quarta-feira, 7 de outubro de 2015

RÚSSIA ESCOLHE O CAMPO DE BATALHA




Pressionada em todas as fronteiras por tropas da OTAN e não confiando em aliados de última hora, como a China, que ultimamente namora os Estados Unidos, a Rússia decidiu tomar a frente na guerra fria que prometia eternizar-se até estrangulá-la – assim como aconteceu com a União Soviética – e escolher o campo da batalha da verdadeira guerra que, infelizmente, se torna inevitável – a não ser que Estados Unidos e OTAN recuem em seus projetos de dominação mundial.

   Os Estados Unidos tentam fazer da Ucrânia, da Geórgia, da Moldávia e até de países vassalos como a Polônia o centro de uma conflagração que poderia destruir toda a Europa, poupando somente o pais norte-americano, localizado longe, muito longe das áreas de conflito.  

   Por outro lado, as ameaças crescentes contra o Irã prevêem a possibilidade de uma guerra que obrigaria a Rússia a colocar-se ao lado do seu aliado e contra Israel, Turquia, Jordânia e Arábia Saudita, o que destruiria o Oriente Médio e também as fontes de petróleo e gás, das quais dependem a Europa e o próprio Estados Unidos. Além disso, Afeganistão e Iraque poderão passar de aliados do Ocidente a inimigos, e a força de grupos armados unidos pelo ideal do nacionalismo, como os curdos e o Talibã, é quase indestrutível – sendo que o Talibã domina, no Afeganistão, as maiores plantações de papoula do mundo, de onde é extraída a heroína, indispensável para os soldados da OTAN, que não sabem combater sem a sua droga preferida. 

   Então, Estados Unidos e OTAN optaram por ocupar o centro do Oriente médio, exatamente onde está localizada a Síria, que faz fronteira com Israel, Líbano, Jordânia, Iraque e Turquia, e tem acesso ao Mar Mediterrâneo.  

   Aparentemente, uma boa estratégia. Com o domínio sobre a Síria, Israel poderia expandir-se muito além das colinas de Golã. Prevía-se, também, uma rápida conquista do Líbano, o Iraque estava sob controle, o Irã se tornaria muito vulnerável e o Afeganistão voltaria a ser um protetorado estadunidense, dando acesso, por um lado, ao Azerbaijão e Geórgia, por outro ao Turquemenistão, Tajiquistão e Uzbequistão e, ainda, ao Paquistão, que já é, praticamente, um país aliado dos Estados Unidos, tendo como função conter a Índia através da ameaça de suas armas nucleares. 

    Para conquistar a Síria tentaram inicialmente uma “revolução colorida”, uma daquelas falsas revoluções através da internet e da mídia ocidental comprada, que nada revolucionam, mas apóiam um imediato golpe de Estado. Como o golpe de Estado não deu certo, a CIA e a Al-Qaeda, eterna aliada dos Estados Unidos, armaram milícias de mercenários que provocaram uma revolução na Síria. Quando a revolução estava quase esmagada pelo exército sírio, “surgiu” o Estado Islâmico.

   Inicialmente formado por grupos sunitas do Iraque revoltados contra o governo xiita do seu país, o Estado Islâmico foi logo usado pelas potências ocidentais no sentido de derrubar o governo sírio, igualmente islâmico e sunita. Há fortes indícios de que o seu líder nominal – Abu Bakr al-Baghdadi – foi treinado pelo serviço secreto de Israel, o Mossad, em conjunto com a CIA, sendo que o grupo terrorista ao declarar a sua “guerra santa” já tinha um aporte de dois bilhões de dólares, provavelmente oriundos dos Estados  Unidos, Arábia Saudita e Israel.

   Com esse dinheiro, o Estado Islâmico comprou armas sofisticadas e a correspondente munição, contratou mercenários de mais de noventa países e passou a agir livremente nos territórios da Síria e do Iraque, ameaçando expandir-se para outros países.

   Jamais ameaçou o Estado de Israel. A “guerra santa” do Estado Islâmico é contra os países de fé islâmica, principalmente aqueles países muçulmanos, como a Síria e o Irã, que recusam curvar-se ao mandato dos Estados Unidos e aliados.

   Para proteger o Estado Islâmico, foi criada uma coalizão liderada pelos Estados Unidos que, há mais de treze meses finge combater os terroristas, na verdade atingindo o exército sírio e o exército iraquiano, ou jogando as suas bombas em civis para provocar o caos, principalmente na Síria, onde a fuga do povo para a Europa está provocando um dos maiores desastres humanitários da História.

   Os Estados Unidos pretendiam fazer com que a ONU reconhecesse o vazio político na Síria, oportunizando o bombardeio e ocupação do país por forças de OTAN e dos Estados Unidos, assim como fizeram na Líbia. Não contavam, porém, com a forte reação da Rússia.

    Na terça-feira, 18 de setembro, por ocasião do 70º aniversário da ONU, em seu discurso Vladimir Putin foi claro quanto à política da Rússia no Oriente Médio, especialmente em relação ao Estado Islâmico. 

“(...) Claro que qualquer assistência a estados soberanos pode e deve ser oferecida, nunca imposta; e única e exclusivamente de acordo com a Carta da ONU. Em outras palavras, tudo nesse campo está sendo ou será feito em obediência ao disposto na lei internacional e com o apoio da nossa organização universal. Tudo que infrinja resoluções da Carta da ONU deve ser rejeitado. Acima de tudo, creio que é de máxima importância ajudar a restaurar as instituições de governo na Líbia, apoiar o novo governo do Iraque e prover assistência ampla ao governo legítimo da Síria. (...)” 

    Em 30 de setembro, a pedido do governo da Síria, em acordo com a Carta das Nações Unidas e após autorização do seu Parlamento, a Rússia passou a combater o Estado Islâmico a partir de sua base aérea, em Tartus, na Síria. Não havia mais tempo a perder e muitos acreditam que a Rússia teria demorado muito para agir, visto que Estados Unidos e aliados estavam a ponto de declarar a Síria como zona de exclusão aérea. Mas a Rússia preferiu, antes, fechar um acordo com Síria, Irã e Iraque para compartilhar inteligência no esforço de combater o Estado Islâmico. 

    Em poucos dias, com apenas 50 aeronaves – caças SU-34, SU-24M e SU-25, e helicópteros MI-24 – a Rússia desmontou quase toda a estrutura do Estado Islâmico na Síria. Com bombas aéreas de alta precisão, corrigidas com a ajuda de GLONASS, o sistema russo de navegação global por satélite, as forças aéreas da Rússia destruíram campos de treinamento, postos de comando, oficinas para a produção de engenhos explosivos, tanques, mísseis e dois quartéis do EI, um em Allepo e outro próximo a Palmira. 

    O apoio logístico e a rede de comando do Estado Islâmico na Síria ficaram completamente danificados. A ofensiva paralisou o grupo terrorista, provocando pânico entre os militantes do EI. Muitos deles estão fugindo para a Europa, outros buscam abrigo em mesquitas. Nesse meio tempo, a força aérea dos Estados Unidos bombardeou um hospital no Iraque. 

    De acordo com a TV Zvezda, da Rússia, a operação russa contra os terroristas destruiu uma extensa rede de túneis subterrâneos usados para controle das ações e armazenamento de armas e munições, que “só poderiam ter sido construídas por especialistas que o Estado Islâmico não possui”. Salienta a mesma fonte que esses especialistas teriam sido recrutados nos Estados Unidos, Arábia Saudita, Qatar e Turquia. 

    No dia 7 de outubro teve início a segunda fase da operação russa de desratização da Síria. Quatro navios da armada russa a partir do Mar Cáspio lançaram 26 mísseis de cruzeiro com o alcance de até 1.500 quilômetros contra 11 alvos terroristas que foram completamente destruídos. Ao mesmo tempo, o exército sírio iniciou a ofensiva por terra, apoiado por 23 caças da aviação de choque. Segundo o ministro da Defesa da Rússia, Sergei Shoigu, desde o dia 30 de setembro “19 centros de comando, 12 armazéns de munição, 71 unidades de material bélico, fábricas e ateliês de fabricação de explosivos, inclusive explosivos para carros-bombas, foram destruídos”. 

   Os Estados Unidos ficaram desmoralizados. Em mais de ano de suposto bombardeio contra o Estado Islâmico, a coalizão liderada pelos estadunidenses nada conseguiu. Ao contrário, o Estado Islâmico aumentou o seu poderio, ameaçando expandir-se além da Síria e do Iraque. Em pouco mais de uma semana, a Rússia destruiu toda a infra-estrutura do Estado Islâmico na Síria e agora deve partir para fazer o mesmo no Iraque. 

   Desmoralizados, os norte-americanos reclamam que o seu exército de mercenários está sendo liquidado em grande parte do Oriente Médio. Não sabem o que dizer para a sua própria mídia comprada, que está proibida de veicular as ações da Rússia e tenta desesperadamente fabricar nova pauta ufanista. 

    Pode-se esperar de tudo dos desmoralizados, eles não têm mais nada a perder, nem mesmo a honra. Quem sabe desejarão inventar nova guerra, atacando a Rússia através de Israel ou das forças da OTAN localizadas na Europa? Ou, ainda, talvez escolham novo campo de batalha, por exemplo, a região do Oceano Pacífico, onde não será improvável que encontrem um aliado na imprevisível China.

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