sábado, 5 de outubro de 2013

EXTREMAMENTE ESTRANHO



Entro na Internet e no rodapé do monitor aparece a frase: “Estabelecendo uma conexão segura”. Dá vontade de rir. Conexão segura? No Brasil? Este é o país da insegurança, principalmente para internautas. A Internet foi liberada para o público justamente para que as pessoas se revelem umas às outras, num jogo de voyeurismo, fetiches e troca de vaidades facilitadas pelo culto ao individualismo, conseqüência direta do esfomeado capitalismo. 

 Todos se desnudam. Alguns, para tocar piano.Outros, para fazer vadias manifestações. A maioria se despe mental e emocionalmente nas redes sociais e até fora delas.Um prato cheio para diplomatas curiosos, agentes não muito ágeis que necessitam de máquinas para agir, beleguins e até esbirros - os ratos de plantão que adoram esgaravatar a vida dos não semelhantes, mais conhecidos como dedos-duros oficiais - seres nefastos à vida democrática e que trabalham a soldo para outros seres igualmente turvos, nebulosos, cujo prazer e requintado gozo consiste em saber o que pensam, gostam e almejam as multidões manuseadas por invisíveis dedos cibernéticos.

   Ou muito visíveis. Em São Gabriel da Cachoeira, no estado do Amazonas, a 852 quilômetros de Manaus, existe uma não-oficial base da CIA, provavelmente sediada dentro de um dos quartéis do Exército brasileiro(?). Matéria da Folha de São Paulo, intitulada “Agentes da CIA conseguem atuar livremente no Brasil” revela que naquela cidade de cerca de 40.000 habitantes situada no estratégico Parque do Pico da Neblina, às margens do Rio Negro e fazendo divisa com Colômbia e Venezuela, com uma extensão territorial de 109.185,00 km2, agentes da CIA estão em casa.

   Com equipamentos próprios e computadores de última geração, não apenas vigiam as guerrilhas da Colômbia, mas também internautas de todo o território nacional, através de uma rede cibernética apoiada por satélites.

    Segundo a matéria, um acordo entre a CIA e a DAT (Divisão Antiterrorismo) da Polícia Federal brasileira(?) foi formalizado em 2010, dando carta branca à CIA para agir como bem entender no território supostamente dos brasileiros. Portanto, os famosos agentes estadunidenses estão dentro da lei, mas também costumam atuar dentro do que é chamado “Zona Cinza”, que consiste em invasão de sistemas, compra de informações e suborno de funcionários de empresas públicas e privadas – diz a matéria da Folha.

    Desta vez, não foi o Fernando Henrique, mas o Lula que oficializou a ingerência interna dos agentes norte-americanos. Em 2010. Um acordo com o aval da Dilma, que hoje se queixa dos seus resultados. Estamos vigiados, e muito bem vigiados dentro do nosso país por uma potência estrangeira que não necessitou das suas Forças Armadas para nos invadir.

    Tudo indica que a CIA manda na Polícia Federal brasileira(?). Aquelas operações com estranhos apelidos, que prendem corruptos aqui e acolá são gerenciados pela CIA, à qual se subordinam os valentes policiais federais. Ficamos muito felizes quando prendem corruptos conhecidos de longa data, acreditando que – enfim! – a justiça será feita, mas logo lembramos que, nos últimos anos, o que maia os agentes dessa Justiça cega tem feito é soltar os corruptos presos pela CIA travestida de Polícia Federal. (Brasileira?). Não se sabe exatamente porque, mas se supõe que grandes corruptos – aqueles chamados de “colarinho branco” pela eufemística ‘grande imprensa’ – não podem ficar presos junto com bandidos comuns dos mais baixos extratos sociais. É uma questão de divisão de classes, que deve ser respeitada.

   De qualquer maneira, os dois lados da mesma moeda cumprem os seus papéis: uns prendem e outros soltam e salvam-se as aparências. Mas o que interessa para os agentes da CIA no Brasil ou do Brasil não é a corrupção, mas o monitoramento dos cidadãos. Quem é quem, o que faz, de que maneira, qual a orientação política, orientação sexual, orientação esportiva, orientação culinária, vícios, hábitos e costumes. Quem é a favor ou contra do que eles entendem por certo ou errado. Eles necessitam muito dessas informações. Vivem disso. São pagos para isso e acreditam que é um serviço muito saudável. Na certa, sentem íntimo prazer quando descobrem seja lá o que for. Pessoas assim existem – acreditem!

    Eu estava pensando nessas coisas metafísicas e transcendentais quando encontrei o seu Chico com cara de quem comeu e não gostou.

- E então, seu Chico, tudo bem?

- Mas!... Especial de bom! Imagine que eu acabo de desligar o rádio e saí para a rua para refrescar as idéias.

- Já sei: o senhor estava ouvindo o Programa do Papagaio. Mas isso sempre lhe faz mal! O senhor me disse que até sentiu dores no estômago, certa vez... Por que não para de ouvir aquelas bobagens reacionárias?

- Pois é. Vou acabar parando. Eu penso que me divirto, mas acaba virando num autoflagelo. Em pleno século 21 ainda existem pessoas assim, imagine o senhor!

- Se imagino! Eu ouvi um ou dois programas daqueles e nunca mais.

- Pois eu acho que pra mim virou um vício. Dá pra se divertir, às vezes. Sabe o que ele falou, desta vez?

- A favor da volta da ditadura militar, pra variar.

- Implicitamente. Disse que a dona Dilma cometeu uma grande bobagem em reagir a favor da nossa soberania na reunião da ONU. Diz que a vida é assim mesmo, que espionagem sempre existiu e que continuará existindo, que os Estados Unidos são um grande parceiro do Brasil e que não dá pra assustar investidores e que bem que eles, os ianques, fazem em nos espionar. Me deu engulhos.

- Eu já lhe disse, seu Chico: ouvir essas coisas faz mal. Qualquer dia o senhor pega uma doença só de ouvir o Papagaio aos sábados.

- Vou parar, como dizia o rapaz magrinho viciado em crack. Eu me divirto, o senhor sabe. Dá um certo mal-estar depois, mas eu me recupero. O que eu acho estranho é que há pessoas que mandam torpedos elogiando o programa do Papagaio. E eu pensando que, se alguém ouvia além de mim, era somente para rir.

- Mas seu Chico! O senhor está me saindo muito ingênuo hoje. Não sabe que esta cidade é uma ilha feudal, cercada por comerciantes e politiqueiros por todos os lados e com um povo que só sabe dizer “Sim Senhor!”?

- Não que eu não soubesse, mas sempre resta uma esperança no fim do túnel, até quando ele está interditado para obras eternas.

- Então, o Papagaio é devoto da espionagem dos Estados Unidos... Quem diria, não é seu Chico? Não acha estranho?

- Mas!... Extremamente estranho!

Um comentário:

  1. A postagem está ótima e risível, às vezes. Ah! Brasil, Brasil... Até quando um país chega onde chegamos? As incursões do S.Chico continuam imperdíveis. Parabéns!

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