Apontamentos éticos
de uma galinha.
1º. Não se deve bicar
o milho dos outros. A não ser que os outros não percebam.
2º. Quem rouba não
vai pro Céu, mas eu não enxergo o Céu porque só olho pra baixo; logo, o Céu não
existe.
3º. Na política do
galinheiro, todas são iguais perante o galo. Menos eu, que sou uma galinha feminista
e pragmática.
Assisti pela TV
Câmara a sessão conjunta do Congresso Nacional que votou a manobra para acabar
com a Lei de Responsabilidade Fiscal. Todos os que votaram a favor do
decreto-lei da Dilma vão ganhar R$748.000 e a presidente de um terço dos
brasileiros vai ser inocentada do crime de irresponsabilidade fiscal. Dizem os
mais inteligentes que o STF poderá intervir, anulando o decreto-lei, mas o STF –
todos sabem – em sua maioria é formado por pessoas simpatizantes do PT, logo...
Os deputados
comprados preferiram não falar, ou falar muito pouco: estavam loucos para que a
nova lei de irresponsabilidade fiscal fosse aprovada rapidamente para pegarem o
seu dinheirinho. Em algumas tomadas de cena da TV Câmara, percebi que muitos deles,
quando não dormiam, riam muito. Cinismo ou coerência? Esta é uma questão para
ser debatida no Café Filosófico e Esotérico dos políticos que nos roubam por
decreto.
A oposição, ao
contrário, manteve-se acordada e alguns dos seus deputados e senadores fizeram
longos discursos que apelavam para a moral e a ética dos deputados e senadores
comprados. Como já estavam comprados e não sabiam mais o que era ética ou moral,
os governistas não entenderam nada e bancavam os “abestados”, como diz o
Tiririca: riam e contavam piadas. Também escarneciam dos oposicionistas que
discursavam; sapateavam e davam grandes gritos. Estavam histéricos, lembrando
alunos da 1ª série na hora do recreio.
Ficou claro que são
deputados e senadores que pretendem fazer grande fortuna obedecendo ao
Executivo. Engraçado foi ouvir os argumentos dos representantes do PSOL ao
justificarem os seus votos a favor do decreto da Dilma. Não me lembro dos nomes,
mas um deles fez um esganiçado discurso em que misturava trabalhadores com
banqueiros, e de quebra xingava o FMI; o outro, mais sisudo e com uma barba que
alongava o pequeno rosto deu a entender que sempre foi contra responsabilidade
fiscal. O PSOL, como todos sabem, não se vende.
No trono de madeira,
o presidente da sessão era uma graça, hesitando entre dormir e se manter
desperto. Para isso tinha um “batedor”, conforme narra Swift em “Viagens de Gulliver”.
“Batedores” são pessoas muito atentas e prestes a trazer de volta ao nosso
mundo os grandes pensadores que divagam em espaços mentais inatingíveis aos
meros mortais, e recebem uma batida no ouvido sempre que alguém fala com eles.
No caso, o “batedor” do presidente da sessão era chamado de secretário, e todos
se deram conta que sem ele nada aconteceria, tamanha a confusão do presidente
que volta e meia se queixava do adiantado da hora e fazia de tudo para que os
membros da oposição falassem o mínimo possível.
Foi uma grande piada.
As galerias estavam desertas, é sabido que aqueles que roubam ou recebem escuso
dinheiro gostam de fazê-lo às escondidas. Temeroso, o presidente da sessão proibiu
o povo de entrar na sua casa, provavelmente porque lá se faziam negócios que
deveriam ser encobertos. Já temos a ditadura do Executivo, o Judiciário vem
sendo aparelhado pelo partido do governo e agora foi oficializada a ditadura do
Legislativo. O cenário está completo e os Três Poderes podem barganhar
livremente entre si, sem espectadores.
Se o povo se queixar
deve ser lembrado de que muito breve vem aí o Carnaval, que o fará adotar a pragmática
ética da galinha, pulando e cantando com voz de falsete, como os congressistas
corruptos, fingindo que nada está acontecendo. Evidentemente, não todo o povo.
Aécio Neves diz que o Brasil acordou. Vamos esperar que seja verdade.
. Mais escutei do que vi, mas foi exatamente assim. Uma vergonha. Como mudar essa mentalidade, heim Blogueiro?
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