Desde a morte de Mao-Tsé-Tung, em 1976, começou o desmantelamento dos fundamentos socialistas na China que ainda se diz “comunista” mas não passa de um braço do imperialismo no extremo-oriente. Aos poucos, o socialismo foi sendo abolido e Mao passou a ser apenas uma referência histórica cada vez mais distante.
De 1967 a 1976, apesar da crescente
oposição da direita dentro do Partido Comunista Chinês, foram tomadas algumas
medidas visando a permanência de certo grau de coletivização de terras no
campo, de muitas mini-indústrias no interior, dos ‘médicos de pés-descalços’ em
algumas regiões, da integração entre teoria e prática no ensino e do estudo do
pensamento marxista-leninista e maoísta.
Com a morte de Mao, o PCC passou a ser
um Partido Capitalista Chinês, mais reformista do que a União Soviética a
partir de Kruschev, implementando reformas que tiveram um caráter economicista,
por priorizarem apenas o crescimento econômico, e uma propaganda mecanicista,
defendendo-se a tese de que isso proporcionaria uma base sólida ao socialismo,
sem mencionar a luta de classes como fator fundamental numa sociedade em
transição ao mesmo.
Colocou-se como exigência para a
manutenção de fábricas a obtenção de lucro e a obediência dos operários a
regras rígidas do processo de produção e do trabalho, eliminando sua
criatividade e suas possibilidades de organização em associações ou sindicatos.
Desta forma, foram fechadas companhias pequeno e médio porte que possuíam
importante valor de uso nas comunas, mas que não eram lucrativas, enquanto, por
outro lado, eram criadas as Zonas Econômicas Especiais (ZEE), nas quais são
permitidos os investimentos estrangeiros, as empresas privadas nacionais e as joint-ventures.
As ZEE, junto a outras cidades grandes,
atraíram milhões de chineses, provocando um êxodo rural de 30% da população até
1984, com uma taxa média de 20% de desemprego e o retorno da prostituição e
contrabando, problemas sociais eliminados no governo Mao.
Um dos efeitos colaterais da migração
para as grandes cidades foi o desmantelamento das comunas e a introdução de um
sistema de agricultura que reservava estreitas faixas de terra a cada família,
impedindo a mecanização e acabando com a administração coletiva de cada brigada
de produção ou comuna. Isso fez com que apenas os quadros e burocratas do PCC -
bem como seus familiares e amigos -enriquecessem por meio da posse de antigos
bens comunitários e de esquemas diversos de corrupção possibilitados pelo novo
sistema.
As resistências populares a essa nova
ordem na China foram duramente abafadas, agravando o quadro de miséria da
população e gerando uma “guerra pela sobrevivência” não só em áreas urbanas, mas
também nas rurais, onde passou a ocorrer uma destruição ambiental sem
precedentes e um aumento exponencial da taxa de natalidade – resultado da
estratégia das famílias de garantir seu sustento no futuro, uma vez que o estado
mínimo de bem estar social havia desaparecido –, o que fez com que o governo
criasse a lei do filho único como parte de seu projeto de modernização e
provocasse, em conseqüência, o difundido infanticídio de bebês do sexo
feminino.
O novo sistema sócio-econômico foi
apelidado de capitalismo de estado, mas alguns estudiosos afirmam que a melhor
denominação seria capitalismo burocrático, porque somente a elite e os quadros
obedientes do Partido são beneficiados.
Em sua política exterior, a China faz
grande propaganda do seu “socialismo”, procurando aliar-se aos países
verdadeiramente socialistas, como Vietnã e Coréia do Norte. Na verdade, atuando
como uma espécie de “cavalo de Tróia” nesses países, procurando atraí-los para
a sua área de influência mercantilista, atuando principalmente sobre os países
asiáticos através de alianças e acordos bilaterais, objetivando colocar esses
países sob a sua dependência militar e econômica. De certa maneira, faz o jogo
do império, tentando tomar conta da Ásia junto com o Japão (leia-se Estados
Unidos), incentivando o liberalismo econômico com uma retórica pseudo-marxista,
mas que tem como objetivo final a transformação daqueles países ainda
socialistas em satélites capitalistas.
Um dos primeiros sinais de que a China
estava mudando foi a guerra que moveu contra o Vietnã, em 1979. Naquela época,
o Vietnã, que saía vencedor de uma longa guerra contra os Estados Unidos foi
invadido pela China em 17 de fevereiro de 1979 e fez voltar o inimigo derrotado
em 16 de março do mesmo ano. A imprensa ocidental tentou explicar a guerra como
uma reação chinesa contra a aliança do Vietnã com a União Soviética. A verdade
é que a China tentou fazer o que o seu provável aliado, os Estados Unidos, não conseguira
em mais de dez anos: invadir e conquistar o Vietnã. Não conseguiu, mas levou o
Camboja consigo.
Com o estado de guerra na península da
Coréia o mundo inteiro ficou sabendo que o único país aliado da Coréia do Norte
é a China. Um aliado perigoso e suspeito.
Os Estados Unidos estão fazendo de tudo
para que a Coréia do Norte dê o primeiro tiro, principalmente através das
manobras provocatórias de quase dois meses, com exercícios de tiro real e
ostentando armas de todos os tipos, inclusive as nucleares. Sem se deixar
intimidar, a Coréia do Norte diz que reagirá, inclusive ameaçando com guerra
nuclear, esperando que o inimigo se afaste das fronteiras ou diga a que veio.
Os Estados Unidos aumentam a pressão, revelando que não temem a aliança militar
da Coréia do Norte com a China.
E talvez não haja o que temer. Desde o
dia 19 de março, a China enviou mais de 70.000 soldados, blindados e aviões de
combate para a província de Jilin, que faz fronteira com a Coréia do Norte.
Realizou amplas manobras navais e suas forças armadas estão em alerta máximo.
À primeira vista poderá parecer que
toda essa demonstração de força das forças armadas chinesas são para proteger o
fronteiriço país aliado. No entanto, convém lembrar que, em janeiro último
o Conselho de Segurança da ONU aprovou,
por unanimidade, expandir as sanções contra a Coréia do Norte. Por unanimidade
significa com o apoio da China.
A Coréia do Norte está cercada por
todos os lados e neste domingo, 7 de abril, o presidente chinês, Xi Jinping,
afirmou que não iria tolerar que “problemas” fossem criados na região e “às
portas da China”. Nunca antes os representantes chineses falaram contra as
manobras das forças armadas estadunidenses nas águas próximas ao seu país. Como
falar contra um país amigo, talvez com algumas pendências econômicas que
poderão ser resolvidas discretamente por diplomatas?
Denunciar a aliança com a Coréia do
Norte e atacá-la pela fronteira oposta a da Coréia do Sul, facilitando a
invasão dos Estados Unidos, talvez seja a missão que o império está delegando à
China, que poderá tentar repetir o que fez contra o Vietnã em 1979, quando
declarou guerra no dia 15 de fevereiro e invadiu dois dias depois. Naquela
época, foi derrotada, mas agora terá outra grande potência como aliada e, se
tudo der certo e a Coréia do Norte for destruída, muito provavelmente a China
participará do rico espólio.
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