A ilusória idéia do
Estado protetor cai por terra todos os dias neste Brasil de sonhos destruídos e
orfandade do cidadão.
Acostumamo-nos, provavelmente por hábito ancestral, a
acreditar que as instituições governamentais existem para defender as pessoas.
Erro, estultice, crença cega, superstição ou necessidade de amparo que
substituiu a luta pelos direitos mais básicos do ser humano pelo repasse dessa
força que deveria ser transformadora para um ente abstrato - autor e
responsável por todos os males que afligem a nação dos deserdados. E medrosos.
Em algum momento da nossa maltratada
História perdemos a força de vida. Tornamo-nos rebanho. Domesticados, desejamos
as migalhas da mesa dos poderosos e as ações permitidas como esmolas às nossas
estilhaçadas consciências de animais urbanos não passam de histriônicos gemidos
pela necessidade de usufruir prazeres e sensações que nos entorpecem ainda
mais. Somos a piada de um mundo que se tornou piada das suas misérias.
Restou-nos o grito de “gol!”, suprema
alegria da mediocridade. Todos os dias nos roubam. Todos os dias sugam um pouco
do nosso sangue morno. Todos os dias o vampiro nos mostra os seus dentes para que
possamos rir da sua corrompida dentadura.
Quando exercem o seu poder contaminado, pervertido, e matam os pobres de todas as cores e etnias em demonstração da
força que a eles concedemos nas cegas urnas virtuais, nos limitamos a protestos
na internet – revelação da nossa fraqueza. Quando matam os que não são pobres
fazemos tímidas passeatas.
Quando desmatam, trucidam, arrasam a
terra que deveria ser nossa, nos limitamos a protestos na internet –
confessionário da nossa impotência. Quando os seus esbirros chafurdam nos
nossos quintais, contratamos solenes e sentenciosos causídicos que os defendem
habilmente.
Estamos nos acostumando a aceitar o
logro como parte da nossa natureza de logrados; o engano como hábito dos
enganados; a trapaça como destino dos trapaceados. Acolhemos a corrupção com a
naturalidade dos corrompidos. Não nos envergonhamos mais da nossa nudez moral.
Não ousamos ir além dos limites estabelecidos aos ruminantes.
No máximo, clamamos. Por saúde,
educação, segurança; contra a fome, a sede, os desmandos, os abusos, a
corrupção... Clamamos por hábito, para escutar as nossas roucas vozes, como bois
mugindo na hora do abate. Pacíficos clamores. Agitados clamores que não passam de clamores. Somos um povo pacato.
É bem isso, blogueiro. Não quero eu também ir na onda dos conformados. Tenho tentado lutar para que isso não aconteça. Excelente postagem. Parabéns!.
ResponderExcluirLidia.