terça-feira, 4 de junho de 2013

RUMINANTES







A ilusória idéia do Estado protetor cai por terra todos os dias neste Brasil de sonhos destruídos e orfandade do cidadão. 


Acostumamo-nos, provavelmente por hábito ancestral, a acreditar que as instituições governamentais existem para defender as pessoas. Erro, estultice, crença cega, superstição ou necessidade de amparo que substituiu a luta pelos direitos mais básicos do ser humano pelo repasse dessa força que deveria ser transformadora para um ente abstrato - autor e responsável por todos os males que afligem a nação dos deserdados. E medrosos.

      Em algum momento da nossa maltratada História perdemos a força de vida. Tornamo-nos rebanho. Domesticados, desejamos as migalhas da mesa dos poderosos e as ações permitidas como esmolas às nossas estilhaçadas consciências de animais urbanos não passam de histriônicos gemidos pela necessidade de usufruir prazeres e sensações que nos entorpecem ainda mais. Somos a piada de um mundo que se tornou piada das suas misérias.

    Restou-nos o grito de “gol!”, suprema alegria da mediocridade. Todos os dias nos roubam. Todos os dias sugam um pouco do nosso sangue morno. Todos os dias o vampiro nos mostra os seus dentes para que possamos rir da sua corrompida dentadura.

  Quando exercem o seu poder contaminado, pervertido, e matam os pobres de todas as cores e etnias em demonstração da força que a eles concedemos nas cegas urnas virtuais, nos limitamos a protestos na internet – revelação da nossa fraqueza. Quando matam os que não são pobres fazemos tímidas passeatas.

     Quando desmatam, trucidam, arrasam a terra que deveria ser nossa, nos limitamos a protestos na internet – confessionário da nossa impotência. Quando os seus esbirros chafurdam nos nossos quintais, contratamos solenes e sentenciosos causídicos que os defendem habilmente.

    Estamos nos acostumando a aceitar o logro como parte da nossa natureza de logrados; o engano como hábito dos enganados; a trapaça como destino dos trapaceados. Acolhemos a corrupção com a naturalidade dos corrompidos. Não nos envergonhamos mais da nossa nudez moral. Não ousamos ir além dos limites estabelecidos aos ruminantes.


     No máximo, clamamos. Por saúde, educação, segurança; contra a fome, a sede, os desmandos, os abusos, a corrupção... Clamamos por hábito, para escutar as nossas roucas vozes, como bois mugindo na hora do abate. Pacíficos clamores. Agitados clamores que não passam de clamores. Somos um povo pacato.

Um comentário:

  1. É bem isso, blogueiro. Não quero eu também ir na onda dos conformados. Tenho tentado lutar para que isso não aconteça. Excelente postagem. Parabéns!.
    Lidia.

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