sexta-feira, 11 de setembro de 2015

O GOLPE ANUNCIADO E A TEORIA DO CAOS






"Doutor em anedotas e em champanhota/ estou acontecendo no café-soçáite/ só digo ‘enchanté’, ‘muito merci’ e ‘all-right’/ troquei a luz do dia pela luz da Light./ Agora estou somente contra a Dama de Preto/ nos dez mais elegantes eu estou também/ adoro Riverside, só pesco em Cabo Frio/ decididamente, eu sou gente bem./ Enquanto a plebe rude da cidade dorme/ eu ando com Jacinto que é também de Thormes/ Teresas e Dolores falam bem de mim/ eu sou até citado na coluna do Ibrahim/ E quando alguém pergunta como é que pode/ papai de black-tie, jantando com Didu/ eu peço outro uísque/ embora esteja pronto/ como é que pode? Depois eu conto". (“Café-Soçáite” – de Miguel Gustavo).


Na quinta feira, 3, Michel Temer participou de um evento organizado pela socialite Rosângela Lyra, alta executiva da multinacional Christian Dior, presidente da Associação dos Lojistas dos Jardins, em São Paulo, e líder do golpista movimento “Acorda Brasil”. Rosângela Lyra é sogra do jogador Kaká, e, além de participar de manifestações contra o governo, agora se dedica a organizar encontros no auditório da clínica de odontologia de seu marido, Laércio Vasconcelos. Esses encontros são aparelhados pelo grupo “Política Viva” e já contou com a presença do maçom Álvaro Dias, do maçom José Serra, Ronaldo Caiado e Aloysio Nunes Ferreira. A imprensa igualmente golpista diz que foi um mero encontro com empresários, mas esses empresários do “Acorda Brasil” tem ligações com a Maçonaria, que arquiteta não muito secretamente o golpe para destituir Dilma, acabar com o PT e abafar os movimentos sociais. A própria Maçonaria diz que tudo o que acontece no Brasil é feito por ela – o que não é de duvidar. E Michel Temer é maçom. 

   Na ocasião, Michel Temer disse que será difícil Dilma Roussef resistir três anos no cargo sem apoio popular. O ex-presidente do PSB, Roberto Amaral, definiu como “golpismo explícito” a afirmação de Michel Temer. “Dizer que não há uma tentativa de golpe é esconder o sol com a peneira” – declarou. Um mês atrás o vice-presidente disse que o Brasil precisava de alguém para reunificar o país, dando a entender que ele seria essa pessoa. 

  Temer falou para a platéia de um movimento (“Acorda Brasil”) de extrema-direita, que deseja privatizar a Petrobrás, a Eletrobrás e demais empresas públicas brasileiras. O “Acorda Brasil” é contra as cotas para negros e pobres nas universidades, revelando-se extremamente reacionário. Com as suas declarações, o vice-presidente da República deixou claro o seu desejo de suceder Dilma Roussef através de um golpe. Ele não falou isso, mas, no momento em que a sociedade civil organizada tenta resistir contra o clima de golpismo que se instaurou no país desde 2013 a adesão de Michel Temer, presidente do PMDB, a movimentos que pedem o afastamento da Presidente da República deixa explícitas as suas intenções. 

   A socióloga Tatiana Almeri, em seu estudo sobre Maçonaria e Elite Orgânica, investigou a hipótese de que o estado de caos que o Brasil sofria na época do golpe de 1964 foi um fato estrategicamente criado e inserido junto à população para justificar o golpe. A elite orgânica era formada por vários maçons e fazia oposição ao governo Goulart. Esses grupos tinham interesses financeiros internacionais representados por órgãos como IPES (Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais) e IBAD (Instituto Brasileiro de Ação Democrática), usados para divulgar uma ideologia conservadora em benefício das oligarquias brasileiras e estrangeiras. 

 Segundo Almeri, a influência das Lojas estadunidenses foi fundamental para as ações da Maçonaria brasileira no período. O golpe de 1964 foi baseado em uma “doutrina da paranóia” moldada por elites direitistas e reacionárias, que continham em seus quadros vários membros da Maçonaria e contavam com o apoio da mídia, dos Estados Unidos e de grande parte da população desinformada. (ALMERI, Tatiana. Guinada Para a Direita: Da Visão Liberal ao Conservadorismo. Revista Leituras da História. Ano 1 Número: 02. Ed: Escala São Paulo, 2007).



TEORIA DO CAOS 

  A Teoria do Caos estabelece que uma pequena variação nas condições de um sistema dinâmico, em determinado momento, pode levar a conseqüências de grandes proporções. “O bater de asas de uma borboleta em Tóquio pode provocar um furacão em Nova Iorque.” É uma teoria que estuda o comportamento aleatório e imprevisível dos sistemas, mostrando uma faceta em que podem ocorrer irregularidades na uniformidade da natureza como um todo, alterando toda uma previsão física precisa. É quando acontece o caos, ou o comportamento casual ou aleatório. Mas mesmo o caos também é governado por duas probabilidades. A primeira é uma resposta ordenada, com o fluxo dos eventos ocorrendo dentro de margens estatísticas previsíveis. A segunda também parte da possibilidade de uma resposta ordenada, mas a resultante futura dos eventos (causas e efeitos) pode levar a uma contradição que resulta em imprevisibilidade. 

  A Teoria do Caos analisa a natureza física, não-emocional e não-racional. No entanto, cientistas políticos afirmam que é possível aplicá-la à sociedade de massas, desde que seja gerado um ponto aleatório, imprevisto, provocando confusão dentro da normalidade política e social que poderá levar a uma “bola de neve” caótica, provocando uma ruptura no sistema, geralmente traduzida por uma revolução social ou um golpe de Estado. Prevendo isso, os sistemas políticos organizados usam armas defensivas, quais sejam: a sua elite orgânica e, principalmente, os serviços de inteligência. No entanto, o caos político realmente acontece quando essas armas defensivas se vêem infiltradas ou devassadas, originando respostas contrárias ao sistema político até então dominante. 

   Na atual cultura de massas a internet é um fator predominante onde a maioria das pessoas reage a determinados impulsos, ou estímulos, quase inconscientemente. O império tem utilizado esse meio para induzir revoltas em países que não lhe são favoráveis, angariando uma aparente legitimação popular para derrubar governos, através do que ficou conhecido como “primaveras coloridas”. Assim foi em todo o norte da África e em alguns países do Oriente Médio Da mesma maneira, tentou e conseguiu um golpe de Estado na Ucrânia, mas não contava com um fator completamente imprevisível: a reação da Rússia. 

  A partir do golpe em Kiev, a Rússia agiu imediatamente e acabou por reintegrar a estratégica Criméia ao seu território. Ato-contínuo, as revoltas na região carbonífera de Donbass, com a auto-proclamação de duas repúblicas independentes dentro da Ucrânia (República Popular de Lugansk e República Popular de Donetsk) retirou daquele país a possibilidade de se tornar uma ponta-de-lança da OTAN contra a Rússia. Esse foi o ponto não previsto pelos Estados Unidos e União Européia. 

    Inúmeras sanções contra a Rússia foram adotadas pelos EUA e seus vassalos europeus. E de nada adiantaram, servindo apenas para a Rússia se revelar como grande potência econômica e militar, bem superior à ex-União Soviética, buscando e conseguindo aliados em todo o Oriente, notadamente Síria, Irã e China, além de alguns países que fizeram parte da União Soviética, como Bielo-Rússia e Quirquistão. A Rússia está estendendo seus domínios para a região do Ártico, a praticamente um passo dos países bálticos (Noruega, Islândia, Finlândia, Suécia e Dinamarca) e da Groenlândia, na América do Norte. 

    Estados Unidos e OTAN adotaram uma estratégia que visa, por um lado, tentar o cerco da Rússia ocidental através de soldados e armamentos distribuídos em países fronteiriços como Polônia, Turquia, Ucrânia, Estônia, Geógia, Letônia e Lituânia, e nos países bálticos, além de contarem com bases militares em toda a Europa.   

   Por outro lado, Estados Unidos e comparsas tentam conquistar a Síria com o apoio do Estado Islâmico – que nada mais é que um exército de mercenários projetado e organizado por Israel – braço armado dos Estados Unidos – com o apoio da Arábia Saudita, Turquia e Jordânia. A idéia é desestabilizar completamente o Oriente Médio, colocando a Síria e o Irã em xeque. São cartas marcadas que qualquer um pode ver e deram início a uma nova guerra fria que poderá se transformar em guerra muito quente. A hegemonia dos Estados Unidos e do Reino Unido está sob suspeita e a crise do capitalismo pede, quase exige uma nova guerra para redefinir fronteiras e interesses econômicos que, se acontecer, não poupará mísseis com ogivas nucleares.



PROTEGENDO A RETAGUARDA 

    Nos anos 1980, Ronald Reagan, presidente dos Estados Unidos, apresentou ao Congresso o Projeto Guerra nas Estrelas ou IDE – Iniciativa de Defesa Estratégica. O IDE previa um conjunto de sistemas de radares instalados em terra, combinados com sistemas de mísseis com capacidade bélica múltipla ofensiva-defensiva, que incluiriam armas a laser e armas cinéticas capazes de destruir mísseis inimigos no auge de sua trajetória. Esse projeto daria aos Estados Unidos o monopólio nuclear e o domínio do poder espacial, acabando com o equilíbrio nuclear existente durante a guerra fria. 

     Mesmo considerando o Projeto Guerra nas Estrelas um blefe, a União Soviética, na dúvida, lançou-se a uma nova e dispendiosa corrida armamentista com os Estados Unidos, fabricando novos foguetes e mísseis balísticos. Por fim, em 1987, a União Soviética lançou ao espaço uma nave espacial não tripulada, guiada por laser e armada com ogivas nucleares, a Polyus – que foi derrubada logo em seguida, provavelmente por cientistas russos que desejavam o fim da guerra fria e da própria União Soviética. Aliado a isto, o descontentamento dos países da órbita soviética e o desgaste do Exército Vermelho na guerra do Afeganistão (1979-1989) acelerou o fim da União Soviética. 

   No final da década de 1980 iniciaram-se as negociações para o “desmonte” da União Soviética, período em que o presidente Mikhail Gorbachev passou para a História como o anti-Lênin. Os países que formavam a União Soviética constituíram a CEI (Comunidade dos Estados Independentes) e a Rússia ficou isolada, novamente com um governo capitalista liderado por Bóris Yeltsin, presidente que ficou conhecido como o “bêbado do Kremlin”, sucedido por Vladimir Putin, que tomou posse como presidente da Rússia, pela primeira vez, em 7 de maio de 2000. 

     Antes desses acontecimentos, nos anos ’60 e ‘70, quando a guerra fria quase se transformou em nova guerra mundial, Estados Unidos e aliados ocidentais trataram de proteger a sua retaguarda. Naquela época, a frustração na guerra da Coréia, nos anos ’50, e a tentativa de conquista da Indonésia, nos anos ’60 e ’70, com a derrota na guerra do Vietnã, foram dois acontecimentos desmoralizantes para os Estados Unidos, que buscava novas maneiras de confrontação com a União Soviética (culminando no Projeto Guerra nas Estrelas), mas se sentia fragilizado no que classificava de “seu quintal”: a América latina. 

     Aqui, diversos governos nacionalistas impediam a livre atividade das oligarquias nacionais e multinacionais. Então, com o apoio de sociedades secretas que manipulavam a mídia entreguista foram preparados e executados diversos golpes de estado que resultaram em ditaduras militares extremamente sanguinárias. 

    O golpe de 1964, no Brasil, foi organizado pelo maçom Golbery do Couto e Silva, então coronel, e que depois chegou aos mais altos escalões do Exército, e contou com o apoio de empresários e dos setores mais conservadores da Igreja Católica. Golbery era considerado uma espécie de “bruxo” das Forças Armadas e nunca aceitou ser Presidente, preferia organizar as sucessões presidenciais da ditadura militar. 

    Quando já era general e o verdadeiro chefe do governo, passou a viver na Granja do Torto, e ali recebia os jornalistas da rede Globo e afins, com os quais preparou o que apelidou de “distensão política” nos anos 1980, liberando os civis para governar em lugar dos militares, no que foi chamado de “processo de redemocratização”. Para tentar obter o apoio da opinião pública quando do golpe de 1964, Golbery usou a teoria do caos. 

      Em 1º de abril de 1964, quando o golpe ainda não se concretizara e os militares avançavam com as suas tropas para derrubar o inerme João Goulart, o deputado Rubens Paiva fez um discurso na Rádio Nacional, dizendo: 

“O que se pretende é tornar este governo incompatibilizado com a opinião pública sob uma onda de mentiras e uma imagem deformada. (...) Este é um momento decisivo, em que o povo brasileiro pode ter a felicidade de ver realizada toda sua revolução dentro do processo da legalidade democrática. (...) É indispensável, para isso, que o presidente e o governo contem com toda a mobilização da opinião pública, todos os trabalhadores, todos os estudantes, os intelectuais e o povo em geral, para que, pacífica e ordeiramente, digam um “não” e um “basta” a esses golpistas que pretendem cada vez mais prestigiar a pequena minoria privilegiada.”  

     Em 1963, Rubens Paiva participou da CPI, criada na Câmara dos Deputados, para examinar as atividades do IPES-IBAD. Rubens Paiva foi um dos primeiros atingidos pelo AI-1 (Ato Institucional nº1), tendo o seu mandato cassado. Em 1971, Rubens Paiva foi preso, torturado e morto. De acordo com a Comissão da Verdade, Rubens Paiva começou a ser torturado no próprio dia da sua prisão, na sede da III Zona Aérea, junto ao aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro, à época sob o comando do brigadeiro João Paulo Burnier. 

    Como articulador teórico do golpe, Golbery do Couto e Silva defendia a ideologia dos Estados Unidos, que influenciou os militares que tomaram o poder. O império norte-americano foi responsável por fornecer treinamento e tecnologia para os governos ditatoriais da América Latina, patrocinando ações que vitimaram milhares de pessoas.  

    Entre elas, ficou famosa a Operação Condor, formalizada em reunião secreta em Santiago do Chile, em 1975. Uma aliança entre as ditaduras instaladas no Cone Sul na década de 1970 – Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai – com o objetivo de vigiar, seqüestrar, torturar assassinar e fazer desaparecer militantes políticos que faziam oposição, armada ou não, aos regimes militares da região. A Operação Condor utilizava os serviços secretos dos países sob ditadura militar, chefiados pela CIA, dos Estados Unidos. 

     Na Argentina, o general Emílio Massera, que fazia parte da junta militar liderada por Jorge Rafael Videla entre 1976 e 1978 e o general Guillermo Suárez Mason eram membros da Loja Maçônica Propaganda 2. A P2, que quase destruiu o Vaticano, é suspeita de ter assassinado o Papa João Paulo I e de seqüestrar e matar o primeiro-ministro da Itália, Aldo Moro, (crime atribuído pela imprensa marrom às Brigadas Vermelhas) e possuía (ou possui) diversas ramificações na Europa e nas Américas. As investigações sobre a Loja Maçônica P2 foram tão deliberadamente mal conduzidas que, poucos anos após o escândalo da P2, um dos membros mais famosos da Loja Maçônica Propaganda Dois, o empresário Silvio Berlusconi, foi quatro vezes Presidente do Conselho de Ministros da Itália – de 1994 a 1995, de 2001 a 2005, entre 2005 e 2006 e de 2008 a 2011. 

     Provavelmente, os demais países da América do Sul dominados por ditaduras, naquele período da guerra fria entre Estados Unidos e União Soviética, sofreram influência de Lojas maçônicas ligadas à P2 italiana. Não se pode, no entanto, creditar a toda a Maçonaria ou a todos os maçons o ranço do conservadorismo ou o sentimento de ódio que leva ao golpismo. Haja vista que o presidente socialista do Chile, Salvador Allende, era maçom, embora tenha sido derrubado e assassinado por outro maçom, Augusto Pinochet. Outro exemplo, e bem atual, é o de Tabaré Vázquez, presidente do Uruguai pela segunda vez, que se diz de esquerda e é maçom. 

     A Maçonaria é um movimento secreto, seita ou religião, quase um partido político por trás dos governos, congregando em seus quadros políticos, empresários e militares que usam da sua influência para tentar determinar os rumos das nações. Sabe-se que nos Estados Unidos a Maçonaria sempre esteve no governo. A própria capital, Washington, foi traçada para conter símbolos maçônicos. A inter-relação dos seus principais monumentos e edifícios configuram desenhos como o esquadro, o compasso, a régua de medição, o delta, o hexagrama e o pentagrama, entre outros. 

     Desde o seu início tem sido assim, com a diferença que nos séculos 18 e 19 a Maçonaria era contra as tiranias e mostrava-se libertária, apoiando movimentos independentistas, e a partir do século 20 mudou radicalmente, a ponto de ser proibida em muitos países socialistas. Uma das exceções é Cuba, onde o presidente Raúl Castro, maçom, está fazendo de tudo para entregar a ilha nas mãos dos Estados Unidos no momento em que o país norte-americano faz de tudo para provocar uma guerra com a Rússia. 

    Essa guerra anunciada, que já apresentou três possíveis palcos para o seu início - Ucrânia, Irã e Síria – e que poderia ser evitada caso os Estados Unidos não fossem o que são, leva os estadunidenses a novamente, assim como na época da guerra fria com a União Soviética, tentar golpes de Estado nos países da América do Sul e da América Central que não estão alinhados com a política do império. Movimentos do tipo “primavera colorida” tem acontecido com freqüência na Argentina, Equador, Bolívia, Venezuela e Brasil.  

     O Paraguai já está nas mãos dos Estados Unidos, devido ao golpe branco dado pelo senado no presidente Fernando Lugo, em 2012. E com isso, os Estados Unidos detém o controle de parte do aqüífero guarani, o maior manancial de água doce subterrâneo do mundo – estendendo-se pelo Brasil (840.000 Km2), Paraguai (58.500 Km2), Uruguai (58.500 Km2) e Argentina (255.000 Km2). Em qualquer guerra equilibrada e prevista para longa duração (desde que não sejam usadas armas nucleares), o vencedor costuma ser aquele que possui as maiores reservas de petróleo, gêneros alimentícios e água. E não por acaso os países latino-americanos, em sua maioria, são grandes exportadores de alimentos transgênicos para Estados Unidos, Canadá e União Européia.


O COMANDO SUL E O INSTITUTO MILLENIUM 

    Falta dominar os demais países. O Uruguai não será problema, devido ao seu governo “lusco-fusco”, mais preocupado em plantar maconha do que com outra coisa. Na Venezuela, Equador, Bolívia, Argentina e no Brasil preparam-se golpes. Assim como a Colômbia, que está se transformando em colônia dos Estados Unidos, atualmente hospedando sete bases militares daquele país, o Peru está entregando o seu território e a sua soberania para os Estados Unidos. Em 1º de setembro mais 3.200 militares dos Estados Unidos chegaram ao Peru. Com armamentos, navios e aviões. 

   O Movimento Pela Paz, a Soberania e a Solidariedade entre os Povos contabilizou 47 bases militares estrangeiras na América Latina. A maior parte dos Estados Unidos e algumas da OTAN, da França e do Reino Unido. Operam em rede e são utilizadas para recolher dados, proteger oleodutos e realizar vigilância política. Também apóiam golpes militares. Algumas bases, como a localizada na Baía de Guantánamo, em Cuba, funcionam como centro de detenção, tortura. 

    O Comando Sul do Departamento de Defesa dos Estados Unidos (SouthCom), responsável pela disseminação de bases militares em toda a América Latina, além de praticar ostensiva espionagem tem a função de levar a efeito a guerra eletrônica contra governos que deseja derrubar através de sites que divulgam falsas informações, incentivam a revolta e promovem campanhas midiáticas - fatores-chave incorporados ao novo golpismo para dar uma falsa “institucionalidade” a esses golpes de Estado. Conseguiram formar uma legião de jornalistas que atuam como “contratados” e escrevem de acordo com as necessidades bélicas ou golpistas. 

     De acordo com o cientista político René Dreyfuss, uruguaio naturalizado brasileiro (“1964: A Conquista do Estado”), elites orgânicas são organizações dedicadas à reprodução da dominação burguesa na sociedade capitalista. Reúnem pseudo-intelectuais, empresários, militares e políticos empenhados em organizar estratégias a favor dos interesses do grande capital, com táticas que podem variar da simples desinformação à extrema felonia. Para a elite orgânica, os fins justificam os meios. Em 1964, a elite orgânica estava agrupada em institutos como o IPES ou o IBAD – e em determinadas Lojas maçônicas. Hoje, a elite orgânica brasileira é representada por uma organização chamada Instituto Millenium – e pela Maçonaria. 

    A entidade reúne poderosos banqueiros, industriais e caciques da mídia e pretende ser um centro de aglutinação dos defensores da “economia de mercado”, conforme está escrito no seu site. Pessoas como Marcelo Tas, Pedro Bial, Reinaldo Azevedo, Marcelo Madureira, Otávio Frias Filho, Leandro Narloch, Sandra Cavalcanti, Rodrigo Constantino, Olavo de Carvalho, Demétrio Magnali, Denis Rosenfield, Ali Kamel e a blogueira cubana anti-socialista Yoani Sánchez, entre outros, pertencem ao Instituto Millenium, fundado pela economista Patrícia Carlos de Andrade (que já foi analista do JPMorgan e é filha do falecido jornalista Evandro Carlos de Andrade, um dos mentores da Central Globo de Jornalismo). 

    O Instituto Millenium é controlado por organizações empresariais. Entre os mantenedores estão Jorge Gerdau, o barão da siderurgia, Sérgio Foguel, da Odebrecht, Pedro Henrique Mariani, do banco BBM, Salim Matar, do grupo Localiza, e Marcos Amaro, da TAM. O gestor do fundo patrimonial do Instituto é Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central na era FHC. Entre os donos da mídia, pertencem ao Millenium João Roberto Marinho, das Organizações Globo, e Roberto Civita, da editora Abril. Seu conselho editorial é dirigido por Eurípides Alcântara, diretor de redação da Veja. 

    “Movimento Brasil Livre”, “Movimento Fora Dilma”, “Movimento Ordem Vigília Contra Corrupção”, “Movimento de Resistência Popular”, “Movimento Brasil”, “Vem Pra Rua”, “Basta Brasil”, “Avança Brasil”, “Brava Gente Brasileira”, “Instituto Democracia e Ética”, “Movimento 31 de Julho”, “Reage Brasil”, “Pátria Livre”, e vários outros “movimentos” – são todos organizados e monitorados pelo Instituto Millenium. A maior parte deles abertamente fascistas e militaristas. O “Avança Brasil” é da Maçonaria e está ligado ao “Acorda Brasil” – dois dos mais agressivos. 

    Poderia ser um único movimento, mas a aparente diluição em vários movimentos passa a impressão para a grande maioria dos desinformados de que o Brasil inteiro está indignado contra “o governo culpado de tudo”. Na verdade, é uma estratégia claramente golpista, a exemplo da que foi urdida em 1964.


A INGÊNUA DILMA 

    Não se trata apenas de derrubar Dilma Roussef e de acabar com o PT, conforme divulgam os movimentos fascistas – como o “Acorda Brasil” - ligados ao Instituto Millenium. O império necessita das riquezas dos países latino-americanos e da sua estratégica posição geográfica para poder contraditar os países que a ele se opõem – como China, Irã e Rússia – com uma chantagem estilo Projeto Guerra Nas Estrelas, que vulnerou e dissolveu a União Soviética, nos anos 1980. 

   Chantagem que consiste em apresentar dados concretos, como água, petróleo, alimentos em abundância, que só podem ser saqueados impunemente no instante em que os golpes – militares ou não – se sucederem, e o petróleo da Venezuela, Equador e Bolívia, a água do Brasil, Uruguai, Argentina e Paraguai e o território de toda a América Latina ficar à sua disposição. 

    Enquanto não existia o perigo de confrontação armada com Rússia, China e Irã, governos populares eram aceitos como parte do jogo democrático. Agora o jogo mudou, as cartas estão marcadas e, para o império, urge mudar toda a fisionomia da América Latina. Isso inclui a troca de governo no Brasil e a extinção de partidos populares. Ou seja, novas ditaduras. E para isso estão sendo preparadas todas as possibilidades de golpe de Estado, desde o clássico golpe militar até o golpe branco aplicado pelo Legislativo com o apoio do Judiciário. 

    Para maquiar o golpe e justificar a sua impureza usa-se a teoria do caos. Instalou-se em Curitiba uma espécie de Tribunal da Inquisição chefiado por um Grande Inquisidor que usa de todos os meios para amedrontar não só os políticos como qualquer cidadão brasileiro que não lhe agrade muito, utilizando meios que estão previstos em lei, mas claramente ditatoriais, como a prisão preventiva por tempo indeterminado, o que faz com que os inúmeros presos “confessem” tudo o que lhes for determinado, sob pena de apodrecerem na cadeia sem julgamento e sem culpa formada. 

    Na verdade, é um tribunal que abriga em si o golpismo ao procurar deslegitimar a política e os políticos, provocando o caos institucional que favorece qualquer ação contra o governo, sob a desculpa de combater a corrupção. O povo está sendo manipulado pelos grandes meios de comunicação para aceitar e até apoiar o golpe anunciado, como se a troca de governo fosse resolver todos os problemas do país. A exemplo de 1964, e conforme disse Rubens Paiva no seu famoso discurso “O que se pretende é tornar este governo incompatibilizado com a opinião pública sob uma onda de mentiras e uma imagem deformada”.  

    A grande diferença é que em 1964 o governo de João Goulart realmente estava fazendo grandes reformas estruturais que visavam uma pátria para os brasileiros e não somente para os latifundiários e empresários. Por isto, a direita entendeu necessário um golpe militar com o apoio da ameaça de invasão do exército estadunidense para a deposição de Jango. Agora, derrubar a assustada Dilma será uma questão meramente formal, que passará pelo Congresso e o Judiciário. 

    A cumplicidade de Dilma Roussef com a direita, supostamente sob a pressão da mídia que a ameaça todos os dias, fazendo com que se torne uma presidente medrosa, amesquinhada, traindo todos os seus compromissos com o povo que nela votou é uma das maiores vergonhas que o país está assistindo. Dilma não só nomeou um ministério que não combate a suposta crise, mas a provoca com medidas recessivas e impopulares, como aceita covardemente que todo o projeto petista, ainda que meramente reformista (e timidamente reformista) seja destruído devido à sua covardia, ou, diriam os mais complacentes, à sua ingenuidade política. 

    Não fosse a “necessidade geopolítica” do império estadunidense em dominar a América Latina impondo governos reacionários e conservadores, Dilma Roussef poderia terminar o seu governo tranquilamente, porque nunca a direita teve como aliada uma pessoa tão afável e cordata, tão fraca e retrógrada. Ao contrário da sua colega Cristina Kirchner que combate os golpistas de frente e vai fazer o seu sucessor na Argentina, Dilma, com a sua pusilanimidade e falta de objetivos políticos claros, está ajudando a criar uma situação que somente favorece a sua queda do governo - e dificilmente continuará no PT, caso aquele partido continue a existir. 

    Mostrando-se absolutamente incapaz de resistir, não é improvável que Dilma renuncie antes de ser deposta pelos aécios, cunhas, levys e renans que a cercam e a transformaram em um fantoche facilmente manipulável. E, caso não haja uma séria reação dos setores populares mais progressistas, veremos novamente o Brasil imergir em uma ditadura fascista disfarçada de democracia liberal, com o golpista Michel Temer como presidente, fazendo ponte para a futura “eleição” de Aécio Neves da Cunha.

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