domingo, 7 de abril de 2013

A ALIADA CHINA




Desde a morte de Mao-Tsé-Tung, em  1976, começou o desmantelamento dos fundamentos socialistas na China que ainda se diz “comunista” mas não passa de um braço do imperialismo no extremo-oriente. Aos poucos, o socialismo foi sendo abolido e Mao passou a ser apenas uma referência histórica cada vez mais distante.

   De 1967 a 1976, apesar da crescente oposição da direita dentro do Partido Comunista Chinês, foram tomadas algumas medidas visando a permanência de certo grau de coletivização de terras no campo, de muitas mini-indústrias no interior, dos ‘médicos de pés-descalços’ em algumas regiões, da integração entre teoria e prática no ensino e do estudo do pensamento marxista-leninista e maoísta.

   Com a morte de Mao, o PCC passou a ser um Partido Capitalista Chinês, mais reformista do que a União Soviética a partir de Kruschev, implementando reformas que tiveram um caráter economicista, por priorizarem apenas o crescimento econômico, e uma propaganda mecanicista, defendendo-se a tese de que isso proporcionaria uma base sólida ao socialismo, sem mencionar a luta de classes como fator fundamental numa sociedade em transição ao mesmo.

   Colocou-se como exigência para a manutenção de fábricas a obtenção de lucro e a obediência dos operários a regras rígidas do processo de produção e do trabalho, eliminando sua criatividade e suas possibilidades de organização em associações ou sindicatos. Desta forma, foram fechadas companhias pequeno e médio porte que possuíam importante valor de uso nas comunas, mas que não eram lucrativas, enquanto, por outro lado, eram criadas as Zonas Econômicas Especiais (ZEE), nas quais são permitidos os investimentos estrangeiros, as empresas privadas nacionais e as joint-ventures.

   As ZEE, junto a outras cidades grandes, atraíram milhões de chineses, provocando um êxodo rural de 30% da população até 1984, com uma taxa média de 20% de desemprego e o retorno da prostituição e contrabando, problemas sociais eliminados no governo Mao.

   Um dos efeitos colaterais da migração para as grandes cidades foi o desmantelamento das comunas e a introdução de um sistema de agricultura que reservava estreitas faixas de terra a cada família, impedindo a mecanização e acabando com a administração coletiva de cada brigada de produção ou comuna. Isso fez com que apenas os quadros e burocratas do PCC - bem como seus familiares e amigos -enriquecessem por meio da posse de antigos bens comunitários e de esquemas diversos de corrupção possibilitados pelo novo sistema.

   As resistências populares a essa nova ordem na China foram duramente abafadas, agravando o quadro de miséria da população e gerando uma “guerra pela sobrevivência” não só em áreas urbanas, mas também nas rurais, onde passou a ocorrer uma destruição ambiental sem precedentes e um aumento exponencial da taxa de natalidade – resultado da estratégia das famílias de garantir seu sustento no futuro, uma vez que o estado mínimo de bem estar social havia desaparecido –, o que fez com que o governo criasse a lei do filho único como parte de seu projeto de modernização e provocasse, em conseqüência, o difundido infanticídio de bebês do sexo feminino.

   O novo sistema sócio-econômico foi apelidado de capitalismo de estado, mas alguns estudiosos afirmam que a melhor denominação seria capitalismo burocrático, porque somente a elite e os quadros obedientes do Partido são beneficiados.

  Em sua política exterior, a China faz grande propaganda do seu “socialismo”, procurando aliar-se aos países verdadeiramente socialistas, como Vietnã e Coréia do Norte. Na verdade, atuando como uma espécie de “cavalo de Tróia” nesses países, procurando atraí-los para a sua área de influência mercantilista, atuando principalmente sobre os países asiáticos através de alianças e acordos bilaterais, objetivando colocar esses países sob a sua dependência militar e econômica. De certa maneira, faz o jogo do império, tentando tomar conta da Ásia junto com o Japão (leia-se Estados Unidos), incentivando o liberalismo econômico com uma retórica pseudo-marxista, mas que tem como objetivo final a transformação daqueles países ainda socialistas em satélites capitalistas.

 Um dos primeiros sinais de que a China estava mudando foi a guerra que moveu contra o Vietnã, em 1979. Naquela época, o Vietnã, que saía vencedor de uma longa guerra contra os Estados Unidos foi invadido pela China em 17 de fevereiro de 1979 e fez voltar o inimigo derrotado em 16 de março do mesmo ano. A imprensa ocidental tentou explicar a guerra como uma reação chinesa contra a aliança do Vietnã com a União Soviética. A verdade é que a China tentou fazer o que o seu provável aliado, os Estados Unidos, não conseguira em mais de dez anos: invadir e conquistar o Vietnã. Não conseguiu, mas levou o Camboja consigo.

Com o estado de guerra na península da Coréia o mundo inteiro ficou sabendo que o único país aliado da Coréia do Norte é a China. Um aliado perigoso e suspeito.

Os Estados Unidos estão fazendo de tudo para que a Coréia do Norte dê o primeiro tiro, principalmente através das manobras provocatórias de quase dois meses, com exercícios de tiro real e ostentando armas de todos os tipos, inclusive as nucleares. Sem se deixar intimidar, a Coréia do Norte diz que reagirá, inclusive ameaçando com guerra nuclear, esperando que o inimigo se afaste das fronteiras ou diga a que veio. Os Estados Unidos aumentam a pressão, revelando que não temem a aliança militar da Coréia do Norte com a China.

E talvez não haja o que temer. Desde o dia 19 de março, a China enviou mais de 70.000 soldados, blindados e aviões de combate para a província de Jilin, que faz fronteira com a Coréia do Norte. Realizou amplas manobras navais e suas forças armadas estão em alerta máximo.

À primeira vista poderá parecer que toda essa demonstração de força das forças armadas chinesas são para proteger o fronteiriço país aliado. No entanto, convém lembrar que, em janeiro último o  Conselho de Segurança da ONU aprovou, por unanimidade, expandir as sanções contra a Coréia do Norte. Por unanimidade significa com o apoio da China.

A Coréia do Norte está cercada por todos os lados e neste domingo, 7 de abril, o presidente chinês, Xi Jinping, afirmou que não iria tolerar que “problemas” fossem criados na região e “às portas da China”. Nunca antes os representantes chineses falaram contra as manobras das forças armadas estadunidenses nas águas próximas ao seu país. Como falar contra um país amigo, talvez com algumas pendências econômicas que poderão ser resolvidas discretamente por diplomatas?

Denunciar a aliança com a Coréia do Norte e atacá-la pela fronteira oposta a da Coréia do Sul, facilitando a invasão dos Estados Unidos, talvez seja a missão que o império está delegando à China, que poderá tentar repetir o que fez contra o Vietnã em 1979, quando declarou guerra no dia 15 de fevereiro e invadiu dois dias depois. Naquela época, foi derrotada, mas agora terá outra grande potência como aliada e, se tudo der certo e a Coréia do Norte for destruída, muito provavelmente a China participará do rico espólio.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Faça o seu comentário aqui.

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...