De
1734, quando Swedenborg escreveu o ‘Principia’, que continha a teoria atômica,
até 1945, que marcou o fim de um período e revelou o século XX como o momento de
maior insensibilidade da história humana, a começar pelo bombardeio atômico de Hiroshima
e Nagasáki pelos Estados Unidos, decorreram 211 anos. E de 1776, ano da
fundação oficial dos Illuminati e da independência dos Estados Unidos, até 1948,
quando a ONU e o Estado de Israel foram criados artificialmente sob os
auspícios dos vencedores das guerras mundiais por eles patrocinadas, foram 172
anos em que a História foi mistificada, alterada, reconstruída, remodelada por
aqueles que se propunham dominar o mundo e nivelar a opinião pública a massa
moldável.
211 anos em busca do elo perdido
chamado tecnologia. Ou bem menos. O Renascimento, que se calcula tenha começado
por volta de 1500, mais que a época da exultação das artes, da intensidade do
comércio que transformou mercadores em burgueses que compravam títulos
nobiliárquicos, foi o tempo em que se buscava o ouro alquímico, a transformação
da natureza, a pedra angular do edifício humano. Jesus dissera, de acordo com
os evangelhos, que ele era essa pedra angular que os construtores tinham
esquecido, mas quem atentava para os ensinamentos de Jesus, para o
Cristianismo, para qualquer das religiões que se tornavam em estorvo para os
que se consideravam guias de um nascente iluminismo que mostrava o caminho para
a idade da razão?
Dentro das Lojas conspirava-se a queda
dos poderosos que deveriam abrir caminho para o poder dos conspiradores, e aos
neófitos dava-se a mistificação de um cego espiritualismo que desejava riquezas
e imortalidade. Lojas que serviam de cortina de fumaça para outros subterrâneos
onde era pesquisada a manipulação da natureza.
Alguns caminhos estavam abertos, pistas
tinham sido levantadas. Sabia-se, entre os mestres ocultos e até entre os não
muito ocultos, que a história do homem era muito anterior à suposta criação de
Adão; que civilizações longínquas no tempo teriam tido acesso a uma
desconhecida ciência que lhes dera inusitada força e poder; que os povos muito
primitivos encontrados nos diversos lugares, naquela era de descobrimentos,
seriam resquícios da força cósmica desperdiçada pelos antigos - pessoas, tribos
e nações inteiras que teriam involuído após as trágicas hecatombes provocadas
pelo abuso da misteriosa ciência perdida nos tempos.
Não só o homem nasce e renasce -
revelavam os rituais secretos. Também as civilizações. Livros pseudo-esotéricos
eram escritos para “quem tinha olhos para ver e ouvidos para ouvir” com relatos
fantásticos sobre os continentes de Mu,
Botswana e Atlântida; sobre Agarta, o misterioso lugar onde estariam recolhidos
os maiores sábios, no interior da Terra, velando pelos destinos da humanidade
e, eventualmente, saindo à superfície com seus brilhantes veículos esféricos
para passar instruções aos adeptos mais evoluídos. Os clássicos livros sobre os
hindus eram lidos e reinterpretados. Ali estava escrito que as grandes batalhas
relatadas no Mahabaratha, principalmente, teriam sido travadas com carros
voadores – os vimanas – e as armas utilizadas matavam milhões de guerreiros.
Alvoroçavam-se os ocultistas de fachada: quem possuísse o segredo daquelas
armas deteria o controle da humanidade.
Qual a grande descoberta dos Templários,
que os fizera tão poderosos e, mesmo depois de séculos da sua oficial extinção,
dera o ensejo à formação de sociedades secretas que se diziam espiritualistas e
que só eram secretas porque buscavam o poder material? Era inevitável que
alguém, em algum lugar, soubesse. No século XVII, da Alemanha apareceram os
manifestos rosacruzes, espalhados na Paris elétrica por novos conhecimentos.
Mais encobriam que desvelavam, e sugeriam grandes segredos.
No mesmo século, os práticos maçons
ingleses fundavam a Real Sociedade, reunindo cientistas que não buscavam a
pedra filosofal e sim os segredos da natureza, aquele vasto armazém – como
escrevera Francis Bacon, o filósofo maçon apontado pelos maçons que o cercavam
como o verdadeiro autor dos textos rosacruzes, das obras de Shakespeare e –
quem sabe? – da descoberta da América e de se travestir de rainha da Inglaterra
quando necessário. Domar a natureza era uma fixação para Bacon & Cia e, para
isso, sabia-se, era preciso descobrir os meios de utilizar a eletricidade. Muitos
anos mais tarde, Lênin diria que “o bolchevismo é os sovietes mais a
eletricidade”. Mas Lênin não era maçom ou Illuminati e o socialismo soviético
não aceitaria sociedades secretas, consideradas antidemocráticas e elitistas.
O que faziam os maçons franceses que
entravam no século XVIII brincando de esoterismo filosófico, falando em
liberdade de pensamento, escrevendo enciclopédias, ameaçando uma monarquia
fraca e desdenhosa de si mesma, mas inconscientemente aliada, pois não ajudara
os Estados Unidos na sua guerra de independência com muito dinheiro, armas e um
pequeno exército, apenas para irritar a Inglaterra?
A sisuda Grande Loja da Inglaterra não
podia admitir que os maçons franceses se declarassem ateus e republicanos
justamente naquele século de tantas luzes quando o capitalismo tomava forma, o
italiano Alexandre Volta conseguia, finalmente, produzir e acumular energia
através da sua famosa pilha, Newton descobria as leis que regem os corpos celestes
e a Austrália era incorporada ao império inglês, para maior glória de Sua
Majestade britânica.
Os jesuítas tinham sido expulsos e os
que restavam estavam muito longe, na Rússia, sob a proteção da czarina Catarina
II. Aparentemente, não representavam mais perigo para as pretensões maçônicas.
A Igreja estava sob controle. O amedrontado Papa Clemente XIV aceitara
extinguir a Companhia de Jesus um ano antes de morrer de pneumonia, em 1774, e
era substituído por Giovanni Angelo Braschi, que somente foi eleito Papa
adotando o nome de Pio VI após prometer aos
maçons não reconstituir a Companhia de Jesus.
O que era muito difícil. As demais
ordens católicas, geralmente formadas com pessoas de pouca instrução, estavam
condenadas à histeria religiosa que leva ao retrocesso, e somente os jesuítas
se destacavam intelectualmente dentro de uma Igreja que poderia soçobrar caso
permanecesse encalhada em seus velhos conceitos em um mundo que desejava luz,
mais luz!
O gigantesco saber dos jesuítas criara
a república socialista dos guaranis na América do Sul recém descoberta e já
escravizada pelos seus donos maçons. Os jesuítas propunham uma Igreja
missionária e verdadeiramente cristã, o que não correspondia ao ideal de
humanidade de espanhóis e portugueses escravocratas. A guerra contra jesuítas e
guaranis durou vários anos, produzindo heróis até hoje cultuados, como Sepé
Tiaraju, chamado de São Sepé. E mesmo depois que os jesuítas foram expulsos, a
guerra somente foi dada como terminada em 1811, quando o marquês de Alegrete
arrasou as últimas reduções. Sobre esses atos de bravura, escreveu Clovis
Lugon: “A guerra, em si mesma horrível, é um dos maiores flagelos da
humanidade, mesmo quando, por vezes, é necessária; mas invadir um território
estrangeiro, devastar, saquear aldeias desarmadas, forçar os habitantes a
assistirem a esses atos de horror e, depois, transportá-los violentamente para
outro país, é próprio de nações bárbaras. Foi o que aconteceu nas Missões
ocidentais, em consequência das ordens do Marquês de Alegrete, governador e
capitão-geral da capitania do Rio Grande do Sul”.
Na França, a luz cegava. A guerra
secreta entre os muito místicos e os muito gananciosos dava a momentânea
vitória aos últimos. Maçons, que hoje se arrogam o direito de ter fabricado a
Revolução Francesa, com o apoio do povo iludido que acreditava que a revolução
era para ele e não para a nova classe burguesa, derrubavam Luiz XVI,
entronizavam a “Deusa Razão” no altar-mor da Catedral de Notre Dame e, depois
de um período de hesitação e muitos discursos, davam início ao reinado da
guilhotina. A família real, príncipes, sacerdotes, cientistas como Lavoisier,
poetas como Andrè Chenier, além de milhares de outros franceses foram
guilhotinados. Por último, os próprios chefes da revolução: Danton,
Robespierre, Valmy, Hébert... A serpente comia a própria cauda.
Em 1782, alguns anos antes do começo do
que foi chamado de Revolução Francesa e que não passou da tomada do poder pela
burguesia, que deu ao povo iludido um hino, uma bandeira e uma república que
logo se transformaria em monarquia, as organizações secretas, iluminados e
maçons nem tanto, mas sempre iluministas, convocaram um convento em Wilhemsbad,
inaugurado em 16 de julho por Ferdinand, duque de Brunswick.
Muitas e transcendentes questões foram
tratadas naquele convento – uma espécie de Clube Bilderberg da época – onde
toda a nobreza esteve representada. Falou-se muito em unificar a maçonaria em
um único regime, na tradição escocesa que já dominava a maçonaria dos Estados
Unidos com a instituição dos chamados “Altos Graus”, que daria origem, na
Europa, ao Regime Escocês Retificado, mas, principalmente, era muito importante
manter a união entre os maçons martinezistas (de Martinez de Pasqually) e a
Estrita Observância Templária.
Um convento que visava a reorganização
dos centros ocultos do poder. Além disso, se a maçonaria de fato era uma
continuação dos Templários, porque não reivindicar as possessões e riquezas
daqueles antigos cavaleiros, assim como os seus mistérios científicos? Sobre
este tópico, Willermoz – que depois fundou a nostálgica Ordem dos Benfeitores
da Cidade Santa – foi contra. Para ele, “... a ciência maçônica tem passado
pelos cavaleiros templários como alguns rios passam pelos grandes lagos, sem perder-se
nem confundir-se totalmente com eles, de onde saem, talvez, retendo certas
qualidades e propriedades particulares do lago que atravessaram...”
Não ficou claro se aqueles senhores
conseguiram reivindicar os tesouros dos Templários (incluindo os científicos), mas o que
perturbou o convento, que desejava os altos graus para tornar a maçonaria muito
templária – conforme aconteceu mais tarde, com a maçonaria inglesa do Real Arco
e a francesa do Rito Escocês Antigo e Aceito – foi a presença dos racionalistas,
liderados por Adolf Franz von Knigge e Franz Friedrich Dittfurth von Wetzlar,
representantes dos Iluminados da Baviera.
Apontavam para uma nova era e acusaram
a Estrita Observância Templária de estar a favor da Igreja Católica Romana,
infiltrada por jesuítas. Mesmo sabendo que seriam derrotados, foram claramente
contra a restauração templária. Curioso o fato de justamente uma organização
fundada por um jesuíta (Adam Weishaupt) acusar a maçonaria de estar infiltrada
por jesuítas para poder infiltrá-la posteriormente com os poderosos acenos da
razão e da liberdade de pensamento. Uma estratégia que visava, claramente,
impedir que os Illuminati fossem identificados com os jesuítas, e, ao irem
contra a Estrita Observância Templária, empurravam os maçons para o templarismo
materialista, conforme já estavam fazendo nos Estados Unidos.
Iluministas martinistas confrontavam-se
com os Illuminati da Baviera, que logo estariam povoando as Lojas de maçons
esperançosos pela descoberta da ancestral ciência oculta que daria aos
escolhidos todo o poder do príncipe deste mundo.
No convento de Wilhemsbad, em 1782,
Ferdinand, duque de Brunswick, foi proclamado Grande Mestre do Regime Escocês
Retificado; Willermoz foi considerado como uma grande luz maçônica e os Illuminati
conseguiram importantes adesões, como a do príncipe de Hesse-Cassel e de Jochan
Joachín Bode, delegado do duque Ernst von Gotha. A instauração da Sinarquia,
com o domínio do mundo a médio e longo prazo passou a ser uma obsessão para os
maçons que foram infiltrados de tal maneira pelos Illuminati que poucos anos
depois, em 1789, davam início à era da Razão e da guilhotina, com o apoio do
povo que se acreditava autor da História.
(Continua).
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