domingo, 3 de janeiro de 2010

NA NOITE PASSADA...



Eu não posso dizer o que seja isso...Quem sabe se eu fiz algum mal pra alguém...Mas examinando a minha consciência, não fiz. É uma vingança! Ou então é roubo! Querem abrir a porta pra roubar aqui dentro.

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Passei a noite aqui. Mas eu passo um medo que tu nem sabe. Às vezes passam a noite aí, batendo. Eu pergunto quem é, “diga quem é, porque se não der o nome eu não abro a porta - é ordem das autoridades!” - eu digo. Eu digo pra eles: “é ordem de não abrir a porta sem saber quem é!” ...Ninguém diz nada...
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Então é crime. Desse jeito, sem dizer o nome é pra que não se saiba quem ele é.
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Uma noite dessas, entre apelos e apelos, eu disse: “se não diz o nome é porque é ladrão e quer roubar!” Eu não entendo, não é? Tenho muito medo.
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É. É bem fechada. Eu ponho isto, que é uma tranca, e essas madeiras eu boto tudo, tudo, tudo encostado nela.
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Nós estamos vivendo num mundo cheio de banditismo. É só o que dá nos jornais pra ler: tem gente matando mesmo. Numa época como essa, a gente não vai ter medo? Eu tenho.
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Não. Nada eu tenho visto. É só aqui. Que eu saiba, é só aqui.
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Não sei. Numa dessas eu vou saber. Logo que eu vim pra cá já começou.
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Ele nunca escutou. Tava muito doente, quase inconsciente. Eu passava essas noites sozinha com ele. Aí, empurravam a porta! Eu nunca fiquei sabendo quem era. Nunca fiquei sabendo...
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Houve horas, na noite passada, sem ser esta, a outra, que foi uma coisa medonha!. Levaram a noite toda. Empurrando. Eu chamei, chamei...Tu não ouviste eu chamar muitas vezes à noite?
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E se isso continuar assim, eu vou ter que tomar providências. É capaz de me arrombarem a porta, me matarem aí pra roubar. Eu precisava era arranjar uma mulher que ficasse aqui comigo, mas como? Não é uma moça, nem uma menina, pra não aumentar os perigos: é uma senhora. Tu não acha?
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Eu te chamei pra te dizer por que é preciso tu saber!
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Bom. Quando eu ouvir eu grito logo...Isso começa aí pelas dez, dez em diante.
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Tu não acha que eu tenho razão de ter medo? Olha, olha aqui as escoras: aquilo tudo fica pelo canto, fora esta que fica aqui em cima.
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Eu faço o que posso, sabe?
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Tá. Passe bem a noite. Se precisar de mim, grita.

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