Os golpistas acusam o governo Dilma de tentar um golpe ao propor um plebiscito sobre a reforma política. De acordo com matéria da Veja, de 02/07/2013 o ex-ministro do STF, Carlos Velloso teria dito: “Nesse tipo de processo, há um risco muito grande de o povo ser usado para legitimar as posições do plantonista do poder. Ditadores sempre se valem de plebiscitos”. O que não é verdade. Ditadores são ditadores e execram a opinião popular. Plebiscito é exatamente o oposto da ditadura. Além do que, se é verdadeira essa declaração do ex-ministro do Supremo, ele está inferindo que estamos vivendo em uma ditadura. Inferindo ou afirmando, o que é muito grave, principalmente em se tratando de alguém que deveria conhecer a Lei e a diferença entre ditadura – ou “estado de exceção”, como preferiam os militares teleguiados por Washington – e estado de direito.
Nem todas aquelas manifestações foram de golpistas, mas a maioria foi por eles monitorada e manipulada de acordo com os seus interesses. Veja-se o vandalismo organizado e obviamente planejado – porque ninguém fabrica bombas incendiárias apenas para desopilar. Acrescente-se a isso a repetida frase “Nenhum partido!”, que parecia, a princípio, negar a representatividade oriunda dos partidos políticos e é palavra de ordem emitida pelo grupo Anonymous, o mesmo que se diz apartidário e que afirma que não é socialista, capitalista ou anarquista, muito antes pelo contrário.
No entanto, se lembrarmos que no período pré-’64 surgiram muitos movimentos que se diziam apartidários, como a TFP (Tradição, Família e Propriedade), a Campanha da Mulher pela Democracia, a União Cívica Feminina, a Fraterna Amizade Urbana e Rural – que culminou com a Marcha da Família Com Deus pela Liberdade, no dia 02 de abril de 1964, unindo todas aquelas pessoas que detestam democracia, reforma agrária ou qualquer tipo de fraternidade, urbana ou rural, e que acreditam que o mundo foi feito para eles que tem o poder do dinheiro - não é de estranhar que o redivivo golpismo use das mesmas armas que deram certo naquela época.
Não são muito criativos, concordo, mas essas armas aparentemente pacíficas servem como ensaio do golpe, tentativa de legitimar o uso das armas militares, que ferem, matam ou, no mínimo, servem para “prender e arrebentar”, segundo expressão utilizada pelo não muito saudoso general-ditador Figueiredo, antigo chefe do Serviço Nacional de Informação.
Usa-se a juventude porque se supõe (e, às vezes, corretamente) que a grande maioria dos muito jovens pode ser facilmente insuflada, principalmente em momentos de inflação em alta, de fuga de capitais que desestimulam o mercado, e de corrupção.
Dilma herdou do triste e desmoralizado Lula não só a herança de um governo corrupto e que se acreditava intocável, posto que social-democrata e adotando o liberalismo econômico que favorece somente o capital estrangeiro, ou seja, agradando a matriz sediada em Washington e revelando um PT submisso, como também o hábito de corromper os supostos adversários, a suposta oposição, através de cargos, através do “é dando que se recebe”, acreditando que assim, corrompendo os corruptíveis, poderia governar da maneira que bem entendesse.
É certo que essa maneira de fazer política vem desde antes de Fernando Henrique Cardoso – aquele que rejeitou os próprios livros -, um pragmatismo político que inclui a total ausência de ética como conseqüência do afastamento do povo das decisões mais importantes, uma vez que o sistema representativo permite que o povo apenas participe na hora de votar.
Também se diz que a corrupção vem desde o Brasil colônia (e quando deixamos de ser colônia?) – o que não justifica, apenas explica que esse tipo de maldade é planejada e aceita como natural pelos donos do poder.
Não acredito que Dilma seja corrupta, mesmo que tente corromper, a qualquer preço, o Xingu, através da construção da nefasta usina hidrelétrica de Belo Monte. Talvez não seja uma corrupção consciente. Talvez ela acredite que aquela construção é para o bem da nação, esquecendo-se que o mal provocado no presente não poderá jamais ser justificado pelo futuro e que milhares de indígenas e não indígenas da região do Xingu têm a sua vida ameaçada exatamente neste momento. Sem falar nos gravíssimos problemas ecológicos ocasionados com a construção daquela e de outras usinas hidrelétricas na região amazônica.
Fora isso, não vejo em Dilma uma pessoa corrupta. Não é um Lula maquiavélico ou um político daqueles que se vende a quem der mais. Lembra mais uma burocrata que tem como política a defesa das minorias, as causas assistencialistas nitidamente capitalistas e a tentativa de fazer do Brasil um Estados Unidos da América do Sul, uma filial do império do norte que, para que esse plano aconteça sem percalços, coloca as suas escutas provavelmente até dentro do Palácio do Planalto.
O Plano B é o golpe. E talvez seja o Plano A para a extrema-direita que não consegue nunca vencer uma eleição importante e está sequiosa do poder e de seus lucros. E golpe significa ditadura militar, a verdadeira ditadura que esta geração de manifestantes desconhece e contra a qual pensa lutar.
Uma ditadura de verdade não permite passeatas, protestos, manifestos; não propõe plebiscitos. Não ouve o povo e detesta partidos políticos. É um bloco fechado e nunca se saberá o grau de corrupção dos ditadores, porque a imprensa estará calada e até a Internet será censurada e vocês não poderão ler os meus protestos contra Belo Monte ou contra a monopolização da política pelos cegos políticos do PT e amigos dos outros partidos.
Também não será possível protestar contra a desinformação dos meios de comunicação que estão sempre ao lado do poder, seja ele de que lado for, usurpando ao povo a capacidade de crítica.
Uma ditadura é por si só massificante e dentro de uma ditadura não se pode gritar contra a massificação – como tentamos fazer agora. Uma ditadura de verdade não oferece opções. “Brasil: Ame-o ou Deixe-o” era o lema da ditadura militar, esclarecendo que aquele Brasil deles deveria ser aceito; caso contrário, a guerrilha ou a fuga.
Devemos propor, sim, a ditadura da democracia. Protestar contra tudo o que estiver errado e obrigar aqueles estranhos seres que formam o Congresso Nacional a legislar para o povo e deixar de esconder corruptos conhecidos e condenados, como José Genoíno, entre outros menos famosos.
E legislar para o povo é dar ao povo o que é do povo, com transparência e honestidade. Não só o Congresso Nacional. Também aqueles que algumas vezes se julgam legisladores e que compõem o Supremo Tribunal Federal devem aprender a conviver com o radicalismo da democracia. Enfim, todos aqueles que exercem qualquer cargo devem ouvir antes de pensar em mandar.
E não adianta voto distrital isto, voto assim ou voto assado, porque está provado que dentro desta democracia os votos não funcionam democraticamente, ou não teríamos movimentos sociais nas ruas, com ou sem anônimos oportunistas.
A única democracia verdadeira é a democracia participativa, quando os representantes deverão obedecer àqueles que os elegeram ou deixarão de ser representantes. Se é para haver uma reforma política que seja nesse sentido, ou de nada adiantará, apenas estará adiando – ou o golpe ou a revolução.
Ótima matéria com informações e análises dos protestos do povo brasileiro nas ruas. Concordo plenamente na orquestração do mesmo pela direita golpista, sempre à espreita para usar os ingênuos, aproveitando a desinformaçao que grassa em nosso país.
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