- E então, seu Chico,
como é mesmo que nós andamos?
- No compasso do
Bugio. E haveria de ser diferente? Veja o senhor que o Bugio é o único ritmo
gaúcho originalmente rio-grandense. Os outros, como o Chamamé, a Milonga, a
Vanera e o Vanerão, são de origem platina. Sem contar as polcas, as valsas, as
rancheiras (que é uma versão da Mazurca) e o Xote – todas oriundas da Europa, e
aqui fizemos as nossas variações.
- E tem as marchinhas
alemãs...
- Pois é. Só poderiam
ser alemãs, não acha? Quem melhor para marchar que os alemães? O senhor já viu
algum alemão tocando milonga ou chamamé? É um povo marchador até na música.
- Dizem que é uma
questão de postura, seu Chico.
- Pois não é? Para
marchar é preciso estar com o peito estufado, como se fosse um soldado. Alemão
é assim. Mesmo quando está capinando, consegue fazer um “L” perfeito com o
corpo. Eles são uma raça diferente, muito diferente de nós, os pelos-duros,
como eles gostam de dizer.
- Vai ver que é
porque eles têm os pelos moles, seu Chico.
- Muito moles. Tão
moles que eles têm que viver o tempo todo estaqueados, retos, para dar a
impressão que os pelos não vão cair – principalmente quando caminham, ou
marcham.
- Isso é orgulho, seu
Chico. Eles se consideram superiores aos demais povos.
- Muito superiores!
Basta olhar para um alemão pra gente pensar: “Lá vem um ser superior.” Um
alemão a gente distingue de longe, mesmo dentro de um grupo grande: é sempre
aquele que está olhando pra frente, caminhando como se fosse um robô. Por falar
nisso, o time deles...
- Fez 7 na seleção do
Brasil, seu Chico.
- É o que eu ia dizer.
Nem teve graça. Esses brasileiros me deixaram até envergonhado com aquela tal
de seleção. Mas não foi por acaso. Os alemães treinaram anos e anos aquelas
jogadas. Estilo alemão. O senhor não viu que eles não davam um único drible?
Era só passe: um toca pro outro que toca pro terceiro que vem e chuta e gol!
Uma seleção robotizada. Cada jogador trazia tudo programado dentro da sua
cabeça. Nenhum drible, nenhuma ginga, nenhum enfeite! Tudo retilíneo e
uniforme.
- E ainda ganharam a
final da Argentina.
- Só na prorrogação e
depois que a Argentina perdeu três ou quatro chances de gol. E sabe como é que
eles festejaram na Alemanha?
- Uma vergonha, seu
Chico! E eu que pensava que os alemães já estavam vacinados depois de perderem
duas guerras na corrida.
- Esse tipo de vacina
tem prazo de validade. Não é que eles começaram a debochar dos gaúchos? Mas só
depois de voltarem pra Alemanha, se ainda estivessem aqui iam apanhar de relho.
Diziam: “Alemão anda assim” – e caminhavam direito. Depois se curvavam e
diziam: “Gaúcho anda assim.”
- É que eles pensavam
que gaúcho é só na Argentina.
- Santa ignorância! E
ainda dizem por aí que alemão é uma raça de gente inteligente... Não só
ofenderam os argentinos, como os uruguaios e nós, aqui da República
Rio-Grandense.
- É de se esperar que
o governador do Rio Grande proteste contra essas ofensas, seu Chico.
- É de se esperar,
mas não espere muito. Veja só o nome dele: Tarso Fernando Herz Genro. É alemão,
e de origem judia como a Ângela Merkel, pelo que me consta.
- Então não existe
ninguém que nos defenda!
- Só nós mesmos. E
desde 1845 tem sido assim, com breves intervalos para os governos do Getúlio e
do Jango. Mas voltando ao assunto: dizem que o Messi passou mal durante aquela
partida contra os alemães.
- Ouvi falar alguma coisa.
Ele teria enjoado, seu Chico?
- Parece que até
vomitou. E eu sei a razão.
- Qual é?
- Nojo.
S,Chico sempre inovando em suas opiniões que retratam muito bem os temas abordados. Muito boa matéria com seus toques oportunos. Parabéns!
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