A
palavra Juche significa autoconfiança ou autossuficiencia e a Ideia Juche é o
que move os norte-coreanos. Kim Il Sung, fundador do Partido do Trabalho da
Coreia, foi quem concebeu a Ideia Juche a partir do marxismo-leninismo, nas
décadas de 1930-1940, que foi desenvolvida depois por Kim Jong Il. Segundo os
teóricos da Ideia Juche, esta não é apenas o marxismo-leninismo adaptado à
realidade coreana, mas uma nova ideologia que seria superior ao próprio
marxismo. A superioridade da Ideia Juche consiste em que indicando a posição e
o papel do homem no mundo esclarece-se de maneira mais científica a maneira
como o homem forja o seu destino. De acordo com Kim Jong Il: “Se o marxismo
criou pela primeira vez a concepção revolucionária de mundo da classe
trabalhadora, a Ideia Juche a aperfeiçoou, desenvolvendo-a a uma etapa
superior”. O princípio básico da Ideia Juche é que as massas são donas do mundo
e de seu próprio destino.
Além disso, o patriotismo e o
nacionalismo são muito importantes na Ideia Juche, levando-se em conta o fato
de que um povo que não ama a sua pátria não poderá desejar o melhor para ela e
para si mesmo: o socialismo. A Ideia Juche não acredita que aja qualquer
contradição entre patriotismo, nacionalismo e socialismo. Sobre o nacionalismo,
Kim Jong Il, que escreveu mais de 800 textos sobre a Ideia Juche, afirma que
deve-se diferençar o verdadeiro nacionalismo do “nacionalismo da burguesia”,
que é sinônimo de exclusivismo, egoísmo nacional e chauvinismo.
A Ideia Juche resgata parte da herança
cultural do Oriente ao introduzir junto ao socialismo posturas éticas ligadas
ao confucionismo, taoísmo e budismo. Assim, o amor à pátria deve nascer dentro
da primeira célula, com o amor à família, o respeito mútuo, o amor romantizado,
a ausência de pornografia, drogas ou atitudes grosseiras; desenvolver-se
através da comunidade, onde todos devem colaborar para o bem de cada um e de
todos e redundar no que é considerado o verdadeiro nacionalismo socialista,
isento de individualismo sem negar o indivíduo.
O nacionalismo como base do socialismo
é uma das principais discussões entre os teóricos marxistas, desde que Marx e
Engels ao observarem o período pré-imperialista do capitalismo, entenderam que
a revolução proletária deveria ser necessariamente internacionalista. Logo após
o triunfo da revolução socialista na União Soviética, as transformações
mundiais revelaram o surgimento do capitalismo monopolista e do imperialismo,
que reflete as desigualdades sociais também entre os países, ou o desenvolvimento
desigual entre os países.
Após a morte de Lênin, em 1924, ocorreu
uma grande discussão dentro do Partido Comunista da União Soviética entre
Stálin, que propunha “o socialismo em um só país”, e Trotsky, que defendia “a
revolução permanente”. Trotsky acreditava que o proletariado deveria fazer a
revolução socialdemocrática – no lugar da burguesia, cada vez mais conservadora
– e em seguida evoluir para a revolução socialista. Ao mesmo tempo, entendia
que a revolução poderia ser limitada a uma só nação, mas internacionalizada e
desenvolvida rapidamente em outros países para poder resistir à pressão hostil dos
países capitalistas.
De certa forma, Trotsky repetia a visão
mais ortodoxa de Marx e Engels, mas, como citado acima, na época pré-imperialista
do capitalismo. Por seu lado, Stálin defendia que naquele momento histórico,
posto que o capitalismo assumira formas monopolistas e imperialistas,
acelerando as leis do desenvolvimento desigual, e usando o marxismo não como um
dogma, mas como um método de reflexão e ação, e dado a derrota de todas as
revoluções socialistas na Europa, excetuando-se a União Soviética, a revolução
soviética deveria, em primeiro lugar, reforçar-se internamente.
Alguns afirmam que esta teria sido uma
tese desenvolvida por Nikolai Bukhárin, em 1925, e adotada no XIV Congresso do
PCUS. Outros, no entanto, dizem que Stálin se baseava em Lênin que escreveu: “O
desenvolvimento econômico e político é uma lei absoluta do capitalismo. Então,
a vitória do socialismo é possível em alguns ou mesmo em um país capitalista,
tomado isoladamente.” (Escritos Selecionados, V. I. Lênin). Além disso, em
“Programa da Revolução Proletária”, Lênin escreveu: “O desenvolvimento do
capitalismo procede de forma extremamente desigual nos diversos países. Isto
não pode se dar de forma diferente sob o sistema de produção de mercadorias.
Disto segue, irrefutavelmente, que a vitória do socialismo não pode ocorrer
simultaneamente em todos os países. O socialismo alcançará a vitória primeiro
em um ou alguns países, enquanto os demais permanecerão burgueses ou
pequeno-burgueses por algum tempo”.
Com a vitória política de Stálin sobre
Trotsky a União Soviética desenvolveu-se dando maior ênfase ao nacionalismo do
que ao “internacionalismo proletário”. Marx e Engels entendiam que o
proletariado deveria unir-se mundialmente enquanto classe que tem os mesmo
interesses e objetivos. No entanto, as diferenças sociais de país para país
muitas vezes transformou essa suposta união em traição, uma vez que nos países
imperialistas e seus “aliados” ou vassalos ideológicos, o proletariado nada
mais deseja que a ascensão para a pequena-burguesia, da qual adota a cultura e
pela qual é massificado pacificamente.
Mesmo assim, correntes trotskistas do
mundo inteiro interpretam um socialismo nacionalista como o da República
Democrática Popular da Coréia com certa suspeita e até algum ranço dogmático,
porque “está escrito” que o nacionalismo é pequeno burguês – mesmo que seja
socialista.
De acordo com Gabriel Martinez (“Sobre
alguns problemas referentes à educação Juche”) “...Isso não quer dizer, de nenhuma
maneira, que se enalteça somente a nossa nação, desprezando as outras. Nós, os
comunistas, não podemos nos converter em nacionalistas. Ao mesmo tempo, somos
autênticos patriotas e internacionalistas. Se insisto em dar a primazia à nossa
nação é para destacar a necessidade de fazer de maneira independente a
revolução e a construção com o espírito de considerá-la como o que é mais
precioso e com um significativo orgulho nacional. Os que idolatra, às cegas, a
outras, desdenhando a sua nação não podem ser fiéis ao seu partido ou ao seu
povo nem ter uma atitude de donos da revolução do seu país...”
A Ideia Juche, que prevê a
independência através da autossuficiência de cada país socialista não exclui o
marxismo ou o internacionalismo, mas vai além ao afirmar que cada país tem
características próprias que devem ser preservadas e que cabe a cada nação
escolher o socialismo e a igualdade como necessidade de sobrevivência contra o
capitalismo sem depender de alianças e tendo como base a autoconfiança = Juche.
Quando se pergunta porque os Estados
Unidos e aliados que formam as forças da OTAN estão tão preocupados com a
pequena República Democrática Popular da Coréia, a ponto de fazerem manobras
ostensivas anualmente em suas águas na tentativa de provocar uma guerra, talvez
a resposta não esteja no domínio territorial, na geopolítica.
Muito provavelmente temem a Ideia
Juche, que já se espalha pelo mundo. Atualmente, existem o Instituto
Internacional da Ideia Juche, o Instituto Asiático da Ideia Juche, o Instituto
Regional Africano para o Estudo da Ideia Juche e a Associação da Região
Europeia para o Estudo da Ideia Juche. Na América Latina, desde 1978 existe um
instituto continental da Ideia Juche. Nos dias de hoje, há mais de mil grupos
de estudo, vinte e sete comitês nacionais e quatro organismos continentais.
Nos anos 2000 aconteceram mais de
trezentos simpósios sobre a Ideia Juche em mais de quarenta países. Estados
Unidos e aliados, assim como alguns setores da esquerda acomodada, temem que o
marxismo, através da Ideia Juche, novamente se torne revolucionário e nada mais
sabem fazer que tentar destruir a Coreia do Norte a qualquer preço. Mas ideias
não podem ser destruídas.
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