Há quem acredite que ser de direita é o mesmo que
ser uma pessoa “às direitas”. Pessoas assim com certeza serão de direita,
porque não entendem nada de política e aceitam ser midiatizados. Ou serão de
centro? Estranhamente, há quem acredite que existe um “centro” na política. Os
que se dizem de centro – nem lá nem cá, muito antes pelo contrário – são meros
oportunistas à espera de corruptíveis convites no balcão de negócios das câmaras
de vereadores, assembléias estaduais ou Congresso Nacional. Ou em seus diversos
ofícios. Na verdade, o “centro” não é uma posição, mas um paradoxo a todas as
posições políticas. O centrista é, antes de tudo, alguém que se prostitui para
quem dá mais. Logo, é de direita.
A direita é aquela coisa
conservadora, morna, inerme, amorfa, que reage a toda e qualquer tentativa de
avanço social. E, ao reagir às naturais e inevitáveis mudanças na sociedade, é
naturalmente chamada de reacionária. É formada no Brasil, por uma massa muito
grande de pessoas igualmente mornas, que entendem que política é coisa ruim na
qual não querem se meter, mas acabam “se metendo” quando qualquer modificação
nas suas vidas acomodadas ocorre devido à política. Essas pessoas geralmente se
dizem de centro, porque não sabem que são de direita. Simples analfabetos
políticos.
Sobre
essa massa domina o que comumente é chamado de “elite” do poder, aqueles que se
agrupam em torno de determinados objetivos comuns, formando oligarquias em
defesa de seus interesses, geralmente vinculados a grandes negócios e que
desejam determinar uma política conscientemente reacionária para o país,
considerando que os pobres devem ser somente assistidos quando muito
necessário, para que continuem pobres e dependentes de políticas
assistencialistas. Costumam dizer que não existem divisões de classes e que os
ricos são pessoas mais inteligentes que conseguiram a ascensão social devido
aos seus méritos. Sob esse raciocínio dão a entender às massas medrosas que
neles acreditam que qualquer um, independente da classe social em que nasceu,
poderá chegar a posições de poder, desde que se esforce para isso.
É claro que omitem as
causas da existência de pobres e ricos, porque insistem em afirmar que as
diferenças sociais são passageiras, e a maioria dentre eles nada sabe sobre
História, Sociologia, Economia ou teorias políticas. Ou apenas lêem aquilo que
vai ao encontro dos seus interesses. Nitidamente, são contra a Filosofia ou a
desejam idealista e estanque. Alguns pararam entre Parmênides, Heráclito e
Zenão, entre o Ser e o Não-Ser, e lá estão vagando até hoje. Outros avançaram
até Wittgenstein e se tornaram definitivamente niilistas; todos passaram por
alto Marx, Engels, Lênin e demais teóricos socialistas. Medo.
Devido ao medo desejam
preservar na ignorância as classes sociais inferiores para que continuem
inferiores econômica e intelectualmente e essa inferioridade intelectual
permite que as pessoas dessas classes se deixem manipular facilmente por todas
as mídias, induzidas a aceitar clichês, verdades prontas como receitas de vida
que levam à preguiça mental e ao individualismo, desejando libertar-se de toda
a obrigação de solidariedade e só pensando em si mesmos.
O capitalismo é uma
herança medieval do individualismo aliado ao autoritarismo e que tem como síntese a exploração. O que não impede
que pessoas com vocação para vassalos adorem esse tipo de sistema. À
mentalidade dos que preferem a vassalagem é mais conveniente aceitar do que
contestar. Entendem que “aceitar” implica em ganhos pessoais, pequenas
mutretas, diárias corrupções, jeitinhos muito brasileiros, e se consideram
muito espertos e malandros. Vassalos são aqueles que aceitam todos os sistemas
de governo, todos os regimes políticos, e são os primeiros a acenar bandeiras
para o desfile dos corruptos, para a marcha dos generais ditadores, sob os
quais se sentem protegidos.
A vassalagem é uma
doença que surgiu no Brasil colonial e atravessou os séculos impávida, geração
após geração, desafiando vacinas e remédios, conseguiu vencer as briosas
revoluções que se lhe opuseram, derrotou valentes e destemidos e enclausurou-se
nas salas de redação de rádios, televisões e jornais de quase todo o país, de
onde expele os seus medrosos bafios, fazendo com que as novas gerações se
tornem precocemente rançosas, individualistas e atemorizadas em relação a tudo
o que possa sacudir o seu cultuado escrúpulo a quaisquer mudanças, entrem nas
redes sociais em busca de pacíficas lições de vida e passem o tempo todo atrás dos prazeres receitados pela mídia senil e reacionária.
Nem todos. Aqui e ali,
entre uma e outra geração e até entre os mais novos existem aqueles que se
dizem progressistas e que tomam partido em associações políticas as mais
diversas dentre o que se denomina de “esquerda”. Ao contrário da direita, que
se organiza em torno de manter privilégios e forma um bloco compacto, desde
simples conservadores que só desejam morrer em paz a explícitos fascistas que
almejam a renovação das ditaduras, todas elas militares e repressivas com
direito a alegres torturas e festejados assassinatos, a esquerda brasileira
divide-se em várias facções que não só lutam contra a direita, mas adquiriram o
hábito de brigar entre si.
Na aparência, devido a
diferenças ideológicas, no fundo por inconfessáveis vaidades. Dentre os que se
dizem de esquerda – que não se deve confundir com pessoas canhotas ou com
aqueles que fazem o sinal-da-cruz e a continência com a mão esquerda – há
grupos que assumem claras posições de direita e não sabem disso, ou, se o
sabem, preferem fingir que ignoram, encontrando, ao mais das vezes, motivos
escatológicos para o seu estranho comportamento.
Por exemplo, alguns
partidos e associações sindicais supostamente de esquerda, neste momento de
golpe oportunista preferiram unir-se ao “Fora Dilma!” da direita, fazendo
manifestações nesse sentido, sob o pretexto de que tirar a Dilma seria a
solução para todos os problemas que afligem os brasileiros. Inclusive, líderes
desses partidos que se tornaram golpistas, afirmam que não existe qualquer
ameaça de golpe, incitando os seus correligionários a apoiar as demandas da
direita e – no máximo da cegueira política – afirmando que a “saída é pela
esquerda”.
Como se fosse possível,
neste momento histórico de um país que tem uma população a cada dia mais
midiatizada e conseqüentemente reacionária, uma “saída pela esquerda”.
É claro que a Dilma não
é a melhor das governantes, mas apoiar o golpe é passar atestado de fascista,
mesmo que esses partidos que desejam tirar a Dilma – como PSTU, Psol e até o
inerme PCB – gostem de vestir vermelho e gritar bem alto que são de esquerda.
Uma estranha esquerda
golpista. O PCB, no tempo em que ainda era um partido revolucionário, tentou
dar um golpe tipicamente de direita, a famosa intentona comunista que ficou no intento,
na vontade, foi facilmente desbaratada e, mesmo que tivesse tomado o poder, não
duraria dois dias por falta de apoio popular. Na mesma época, o Partido
Integralista, de Plínio Salgado também intentou um golpe de Estado e teve o mesmo
mesquinho destino. Hoje, o PCB é um partido que vive do passado, desistiu de
ser revolucionário e faz o jogo da direita.
Quanto ao Psol, todos sabem
que é um partido que deseja substituir o PT - assim como a Rede, de Marina
Silva – e já se colocou no espaço apropriado que apelidaram de centro-esquerda (não
confundir com o armador de jogadas de um burocrático time de futebol), pronto
para receber os desassistidos da corrupção.
O PSTU, que tradicionalmente
coloca todos no mesmo saco, e dele se exclui, ainda não disse a que veio.
Revisionista, como o PCB, o Psol e o PT (e ainda o PPS, o PSB, o PPL e a Rede),
é um partido igualmente de centro-esquerda, igualmente reformista, que lembra o
Syriza, da Grécia, ou o Podemos, da Espanha – partidos que ao chegar ao governo,
entregam-no à direita. Como o PT.
Quem pode gostar do
governo do PT? Nem mesmo os petistas que, a esta altura, devem estar
profundamente desgostosos e desconfiados com a Dilma. Afinal, ela faz todas as
vontades da direita, escolheu um ministro das multinacionais – Joaquim Levy –
para a pasta da Fazenda, que faz de tudo para executar as ordens do capital
especulativo internacional, e uma ministra de extrema-direita – Kátia Abreu –
que tem como missão favorecer os latifundiários.
Um governo assim é um
governo de direita, não há a menor dúvida. Mas tirar a Dilma, auxiliando os
golpistas sob a falsa mensagem de que a “saída é pela esquerda” quando os
partidos de esquerda, ou de centro-esquerda, estão divididos, sem qualquer
força popular e mínima representação parlamentar é uma mentira grotesca.
Quem assumirá o poder,
após o golpe? Com certeza alguém de direita que, em dois meses promoverá
eleições para que a direita corrupta e golpista tome de vez o poder e faça as
reformas reacionárias que julgar necessárias que esmagarão totalmente os
movimentos sociais. Uma esquerda que deseja o golpe só pode ser uma esquerda
golpista, uma esquerda da direita.
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