Aqueles milhões de
amestrados pela mídia triunfante que realmente governa o Brasil e o transforma
nesta coisa disforme e corrupta, aquelas pessoas que aceitam e absorvem todas
as mensagens publicitárias, os que são induzidos a viver em eterna oscilação
entre o amor e o ódio e lutam para obedecer às palavras de ordem da moda, tendo
como objetivo ostentar um preço ou um código de barras no peito, sempre atrás
de receitas de vida em redes sociais, repudiando a tentativa de entender o
significado de nação, cultura e História e dedicando a sua pobreza mental à
adoração momentânea de ídolos fabricados, torceram desesperadamente para a
vitória da Alemanha na final do torneio que foi apelidado de Copa da Copas.
E vibraram
intensamente e soltaram foguetes e gritaram e buzinaram quando a Alemanha fez o
gol da vitória, transferindo toda a sua frustração pelas desconcertantes
derrotas da seleção brasileira para o ódio que lhes foi imposto contra a
Argentina - um trabalho de dezenas de anos feito pela imprensa robotizadora e que
visa unicamente a desunião entre os povos latino-americanos para que mais
fáceis presas se tornem dos ditames europeus e norte-americanos, concordando
implicitamente que o Brasil deve continuar como extensão passiva de interesses
oportunistas e desagregadores.
Ao fingir-se de
esquerda salvadora, ou de nova direita sempre amiga das forças mais
reacionárias (veja-se Maluf, Sarney, militares no Haiti, etc.), uma das missões
recebidas pelo PT – partido que deveria ser das transformações e virou abrigo
de pulhas e tratantes -, além de acabar com o getulismo, que sempre ameaçou o
império das multinacionais e desejava um Brasil para os brasileiros, foi o de
extinguir qualquer sentimento de nacionalismo e, principalmente, provocar a
despolitização do povo brasileiro através de uma educação pífia e da aplicação
da teoria do pão e circo. O mesmo que acontecia durante a ditadura militar,
sendo que durante aquele regime ainda existia resquícios de educação no país e
preocupação com o civismo, a moral e o conhecimento da nossa organização social
e política. Agora nem isso.
O resultado foi visto
durante a Copa do Mundo, quando a ditadura, que nunca acabou de fato, tomou as
favelas, reprimiu manifestações populares e, inclusive – como acontece em todos
os países fascistas – prendeu ativistas em casa, em flagrante desrespeito às
leis que protegem os cidadãos, na suposição de que se preparavam para novas
manifestações. A isso eles chamam de democracia. E pior – se ainda pode haver
coisa pior – a alienação do nosso povo é tão gritante que ninguém fica sabendo
ou protesta contra os desrespeitos aos direitos humanos, e nenhuma daquelas instituições
que outrora ousaram desafiar a ditadura ostensiva - como a OAB, por exemplo - ficaram
ao lado dos presos políticos detidos ilegalmente.
Aliado a isso,
exacerbaram o complexo de tico-tico no fubá, fazendo com que o povo entendesse
derrota no futebol como ofensa pessoal ou à honra da pátria, somente lembrada quando
é cantado o hino nacional em jogo da seleção. A exuberante imprensa que domina o Brasil, muitas vezes incitando
ódio contra o povo argentino ao qual chamam desdenhosamente de “hermanos”, colocou nas mentes dos submissos que
derrotas no futebol criam feias manchas indeléveis, o que é muito ruim para os
negócios e para o orgulho supostamente “nacional”; se somos pequenos e frágeis
em determinados momentos, devemos fragilizar e apequenar ao mais próximo,
hostilizando-o como a um feroz inimigo.
A serviço de quais
interesses escusos e indignos essa imprensa, a partir da paixão pelo futebol
tenta fabricar uma mentalidade chauvinista e mitômana no povo brasileiro? Ao
mesmo tempo, alardeia em todos os seus programas “extra-campo” – às vezes
escancaradamente, outras, de maneira subliminar – a suposta superioridade do
povo norte-americano e dos povos europeus, incitando a massa à servidão
intelectual e moral e apontando o capitalismo consumista e selvagem como norma
de vida. É uma imprensa que esconde a riquíssima cultura latino-americana,
provoca a desunião entre o Brasil e as demais nações da América Latina e prescreve
o materialismo que transforma as pessoas em produto alienado.
E faz as suas
experiências sociológicas. A mais recente e visível foi lançar os embriagados
por futebol contra os argentinos, provocando idêntica reação, o que gerou
discussões e brigas que não serão esquecidas, mas incentivadas. O resultado foi
a maior parte do povo torcendo a favor da Alemanha, não pelo futebol
apresentado, que desintegrou a seleção brasileira, mas devido ao receitado ódio
contra os argentinos. Surgiram mulatos alemães, negros alemães, índios
alemães... Uma incrível legião de alemães que não se supunha existir no Brasil.
Ainda estão festejando a vitória da Alemanha como se fosse a vitória do Brasil,
porque é preciso fingir que não houve derrota e se deve substituir as lições da
humildade pelo falso orgulho das feras irracionais.
Texto de impacto, pois mostra bem o quanto somos direcionados para o pior em todas situações. Continuam querendo uma América Latina cada vez mais esquecida. Parabéns!
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