O jornalista Roberto
Pompeu de Toledo, em 29/11 publicou matéria na revista Veja intitulada “Caro Golpista”. Lembra o senhor Toledo que os
chefes militares das três armas declararam recentemente que estão inseridos
numa democracia e que golpe nem pensar. Aventa, porém, a possibilidade de que
os militares venham a mudar de idéia e decidam-se pelo golpe. O que
aconteceria? - pergunta o articulista. E menciona a censura, as torturas, as
mortes e outras barbáries ocorridas a partir de 1º de abril de 1964. Acrescenta
seriamente que Estados Unidos e países europeus não ficarão muito satisfeitos
com o golpe, que o governo golpeado se transformará em vítima, que surgirão
guerrilhas a partir dos movimentos sociais e fecha a matéria dando um recado ao
“amigo golpista” para que recolha sua faixa e faça oposição pacífica ao
governo. Mas o mais gozado é quando diz, no hipotético caso de um golpe, que “a
imagem de um general de óculos escuros sintetiza os acontecimentos no Brasil”.
Exatamente, na Veja. Você que é petista ou simpatizante
não se assuste, seja um pouco rebelde e leia a Veja. Leia a Veja, leia a
Isto É, a Época... Leia todas as revistas e jornais para poder formar o seu
senso crítico. É claro que umas repetem as outras e que em todas existem boas e
más matérias, além do quê a Veja
pretende dominar uma faixa da população que se entende de “direita” –
aquele tipo de gente que brada contra o governo, chamando-o de “comunista”, e
que nunca leu Marx ou, mesmo, Bakunin. Muito menos Gramsci. Não seja como eles:
leia. Ler faz bem, e não fique com medo de ser influenciado, porque, afinal,
você não é um bonequinho que qualquer partido, revista ou jornal poderá
manipular. Ou é?
Ora, a partir de abril
de 1964, os militares que tomaram o poder afirmaram que golpeavam as
instituições em nome da democracia – e hoje ainda dizem isso e organizam festas
nos dias 31 de março (e não no dia 1º de abril, porque não querem parecer bobos),
não por saudosismo de um novo golpe, porque o golpe já aconteceu e deu certo,
mas para se congratularem com a democracia que hoje defendem e que nasceu
naquela data. Uma democracia extremamente suspeita, onde existem urnas
eletrônicas fraudulentas, governos corruptos, um Congresso vendido e um Judiciário
muitas vezes acusado de estar sendo aparelhado pelo partido do poder – mas,
segundo os militares, é uma democracia. O modelo de democracia que eles
propuseram quando concordaram com a “redemocratização”.
Convém lembrar que em
1964 a luta se deu também dentro dos quartéis, com muita gente sendo presa,
expulsa e exilada. Era um tempo em que milhares de militares brasileiros ainda
defendiam a sua pátria, eram nacionalistas e não aceitavam a ideologia
entreguista daqueles que apelidaram de “gorilas”. Estavam prontos a lutar
contra o golpe, mas Jango fugiu. Assim, quando se fala em “militares”, com
certeza é uma alusão aos generais e coronéis, talvez capitães, que tem uma
ótima vida no atual governo, ao contrário dos militares de patente mais baixa.
Assim como naquela época. As divisões de classe existem em todos os setores da
sociedade, inclusive na caserna.
Esses militares apelidados
em 1964 de “gorilas” e que hoje recebem todas as benesses do governo é claro
que não querem um golpe. O golpe já foi dado, repito, e os presidentes civis
que se sucederam após os governos militares têm obedecido perfeitamente à
prescrição principal, que consiste em fazer um governo capitalista, de acordo
com as leis do mercado, obedecendo ao neoliberalismo econômico e à globalização
que desnacionaliza todos os países e os entrega de mãos amarradas ao império.
Pessoas que desejam
um golpe militar acreditam que os gorilas são contra o governo – o que não é
verdade. Nunca um governo foi tão afável com militares de patente superior, que
podem cercar favelas, invadir o Haiti para receber ordens dos militares dos
Estados Unidos, participam de operações da ONU na África, manobras da OTAN, etc.
Na verdade, este é um governo dos militares. Diferente daquele, porque permite
eleições, desde que devidamente monitoradas.
Além disso, aquele
golpe de 1964, que hoje perdura em mãos civis, foi orquestrado nos Estados
Unidos, visando acabar com o nacionalismo que os gorilas da época apelidaram de
“comunismo”. Quase conseguiram. Li em algum lugar que Dilma não é socialista ou
comunista, mas militarista. Estou começando a acreditar. Viram os óculos
escuros? Pode ser algum sinal esotérico aos seus amigos de farda. E o novo
ministério de extrema-direita, com Kátia Abreu e Joaquim Levy? Até a Veja está aplaudindo. A Veja, a Época, a Isto É... Todos
eles. É de se pensar que se consentissem na eleição do Aécio ele faria, ao
contrário do PT, um governo de centro-esquerda. Quem sabe até um governo
não-entreguista. Ao contrário do PT.
Penso, também, que as
manifestações contra o governo - que já estão sendo abafadas pela mesma
imprensa que as incentivou – se, por algum acaso, continuarem poderão ser reprimidas
– imaginem! – pelos militares.
No entanto, se você, “amigo
golpista”, insiste em chamar os militares para um golpe sob o pretexto de que o
governo Dilma está construindo um grande porto em Cuba, não se alarme, não é
uma questão ideológica. O Brasil dos governos civis é a quinta-coluna do
capitalismo na América Latina. Construir um porto em Cuba significa, em
primeiro lugar, incluir aquele país no livre mercado através do escoamento da
sua produção, e receber produtos estrangeiros para impulsionar Cuba de volta ao
capitalismo. Fidel castro está doente e fora do governo; Raúl Castro não é exatamente
um socialista convicto. Aliás, é maçom, e lembre que parte da Maçonaria apoiou
o golpe de 1964 no Brasil. Alie a isso o fato de que vice-presidente Michel
Temer também é maçom. Já foi chamado até de satanista, mas é só maçom. Também
Tarso Genro é maçom, além de outros líderes do PT e de partidos aliados. E
quase todos os presidentes dos Estados Unidos eram maçons, incluindo o atual,
Obama. Dá pra somar dois mais dois?
Então você dirá, “amigo
golpista”, que o governo brasileiro é bolivariano. Errado. O bolivarianismo é
uma espécie de socialismo que inclui o nacionalismo, o amor à pátria – o oposto
do PT, que não é nem socialista nem nacionalista. Muito pelo contrário. As
relações do governo brasileiro com os países da ALBA (Aliança Bolivariana das
Américas) é meramente comercial. E, se puder, o governo brasileiro tentará
cumprir “a missão” de destruir a ALBA através da divisão, atraindo alguns dos
seus países para o insosso MERCOSUL. De quebra, o nosso é um governo aliado da
Colômbia, país ocupado pelos Estados Unidos e cujo governo tem contra si duas
fortes guerrilhas populares. Também lá a “missão” do governo brasileiro
consiste em tentar desativar as FARCs – em primeiro lugar.
Ainda não convencido,
“o amigo golpista” poderá redargüir que o governo brasileiro está muito próximo
da política de Cristina Fernandez Kirchner. Novamente errado. O governo da
presidente Cristina Kirchner é nacionalista, posto que sustentado pelo partido
peronista e combate os abutres capitalistas, ao contrário do governo de Dilma e
aliados, que é um governo entreguista.
Neste momento, o
amigo – golpista ou não – ficará até tentado a entrar para o PT, que é o
partido do Novo Capitalismo, mas lembrará que o PT (e aliados) rouba muito, o
que já seria suficiente razão para um golpe (militar?).
Roubam, roubam muito
e estamos indignados com tamanha sujeira, mas a indignação deve ficar restrita
a conversas e comentários. Não se deve pensar em conspiração, porque os
militares a soldo de Dilma e aliados poderiam reagir com intolerância
desmedida. Eles também roubaram, roubaram muito em seus tempos de ditadura
militar, que agora é civil. A Polícia Federal que se cuide. Se continuar a
descobrir corruptos poderá ser substituída pelos militares, ou pelos militantes
do PT e aliados de todas as cores. A diferença é muito pouca.
É...Realmente o golpe já aconteceu. Muito boa análise sobre os militares e a política praticada no Brasil.
ResponderExcluirDe ante das circuntâncias é preciso refundar o Brasil...
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