Das
duas uma: ou a polícia francesa é completamente incompetente e os seus serviços
de inteligência são formados por pessoas apalermadas, ou alguém facilitou a
ação dos sete atentados coordenados na noite de sexta-feira, 13 de novembro, em
Paris. A primeira hipótese não é absolutamente impossível, mas altamente improvável.
A França é um dos países mais vigiados do mundo e Paris, que atrai milhares de
turistas a cada ano, deveria ser a cidade mais protegida do planeta. A segunda
possibilidade revela-se, então, como a mais provável. Os atentados, por mais
cuidadoso que tenha sido o seu planejamento, foram facilitados por interesses
políticos que envolvem lideranças da própria França, Estados Unidos,
Grã-Bretanha e demais países da União Européia e da OTAN. Caso contrário, se
foi uma pane geral dos serviços de segurança franceses pode-se dizer da França
o que Charles de Gaulle disse do Brasil: a França não é um país sério.
Trinta
mil policiais foram destacados para garantir a segurança das fronteiras da
França durante os preparativos e a realização da Conferência sobre o Clima da
ONU (COP-21), que seria realizada entre os dias 29 de novembro e 12 de
dezembro. O controle móvel das fronteiras iniciou no dia 13 – exatamente o dia
dos atentados. O governo francês não pode, portanto, argumentar que as suas
fronteiras não estavam sendo patrulhadas e que os terroristas teriam vindo de
fora do país. Mesmo assim, terroristas armados circularam livremente em Paris,
jogando bombas e assassinando pessoas inocentes com tiros de metralhadora e a
polícia e o serviço secreto franceses nada fizeram.
Apesar
das centenas de câmeras instaladas na capital francesa, apesar do policiamento,
dos serviços de vigilância e dos serviços supostamente secretos, os terroristas
agiram como se estivessem em casa. E não usavam armas escondidas, mas fuzis
AK-47 e bombas. E nada foi detectado. Só muito depois de começarem os
assassinatos no Bataclan é que a polícia francesa se dispôs a entrar na sala de
espetáculo. 129 pessoas morreram na hora e mais de 300 ficaram feridos, muitos
em estado grave, mas políticos envolvidos em tramas globais não se importam com
o povo. Para eles, o fim justifica os meios.
E os
meios empregados têm como fim provocar uma guerra contra o governo sírio e a
Rússia. No dia 9 de novembro a aviação francesa resolveu bombardear o que afirmou
ser um complexo petrolífero do Estado Islâmico na Síria. Foi o terceiro
bombardeio francês em 2015, e com o mesmo objetivo: destruir a infra-estrutura
econômica da Síria. Foi o que disse o governo sírio, ao salientar que os
franceses não foram convidados a invadir o espaço aéreo sírio, somente os
aliados russos têm esse direito. Anteriormente, a 5 de novembro, a França
anunciou que enviará uma frota encabeçada pelo porta-aviões Charles de Gaulle
para “lutar contra o Estado Islâmico” na Síria.
Contradição
ou mentira. No dia 21 de agosto de 2014, o presidente da França, François
Hollande, em entrevista ao jornal Le Monde, admitiu que o seu país entrega
armamentos aos grupos terroristas que tentam derrubar o governo sírio.
Salientou que as armas e munições são destinadas apenas aos “grupos moderados”.
Mas não existem grupos moderados no terrorismo, ou, talvez, Hollande considere
a Frente al-Nusra, aliada da al-Qaeda e do Estado Islâmico, um “grupo
moderado”. Em 2012, François Hollande declarou textualmente: “A al-Nusra faz um
bom trabalho na Síria”.
Sabe-se
com certeza que a coalizão liderada pelos Estados Unidos e que tem na França um
dos seus mais fiéis vassalos, finge atacar o Estado Islâmico no Iraque e na
Síria, quando, na verdade, o patrocina com armamentos e dinheiro. A idéia
inicial era provocar o caos nos dois países mais estratégicos do Oriente Médio
– Síria e Iraque -, conseguir da ONU uma declaração de vazio de poder naqueles
países – assim como fizeram na Líbia -, invadi-los e colocar governantes
fantoches – talvez do próprio Estado Islâmico ou da al-Nusra. Não somente pelo
petróleo e pelo gás. Principalmente pela posição estratégica que permitiria
cercar o Irã e ameaçar a Rússia.
O
plano estava indo muito bem até o momento em que a Rússia reagiu. A pedido do
governo sírio, a Rússia reativou a sua base aérea em Tartus e participa
ativamente do combate aos terroristas financiados pelo Ocidente. Em pouco mais
de um mês a aviação russa já destruiu mais de 2.000 instalações do Estado
Islâmico e da Frente al-Nusra na Síria. A coalizão liderada pelos Estados
Unidos ficou completamente desmoralizada. Os planos do império, habilmente
arquitetados durante vários anos começaram a ruir. Tornaram-se inúteis as
ameaças aos russos – Putin declarou que a Rússia não se deixaria intimidar.
Em
última instância, o império apelou para as armas mais à mão: os seus
terroristas amestrados. Primeiro derrubaram um avião de passageiros, matando
quase 250 cidadãos russos. Pretendiam provocar uma comoção na nação russa, com
multidões pedindo o fim da intervenção na Síria. Não adiantou. O governo russo
tem o apoio de 85% da sua nação, as forças armadas são incorruptíveis, o
Congresso é um aliado. Fazer o quê? Uma declaração de guerra? A Rússia possui
armas nucleares capazes de destruir os Estados Unidos em menos de meia hora, e
a Europa em alguns minutos. A Rússia também seria destruída e ambos os lados,
em confronto nada sutil, sabem que em uma guerra nuclear nunca haverá vencedores.
Então,
o plano “B”. Se o 11 de setembro de 2001 provocou o impacto esperado para que a
opinião pública estadunidense apoiasse a invasão do Afeganistão e do Iraque,
porque não usar da mesma estratégia na França? Até então, qualquer intervenção
militar mais séria na Síria equivaleria a uma declaração de guerra não só à
Síria como à Rússia. Agora, com os atentados em Paris, a guerra já está declarada. Sob o pretexto de combater o Estado Islâmico,
a França e aliados como Estados Unidos e demais países da OTAN pretendem não só
atacar a Síria – com ou sem o aval da ONU -, derrubar o governo e fatiar o país
árabe de acordo com os interesses dos aliados regionais, como Arábia Saudita,
Israel, Jordânia, Qatar e Turquia.
O
secretário de Estado dos Estados Unidos, John Kerry, já está preparando o
caminho. No dia 14, afirmou à imprensa que a Síria compra o petróleo que o
Estado Islâmico rouba da própria Síria. Acredita John Kerry que os povos do mundo
inteiro são iguais à mass-media alienada dos Estados Unidos: absolutamente
idiotas. Por que o governo sírio compraria petróleo do seu próprio país para
financiar a sua própria queda? Na verdade, quem deve estar comprando o petróleo
roubado pelo Estado Islâmico são os países aliados dos Estados Unidos, como
Turquia, Emirados Árabes Unidos, Qatar e Arábia Saudita. Em troca, financiam o
Estado Islâmico.
Prepara-se
a guerra com razões espúrias e pífias, como sempre acontece nessas ocasiões. Resta
saber o que fará a Rússia, que só terá duas opções: reagir ou fugir
vergonhosamente. Há, ainda, uma terceira possibilidade, que seria a Rússia
aliar-se aos poderes do Ocidente, ao império e contribuir para a divisão da
Síria, após ajudar a dar um golpe muito pacífico no governo sírio. Nos dois
últimos casos, seria a Rússia a ficar totalmente desmoralizada aos olhos do
mundo, perdendo completamente a confiança de países como Irã e Bielo-Rússia,
que ficariam entregues à própria sorte. No entanto, há indícios de que a Rússia
ainda tem dignidade.
Boa tarde, Fausto.
ResponderExcluirSomente agora tomei conhecimento deste seu Blog, através da Lidia. Gostei muito da presente postagem e penso que você foi certeiro em seu raciocínio. Aproveito para concluir com suas próprias palavras: "Agora, com os atentados em Paris, a guerra já está declarada.".
Um grande abraço, Fausto!