Medo.
O soldado deve ter medo quando em combate; caso contrário, poderá ser ferido.
Não o medo covarde, que é o medo dos covardes, mas um medo sadio, de
autopreservação. Os destemerosos, aqueles que levantam com a bandeira na mão,
serão feridos. Quase sempre. Deve-se ter medo de ser ferido – dizem os
instrutores militares. Um soldado a menos dá trabalho.
Errático,
incerto e descabido é o medo de fantasmas, vampiros, lobisomens,
mulas-sem-cabeça, lulas ou maias. Maias no final do seu calendário estão
prestes a sair de férias e tem por hábito o grito destemperado, ou com algum
tempero que possa assustar os que não viajarão imediatamente.
Deve
ser dolorido e demencial perder as férias por causa do aguerrido e ameaçador grito
maia. É um grito que assusta, intimida, provoca solidão e dúvidas. Acabará o
mundo?
Orgulhem-se
os que não sentem medo. Terão vivido. Cícero fugiu de César e acabou sendo
capturado e morto. O valoroso Heitor perdeu o valor na hora de enfrentar Aquiles
e saiu correndo. Quando parou, tentou regatear a própria morte. E foi morto.
Estamos
vivendo um estado de medo. Pessoas se escondem com medo do fim do mundo. Alguns
pensam no suicídio por medo da morte. Outros tentam acordos com arcanjos e Ets
através de pias e duvidosas canalizações. Mantras são entoados às cortes
angélicas para que afastem Nibiru, Hercólubus, o Planeta X que tudo
devastará...
Passaporte.
Cuide do seu passaporte com carinho. Caso você seja um corrupto conhecido que
roubou milhões do Estado e nada devolverá, porque os ministros do Supremo que o
condenaram não tem o conhecimento necessário, não sabem como fazer para que
você e seus amigos corruptos conhecidos condenados simbólicos devolvam o
dinheiro roubado, esmere-se em cuidar do passaporte. Ele será a chave da
liberdade para novas corrupções. Bastará entregá-lo e o Brasil será a sua
imensa cadeia. Na dúvida, atravesse as nossas desmatadas e abertas fronteiras e
compre um passaporte falso, caso deseje ir além, enquanto o mundo não acaba. Grandes são as chances de
sucesso e prestígio para os corruptos profissionais.
Indignados
cidadãos honestos que são escorchados a vida inteira pela impostura do Estado,
pelos maiores impostos do mundo, chamarão você de ladrão. Não ligue, você já
está acostumado a esta palavra amiga que regala os seus sonhos. Retruque
dizendo que rouba, mas faz. Faz mais roubos, mas alguns não desconfiarão -
aqueles que você paga para que o protejam e gritem que você é um grande herói.
Zeros
à direita. Muitos zeros à direita nos cheques que você troca para corromper e
ser corrompido. Todos sabem disso, mas você é intocável: já entregou o seu
passaporte.
Zeros
à esquerda, é como você considera aqueles que revelam os seus roubos. Nunca
poderão ser mais que zeros à esquerda. Não tem a sua inquestionável esperteza e
malandragem; não sabem e nunca saberão roubar; não entendem que política,
gestão pública e esta nossa democracia que você tanto defende se relacionam
estreitamente com muitos, muitos zeros à direita.
Assustado?
Você, com tantos amigos ilustres? Jamais! Finja-se de indignado. Ainda existem
pessoas que acreditam em dignidade. Principalmente o povo humilde e submisso aos
seus discursos enfáticos. É dele que depende o seu sucesso. Ele, inconscientemente, bobamente, o elevou à sublime e indevassável impunidade.
Gosto dos seus comentários. São ricos em conteúdo, desperta a nossa curiosidade. Abraços
ResponderExcluir< nelson.spaixao@hotmail.com > Coimbra-MG.