sábado, 28 de fevereiro de 2015

O MEDO DE DILMA E OS ABUTRES DE PLANTÃO




Dilma Roussef nunca teve qualquer postura ideológica que vá além da defesa das mulheres ou dos direitos LGBT. A sua prática como governante vem mostrando esse amor à superficialidade política, que caberia a um Fernando Henrique – aquele que repudiou os próprios livros – ou a um Aécio Neves, que repete a triste trajetória golpista do seu avô Tancredo, que, em 1954, aconselhou Getúlio Vargas a renunciar. Dilma é o resultado do simulacro de esquerda em que se disfarça o PT e que levou milhões de pessoas a acreditar que aquele partido mudaria o Brasil, quando, na verdade, as únicas mudanças patrocinadas pelos quase treze anos de PT no governo foi o aprofundamento das relações com os Estados Unidos e União Européia, entrega da Amazônia para as multinacionais, alianças com setores oligárquicos e empresariais, eternização das promessas de reforma agrária e urbana e uma grande capacidade para iludir ainda mais o povo esperançoso. 

   Ou seja, mudanças ficcionais que repetem a prática da direita desde os tempos da República Velha, enfatizadas com o golpe de abril de 1964. Para os setores mais reacionários, Dilma é a presidente ideal, e seria perfeita caso o PT não detivesse tantos cargos no governo e grande número de cadeiras no Congresso Nacional. Isso possibilita ao desmoralizado partido do governo roubar tanto ou mais do que os governos anteriores, não dando chance a que a direita explícita volte a desfrutar do resultado do assalto aos cofres públicos ao qual já estava mal acostumada desde 1964. 

   Então, o golpe. Não somente pelo dinheiro, que eles poderiam barganhar com o PT, fingindo-se de aliados assim como faz o PMDB. Não acontecem golpes na América Latina sem que haja, primeiro, ordem dos Estados Unidos, e os Estados Unidos não precisariam golpear o nosso frágil estado de direito, através de seus capangas no Congresso, na imprensa e nas Forças Armadas, se não estivesse preparando uma guerra contra a Rússia. 

   A exemplo dos anos ’60 quando da invasão do Vietnã, que, em última análise, resultou em uma guerra indireta contra a União Soviética, e diversos golpes de estado (Brasil, Chile, Uruguai, Paraguai, Argentina...) articulados em Washington foram concretizados no “quintal” norte-americano, também conhecido como América do Sul, para assegurar o domínio da retaguarda e garantir o roubo das nossas riquezas com o apoio das oligarquias nacionais, agora também os Estados Unidos estão tentando limpar o terreno com a tentativa de golpes em diversos países, como Argentina, Venezuela, Bolívia, Equador e – por  que não? – Brasil. Chile, Colômbia e Paraguai já estão sob o domínio da política norte-americana, o Peru ainda é uma questão a ser resolvida e o Uruguai – assim como a Guiana e o Suriname – por enquanto não tem peso na balança. 

   Mais do que a característica ganância da direita, a tentativa de golpe – ou o golpe em andamento, como preferem alguns – prevê a retomada do poder pelos cartéis, através de seus representantes políticos que assumiriam o poder após a necessária farsa do “impeachment” e entregariam de vez o que resta do Brasil para as multinacionais. Principalmente a Petrobrás, que possui as maiores reservas de petróleo do mundo e mesmo que seja uma empresa de capital misto ainda pertence ao Estado brasileiro. 

   Privatizar a Petrobrás é o grande objetivo dos Estados Unidos e de seus aliados imperialistas. Se o PT caiu na armadilha de receber propinas para facilitar licitações e vários dos seus membros acharam que era natural enriquecer com o governo, prática comum no capitalismo, e se mais de dois bilhões foram roubados da Petrobrás pelos políticos, desde 2005 (o que terá acontecido antes de 2005?), a privatização da Petrobrás, sob o pretexto de que o governo não sabe gerenciar os bens do povo significaria a entrega de 100% de nossas riquezas petrolíferas nas mãos dos verdadeiros ladrões, em troca de royalties insignificantes. 

    Em defesa de nossas riquezas, Getúlio Vargas lutou de 1930 a 1945, quando foi deposto pelos militares que voltavam da guerra da Itália, onde foram convencidos pelos estadunidenses - de quem recebiam ordens - de que governos nacionalistas fazem muito mal ao capital internacional. Em 1950, Getúlio voltou à presidência da República e foi bombardeado pelos agentes de Washington desde o primeiro dia do seu governo. As razões: nacionalização da Petrobrás e da Eletrobrás e a Lei de Remessas de Lucros, que impedia as multinacionais que tinham filiais no Brasil de enviar mais que 8% de seus lucros para o exterior. Foi assassinado ou preferiu o suicídio quando todos os velhos amigos – inclusive Tancredo Neves – negaram-lhe o apoio na hora decisiva. 

    O mesmo aconteceu com João Goulart quando do golpe de 1964, já ensaiado em 1962 com a covarde renúncia de Jânio Quadros. Apesar disso, ao tomarem o poder, os militares, provavelmente tentados por todas as corrupções – e existe maior corrupção do que trair o próprio país? – não entregaram completamente as nossas riquezas. Preferiram usufruí-las. 

   Com a redemocratização dos anos ’80 – mesmo que tenha sido uma farsa para colocar uma nova geração de civis amigos no poder – os governos que se sucederam não ousaram ir além do que entregar algumas fatias das nossas riquezas ao capital estrangeiro, e nessa onda de privatizações Fernando Henrique mereceu o título de doutor Honoris Causa. 

   Lula foi eleito para continuar o governo de Fernando Henrique, e teve sucesso no item privatizações, mas, ao invés de entregar a Petrobrás preferiu assaltá-la. Tendo como assistentes pessoas como o mafioso José Dirceu, o traidor José Genoíno (vide guerrilha do Araguaia), o mercantilista Mercadante, o eternamente suspeito Palocci e outros que tais, Lula conseguiu terminar o seu governo de oito anos sem maiores percalços que a descoberta do Mensalão e encarregou a inepta Dilma Roussef de dar continuidade ao seu trabalho.  

   Por razões que fogem ao raciocínio lógico o PT acreditou que ficaria no poder por vinte anos ou mais, comprando senadores e deputados para aprovar os seus projetos, aparelhando o STF para defendê-lo de eventuais falcatruas e, vez por outra, quando o mercado exigia, favorecendo os interesses de empresários e latifundiários. 

   Perdeu-se o PT pela linha de fundo ao priorizar a superestrutura do poder e deixar o povo de lado. Cometeu o erro de todos os governos dependentes do capital financeiro internacional, tornou-se raquítico nas suas tentativas de reformas sociais, vulnerável e demagógico nas políticas públicas nem sempre felizes, que seguiram o modelo ultrapassado do PSDB, DEM e comparsas, caindo em todos os embustes e artimanhas da direita, deixando-se enlear e enlamear de tal maneira que não mais se reconhece o que restou do PT como partido que se dizia socialista. 

  Transformou-se num partidinho qualquer, tão insignificante ideologicamente como o PSDB, o PP, o PR ou o trapaceiro PMDB e está às vésperas de ter os seus principais líderes indiciados pela Procuradoria Geral da República, devido ao escândalo do Petrolão. Como conseqüência, se a Petrobrás for privatizada e entregue às multinacionais do petróleo, deve-se atribuir essa façanha de lesa-pátria não somente à direita oficial e aos seus abutres de plantão, mas principalmente à perfídia de alguns políticos petistas que não hesitaram em lançar mão do dinheiro público para comprar aliados nas sombras do Congresso e formar uma base política que hoje se revela podre. 

   A todas essas, Dilma Roussef aparenta estar com medo de perder o emprego. Após vencer as eleições, adotou todas as teses da oposição. Formou um ministério que foi saudado até pela inescrupulosa revista Veja, dando todos os poderes para Joaquim Levy, economista que sempre esteve a soldo das empresas multinacionais e que está encarregado de detonar a economia do país e provocar a reação popular que dará respaldo ao golpe. 

    Tendo a última chance para reerguer na prática as teses do antigo PT, com apoio da voz popular que a elegeu, Dilma prefere o suicídio. Afasta-se politicamente de países como Venezuela e Argentina, renova os seus apelos de amizade aos Estados Unidos, entrega um ministério importante para a predadora latifundiária Kátia Abreu, tira a roupa vermelha e posa de convicta conservadora – o que, talvez, seja a sua verdadeira face política. 

  A continuar assim, em breve veremos Dilma saudando os ataques genocidas de Israel à Faixa de Gaza, atacando o presidente Nicolás Maduro, da Venezuela, apoiando Raul Castro nas suas tentativas de fazer de Cuba um modelo de país capitalista, denunciando as guerrilhas latino-americanas e afastando-se do grupo BRICS, que se transformará em RICS, onde Rússia, China, África do Sul e Índia revelam brio e independência em relação ao império. Dilma está com medo, muito medo. Se não reagir imediatamente, o seu medo se transformará em realidade.

3 comentários:

  1. Análise interessante sobre Dilma e seus comparsas. Vamos ver no que vai dar. Parabéns!

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  2. Supondo-se que todas essas analises fossem verdadeiras, quais seriam as sugestões para mudar isso.

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    1. Em primeiro lugar, mudar o ministério, colocando pessoas de estrita confiança comprometidas com reformas sociais. Junto a isso, promover reformas de base, com a participação popular, pressionando o Congresso. Tirar o poder das famílias que dominam os meios de comunicação e estão comprometidas com o capital estrangeiro. Punir rapidamente os culpados de corrupção, evitando o carnaval de manifestações reacionárias. Mudar a política econômica, aumentando o salário mínimo e dando força às empresas nacionais, no sentido de mudar o modelo meramente exportador e desenvolver tecnologia nacional. Garantir a lealdade das Forças Armadas, através de promoções e de proposta de um Brasil para os brasileiros. Participar ativamente das mudanças políticas que estão ocorrendo no hemisfério sul e em alguns outros lugares do mundo. Deixar de priorizar políticas sociais superficiais (liberação da maconha, defesa de minorias) sempre buscando aprofundar o debate em busca da causa dos problemas, para, então combatê-los. Reformas agrária acelerada nas terras improdutivas, dando força ao pequeno agricultor e evitando os conflitos fundiários. E, principalmente, muita coragem para agir.

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