Foi pouco. A Alemanha
ficou com pena daquele time que vestia a camisa da seleção e não quis fazer
mais de 7. Conta de mentiroso, já bastava. Alguns comentaristas de futebol,
ainda imbuídos da ufanista euforia da véspera, afirmaram que foi um acidente,
que nem em cem anos a Alemanha repete placar igual. Repete sim. É só pegar o
mesmo time, com ou sem Neymar. E não só a Alemanha. Qualquer time medianamente
bem estruturado vence com certa facilidade esta seleção brasileira. O Brasil
teve sorte de não pegar o Uruguai ou a Bélgica nas quartas-de-final. Enfrentou
a alegre Colômbia, que só não empatou porque terminou a partida. Teve sorte com
o Chile, que conseguiu errar mais cobranças de pênalti depois de ter dominado o
jogo.
Morte anunciada.
Desde a primeira partida, contra a Croácia, viu-se um time amorfo e
desconjuntado. A seleção ganhou graças a um pênalti inexistente em Fred e ao
fato do árbitro ter anulado um gol legítimo da Croácia. Mas o ufanismo
aumentava. Via-se que era impossível aquele time vencer a Copa do Mundo e eu
inclusive brinquei ironicamente em uma ou duas matérias que a seleção
brasileira somente seria campeã com a ajuda da arbitragem em todos os seus jogos e
que, se fosse assim, a final certamente seria com o aliado político Estados
Unidos – país de reconhecido péssimo futebol.
Falava-se muito em Neymar, o
conhecido garoto-propaganda que foi guindado ao nível de craque pela mesma
imprensa que disse que o Brasil tinha um grande time. Este é um país de
brincadeiras e piadas. Um país onde o povo acredita em aparências. Uma das
piadas que surgiram pouco depois da lesão do Neymar era ele, ainda na maca,
perguntando para o médico se o seu penteado fora desfeito. Tentaram iludir a
todos, mais uma vez conseguiram manipular as mentes de milhões de brasileiros
esperançosos, que agora estão chocados com a derrota vergonhosa no seu esporte
preferido. A grande maioria não entende nada. O que houve? Houve que a
realidade caiu em cima. Hora de acordar. Chega de faz de conta.
Faz de conta que o
Brasil ia ganhar a Copa. Faz de conta que havia uma grande seleção brasileira.
Faz de conta que o Felipão é um ótimo treinador. Faz de conta que a seleção
tinha uma excelente defesa. Faz de conta que o meio-de-campo era perfeito. Faz
de conta que o ataque era fabuloso. Faz de conta que o Neymar é um craque. E
muitos ainda acreditam e seguirão acreditando nessa infinidade de invenções,
mesmo que a medíocre seleção volte a perder ridiculamente. A imprensa
especializada já está procurando maneiras de dizer ao povo que a goleada foi
episódica, casual, acidental, quando só não vê quem não quer ver que esse grupo
de jogadores chamado de seleção não pode representar o que temos de melhor no
futebol.
É absurda a afirmação
de que se Neymar estivesse em campo o resultado seria outro. Perderia de
qualquer maneira, com mais ou menos gols. É bom lembrar que o Santos de Neymar
levou quatro a zero do Barcelona, e Neymar quase não tocou na bola. A verdade é
que a seleção estava esperando para perder para o primeiro time de verdade que
encontrasse pela frente. E perdeu feio, com justiça no placar, que só não foi
maior porque a Alemanha desistiu de atacar depois do sétimo gol.
Com Pelé e Garrincha
a seleção brasileira deu vexame na Copa de 1966, na Inglaterra, sendo eliminada
na primeira fase da competição. O restante do time era muito fraco e havia, na
época, a mesma sensação de ufanismo que agora. Só não levou alguma goleada
porque aqueles jogadores eram mais esforçados, mais guerreiros e sabiam honrar
a camisa da seleção.
Os jogadores desta
seleção brasileira se preocupam muito com prêmios, dinheiro, honrarias e
propaganda. A maioria deles joga em clubes estrangeiros, onde tem a fortuna
garantida. Em pouco tempo esquecerão a humilhação, mas o povo brasileiro continuará
com esse sentimento de culpa como se todos tivessem entrado em campo. A
vergonha passa a ser nacional, mas os jogadores serão eximidos da culpa. Dirão
que o único responsável é o treinador, quando o grande erro de Felipão foi ter
convocado essa gurizada.
É hora de acordar não
só para o futebol, mas, principalmente, para a realidade brasileira. O
verdadeiro desastre, a real tragédia, foi o imenso desperdício de dinheiro
público na construção de estádios faraônicos, reprimindo-se brutalmente as
legítimas manifestações populares em uma reedição branca da ditadura militar;
encurralando-se os favelados para que os estrangeiros não vissem a nossa
miséria e deixando-se de lado setores sociais básicos, como educação e saúde.
Fizeram do Brasil um circo, onde os palhaços somos nós. Está na hora de dar um
basta a tudo isso. Hora de enfrentar de frente a realidade e não de ficar
brincando ou se lamentando com a desonra que é só deles, da ridícula seleção de
mercenários.
Muito boa matéria mesmo! Análise perfeita sobre o futebol e o Brasil, e outras coisitas más. Parabéns!
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