Os
Estados Unidos não só ajudaram a organizar o Estado Islâmico como continuam a
auxiliá-lo através do envio de armas, munições e alimentos. Os túneis de mais
de 15 quilômetros descobertos em várias regiões da Síria e que estão sendo
bombardeados pela aviação russa provavelmente foram construídos por especialistas
norte-americanos. Ainda em outubro, os Estados Unidos prometeram aumentar em
quase U$100 milhões a ajuda à oposição síria, ou aos mercenários treinados por
Washington. Além disso, Arábia Saudita, Turquia, Qatar, Emirados Árabes Unidos,
Jordânia, Omã, Bahrein e Kwait fornecem homens e armas para o Estado Islâmico e
demais organizações que combatem contra o governo sírio.
No
capitalismo não poderia faltar a indústria militar privada. Dentre tantas
empresas de mercenários, destaca-se a Blackwater, considerada pela mídia
ocidental como o “exército-sombra” dos Estados Unidos. A Blackwater conta com
23 mil mercenários em atividade, espalhados por nove países, e mais 20 mil
contratados de prevenção. Sua sede é na Carolina do Norte e o Congresso
norte-americano finge que não tem acesso a qualquer informação acerca da
organização ou de suas atividades.
Desde
que houve a certeza de que o Estado Islâmico é uma farsa, que não tem nada de Estado
e muito menos de islâmico, voltaram-se as atenções para a Blackwater e não demorou
muito para que algumas informações vazassem. De acordo com o Lebanon Press, os governos da Arábia
Saudita e do Qatar estariam contratando mercenários da Blackwater. O jornal
libanês informa que a contratação da empresa militar privada dos Estados Unidos
é feita pelo príncipe Bandar Bin Sultan, chefe da Inteligência Geral e
secretário-geral do Conselho de Segurança Nacional da Arábia Saudita.
“(...)
O destino das tropas de mercenários é o apoio aos grupos paramilitares que lutam
na Síria contra o governo do presidente Bashar al-Assad, em mais uma evidência
da ingerência externa no conflito. (...) A empresa norte-americana tem
desempenhado um papel secreto na piora das relações nos países árabes alertados
pela crise síria, que já transbordou as suas fronteiras. Exemplos são o Egito,
a Tunísia e a Líbia, com ações como o assassinato dos opositores ao regime
destes países e do ataque a instalações do Exército e da polícia. (...)” (http://www.dr-sergio-cruz.com/products/eua-infiltram-mercenarios-na-siria-pela-fronteira-de-paises-vizinhos/).
A
Blackwater (leia-se Estados Unidos) formou batalhões de mercenários nos
Emirados Árabes Unidos, Jordânia, Qatar, Turquia e Arábia Saudita. Depois de
matar 17 civis no Iraque, em 2007, a Blackwater foi rebatizada como XE
Services, ou Academi, mas o novo nome não pegou. O chefe nominal da agora Academi é Eric Prince, mas a Blackwater,
ou Academi, surgiu graças a pessoas como Dik Cheney (vice-presidente de George
Bush e Secretário da Defesa dos Estados Unidos entre 1989 e 1993; foi o
principal articulador da Guerra do Golfo e um dos arquitetos da invasão do
Iraque), Donald Rumsfeld (Secretário de Defesa de George W. Bush, entre 2001 e
2006) e Paul Wolfowitz (ex-presidente do Banco Mundial, idealizador da política
externa de George W. Bush; organizador da invasão do Iraque) – a nata da
intelectualidade reacionária dos Estados Unidos.
Em
1997, com a União Soviética dissolvida e a China domesticada, os Estados Unidos
e aliados se organizaram para recolonizar o mundo. Essa recolonização foi
definida No “Projeto Para Um Novo Mundo” (PNCA, na sigla em inglês). Em 2000,
um documento chamado “Reconstruindo as defesas americanas: estratégia, forças e
recursos para um novo século” lançou as bases para a nova estratégia
imperialista – que incluía terceirizar o Exército norte-americano através de
“agências de segurança” absolutamente acima das leis, como a Blackwater. A
formação de mercenários não está restrita à Blackwater. Existem ainda a
britânica Aegis e as estadunidenses Triple Canopy, Zapata, Titan e CACI, entre
outras. A idéia básica dessa empresas é recrutar pessoas de todos os países, independente
de religião ou raça, e transformá-los em psicopatas, provavelmente drogados,
dispostos a matar em troca de dinheiro.
A
experiência dramática na Guerra do Vietnã traumatizou o exército dos Estados
Unidos, que saiu vencido da Indochina e com muitos dos seus membros discutindo
a validade de uma guerra que só serviu para enriquecer as grandes empresas bélicas
e causou milhares de mortos e mutilados. Aqueles soldados usavam alucinógenos,
desde a maconha ao LSD, e não se mostravam muito guerreiros, exceto os que
usavam cocaína. Na guerra de Kosovo, em 1999, há informações de que os soldados
da OTAN estariam usando heroína e cocaína, o que os deixava imbecilizados e
prontos a praticar qualquer crime.
Formar
pessoas aptas para matar deve ser um dos lemas dessas empresas de mercenários,
recrutados em todos os países. “Terceirizar” é a palavra da moda no mundo dos
negócios, e os Estados Unidos provocam as guerras, mas usam soldados de outros
países ou contratam mercenários, que são atraídos pelo dinheiro, pelas drogas e
pela impunidade. Altamente treinados, os mercenários não tem quaisquer
escrúpulos e são utilizados tanto para provocar “revoluções coloridas”,
promover sedições, assassinar chefes de Estado ou em guerras como a da Síria e
do Iraque.
Serviços
secretos como a CIA estadunidense e o Mossad israelense os encaminham para as
organizações onde devem servir – seja a al-Qaeda e suas ramificações ou o
Estado Islâmico – que também é uma ramificação da al-Qaeda (leia-se CIA). Os
mais inteligentes são infiltrados em diversos países e organizam novas células
para insuflar futuras rebeliões artificiais.
Assim
que a Rússia começou a bombardear o Estado Islâmico, na Síria, havia a
impressão que a vitória seria rápida e a destruição dos terroristas uma questão
de dias. Passou-se quase um mês, o exército sírio voltou à ação, os mercenários
do EI estão sendo desalojados de diversos locais importantes, mas ainda
conservam uma forte estrutura graças ao apoio de novos mercenários que entram
na Síria através da Turquia, da Jordânia e da Arábia Saudita e, somente em
outubro, mais de 50 toneladas de armas e munições foram jogados de pára-quedas
por aviões dos Estados Unidos para os militantes do Estado Islâmico, da Frente
al-Nusra e outros grupos terroristas, chamados pela domesticada imprensa
ocidental de “moderados”.
Não
existe moderação no terrorismo. Tampouco o terrorismo existente, principalmente
no Oriente Médio, é resultado de grupos tresloucados ou facções muçulmanas fanatizadas.
Os grupos terroristas que atuam na Síria e no Iraque foram organizados
detalhadamente pelos países interessados em desestabilizar Síria, Líbano, Iêmen,
Iraque, Afeganistão e Irã, para depois colocar governos fantoches nesses
países, com o que tomariam conta definitivamente do Oriente Médio e de suas
riquezas minerais, assumindo uma posição estrategicamente dominante, de onde
poderiam controlar Europa, África e Ásia.
Para
não sacrificar os seus exércitos, Estados Unidos e seus parceiros contratam mercenários
do mundo inteiro, especialmente de países do terceiro mundo, e para que os
mercenários não se pareçam com mercenários e ostentem alguma legitimidade aos
olhos da opinião pública, são aparelhados dentro de supostas organizações
nacionalistas ou religiosas. Os mercenários recebem toda a necessária infra-estrutura
dos países interessados, o que inclui armas, alimentos dinheiro, uniformes,
bandeiras, uma ilusória ideologia para os mais cegos e batizam seus grupos com
nomes pomposos, como Estado Islâmico e Frente al-Nusra, para que a mídia
cúmplice tenha claras referências para a sua propaganda em defesa do império e
de seus vassalos.
A
Arábia Saudita está contratando centenas de mercenários da Colômbia, os mesmos
que combatiam as FARC em organizações paramilitares, aterrorizando e matando
camponeses. De acordo com o Sputnik News (http://br.sputniknews.com/mundo/20151102/2625482/coalizao-contrata-centenas-mercenarios-colombianos.html) “O
salário médio dos soldados da fortuna no Iêmen é de $1.000 por semana.” (...) “Foi
alegadamente prometido aos colombianos a cidadania nos Emirados Árabes Unidos.
No entanto, o TeleSur informou que é a Arábia Saudita que contratou os
mercenários.” (...) “Os combatentes mercenários colombianos tinham sido
anteriormente contratados por um exército mercenário secreto norte americano, a
Blackwater.” (...) No início de outubro, a Arábia Saudita confirmou a chegada
de várias centenas de tropas militares sudanesas; se espera que o número total
das forças sudanesas alcance os 6.000”.
Observe-se
que esses dois países – Colômbia e Sudão – estão ocupados por forças
imperialistas. A Colômbia tem inúmeras bases militares dos Estados Unidos, que
estão ali a título de “combater a guerrilha”, mas na verdade, apóiam-se na
Colômbia e em seu governo entreguista planejando um ataque contra Venezuela,
Equador e Bolívia. Talvez com o apoio do Brasil de Dilma Roussef (ou Aécio, qual
a diferença?), que mudou radicalmente a sua política externa e, em fevereiro,
votou a favor de uma resolução condenando a Síria.
O
Sudão é um país em constante guerra civil e, assim como a Venezuela, tem
imensos campos petrolíferos cobiçados por muitos países ocidentais e também
pela China, igualmente imperialista e não improvavelmente aliada secreta da
OTAN e dos Estados Unidos, apesar das aparências em contrário. O Sudão tem
exércitos paramilitares formados por mercenários que podem ser deslocados para
onde o império julgar necessário. E, no momento, o império deseja esses
mercenários no Iêmen, a pretexto de lutar contra a guerrilha iemenita. Na
verdade, para prepará-los para um contra-ataque na Síria.
Khalib
al Attiyah, ministro de Relações Exteriores do Qatar declarou, em 21 de
outubro: “Junto com nossos irmãos sauditas não descartamos nenhuma hipótese na
hora de defender a Síria”. “Defender” significa atacar. “Se o Qatar puser em
prática sua ameaça de intervenção militar na Síria, vamos considerar uma
agressão direta e nossa resposta será muito dura” – respondeu o vice-ministro
de Relações Exteriores sírio, Faisad al Mekdad, no dia 22 de outubro. Sabe-se
que o Qatar é um dos principais patrocinadores do Estado Islâmico e no Qatar
existe uma imensa base militar norte-americana, chamada Central Command, de
onde drones partem regularmente em missões secretas por toda a região.
A
Turquia não fica atrás. Com a desculpa de atacar os curdos, o exército turco
está pronto para a guerra e já fez algumas incursões dentro da Síria para
testar a sua força. Na Turquia está a maior base aérea dos Estados Unidos no
Oriente Médio – Incirlik – a 110 quilômetros da Síria, onde acabam de chegar
mais dezenas de caças F-15 dos Estados Unidos. Quando houve a queda do avião de
passageiros russo no Sinai, o Estado Islâmico reivindicou o atentado e o
presidente turco, Recip Erdogan, comentou - segundo a agência de notícias
Emirates (WAM): “Como eu posso condenar o Estado Islâmico por derrubar um avião
russo no momento em que nossos correligionários na Síria estão sendo
bombardeados?”
Na
terça-feira (3), Vladimir Putin admitiu implicitamente que o avião russo foi
derrubado, ao afirmar que quaisquer tentativas de assustar a Rússia seriam
inúteis. Assustar é a palavra certa. Ações terroristas têm o objetivo de
assustar, intimidar, amedrontar o inimigo. Até agora, no entanto, não há sinais
de que o Airbus russo tenha sido atingido por um míssil. Provavelmente foi
derrubado por Israel/EUA através de ondas escalares, o raio de Tesla vem sendo
utilizado seguidamente por várias potências interessadas em esconder os seus
feitos maléficos.
A
todas essas a Rússia tenta o caminho diplomático, aproximando-se da oposição
“moderada” da Síria, aparentemente pactuando com o Ocidente para golpear
pacificamente o presidente da Síria, fazendo exercícios com a Força Aérea norte-americana, entabulando negociações secretas... Todos
os erros e equívocos inerentes aos maus diplomatas ou aos países que costumam
andar em zigue-zague. Por certo já percebeu que não pode contar com a China –
preocupada unicamente com as suas próprias muralhas – no caso de uma guerra com
a OTAN e sente-se insegura em seu isolamento.
O
próprio governo russo, com medo de uma guerra de desgaste já está começando a
dar sinais de que poderá mudar de posição ao diminuir os bombardeios diários,
conversar seguidamente com representantes dos Estados Unidos e, por último e
mais surpreendente: o chanceler russo, Sergei Lavrov, declarou que a Rússia
estaria pronta a ajudar o que denominou de “oposição patriótica”, referindo-se
ao Exército Livre Sírio – grupo terrorista organizado pelos Estados Unidos.
Ajudar a “oposição patriótica” é o mesmo que colocar-se abertamente contra o
governo sírio – até este momento apoiado oficialmente pelo governo russo.
O que
fazer? A Rússia é um país capitalista. Está havendo uma grande confusão entre
os grupos de esquerda que acreditam que a Rússia ainda é a União Soviética ou
mesmo um país socialista. Longe disso. A Rússia é um país capitalista e age como
tal. A sua decisão de combater o Estado Islâmico tem duas razões principais. A
primeira é evitar a expansão do exército de mercenários patrocinado pelos
países da OTAN, ao mesmo tempo em que defende um governo ainda aliado e ocupa
uma posição estratégica.
A
segunda razão é apoiar a sua indústria bélica. Atualmente, a Rússia é o segundo
maior exportador de armas do mundo, atrás somente dos Estados Unidos. Somente
este ano o seu complexo militar-industrial alcançou a marca de U$70 bilhões em
armas fornecidas, um acréscimo de mais de 13% em relação a 2014. E continua a
crescer, vendendo para países como Índia, Argélia, Iraque, Líbia, Peru, Uganda,
Venezuela e Vietnã.
Apesar
de o governo russo usar um discurso antiimperialista, não se apóia em qualquer
ideologia de direita ou de esquerda. Tampouco aceita as novas premissas
ocidentais que propugnam o fim dos valores tradicionais visando provocar um
caos mental e espiritual, um total liberalismo de costumes que está fabricando
uma massa muito fácil de manipular. A Rússia é, talvez, o último país “à moda
antiga” e o seu repúdio à falsa globalização liderada pelos Estados Unidos é
tão natural como alguém que busca remédios contra uma doença infecciosa.
Essa
postura sadia é mais ofensiva ao império do que se a Rússia usasse – assim como
a China – uma falsa máscara ideológica. O império não aceita concorrência e
fará de tudo para destruir a Rússia, uma vez que não consegue cooptá-la para os
seus planos de dominação mundial. As grandes guerras sempre aconteceram entre
países capitalistas que disputavam o mesmo mercado. A Rússia não deseja a
guerra e por isto tem usado o esquivo caminho diplomático, que somente dará
bons resultados caso não recue timidamente como a China tem feito desde a morte
de Mao-Tsé-Tung ou como fez a União Soviética ao se dissolver, preferindo a
obscuridade histórica.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Faça o seu comentário aqui.