quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

A PRAGMÁTICA ÉTICA DA GALINHA





  
    Apontamentos éticos de uma galinha. 

   1º. Não se deve bicar o milho dos outros. A não ser que os outros não percebam. 

  2º. Quem rouba não vai pro Céu, mas eu não enxergo o Céu porque só olho pra baixo; logo, o Céu não existe. 

  3º. Na política do galinheiro, todas são iguais perante o galo. Menos eu, que sou uma galinha feminista e pragmática.


   Assisti pela TV Câmara a sessão conjunta do Congresso Nacional que votou a manobra para acabar com a Lei de Responsabilidade Fiscal. Todos os que votaram a favor do decreto-lei da Dilma vão ganhar R$748.000 e a presidente de um terço dos brasileiros vai ser inocentada do crime de irresponsabilidade fiscal. Dizem os mais inteligentes que o STF poderá intervir, anulando o decreto-lei, mas o STF – todos sabem – em sua maioria é formado por pessoas simpatizantes do PT, logo...  

   Os deputados comprados preferiram não falar, ou falar muito pouco: estavam loucos para que a nova lei de irresponsabilidade fiscal fosse aprovada rapidamente para pegarem o seu dinheirinho. Em algumas tomadas de cena da TV Câmara, percebi que muitos deles, quando não dormiam, riam muito. Cinismo ou coerência? Esta é uma questão para ser debatida no Café Filosófico e Esotérico dos políticos que nos roubam por decreto. 

   A oposição, ao contrário, manteve-se acordada e alguns dos seus deputados e senadores fizeram longos discursos que apelavam para a moral e a ética dos deputados e senadores comprados. Como já estavam comprados e não sabiam mais o que era ética ou moral, os governistas não entenderam nada e bancavam os “abestados”, como diz o Tiririca: riam e contavam piadas. Também escarneciam dos oposicionistas que discursavam; sapateavam e davam grandes gritos. Estavam histéricos, lembrando alunos da 1ª série na hora do recreio. 

   Ficou claro que são deputados e senadores que pretendem fazer grande fortuna obedecendo ao Executivo. Engraçado foi ouvir os argumentos dos representantes do PSOL ao justificarem os seus votos a favor do decreto da Dilma. Não me lembro dos nomes, mas um deles fez um esganiçado discurso em que misturava trabalhadores com banqueiros, e de quebra xingava o FMI; o outro, mais sisudo e com uma barba que alongava o pequeno rosto deu a entender que sempre foi contra responsabilidade fiscal. O PSOL, como todos sabem, não se vende. 

    No trono de madeira, o presidente da sessão era uma graça, hesitando entre dormir e se manter desperto. Para isso tinha um “batedor”, conforme narra Swift em “Viagens de Gulliver”. “Batedores” são pessoas muito atentas e prestes a trazer de volta ao nosso mundo os grandes pensadores que divagam em espaços mentais inatingíveis aos meros mortais, e recebem uma batida no ouvido sempre que alguém fala com eles. No caso, o “batedor” do presidente da sessão era chamado de secretário, e todos se deram conta que sem ele nada aconteceria, tamanha a confusão do presidente que volta e meia se queixava do adiantado da hora e fazia de tudo para que os membros da oposição falassem o mínimo possível. 

   Foi uma grande piada. As galerias estavam desertas, é sabido que aqueles que roubam ou recebem escuso dinheiro gostam de fazê-lo às escondidas. Temeroso, o presidente da sessão proibiu o povo de entrar na sua casa, provavelmente porque lá se faziam negócios que deveriam ser encobertos. Já temos a ditadura do Executivo, o Judiciário vem sendo aparelhado pelo partido do governo e agora foi oficializada a ditadura do Legislativo. O cenário está completo e os Três Poderes podem barganhar livremente entre si, sem espectadores. 

    Se o povo se queixar deve ser lembrado de que muito breve vem aí o Carnaval, que o fará adotar a pragmática ética da galinha, pulando e cantando com voz de falsete, como os congressistas corruptos, fingindo que nada está acontecendo. Evidentemente, não todo o povo. Aécio Neves diz que o Brasil acordou. Vamos esperar que seja verdade.

Um comentário:

  1. . Mais escutei do que vi, mas foi exatamente assim. Uma vergonha. Como mudar essa mentalidade, heim Blogueiro?

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