- Li a sua matéria sobre a espionagem dos USA E ABUSA e não gostei – disse o seu Chico, enquanto chimarreávamos observando a chuva da varanda envidraçada da sua casa.
- Não gostou, seu Chico? E eu que
pensava que o senhor era o meu leitor número 1...
- E ainda sou. Não gostei de saber
que eles continuam com essa mania neurótica de espionar todo o mundo. São uns
loucos. Mais que neurose, é paranóia. Que medo que eles têm das pessoas! Vêem
terrorista em tudo o que é canto, desde que eles mesmos derrubaram as Torres Gêmeas, segundo o que consta, para poderem ter a desculpa de invadir Iraque, Afeganistão, e agora querem a Síria, depois o Irã, depois a Rússia e só vão
parar quando acabarem com o mundo. Pois não é que andam envenenando presidentes
para provocar câncer? O Evo Morales e o Pepe Mujica que se cuidem! Depois de
muitas tentativas, conseguiram matar o Chávez, pensando que matar uma pessoa
liquida com ideais. Eu nunca caí naquela de que o Getúlio se suicidou. A carta
ele até pode ter escrito, mas para conclamar o povo à revolta contra os
golpistas daquela época, que, aliás, são os mesmos de agora. E sempre com
dinheiro dos Estados Unidos.
- E a gurizada vai atrás, seu Chico.
- A gurizada quer farra! E esses Anonymous?
O senhor não imagina que deve ter alguns bons trocados por trás de toda aquela
demagogia deles? É claro que muito corrupto deve ser corrido lá pra aquele país
e tem muita coisa errada que deve ser corrigida, e já!, mas estão usando isso
para derrubar a dona Dilma, provocar o caos político e chamar os milicos de volta, que estão muito faceiros e afiando as baionetas.
- Não vai ser tão fácil desta vez,
seu Chico. Os trabalhadores se uniram no Dia de Lutas justamente para impedir o
avanço da direita.
- Seria bom se fosse verdade. A
classe trabalhadora está tão desunida que dá pra ver quem é quem só pelos
sindicatos. A UGT e a Força Sindical não são sindicatos de direita que apóiam o neoliberalismo? O que sobra? A CUT, que nunca se sabe de que lado está, embora
ostente ser uma quase esquerda e o CONLUTAS, que é do PSTU - um partido que se
diz de esquerda e muitas vezes tem assumido as pautas da direita. É contra
Fidel, contra Cuba, contra os governos bolivarianos, a favor da entreguista
Yoani Sánchez e por aí vai... O PSTU é uma esquerda no mínimo muito suspeita.
- E olhe que eu já participei
daquele partido, seu Chico. Foi quando me desiludi com o Lula e o PT.
- E não foi o senhor que me disse
que foi a um seminário do PSTU em Porto Alegre, naquela época, e ficou
apavorado com o analfabetismo político daquele pessoal, que usava expressões
como “esquerdizante” e “trotskizante”?
- De lá pra cá pode ser que tenha
mudado alguma coisa... O senhor não acha que é muita coincidência os movimentos
populares contra a Dilma, o PT e a esquerda em geral e a descoberta da
espionagem dos Estados Unidos no Brasil e no mundo?
- Na verdade, coincidências não
existem, mas fatos que se relacionam. Eu li em algum lugar que os Estados
Unidos estavam monitorando as manifestações no Brasil. Eles estavam e estão monitorando muito mais do que isso.
- Dizem que eles tinham um orelhão à
disposição em Brasília, o que seria ridículo. Eles têm todos os satélites e
todos os telefones que desejarem. Imagine, seu Chico, que tem gente que defende
isso. Aqui no Brasil. Gente que acredita que serviço de espionagem é coisa
muito bonita e ética.
- Cabeças fracas! Este país está
ficando tão aculturado pela mídia vendida e perdendo tanto da sua cultura
original que grande número de pessoas pensa que quem não fala inglês é que é analfabeto. Como naquela música ingênua do Caetano Veloso que diz algo assim:
“Você precisa aprender inglês...”. De lá pra cá toda uma geração de cabeças
fracas acreditou nessa grande “verdade”. Não que não seja importante aprender
idiomas, mas em primeiro lugar o português e o espanhol, as línguas principais da nossa América. E lhe digo mais: viajar para os Estados Unidos nunca foi um
dos meus projetos de vida. Agora, visitar a América Latina ainda é
um sonho que vou realizar.
- E o Brasil primeiro.
- Sem dúvida. O que restar dele. Mas
ainda antes o nosso Rio Grande. Já conheço grande parte e ainda pretendo
conhecer todo o resto. Depois me mando pro Uruguai, Argentina... Não de motocicleta,
mas de transporte público mesmo, parando em cada lugar e usufruindo a nossa cultura latina.
- Ou o que restar dela, não é seu
Chico?
- Mas resta muita coisa! O Brasil é
que é um país que está se deixando engolir pelos notórios espiões e golpistas e
vai acabar se transformando em alguma coisa híbrida que ninguém mais vai
entender. Não se pode confundir o Brasil com o Rio Grande e o restante da
América Latina, que tem cultura muito própria e muito forte. O senhor gosta de
ouvir rádio de noite? Pois para mim é um prazer, visto que televisão é aquilo
que se sabe, internet ficou repetitiva e para variar com a leitura nossa da
cada dia – que nunca se deve deixar! – nada como uma boa música portenha.
- Música portenha?
- Ou paraguaia, uruguaia... Saiba
que eu bem que tento ouvir rádio brasileira, mas depois da meia-noite é a maior
tristeza. Nas FMs nem pensar. Só música em inglês. É um tal de “Love, Love...”, e quando tocam alguma música supostamente nacional é o terrível sertanejão com
canções lacrimosas de gente que ama e sofre muito. De dar pena. Ou os programas evangélicos.
- E a nossa música, nada.
- Só em espanhol. Os donos da mídia
dizem que MPB é a música feita no Rio ou em São Paulo, principalmente, quando
não cantores baianos, mas se sabe que a Bahia culturalmente é uma espécie de
filial do Rio de Janeiro, ou coisa parecida.
- Talvez não seja tanto, seu Chico.
- Quem sabe? Mas os cariocas adoram
baianos, e vice-versa. Não duvido que exista muito baiano bom que não está na
mídia justamente por amor à sua cultura. O senhor tem razão: não se pode fazer julgamento apressado. Mudando de saco pra mala, o senhor escreveu que a ABIN
não está cumprindo com a sua função de defender a nossa soberania, entre outras
coisas.
- Alertei pra isso. Pra que um
serviço de informações que não informa nem desinforma, muito antes pelo
contrário?
- Pois saiba que eu desconfio que a
tal de ABIN está de conluio lá com os serviços de informação dos Estados Unidos
e de outros países menos votados. Pode ser que eu esteja errado, mas será que a
ABIN não é uma filial da NSA e da CIA. Eles não estão acima dos governos, como
o senhor escreveu? E quem está acima do Governo... O Governo que se cuide!
- O senhor chega a me assustar.
- Globalização não é isso? Desde que
eles inventaram essa palavra eu fiquei pensando no que realmente queriam
dizer... E quando veio à tona esse caso das escutas e da internet e dos satélites e do resto tudo, e o senhor ainda escreve que a ABIN não funciona,
fui juntando os pontinhos.
- Seria terrível, seu Chico! Não só
estamos sendo invadidos como temos espiões aqui dentro, ouvindo tudo o que a
gente fala e anotando o que é escrito para mandar para os chefes de Washington fazerem
a sua avaliação – é isso?
- Mais ou menos. O senhor disse “aqui
dentro”, mas aqui não!
- Como não, seu Chico, se eles podem
nos vigiar até pelos telefones celulares, mesmo que estejam desligados. O
senhor não sabe que pelo sistema de posicionamento global – o GPS -, composto
por 24 satélites, eles podem lançar bombas ou identificar qualquer pessoa em qualquer lugar do mundo?
- Saber eu sei, mas lhe repito: menos
aqui no Rio Grande.
- Não estou entendendo.
- Pois lhe explico. Se eles têm o
GPS, eu tenho o GPB. Gaúcho nunca pode se deixar pegar desprevenido. Logo que
eu li aquela sua matéria, e ainda outras contando da espionagem entrei em
contato com amigos de toda a fronteira da nossa pátria e armamos o GPB – Grandes e Poderosas Boleadeiras. Tem gaúcho em toda a fronteira com o Brasil e
outros países vizinhos de boleadeira em punho e olhos no céu – e o senhor há de
saber que olho de gaúcho alcança qualquer altura. Qualquer satélite que
aparecer, boleadeira nele e o bicho cai gemendo “Love, Love, I do no...” e outras engrolagens.
- Mas como é que as boleadeiras
alcançam, seu Chico?
- São boleadeiras mágicas. A gente
vê o satélite, o drone, ou o que seja, até teco-teco se for o caso, atira a
boleadeira e diz as palavras mágicas que elas atingem o alvo que é uma beleza.
- E quais são as palavras mágicas?
- Em primeiro lugar, tem que ter fé em São Sepé. Depois, é só mirar bem e dizer a célebre frase do santo guerreiro: “Esta terra tem dono!”
- Em primeiro lugar, tem que ter fé em São Sepé. Depois, é só mirar bem e dizer a célebre frase do santo guerreiro: “Esta terra tem dono!”
Não adianta. S.Chico é S.Chico e ponto.Excelente postagem sobre os vários assuntos abordados deste nosso Brasil e outros que tais que por aí rondam. Parabéns também ao interlocutor, que sabe muito bem como cutucar S.Chico.
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