quarta-feira, 14 de outubro de 2015

ENTRE TARTUS E INCIRLIK A PAZ OU A GUERRA




A 110 quilômetros da fronteira com a Síria e a cerca de doze quilômetros de Adana, uma das quatro maiores cidades da Turquia, está a Base Aérea de Incirlik, construída pelos Estados Unidos na primavera de 1951 e que é utilizada conjuntamente pela Turquia, pelos Estados Unidos e aliados da OTAN, como a Grã-Bretanha. A base tem uma pista com 3.048 metros de comprimento e outra de 2.740 metros, ambas localizadas entre 57 hangares reforçados e abriga mais de cem aviões-caça, entre eles, F-22 e F-16 da Força Aérea dos Estados Unidos.

   É a maior base aérea do país e uma das maiores do mundo, e foi a partir de Incirlik que os Estados Unidos bombardearam o Afeganistão, em 2001, e o Iraque, em 2003. Em 2006, a guerra do Líbano teve Incirlik como base de apoio logístico e em abril de 2010 estimava-se que em Incirlik estivessem armazenadas 90 bombas B61 – uma bomba termonuclear de 340 quilotons (equivalente a 340 mil quilos de dinamite, sem contar a radiação) projetada e construída para ser transportada no ar a velocidades supersônicas.

   Estados Unidos e OTAN estão furiosos com a concretização do apoio russo ao governo sírio, o que está provocando a destruição dos terroristas tão pacientemente organizados e armados pelo Ocidente, como a Frente al-Nusra e o Estado Islâmico. Jamais imaginaram que a Rússia, a partir da sua Base Aérea de Tartus, na Síria, passasse a bombardear ferrenhamente os mercenários que tantos milhões custaram aos países ocidentais.

   Acreditavam os generais da OTAN que a Rússia iria se limitar a reforçar as suas fronteiras, a apoiar indiretamente os revolucionários da região de Donbass, na Ucrânia, a tentar incursões diplomáticas através da ONU e de outros meios oficiais, a reclamar das sanções dos países da União Européia e Estados Unidos, mas jamais ousaria atuar com as suas forças armadas justamente na Síria, o país mais estratégico do Oriente Médio e onde os mercenários contratados pelos países ocidentais - além de Arábia Saudita, Jordânia e Turquia – estavam conseguindo significativos avanços.

   Aparentes “donos do terreno”, Estados Unidos e OTAN não imaginaram que, justamente no momento em que estavam por declarar a Síria zona de exclusão aérea – assim como fizeram na Líbia até o assassinato de Khadafi -, a Rússia tomaria a si a defesa do governo sírio e, em poucos dias, arrasaria os grupos terroristas formados por mercenários de mais de noventa países.

   Os Estados Unidos deixaram claro que são eles que financiam os terroristas. Recentemente, forneceram 50 toneladas de armamentos aos mercenários. Entrevistado a respeito, no dia 13 de outubro, o Ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, afirmou:

         “Serei bem sincero: nós não temos dúvidas de que ao menos uma parcela significativa desses armamentos irá parar exatamente nas mãos de terroristas. Esta preocupação existe inclusive por parte dos EUA, onde a sociedade e o Congresso já estão começando a fazer perguntas sobre tentativas prévias de apoiar a oposição moderada. Em particular, ali acabou de eclodir um escândalo sobre algumas centenas de jipes que os norte-americanos compraram da Toyota e que foram enviados ao Exército Livre Sírio e a outras forças da oposição. Todos os terroristas do Estado Islâmico estão usando esses jipes. Aparafusaram metralhadoras pesadas neles e estão ‘trabalhando’ com eles, levando suas idéias destrutivas às massas.” (http://br.sputniknews.com/mundo/20151013/2423451/lavrov-reacao-eua-ataques-russia-ei-siria.html).
   Os agenciadores de terroristas contam com a mídia vendida do Ocidente, encarregada de provocar o ódio contra a Rússia. As falsas informações de que as aeronaves russas estariam atingindo civis na Síria, durante os bombardeios, surgiram horas antes do primeiro ataque russo e foram plantadas em toda a imprensa internacional, através de agências de notícias que depois sequer se desmentiram. As mesmas agências de notícias não deram a menor ênfase sobre o ataque dos Estados Unidos a um hospital no Iraque, que deixou dezenas de mortos e feridos. Multiplicam-se as mentiras descaradas sobre a Rússia e os russos, numa campanha sem precedentes, orquestrada desde Washington. 
   A última falsidade vem da Holanda, onde um suspeito relatório sobre a queda do vôo MH17, em 2014, sobre a Ucrânia, ocasionando a morte de 298 pessoas, teria sido derrubado por um míssil disparado a partir da Rússia ou da área onde atuam os rebeldes pró Rússia que ocupam a região do Donbass, na Ucrânia. A empresa fabricante de armas, Almaz-Antey, da Rússia, contesta o relatório e afirma que o Boeing 777 foi abatido a partir da Ucrânia, e por forças de Kiev.
    “Nós provamos que o míssil antiaéreo que abateu o Boeing sobre a Ucrânia só podia ter sido um míssil 9M38 do complexo Buk, lançado a partir dos arredores da povoação de Zaroshenskoye (controlada pelo exército ucraniano). O último míssil deste tipo foi produzido na União Soviética em 1986.” A empresa alegou que se o míssil tivesse sido disparado de Snezshnoe (onde estavam os insurgentes) não poderia atingir o lado esquerdo da asa, onde ocorreu o impacto.
   E não haveria razão para os rebeldes de Donbass lançarem um míssil contra um avião de passageiros. No entanto, o governo fascista da Ucrânia, inimiga declarada da Rússia, ficaria muito satisfeito se o míssil tivesse atingido o avião onde viajava Vladimir Putin. Ocorre que o presidente da Rússia voltava de uma reunião do BRICS, na América Latina, seguida de visitas a diversos países, como Cuba, Venezuela, Colômbia, Nicarágua e Argentina. A viagem de Putin durou de 11 a 16 de julho de 2014. No dia 17, ele voltava para a Rússia e no dia 17 o Boeing da Malaysia Airlines foi atingido por um míssil. Não é improvável que os ucranianos tenham errado o alvo, baseados em informações equivocadas. O assassinato de Putin poderia provocar uma guerra na Ucrânia, atraindo as forças da OTAN e dos Estados Unidos.
   Muitos soldados dos Estados Unidos e de outros países da OTAN já estão na Ucrânia – e também na Eslovênia, na Lituânia, na Polônia, na Geórgia, na Moldávia... A idéia é desencadear uma guerra nas fronteiras da Rússia, seja através da Ucrânia ou de outro país limítrofe. A Rússia preferiu outra estratégia. Em contínuas manobras, durante este ano tem posicionado satisfatoriamente as suas frotas nos mares e oceanos, avança com novas bases através do Ártico, possui uma força aérea respeitada e o seu exército é um dos mais bem equipados do mundo. Sem contar as armas nucleares, com mísseis de ogivas múltiplas.
   A Rússia resolveu se antecipar, desafiar o império. Preferiu uma estratégia quase oposta a da União Soviética que, assediada pela China por um lado e pelas forças da OTAN pelo outro, optou pelo defensivismo que levou à derrota e desintegração. Ao escolher a Síria como campo de batalha inicial, a Rússia se expõe e confronta o inimigo não declarado, que tem na Turquia, em Incirlik, a maior base aérea do Oriente Médio. Por seu lado, a Rússia reativou a sua base de Tortus, na Síria, e dali partem os ataques ao Estado Islâmico e outros grupos terroristas que combatem o governo sírio. Tortus está protegida pela frota russa do Mediterrâneo, navios e submarinos que a partir dali podem atingir, com seus mísseis, não só a Turquia como toda a Europa.
   Mas, ao contrário da OTAN e dos Estados Unidos, que usam a estratégia do caos ao armar grupos terroristas para tornar o Oriente Médio “terra de ninguém” que poderia ser ocupada pelos países ocidentais sob o pretexto de “redemocratização”, o governo russo combate seriamente o terrorismo e aceita correr o risco de um confronto com a OTAN, se for inevitável.
   Os bombardeios da força aérea russa tem se mostrado extremamente eficientes e já destruíram mais de 500 alvos terroristas. Porém, no dia 7 de outubro, navios da Rússia lançaram 26 mísseis de cruzeiro desde o Mar Cáspio, sobre os territórios do Irã e do Iraque, atingindo 11 postos de comando do Estado Islâmico na Síria, com uma margem de erro calculada em 5 metros. O mundo ficou espantado. Por que razão os russos estariam lançando mísseis de tão longe, se poderiam atingir o Estado Islâmico e outros grupos terroristas com a sua aviação?
   Aparentemente, um aviso. Poucos dias antes a OTAN fizera uma reunião de emergência: aviões russos teriam entrado no espaço aéreo da Turquia por alguns minutos. O governo russo se desculpou, dizendo que tinha sido um engano, mas a mídia ocidental foi atiçada para fazer extensas matérias contra a Rússia. Tipicamente, uma manobra de preparação das massas para aceitarem a provável guerra contra a Rússia. Então, a Rússia mostrou a sua força ao lançar os seus mísseis de cruzeiro, como a dizer que poderia atingir qualquer alvo inimigo de grandes distâncias.
    Em caso de derrota na Síria e no Iraque, tentarão os Estados Unidos e OTAN reagrupar os seus mercenários em países como Arábia Saudita, Jordânia, Turquia e Afeganistão. No entanto, a Arábia Saudita enfrenta uma guerra desgastante contra o povo do Yêmen; a Turquia ataca os curdos ao fingir atacar o Estado Islâmico e o Afeganistão é terra do Talibã, que não desejará dividir o seu país com o Estado Islâmico. A Jordânia, que é aliada da França, do Reino Unido e dos Estados Unidos, dificilmente aceitaria tornar-se um ninho de terroristas.
   Resta à OTAN a busca da paz através da colaboração com a Rússia no combate ao terrorismo, ou o enfrentamento. Sabe-se que a OTAN não é exatamente uma organização humanitária e os Estados Unidos são um país terrorista que espalha golpes de Estado e alimenta mercenários. OTAN e Estados Unidos não aceitam um mundo bipolar, ou multipolar, não aceitam a autodeterminação dos povos e certamente partirão para a briga. De início, fingindo combater o terrorismo, enquanto preparam as suas forças, na tentativa de um golpe para destruir a Rússia – que deverá partir, com certeza, da base aérea de Incirlik. Esperemos que ainda haja um mínimo de lucidez na mente de Barack Obama e que a guerra seja evitada. 

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