quinta-feira, 25 de julho de 2013

MÉDICOS NÃO QUEREM "MAIS MÉDICOS"


O programa “Mais Médicos” prevê o atendimento às populações carentes da maior parte do Brasil, através do oferecimento de vagas prioritariamente a médicos brasileiros interessados em atuar nas regiões onde faltam profissionais. No caso de todas as vagas não serem preenchidas, o Brasil aceitará candidatura de médicos estrangeiros, dando preferência aos médicos de Portugal, Espanha e Argentina, porque há carência de médicos, principalmente na periferia de grandes cidades e em municípios do interior do país. Estão previstos investimentos de 15 bilhões de reais até 2014 em infraestruturas de hospitais e unidades de saúde e para levar mais médicos para as regiões carentes de atendimento. Vinte e dois estados brasileiros possuem número de médicos abaixa da média nacional. E a média nacional é de 1,8 médicos para mil habitantes.

   O Brasil ocupa a 72º posição em um ranking de 139 países feito pela Organização Mundial de Saúde. O programa “Mais Médicos” pretende ampliar o atendimento público, porque o investimento no Sistema Único de Saúde (SUS), que é gratuito e atende aos 190 milhões de brasileiros, ainda é muito baixo. As despesas com o setor privado da saúde, a partir de convênios particulares, movimentam mais do que o dobro das finanças do SUS, sendo que os planos privados de saúde atendem a somente um quarto da população brasileira.

    O programa “Mais Médicos” tenta uma mudança no ensino da Medicina no Brasil. A partir de 2015, os alunos que ingressarem na graduação deverão atuar por um período de dois anos nas unidades básicas e nos serviços de urgência e emergência do SUS. Essa medida, além de aumentar significativamente o número de médicos atendendo no SUS, fará com que os formandos de Medicina tenham uma idéia clara da realidade da saúde da população brasileira, e pode ser que alguns dentre eles não se coloquem tão acima dos demais brasileiros que não são médicos e desenvolvam um mínimo de compreensão, solidariedade e sentimentos humanos.

   Não basta o juramento de Hipócrates, que muitos, no Brasil, apelidaram de “Juramento dos Hipócritas”. Leiam o que diz o famoso Juramento.

   “Eu juro por Apolo, médico, por Esculápio, Higéia e Panacéia, e tomo por testemunha todos os deuses e todas as deusas, cumprir, segundo o meu poder e a minha razão, a promessa que se segue: estimar, tanto quanto a meus pais, aquele que me ensinou esta arte; fazer vida comum e, se necessário for, com ele partilhar meus bens; ter seus filhos por meus próprios irmãos; ensinar-lhes esta arte, se eles tiverem necessidade de aprendê-la; sem remuneração e nem compromisso escrito; fazer participar dos preceitos, das lições e de todo o resto do ensino, meus filhos, os de meu mestre e os discípulos inscritos segundo o regulamento da profissão, porém, só a estes. Aplicarei os regimes para o bem do doente segundo o meu poder e entendimento, nunca para causar dano ou mal a alguém. A ninguém darei por comprazer, nem remédio mortal nem um conselho que induza a perda. Do mesmo medo, não darei a nenhuma mulher uma substância abortiva. Conservarei imaculada minha vida e minha arte. Não praticarei a talha, mesmo sobre um calculoso confirmado; deixarei essa operação aos práticos que disso cuidam. Em toda a casa, aí entrarei para o bem dos doentes, mantendo-me longe de todo dano voluntário e de toda sedução, sobretudo dos prazeres do amor, com as mulheres ou com os homens livres ou escravizados. Àquilo que no exercício ou fora do exercício da profissão e no convívio da sociedade, eu tiver visto ou ouvido, que não seja preciso divulgar, eu conservarei inteiramente secreto. Se eu cumprir este juramento com fidelidade, que me seja dado gozar felizmente da vida e da minha profissão, honrado para sempre entre os homens; se eu dele me afastar ou infringir, o contrário aconteça.”

   Uma versão atualizada desse juramento é utilizada no Brasil:

   “Prometo que, ao exercer a arte de curar, mostrar-me-ei sempre fiel aos preceitos da honestidade, da caridade e da ciência. Penetrando no interior dos lares, os meus olhos serão cegos, minha língua calará os segredos que me forem revelados, o que terei como preceito de honra. Nunca me servirei da minha profissão para corromper os costumes ou favorecer o crime. Se eu cumprir este juramento com fidelidade, goze eu para sempre a minha vida e a minha arte com boa reputação entre os homens; se o infringir ou dele afastar-me, suceda-me o contrário.”

   Bonito. Algumas coisas foram retiradas do juramento original, mas nada que modifique muito. Observe-se que há uma promessa e não um juramento. E outros detalhes, como lembrar que médicos, com raríssimas exceções, não “penetram nos lares”. Não mais. Atendem em seus consultórios. Deus não é citado, tampouco a proibição de praticar aborto Jurar é um compromisso perante o sagrado; prometer, nem tanto.

   O Conselho Federal de Medicina não quer o programa “Mais Médicos”. É contra a probabilidade de contratação de médicos estrangeiros, na falta dos brasileiros. Prefere que a saúde pública continue como está ou é birra contra médicos estrangeiros? Não se sabe exatamente. É voz comum que os nossos médicos não são muito chegados a atender ao público pobre, às pessoas que recorrem ao SUS. Não dá dinheiro ou são mal remunerados, e todos sabem que médicos têm a suprema aspiração da riqueza e status social como motivo principal para cursarem Medicina. Você conhece algum médico pobre? Eu conheço um ou dois que não são exatamente ricos, mas pobres... Pois o Governo oferece R$10.000, mais auxílio disso e daquilo para os médicos que se candidatarem a trabalhar junto aos pobres. O Conselho Federal de Medicina é contra. Será que dez mil reais por mês é muito pouco para a classe médica brasileira?

   É um trabalho aparentemente simples. Veja que os médicos brasileiros são extremamente dependentes dos laboratórios, dos exames. Não conseguem diagnosticar sem o apoio laboratorial. Exceto quando atendem no SUS: nem olham para o rosto dos doentes e vão logo receitando. São especialistas em receitar remédios para sintomas. Talvez por isso as pessoas prefiram ir diretamente às farmácias, que tanto tem proliferado.

   O Governo faz o que pode, ou o que acredita ser o melhor, justamente em um momento em que se critica tanto a saúde no Brasil. Tenta soluções. Mas o Conselho Federal de Medicina deseja seus médicos como deuses e talvez seja o caso de se pensar em terapias alternativas à medicina alopata, que é considerada a única “verdadeira”.

   Acupuntura, shiatsu, medicina chinesa, fitoterapia, iridologia, florais, cromoterapia, reflexologia, naturopatia, radiestesia, homeopatia, reiki – são algumas das terapias alternativas. Com a vantagem de que tratam o ser humano como um todo, indo direto às causas e não se limitando aos sintomas. Não usam drogas agressivas, que sempre tem contra-indicações, como na alopatia. Por esta razão, não são dependentes da indústria farmacêutica.

   Imagine um médico alopata, hoje em dia, sem o apoio dos grandes laboratórios. Imaginou? Fechariam os consultórios. Esta a principal razão porque a medicina “oficial” combate tanto as terapias alternativas, chamadas de complementares por alguns. Existe, inclusive, uma não muito surda caça às bruxas e bruxos, com médicos famosos participando de programas midiáticos de grande público para “alertar” as pessoas contra as terapias alternativas. Sem contar as revistas e jornais que fazem grandes matérias a respeito, concluindo, ao final, que não está provado que as terapias alternativas funcionem.

   Quando acabou oficialmente a ditadura militar no Brasil, pensei que estava na hora de acabar também com outras ditaduras. Uma delas é a da medicina alopata, que provoca a dependência de remédios ao atacar sintomas e agredir os organismos. Esse tipo de medicina é tão ditatorial no Brasil que os médicos, quando se sentem ameaçados em suas regalias, fazem greve. E com a greve, passam a ameaçar a população, que fica desassistida. Como agora. Todos dependem deles. Até o Governo.

Um comentário:

  1. Muito à propósito a matéria sobre a já famosa discussão sobre a medicina no Brasil. Aliás, medicina essa em que o povo nunca esteve tão à margem. Parabéns pelo enfoque baseado em informações precisas e embasadas.

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