segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Brasileiríadas - Gustavo Adolfo e Drica de Benfica: A PRISÃO




- Gustavo Adolfo! 

- Não grita, Drica. A esta hora não dá pra telefonar, muito menos aos berros.

- Eu não estou berrando, Gustavo Adolfo. Fui muito bem educada e sei que não se deve gritar ao telefone. Não sou como outros por aí que não sabem usar os talheres à mesa e vivem palitando os dentes na frente de todo o mundo. Sou de origem nobre, Gustavo Adolfo, noobre! E por falar nisso, como vai a dona Papuda?

- Quem?

- A Papuda, Gustavo Adolfo. Tu não estás aí com ela, ou nela? Deve ter um grande papo, não é Gustavo Adolfo?

- Não tripudia, Drica. Eu sou inocente!

- Quem sou eu para tripudiar, Gustavo Adolfo? Ouviste a tua voz? Agora é tu quem está gritando. E depois ainda fala de mim, que estou aqui, sozinha, sem eira nem beira, sem saber o que fazer da vida. Eu, que confiei na tua palavra quando disseste que nunca – lembra? – nunca irias para a prisão. Ai, que nojo! Só de pronunciar essa palavra me dá nojo! Prisão! Prisão é para os outros, Gustavo Adolfo. Não para um empresário como tu, assim com o homem lá de cima, o do bigodinho. Como ele ficou feio com aquele bigode, Gustavo Adolfo! Será que não tem ninguém que o aconselhe a deixar a barba? E aí, Gustavo Adolfo? Me conta o que vai ser de mim, desamparada, com todas as minhas amigas me olhando daquele jeito que tu pode imaginar... A que ponto chegamos, Gustavo Adolfo! A vida é muito ingrata, eu não paro de chorar dia e noite só de pensar em ti aí, enclausurado como um monge. E o pior de tudo: me disseram que vocês usam uniforme. Que coisa brega, Gustavo Adolfo, é por isso que o Brasil não vai pra frente! Obrigar pessoas de bem a usar uniforme de listinhas como se fossem – meu Deus! – criminosos como esses favelados e drogados, gente do pior extrato social, mas tu, Gustavo Adolfo, logo tu que sempre usaste roupa de grife, agora vestindo esses horríveis uniformes. Que horror, Gustavo Adolfo, que horror! Gustavo Adolfo? Tu ainda estás aí? É claro que sim, impossível sair daí sem um bom advogado, e o teu, convenhamos, Gustavo Adolfo, aonde foi que aquele homem se formou? Gustavo Adolfo!

- Drica, por favor! Estou com sono. Aqui tem hora pra tudo: pra dormir, pra levantar, pra tomar sol... Pra tudo, entende? E agora é a hora de dormir, senão eu não acordo na hora certa amanhã, para o café.

- Hora certa, Gustavo Adolfo, hora certa. Logo tu com hora certa! Nunca tiveste hora pra nada, meu bem. Sempre disseste que quem sabe faz a hora, e agora me vens com essa de hora certa... Pode dormir, se quiser, mas ainda não me respondeste: e eu? Como é que eu fico?

- Drica, não tem porque se preocupar, o meu advogado já está tratando de tudo. Tu vais ficar muito bem. Não posso explicar, porque aqui os telefones são controlados, entendeu Drica?

- E em que lugar os telefones não são controlados, Gustavo Adolfo? Viu no que deu fazer aqueles acordos com os americanos? Agora eles sabem tudo sobre nós, Gustavo Adolfo, tudo! Até sobre a presidenta, Gustavo Adolfo, aquela mulher tão... tão mulher, tão confiante, tão firme, até ela está sendo vigiada, Gustavo Adolfo, não escapa ninguém e aí está, ou melhor, aí estás, é o resultado de confiar nessa gente.

- Não foram eles, Drica. Eu sou inocente! Foi o Joaquim!

- Pior ainda, Gustavo Adolfo, pior ainda. E com esse nome: Joaquim. Como pode alguém com um cargo tão importante ter um nome tão vulgar como Joaquim? Será que não se poderia fazer alguma coisa a respeito? Não fica bem para as relações exteriores! E ainda por cima, Gustavo Adolfo, ainda por cima, e isso é o que mais me põe em prantos, meu amor, ainda por cima, e tu sabes que eu nunca fui racista, Deus me livre!, ainda por cima...

- Eu sei, Drica, eu sei. Mas logo, logo ele vai dançar. Deixa estar, jacaré, que a cobra há de fumar.

- Ai, que frase bonita, Gustavo Adolfo! Ainda bem que não deixaste de ser o meu Gustavo Adolfo, apesar da dona Papuda. Mas como é que ele vai dançar, Gustavo Adolfo, com aquele problema nas costas?

- Um problema que tende a se agravar, Drica. Mais eu não posso dizer. Forças ocultas trabalham no ocultismo da escuridão. Por falar nisso, cortaram a luz, já passa das onze. Quero que penses em mim como um injustiçado, alguém que as elites marcaram como o inimigo número um, porque eu sempre denunciei os exploradores, Drica, sempre lutei pela causa do povo.

- Te ouvindo assim até parece verdade, não é Gustavo Adolfo? Quanta luta naquelas conferências incessantes com os banqueiros. Eu sei, porque tu me contavas tudo. Chegavas em casa extenuado, pedindo um drinque e outras coisinhas, lembras, amor?

- Drica, por favor... Tem certas coisas que não se pode...

- Eu sei, Gustavo Adolfo, eu sei. E foram esses segredos que te levaram praí, não é amor? Eu estou rezando por ti, Gustavo Adolfo. Tenho fé em Deus Pai Todo Poderoso e na Justiça Divina. Não fica triste com a luz apagada que outra luz maior há de brilhar. Viu como eu também sei fazer frases bonitas, Gustavo Adolfo? Até me assusto comigo.

- Aqui no escuro estou urdindo planos grandiosos. Lembra sempre de mim como um inocente, Drica. Agora eu vou dormir, antes que me desliguem também o celular.

- Dorme em paz, Gustavo Adolfo. Dorme com os anjinhos. Ai, quisera eu que estivesses aqui! É claro que eu sempre vou lembrar de ti como o meu Conde de Monte Cristo vingador. Gustavo Adolfo? Será que desligaram o Gustavo Adolfo?

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