Não há esquerda nestas
eleições. Ou por outra, há uma esquerda apagada, sem espaço para divulgar as
suas idéias e os seus programas - representada por partidos como PSTU (Partido
Socialista dos Trabalhadores Unificado), PCB (Partido Comunista Brasileiro),
PCO (Partido da Causa Operária) e, talvez, o PSOL (Partido Socialismo e
Liberdade). Entre esses partidos existem pequenas divergências de linha
doutrinária e, curiosamente, mesmo sabendo que as eleições são uma farsa criada
para legitimar a nossa fraudada democracia, fazem questão de corroborá-la ao
lançar os seus próprios candidatos. Talvez para que suas siglas se tornem
conhecidas do grande e alienado público, mas o público alienado, mesmo sendo
grande, não pensa, não raciocina e é facilmente manipulável. O mais correto
para a verdadeira esquerda seria a união e, se a união é impossível no momento,
a não participação em eleições com cartas marcadas deveria ser a opção mais
saudável.
Enquanto isto, o PT segue
esbravejando que é de esquerda, Dilma e seus seguidores vestem-se de vermelho
passando para a grande multidão dos amestrados que ser de esquerda é uma
questão de aparência. Ou uma questão moral. No segundo caso, o PT é o partido
menos indicado a falar de moral ou de ética, perdeu-se no lamaçal de contínuas
corrupções e não sabe viver sem o vício cotidiano. No primeiro caso, as vestes
vermelhas poderão iludir, este é o país do carnaval e muita gente gosta de
votar em palhaços, malabaristas e outras atrações do circo chamado Brasil.
E existe uma direita
extremamente burra. Como toda direita, tende a ser reacionária, ou seja, a
reagir automaticamente contra toda e qualquer mudança, mesmo as mais superficiais,
como as promovidas pelo governo do PT com o intuito de chamar para o seu bloco de
sujos as minorias até então discriminadas. A isso a direita chama de “comunismo”,
revelando a sua incapacidade de raciocinar coerentemente sobre política, e
nessa reação usa do maniqueísmo mais primário e não apresenta propostas
progressistas, porque tende a ser estanque como um poço de águas paradas que
deseja eleger-se para o status de rio, desde que todos os rios se transformem
em poços.
É essa direita retrógrada que
faz do PT um partido de “esquerda”, ainda que o PT – e seus aliados do momento –
faça uma política contra a reforma agrária, alie-se ao agronegócio das grandes
empresas latifundiárias que devastam nossos campos e florestas, faça coligações
espúrias com políticos que detêm votos a cabresto, como Maluf e Sarney, discrimine
e criminalize a pobreza, pauperize o ensino e destrua a língua portuguesa, una-se
às grandes empresas nacionais e internacionais, promova a privatização,
entregando as nossas riquezas, atue no campo internacional apoiando
descaradamente Estados Unidos e aliados – em ações como a invasão do Haiti e o
cerco do Líbano -, consinta em deixar o Brasil como eterno país dependente de
tecnologia, limitando-se às exportações e sinta-se confortável com o crescente
aumento de analfabetos funcionais, fonte dos seus milhões de votos.
A essas ações petistas a direita
estagnada chama de “comunismo”. E tenta fazer com que militares enraivecidos e
com mentalidade medieval partam para um golpe de força caso o PT não perca as
eleições. O que seria um ato de covardia e desvendaria ainda mais a comédia da
democracia consentida. Dificilmente acontecerá, porque o PT é o grande aliado
da direita. Qual a diferença entre PT e PSDB? As siglas. Os dois partidos são a
favor da privatização, promovem o neoliberalismo, aceitam a globalização
impingida pelos meios de comunicação a serviço dos Estados Unidos, propõem
mudanças cosméticas e são absolutamente contra o nacionalismo. O PT foi criado
para promover o sonambulismo nacional, e está cumprindo a sua missão. Foi além,
desejou mais do que o salário prometido e descobriu pântanos muito
particulares. Mas é o partido ideal dos latifundiários e empresários de todos
os setores. O partido capitalista por excelência. Golpear o PT é o mesmo que
golpear o capitalismo em seu momento triunfal, quando se disfarça de vermelho e
faz alegres passeatas ululantes.
Resta o quê? A Marina? Quem é a
Marina? O que é a Marina? Não é de esquerda, por que deriva do PT, mas
demonstra sensibilidade e discernimento. Ao mesmo tempo, ingenuidade quando
acena para políticos de todas as facções para formar o governo com os “melhores”,
caso seja eleita. O que são “os melhores”? Os tecnocratas ou os menos
corruptos? É acusada de ser evangélica - o que antes é um elogio do que uma
acusação. Desconfio da mentalidade destrutiva dos ateus. As pessoas
espiritualizadas defendem valores morais e são menos propensas a qualquer tipo
de corrupção. Além disso, Marina é ambientalista, e não se pode dizer o mesmo
de Aécio ou de Dilma - tão orgulhosa das suas predadoras usinas, notadamente a
de Belo Monte.
A princípio, Marina seria uma
opção de pureza, quase uma ilha em meio a um oceano político depravado por
perversões, em plena decomposição moral.
De início, quando Marina foi
lançada como candidata à presidência, logo após o suposto acidente que vitimou
Eduardo Campos, a “oposição” se eriçou. Aécio não decolava, sequer chegava
perto do aeroporto, e tratava-se de derrubar o PT. Para isso, servia qualquer
um, inclusive Marina. Quem sabe ela poderia ser usada... Foi só no início.
Naquele momento, as pesquisas a elevaram ao topo. Não confio em pesquisas,
assim como não confio em urnas eletrônicas: ambas são passíveis de fraudes. As
pesquisas manipulam a opinião pública; as urnas eletrônicas podem ser
programadas, e delas não se pode pedir a recontagem dos votos.
Depois, alguma coisa aconteceu,
e não foram os discursos ufanistas da Dilma. Curiosamente, até o Aécio passou a
hostilizar a Marina, refletindo o pensamento do PSDB, que é a outra face do PT.
Ambos – PT e PSDB – sentiram medo de uma desconhecida terceira força, com a
qual talvez não possam negociar cargos, conforme estão acostumados.
Então as pesquisas mudaram. Se
o Aécio não pode ganhar, que vença a Dilma - vaticinaram os áugures da “oposição”.
E esse pensamento levou as pesquisas a revelarem um súbito desejo dos
brasileiros de reeleger a Dilma. “Esta nós já conhecemos” – dizem entre si os
amigos opositores. Quanto à Marina... Quem é a Marina? O que é a Marina? Dilma
subiu nas pesquisas junto com o dólar, favorecendo as exportações. A política é
um grande negócio, quem dá mais?
Na ausência de esquerda, devido
à repressão ao discurso ideológico, a direita esclarecida optou pela Dilma.
Provavelmente, se houver segundo turno, grande parte dos votos do Aécio irá
para o PT, apesar de todas as conhecidas (e as ainda desconhecidas) corrupções
envolvendo setores do governo. A “oposição” sempre receberá a sua fatia. O que
não se consente é a existência de uma esquerda de verdade no Brasil. Mais uma
vez, estas eleições serão decididas entre a centro-direita e a direita. As
pesquisas e as urnas se encarregarão do resultado.
Muito boa análise sobre os candidatos, eleições, esquerda, direita.... Parabéns!
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