Depois da crise que
resultou na anexação da Criméia – que Putin jura de mãos postas que não
desejava, mas respeitou a vontade do povo crimeano –, a sucessão de recuos
russos ante a pressão ocidental, culminando com a retirada do seu exército das
fronteiras com a Ucrânia e o pedido do dirigente russo para que a Duma
(congresso russo) anulasse a autorização para intervir no país vizinho, entregando
os insurgentes ucranianos à sua própria sorte e revelando, senão perfídia, uma
timidez muito próxima da covardia, muitos se perguntam: a Rússia é um blefe?
Putin é um blefe. O
sucessor de Bóris Yeltsin – o famoso bêbado do Kremlin que teve como missão
destruir a União Soviética, junto com Mikhail Gorbachev – viu-se perdido ante
um emaranhado de acordos com os Estados Unidos, OTAN e União Européia e quando
a Ucrânia foi tomada pelos golpistas e dele se esperava uma atitude no mínimo
firme preferiu encasular-se em concha, permitindo massacres e violação de
direitos humanos dos fascistas ucranianos no sudeste daquele país e fingindo
que não era com ele o assassinato contínuo e persistente de russos que vivem na
Ucrânia.
Mostram os jornais
virtuais russos – como Voz da Rússia, Diário da Rússia e Gazeta Russa – o formidável
arsenal bélico daquele país, revelam as incessantes manobras de cansados soldados
que não param de manobrar e somente manobrar dentro se seus limitados polígonos;
anunciam armas de quarta a quinta geração, mísseis formidáveis e forças armadas
com uniformes impecáveis. Ao mesmo tempo, queixam-se do cerco da OTAN em torno
do território russo, protestam muito diplomaticamente contra a guerra civil na
Ucrânia e desvelam um governo impotente e atemorizado ante as ameaças verbais
dos líderes dos Estados Unidos e da União Européia e que nada mais deseja senão
novos acordos comerciais e uma atividade econômica mais sólida para as empresas
multinacionais sediadas na Rússia. Putin se revela como um gerente de empresas
e não como um chefe de Estado preocupado com o seu território e com a sua
nação.
Em 2018 a Rússia
sediará a Copa do Mundo da FIFA e deverá, assim como o Brasil, em troca do
turismo e da “maior visibilidade do país”, ceder em todos os pontos àquela
entidade que ultrapassa fronteiras e desdenha de governos. Putin quer se reeleger
e a classe média que o apóia, formada por oligarcas que defendem os seus
interesses econômicos - assim como no Brasil onde o governo, que deveria ser
dos trabalhadores, é protegido pelos sarneys, malufs, donos de empresas
multinacionais e a burguesia nacional, que finge desejar a volta de retrógrada
ditadura dos militares – além dos próprios militares, satisfeitos com a sua absurda
ação contra favelados e haitianos e felizes por alguns cargos de chefia em
missões de paz da ONU.
Também na Rússia o
governo pretende a paz dos domados e satisfeitos e deseja acabar com todas as crises
que possam abalar o seu prestígio de país grande ou de grande país, como um
adolescente que cresceu desmesuradamente e não sabe onde colocar pernas e
braços. Um país que perdeu a identidade desde que acabou a União Soviética e não
sabe ainda o que deseja para o seu futuro, teme o presente e deseja mais
parecer do que ser.
A seleção de futebol
da Rússia reflete o seu país. Quando veio à Copa no Brasil, os jornais russos
escreviam que desejava vencer o torneio, ou, ao menos, terminar em uma ótima
colocação. Depois da primeira derrota, os mesmos jornais fizeram uma enquete que
resultou com um número expressivo de cidadãos russos que acreditavam que a
Rússia poderia vencer a Copa do Mundo. Estavam completamente fora da realidade,
mas fazer o que com uma imprensa controlada pelo governo e que é tão ou mais
ufanista que a imprensa brasileira?
Quando empataram a
segunda partida da fase de classificação, os jornais virtuais russos destacaram
que a Rússia se classificaria vencendo a Argélia. E mais: a receita seria
chutar em gol seguidamente, porque alguém teria dito que o goleiro da Argélia
enxergava mal. Perderam para a Argélia e foram desclassificados. O que
escreveram aqueles jornais? Que a Rússia tinha sido considerada a seleção mais
simpática do mundial e os uniformes da sua seleção foram eleitos como os mais
bonitos e vistosos.
Um blefe atrás do
outro, que revela a ausência de senso de realidade que impera naquele país.
Talvez o povo russo acredite nesses blefes, assim como acredita que Putin,
Medvedev, e outros menos cotados do seu governo, não têm medo da OTAN, claro
que não, apenas efetuaram uma retirada estratégica, um movimento de recuo para
se lançarem com mais força na hora que julgarem a mais adequada para agir.
Enquanto isso, a Rússia vai perdendo em todos os pontos da política internacional
e pouco falta para que considere a entrada para a União Européia uma boa opção.
E perde, também, a
confiança de todos aqueles que a julgavam uma opção ao império. Mas espero estar
errado.
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