ela que venha torcer o nariz por aqui, esse menino. Ela que venha!

     - Mas não se bate em mulher, seu Juca. Tem até lei...

     - Mas nem com uma pena de galinha! Se ela vier se meter a gente só mostra o que é hombridade. Damos umas aulas pra ela.

     - Assim é que se fala seu Juca. Mas talvez não seja preciso tanto. Como eu lhe falei, dizem que é gente boa.

    - Pois vamos rezar pra Deus, esse menino! Vamos rezar pra Deus... Pra Deus e pra Nossa Senhora. E agora, se me permite, eu já vou indo, com esta nova. Mas apareça, pra respirar um pouco de ar puro.

     - Vou aparecer, seu Juca. Obrigado pelo mel.

     E lá se foi o seu Juca para a sua vida pura e feliz.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Faça o seu comentário aqui.

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...