quarta-feira, 10 de abril de 2013

A GUERRA SECRETA (3) – EM BUSCA DA CIÊNCIA PERDIDA



De 1734, quando Swedenborg escreveu o ‘Principia’, que continha a teoria atômica, até 1945, que marcou o fim de um período e revelou o século XX como o momento de maior insensibilidade da história humana, a começar pelo bombardeio atômico de Hiroshima e Nagasáki pelos Estados Unidos, decorreram 211 anos. E de 1776, ano da fundação oficial dos Illuminati e da independência dos Estados Unidos, até 1948, quando a ONU e o Estado de Israel foram criados artificialmente sob os auspícios dos vencedores das guerras mundiais por eles patrocinadas, foram 172 anos em que a História foi mistificada, alterada, reconstruída, remodelada por aqueles que se propunham dominar o mundo e nivelar a opinião pública a massa moldável.

  211 anos em busca do elo perdido chamado tecnologia. Ou bem menos. O Renascimento, que se calcula tenha começado por volta de 1500, mais que a época da exultação das artes, da intensidade do comércio que transformou mercadores em burgueses que compravam títulos nobiliárquicos, foi o tempo em que se buscava o ouro alquímico, a transformação da natureza, a pedra angular do edifício humano. Jesus dissera, de acordo com os evangelhos, que ele era essa pedra angular que os construtores tinham esquecido, mas quem atentava para os ensinamentos de Jesus, para o Cristianismo, para qualquer das religiões que se tornavam em estorvo para os que se consideravam guias de um nascente iluminismo que mostrava o caminho para a idade da razão?

  Dentro das Lojas conspirava-se a queda dos poderosos que deveriam abrir caminho para o poder dos conspiradores, e aos neófitos dava-se a mistificação de um cego espiritualismo que desejava riquezas e imortalidade. Lojas que serviam de cortina de fumaça para outros subterrâneos onde era pesquisada a manipulação da natureza.

  Alguns caminhos estavam abertos, pistas tinham sido levantadas. Sabia-se, entre os mestres ocultos e até entre os não muito ocultos, que a história do homem era muito anterior à suposta criação de Adão; que civilizações longínquas no tempo teriam tido acesso a uma desconhecida ciência que lhes dera inusitada força e poder; que os povos muito primitivos encontrados nos diversos lugares, naquela era de descobrimentos, seriam resquícios da força cósmica desperdiçada pelos antigos - pessoas, tribos e nações inteiras que teriam involuído após as trágicas hecatombes provocadas pelo abuso da misteriosa ciência perdida nos tempos.

  Não só o homem nasce e renasce - revelavam os rituais secretos. Também as civilizações. Livros pseudo-esotéricos eram escritos para “quem tinha olhos para ver e ouvidos para ouvir” com relatos  fantásticos sobre os continentes de Mu, Botswana e Atlântida; sobre Agarta, o misterioso lugar onde estariam recolhidos os maiores sábios, no interior da Terra, velando pelos destinos da humanidade e, eventualmente, saindo à superfície com seus brilhantes veículos esféricos para passar instruções aos adeptos mais evoluídos. Os clássicos livros sobre os hindus eram lidos e reinterpretados. Ali estava escrito que as grandes batalhas relatadas no Mahabaratha, principalmente, teriam sido travadas com carros voadores – os vimanas – e as armas utilizadas matavam milhões de guerreiros. Alvoroçavam-se os ocultistas de fachada: quem possuísse o segredo daquelas armas deteria o controle da humanidade.

  Qual a grande descoberta dos Templários, que os fizera tão poderosos e, mesmo depois de séculos da sua oficial extinção, dera o ensejo à formação de sociedades secretas que se diziam espiritualistas e que só eram secretas porque buscavam o poder material? Era inevitável que alguém, em algum lugar, soubesse. No século XVII, da Alemanha apareceram os manifestos rosacruzes, espalhados na Paris elétrica por novos conhecimentos. Mais encobriam que desvelavam, e sugeriam grandes segredos.

  No mesmo século, os práticos maçons ingleses fundavam a Real Sociedade, reunindo cientistas que não buscavam a pedra filosofal e sim os segredos da natureza, aquele vasto armazém – como escrevera Francis Bacon, o filósofo maçon apontado pelos maçons que o cercavam como o verdadeiro autor dos textos rosacruzes, das obras de Shakespeare e – quem sabe? – da descoberta da América e de se travestir de rainha da Inglaterra quando necessário. Domar a natureza era uma fixação para Bacon & Cia e, para isso, sabia-se, era preciso descobrir os meios de utilizar a eletricidade. Muitos anos mais tarde, Lênin diria que “o bolchevismo é os sovietes mais a eletricidade”. Mas Lênin não era maçom ou Illuminati e o socialismo soviético não aceitaria sociedades secretas, consideradas antidemocráticas e elitistas.

   O que faziam os maçons franceses que entravam no século XVIII brincando de esoterismo filosófico, falando em liberdade de pensamento, escrevendo enciclopédias, ameaçando uma monarquia fraca e desdenhosa de si mesma, mas inconscientemente aliada, pois não ajudara os Estados Unidos na sua guerra de independência com muito dinheiro, armas e um pequeno exército, apenas para irritar a Inglaterra?

   A sisuda Grande Loja da Inglaterra não podia admitir que os maçons franceses se declarassem ateus e republicanos justamente naquele século de tantas luzes quando o capitalismo tomava forma, o italiano Alexandre Volta conseguia, finalmente, produzir e acumular energia através da sua famosa pilha, Newton descobria as leis que regem os corpos celestes e a Austrália era incorporada ao império inglês, para maior glória de Sua Majestade britânica.

   Os jesuítas tinham sido expulsos e os que restavam estavam muito longe, na Rússia, sob a proteção da czarina Catarina II. Aparentemente, não representavam mais perigo para as pretensões maçônicas. A Igreja estava sob controle. O amedrontado Papa Clemente XIV aceitara extinguir a Companhia de Jesus um ano antes de morrer de pneumonia, em 1774, e era substituído por Giovanni Angelo Braschi, que somente foi eleito Papa adotando o nome de Pio  VI após prometer aos maçons não reconstituir a Companhia de Jesus.

   O que era muito difícil. As demais ordens católicas, geralmente formadas com pessoas de pouca instrução, estavam condenadas à histeria religiosa que leva ao retrocesso, e somente os jesuítas se destacavam intelectualmente dentro de uma Igreja que poderia soçobrar caso permanecesse encalhada em seus velhos conceitos em um mundo que desejava luz, mais luz!

   O gigantesco saber dos jesuítas criara a república socialista dos guaranis na América do Sul recém descoberta e já escravizada pelos seus donos maçons. Os jesuítas propunham uma Igreja missionária e verdadeiramente cristã, o que não correspondia ao ideal de humanidade de espanhóis e portugueses escravocratas. A guerra contra jesuítas e guaranis durou vários anos, produzindo heróis até hoje cultuados, como Sepé Tiaraju, chamado de São Sepé. E mesmo depois que os jesuítas foram expulsos, a guerra somente foi dada como terminada em 1811, quando o marquês de Alegrete arrasou as últimas reduções. Sobre esses atos de bravura, escreveu Clovis Lugon: “A guerra, em si mesma horrível, é um dos maiores flagelos da humanidade, mesmo quando, por vezes, é necessária; mas invadir um território estrangeiro, devastar, saquear aldeias desarmadas, forçar os habitantes a assistirem a esses atos de horror e, depois, transportá-los violentamente para outro país, é próprio de nações bárbaras. Foi o que aconteceu nas Missões ocidentais, em consequência das ordens do Marquês de Alegrete, governador e capitão-geral da capitania do Rio Grande do Sul”.

   Na França, a luz cegava. A guerra secreta entre os muito místicos e os muito gananciosos dava a momentânea vitória aos últimos. Maçons, que hoje se arrogam o direito de ter fabricado a Revolução Francesa, com o apoio do povo iludido que acreditava que a revolução era para ele e não para a nova classe burguesa, derrubavam Luiz XVI, entronizavam a “Deusa Razão” no altar-mor da Catedral de Notre Dame e, depois de um período de hesitação e muitos discursos, davam início ao reinado da guilhotina. A família real, príncipes, sacerdotes, cientistas como Lavoisier, poetas como Andrè Chenier, além de milhares de outros franceses foram guilhotinados. Por último, os próprios chefes da revolução: Danton, Robespierre, Valmy, Hébert... A serpente comia a própria cauda.

   Em 1782, alguns anos antes do começo do que foi chamado de Revolução Francesa e que não passou da tomada do poder pela burguesia, que deu ao povo iludido um hino, uma bandeira e uma república que logo se transformaria em monarquia, as organizações secretas, iluminados e maçons nem tanto, mas sempre iluministas, convocaram um convento em Wilhemsbad, inaugurado em 16 de julho por Ferdinand, duque de Brunswick.

   Muitas e transcendentes questões foram tratadas naquele convento – uma espécie de Clube Bilderberg da época – onde toda a nobreza esteve representada. Falou-se muito em unificar a maçonaria em um único regime, na tradição escocesa que já dominava a maçonaria dos Estados Unidos com a instituição dos chamados “Altos Graus”, que daria origem, na Europa, ao Regime Escocês Retificado, mas, principalmente, era muito importante manter a união entre os maçons martinezistas (de Martinez de Pasqually) e a Estrita Observância Templária.

  Um convento que visava a reorganização dos centros ocultos do poder. Além disso, se a maçonaria de fato era uma continuação dos Templários, porque não reivindicar as possessões e riquezas daqueles antigos cavaleiros, assim como os seus mistérios científicos? Sobre este tópico, Willermoz – que depois fundou a nostálgica Ordem dos Benfeitores da Cidade Santa – foi contra. Para ele, “... a ciência maçônica tem passado pelos cavaleiros templários como alguns rios passam pelos grandes lagos, sem perder-se nem confundir-se totalmente com eles, de onde saem, talvez, retendo certas qualidades e propriedades particulares do lago que atravessaram...”

   Não ficou claro se aqueles senhores conseguiram reivindicar os tesouros dos Templários  (incluindo os científicos), mas o que perturbou o convento, que desejava os altos graus para tornar a maçonaria muito templária – conforme aconteceu mais tarde, com a maçonaria inglesa do Real Arco e a francesa do Rito Escocês Antigo e Aceito – foi a presença dos racionalistas, liderados por Adolf Franz von Knigge e Franz Friedrich Dittfurth von Wetzlar, representantes dos Iluminados da Baviera.

    Apontavam para uma nova era e acusaram a Estrita Observância Templária de estar a favor da Igreja Católica Romana, infiltrada por jesuítas. Mesmo sabendo que seriam derrotados, foram claramente contra a restauração templária. Curioso o fato de justamente uma organização fundada por um jesuíta (Adam Weishaupt) acusar a maçonaria de estar infiltrada por jesuítas para poder infiltrá-la posteriormente com os poderosos acenos da razão e da liberdade de pensamento. Uma estratégia que visava, claramente, impedir que os Illuminati fossem identificados com os jesuítas, e, ao irem contra a Estrita Observância Templária, empurravam os maçons para o templarismo materialista, conforme já estavam fazendo nos Estados Unidos.

  Iluministas martinistas confrontavam-se com os Illuminati da Baviera, que logo estariam povoando as Lojas de maçons esperançosos pela descoberta da ancestral ciência oculta que daria aos escolhidos todo o poder do príncipe deste mundo.

   No convento de Wilhemsbad, em 1782, Ferdinand, duque de Brunswick, foi proclamado Grande Mestre do Regime Escocês Retificado; Willermoz foi considerado como uma grande luz maçônica e os Illuminati conseguiram importantes adesões, como a do príncipe de Hesse-Cassel e de Jochan Joachín Bode, delegado do duque Ernst von Gotha. A instauração da Sinarquia, com o domínio do mundo a médio e longo prazo passou a ser uma obsessão para os maçons que foram infiltrados de tal maneira pelos Illuminati que poucos anos depois, em 1789, davam início à era da Razão e da guilhotina, com o apoio do povo que se acreditava autor da História.


(Continua).

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