Os brasileiros mais
atentos estão “estarrecidos” (como diria a Dilma) com a recente anulação do
processo sobre a morte do ex-prefeito de Santo André, Celso Daniel, assassinado
em 2002. A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal acolheu um pedido para
anular o processo, com base em divergências entre o Ministério Público, que
apontava motivação política, e a polícia civil, que afirmou que foi um crime
comum. Embora essa decisão do STF não extinga outra ação penal que está
respondendo Sérgio Sombra (o único beneficiado com a decisão, por enquanto),
todos os procedimentos realizados durante o curso da ação, desde 2003, ficaram
anulados, incluindo depoimentos de testemunhas, perícias, interrogatórios e sustentações
orais dos advogados e promotores.
A ação contra Sombra deverá ser refeita
desde a fase dos interrogatórios, em 2003. Não é a primeira vez que isso
acontece no caso do assassinato de Celso Daniel, onde o Partido dos
Trabalhadores é suspeito de ser o mandante do crime, que teria sido urdido por
Sérgio Sombra a pedido de líderes partidários.
O assassinato de Celso Daniel ocorreu
em janeiro de 2002. Celso Daniel e seu assessor e segurança Sérgio Gomes da
Silva, o Sombra, jantaram em um restaurante de São Paulo, na noite de
18/01/2002. Na volta para Santo André foram seguidos por três carros, a partir
da Vila das Mercês, zona sul de São Paulo, um caminho não usual para se chegar
a Santo André. O carro onde estava o prefeito era dirigido por Sombra e, mesmo
sendo blindado, parou depois de ser alvejado. Celso Daniel foi obrigado a
entrar em outro carro, enquanto Sombra era deixado em liberdade, armado e com
telefone celular. No dia 20, o corpo do prefeito foi encontrado em uma estrada de
Juquitiba, alvejado com onze tiros (outras versões afirmam que foram 13 tiros) e
marcas de tortura.
Afirma
o Ministério Público que Celso Daniel descobrira um esquema de corrupção na
Prefeitura de Santo André para financiar campanhas do PT, envolvendo
empresários do setor de transporte e integrantes do governo municipal. Os
políticos favoreceriam determinadas empresas em troca de propinas mensais. O
dinheiro iria para uma “Caixa 2” do PT. Celso Daniel estaria disposto a revelar
um dossiê (que teria desaparecido após o assassinato) contendo todo o esquema
de corrupção, incluindo nomes dos políticos envolvidos. Por esta razão, membros
do PT teriam ordenado a morte do prefeito, e o seqüestro seria uma desculpa
para caracterizar crime comum. As torturas que precederam o assassinato de
Celso Daniel provavelmente tinham como objetivo descobrir onde o ex-prefeito
guardara o dossiê.
Após
a morte de Celso Daniel, sete testemunhas foram assassinadas, incluindo o
agente funerário e o legista que atestou marcas de tortura no cadáver. Em
agosto de 2010, a promotora Eliana Vendramini, responsável pela denúncia que
apura o assassinato de Celso Daniel, teve o seu carro atingido repetidas vezes por
outro automóvel, fazendo com que capotasse três vezes. Salva pelo air-bag e
pela blindagem do carro, a promotora sofreu leves escoriações.
O
site “247” (http://www.brasil247.com), em 18 de janeiro de 2012 publicou
matéria de Claudio Julio Tognolli, onde o ex-juiz João Carlos da Rocha Mattos é
entrevistado sobre o caso Celso Daniel. Rocha Mattos, com 62 anos de idade na
época da entrevista, em 2011, até então tinha sido o único réu preso no caso do
assassinato do ex-prefeito de Santo André. A razão, segundo ele: estava de
posse de fitas comprometedoras, que a Polícia Federal teria editado e apagado.
Na entrevista (http://www.brasil247.com/pt/247/poder/1216/Exclusivo-Rocha-Matttos-reabre-caso-Celso-Daniel.htm)
Rocha Mattos afirma que a Polícia Federal não é independente do governo, mas
sim “uma polícia do governo, ela é comandada pelo Presidente da República e
pelo Ministro da Justiça”. As “fitas comprometedoras” sobre o caso Celso
Daniel, que foram apagadas e editadas, segundo Rocha Mattos, pela Polícia
Federal, podem ser ouvidas no site “247”, enquanto não forem censuradas ou
“hackeadas”, neste endereço: http://www.brasil247.com/pt/247/poder/36280/Vozes-do-além-as-fitas-do-caso-Celso-Daniel
Nas
gravações aparece o nome de Gilberto Carvalho, que exercia cargo de Secretario
de Governo na prefeitura de Santo André, na época do assassinato. Segundo a deputada
Mara Gabrilli, ele era conhecido como “o homem do carro preto”, aquele que
fazia a coleta das propinas para o PT junto aos empresários. Gilberto Carvalho
é considerado um dos homens mais poderosos do Brasil. Foi Chefe de Gabinete de
Lula e Secretario Geral da Presidência, durante o primeiro mandato de Dilma. Sabe
tudo o que acontece dentro do PT e do Governo.
Recentemente
deixou de ser ministro, talvez para poupar a imagem da Presidente ou para se
auto-preservar de possíveis lembranças quando do caso Celso Daniel. Ao entregar
o ministério para seu sucessor, Miguel Rosseto, Gilberto Carvalho repetiu a
frase: “Não somos ladrões!” Acrescentou: “A quem diz que perdeu as eleições
para uma quadrilha, quero responder que é essa a nossa quadrilha. Para eles,
pobre é quadrilha, essa é a quadrilha dos pobres, que foram injustamente
vencidos na história, que foram o tempo todo marginalizados e agora estão sendo
tratados minimamente com dignidade. Com muito orgulho quero dizer que pertenço
a essa quadrilha e vamos continuar mudando o país”.
Provavelmente
os pobres, que são mais de 6 milhões no Brasil, não sabem que estão sendo
supostamente amparados, em sua pobreza que rende votos, por uma quadrilha, à
qual Gilberto Carvalho confessou pertencer. A confissão de Gilberto Carvalho
faz parte da desesperada manobra do PT, que tenta lançar as camadas mais pobres
da população contra os seus adversários políticos que denunciam a escancarada
roubalheira na Petrobras. Sem contar o Mensalão e outros escândalos que o
partido governista tenta acobertar.
Um
deles, talvez o mais sério porque implica em assassinatos, é o caso Celso
Daniel. Outra versão a respeito é a de João Francisco Daniel, que afirma que
Celso Daniel sabia do esquema de corrupção que envolvia, inclusive, José
Dirceu. Conta o irmão do ex-prefeito que algumas pessoas começaram a desviar
para suas contas pessoais o dinheiro que já era desviado ilegalmente para o PT,
e Celso Daniel descobriu e preparou um dossiê, que sumiu após o seu
assassinato. Em 2012, Marcos Valério, operador do Mensalão, afirmou à
Procuradoria que o ex-presidente Lula e o ex-ministro Gilberto Carvalho estavam
sendo extorquidos por um criminoso envolvido no caso Celso Daniel.
O
que mais chamou a atenção foi o fato de membros do PT, como Gilberto Carvalho e
José Dirceu, em todos os momentos defenderem a tese do crime comum. Não se
preocuparam em examinar outras hipóteses e contaram com o apoio da Polícia
Civil de São Paulo - na época sob governo do PSDB - que defendeu a mesma tese.
Não seria a primeira vez que PT e PSDB trocariam favores. Os dois partidos que
hoje se anunciam opositores, na verdade são complementares e tem grande
interesse em transformar o prisma político-partidário brasileiro em somente
duas únicas vertentes políticas (a exemplo dos Estados Unidos, com
Conservadores e Democratas) que se revezariam no poder, eternizando o mesmo
projeto capitalista.
Tanto é assim, que Lula (e, posteriormente, Dilma) deu
continuidade à política aliancista e entreguista de Fernando Henrique Cardoso,
embora tenha aprofundado o discurso demagógico. É risível observar que petistas
se desculpam dos roubos dizendo que o pessoal do PSDB também roubou - o que
significa, apenas, que seguiram o exemplo, roubando muito mais “em nome dos
pobres”.
Roubar
e assassinar. O móvel do crime, de acordo com o Ministério Público seria o
roubo descoberto por Celso Daniel, que se dispunha a tornar público em um
famoso dossiê que sumiu. Quem também sumiu, com medo de ser assassinado, foi o engenheiro
e professor de economia Bruno Daniel, o outro irmão de Celso Daniel. Depois de
sofrer seguidas ameaças de morte, passou quase seis anos na França. Ele
pertencia ao PT e não acreditava na hipótese de crime comum.
De
acordo com Bruno Daniel e com o Ministério Público, Celso Daniel foi
assassinado sob encomenda do PT, ou de alguns dos seus membros. Elementos
pertencentes à organização criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) teriam
sido contratados para efetuar o assassinato. Alguns deles já estão presos, e
insistem que foi um crime comum; outros, que sabiam mais, foram assassinados.
Sérgio Sombra, o provável mentor intelectual do crime, está solto. Estão soltos
também aqueles que induziram Sérgio Sombra a organizar o assassinato.
O
processo do assassinato de Celso Daniel foi anulado, a pedido do advogado de
Sombra, sob a alegação de que a defesa não pode fazer questionamentos aos
outros réus e que haveria um conflito entre a versão da Polícia Civil e a do
Ministério Público. Dos sete réus do processo, seis já estão condenados,
prevalecendo a tese do Ministério Público de que houve “crime de mando”. Os
seis são bandidos comuns, que teriam sido contratados para matar Celso Daniel.
Restava Sérgio Sombra, acusado de ser o mandante. Foi solto porque Marco
Aurélio Mello e Dias Toffoli acolheram o pedido da defesa, enquanto Luís
Barroso e Rosa Weber não admitiram o habeas corpus. O ministro Luís Fux, que
foi indicado para a Corte com o apoio de Antonio Palloci e dos réus do
Mensalão, omitiu-se de votar, permanecendo ausente da sessão. Com o empate,
prevaleceu a defesa.
E
prevaleceu a impunidade, novamente. A dependência subserviente do Judiciário e
do Legislativo ao poder Executivo enseja a prática de crimes políticos, remete
a Justiça ao banco dos réus da opinião pública e torna a palavra “político”
sinônimo de criminoso. Todo o processo do assassinato de Celso Daniel terá de
ser refeito a partir da fase de interrogatórios, e alguém duvida que a
impunidade continuará a prevalecer? Vivemos em uma ditadura “branca” civil, que
sucedeu dignamente a ditadura militar em prepotência, roubos e assassinatos.
Quando Gilberto Carvalho disse “Não somos ladrões” deveria ter acrescentado
“Não somos assassinos”. Seria mais coerente.
Matéria de cunho investigativo e muito bem embasada. Boa lembrança, Blogueiro, pois este País não tem memória ou nos quer desmemoriados. Parabéns!
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