Pressionada em todas as fronteiras por tropas da
OTAN e não confiando em aliados de última hora, como a China, que ultimamente
namora os Estados Unidos, a Rússia decidiu tomar a frente na guerra fria que
prometia eternizar-se até estrangulá-la – assim como aconteceu com a União
Soviética – e escolher o campo da batalha da verdadeira guerra que,
infelizmente, se torna inevitável – a não ser que Estados Unidos e OTAN recuem
em seus projetos de dominação mundial.
Os
Estados Unidos tentam fazer da Ucrânia, da Geórgia, da Moldávia e até de países
vassalos como a Polônia o centro de uma conflagração que poderia destruir toda
a Europa, poupando somente o pais norte-americano, localizado longe, muito
longe das áreas de conflito.
Por outro lado, as
ameaças crescentes contra o Irã prevêem a possibilidade de uma guerra que
obrigaria a Rússia a colocar-se ao lado do seu aliado e contra Israel, Turquia,
Jordânia e Arábia Saudita, o que destruiria o Oriente Médio e também as fontes
de petróleo e gás, das quais dependem a Europa e o próprio Estados Unidos. Além
disso, Afeganistão e Iraque poderão passar de aliados do Ocidente a inimigos, e
a força de grupos armados unidos pelo ideal do nacionalismo, como os curdos e o
Talibã, é quase indestrutível – sendo que o Talibã domina, no Afeganistão, as
maiores plantações de papoula do mundo, de onde é extraída a heroína,
indispensável para os soldados da OTAN, que não sabem combater sem a sua droga
preferida.
Então, Estados Unidos e
OTAN optaram por ocupar o centro do Oriente médio, exatamente onde está
localizada a Síria, que faz fronteira com Israel, Líbano, Jordânia, Iraque e
Turquia, e tem acesso ao Mar Mediterrâneo.
Aparentemente, uma boa
estratégia. Com o domínio sobre a Síria, Israel poderia expandir-se muito além
das colinas de Golã. Prevía-se, também, uma rápida conquista do Líbano, o
Iraque estava sob controle, o Irã se tornaria muito vulnerável e o Afeganistão
voltaria a ser um protetorado estadunidense, dando acesso, por um lado, ao
Azerbaijão e Geórgia, por outro ao Turquemenistão, Tajiquistão e Uzbequistão e,
ainda, ao Paquistão, que já é, praticamente, um país aliado dos Estados Unidos,
tendo como função conter a Índia através da ameaça de suas armas nucleares.
Para conquistar a Síria
tentaram inicialmente uma “revolução colorida”, uma daquelas falsas revoluções
através da internet e da mídia ocidental comprada, que nada revolucionam, mas
apóiam um imediato golpe de Estado. Como o golpe de Estado não deu certo, a CIA
e a Al-Qaeda, eterna aliada dos Estados Unidos, armaram milícias de mercenários
que provocaram uma revolução na Síria. Quando a revolução estava quase esmagada
pelo exército sírio, “surgiu” o Estado Islâmico.
Inicialmente
formado por grupos sunitas do Iraque revoltados contra o governo xiita do seu
país, o Estado Islâmico foi logo usado pelas potências ocidentais no sentido de
derrubar o governo sírio, igualmente islâmico e sunita. Há fortes indícios de
que o seu líder nominal – Abu Bakr al-Baghdadi – foi treinado pelo serviço
secreto de Israel, o Mossad, em conjunto com a CIA, sendo que o grupo
terrorista ao declarar a sua “guerra santa” já tinha um aporte de dois bilhões
de dólares, provavelmente oriundos dos Estados
Unidos, Arábia Saudita e Israel.
Com
esse dinheiro, o Estado Islâmico comprou armas sofisticadas e a correspondente
munição, contratou mercenários de mais de noventa países e passou a agir
livremente nos territórios da Síria e do Iraque, ameaçando expandir-se para
outros países.
Jamais
ameaçou o Estado de Israel. A “guerra santa” do Estado Islâmico é contra os
países de fé islâmica, principalmente aqueles países muçulmanos, como a Síria e
o Irã, que recusam curvar-se ao mandato dos Estados Unidos e aliados.
Para
proteger o Estado Islâmico, foi criada uma coalizão liderada pelos Estados
Unidos que, há mais de treze meses finge combater os terroristas, na verdade
atingindo o exército sírio e o exército iraquiano, ou jogando as suas bombas em
civis para provocar o caos, principalmente na Síria, onde a fuga do povo para a
Europa está provocando um dos maiores desastres humanitários da História.
Os Estados Unidos pretendiam
fazer com que a ONU reconhecesse o vazio político na Síria, oportunizando o
bombardeio e ocupação do país por forças de OTAN e dos Estados Unidos, assim
como fizeram na Líbia. Não contavam, porém, com a forte reação da Rússia.
Na
terça-feira, 18 de setembro, por ocasião do 70º aniversário da ONU, em seu
discurso Vladimir Putin foi claro quanto à política da Rússia no Oriente Médio,
especialmente em relação ao Estado Islâmico.
“(...) Claro que
qualquer assistência a estados soberanos pode e deve ser oferecida, nunca
imposta; e única e exclusivamente de acordo com a Carta da ONU. Em outras
palavras, tudo nesse campo está sendo ou será feito em obediência ao disposto
na lei internacional e com o apoio da nossa organização universal. Tudo que
infrinja resoluções da Carta da ONU deve ser rejeitado. Acima de tudo, creio
que é de máxima importância ajudar a restaurar as instituições de governo na
Líbia, apoiar o novo governo do Iraque e prover assistência ampla ao governo
legítimo da Síria. (...)”
Em 30 de setembro, a
pedido do governo da Síria, em acordo com a Carta das Nações Unidas e após
autorização do seu Parlamento, a Rússia passou a combater o Estado Islâmico a partir
de sua base aérea, em Tartus, na Síria. Não havia mais tempo a perder e muitos
acreditam que a Rússia teria demorado muito para agir, visto que Estados Unidos
e aliados estavam a ponto de declarar a Síria como zona de exclusão aérea. Mas
a Rússia preferiu, antes, fechar um acordo com Síria, Irã e Iraque para
compartilhar inteligência no esforço de combater o Estado Islâmico.
Em poucos dias, com apenas
50 aeronaves – caças SU-34, SU-24M e SU-25, e helicópteros MI-24 – a Rússia
desmontou quase toda a estrutura do Estado Islâmico na Síria. Com bombas aéreas
de alta precisão, corrigidas com a ajuda de GLONASS, o sistema russo de
navegação global por satélite, as forças aéreas da Rússia destruíram campos de
treinamento, postos de comando, oficinas para a produção de engenhos explosivos,
tanques, mísseis e dois quartéis do EI, um em Allepo e outro próximo a Palmira.
O apoio logístico e a
rede de comando do Estado Islâmico na Síria ficaram completamente danificados. A
ofensiva paralisou o grupo terrorista, provocando pânico entre os militantes do
EI. Muitos deles estão fugindo para a Europa, outros buscam abrigo em
mesquitas. Nesse meio tempo, a força aérea dos Estados Unidos bombardeou um
hospital no Iraque.
De acordo com a TV
Zvezda, da Rússia, a operação russa contra os terroristas destruiu uma extensa
rede de túneis subterrâneos usados para controle das ações e armazenamento de
armas e munições, que “só poderiam ter sido construídas por especialistas que o
Estado Islâmico não possui”. Salienta a mesma fonte que esses especialistas
teriam sido recrutados nos Estados Unidos, Arábia Saudita, Qatar e Turquia.
No dia 7 de outubro teve
início a segunda fase da operação russa de desratização da Síria. Quatro navios
da armada russa a partir do Mar Cáspio lançaram 26 mísseis de cruzeiro com o
alcance de até 1.500 quilômetros contra 11 alvos terroristas que foram completamente
destruídos. Ao mesmo tempo, o exército sírio iniciou a ofensiva por terra, apoiado
por 23 caças da aviação de choque. Segundo o ministro da Defesa da Rússia,
Sergei Shoigu, desde o dia 30 de setembro “19 centros de comando, 12 armazéns
de munição, 71 unidades de material bélico, fábricas e ateliês de fabricação de
explosivos, inclusive explosivos para carros-bombas, foram destruídos”.
Os Estados Unidos
ficaram desmoralizados. Em mais de ano de suposto bombardeio contra o Estado
Islâmico, a coalizão liderada pelos estadunidenses nada conseguiu. Ao contrário,
o Estado Islâmico aumentou o seu poderio, ameaçando expandir-se além da Síria e
do Iraque. Em pouco mais de uma semana, a Rússia destruiu toda a infra-estrutura
do Estado Islâmico na Síria e agora deve partir para fazer o mesmo no Iraque.
Desmoralizados, os
norte-americanos reclamam que o seu exército de mercenários está sendo
liquidado em grande parte do Oriente Médio. Não sabem o que dizer para a sua própria
mídia comprada, que está proibida de veicular as ações da Rússia e tenta
desesperadamente fabricar nova pauta ufanista.
Pode-se esperar de tudo
dos desmoralizados, eles não têm mais nada a perder, nem mesmo a honra. Quem
sabe desejarão inventar nova guerra, atacando a Rússia através de Israel ou das
forças da OTAN localizadas na Europa? Ou, ainda, talvez escolham novo campo de
batalha, por exemplo, a região do Oceano Pacífico, onde não será improvável que
encontrem um aliado na imprevisível China.
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