Seres não exatamente circulares, répteis que não se enroscam, preferindo se esconder sob a casca quando se sentem ameaçados. Observem o Congresso Nacional. O senado é um cágado devidamente medroso, com o pescoço em algum lugar dentro daquele imenso casco; a Câmara, ao contrário, é um cágado que foi virado e esperneia enquanto não é capturado, e como tem muitos amigos logo ali no STF onde existe uma justiça cega o espernear do cágado da Câmara é tão forte e vibrante que até assusta os que não o conhecem na intimidade. Parece valente: grita, discursa e logo em seguida se agacha ou vocifera, dependendo do tamanho do susto ou da propina.
Propina, gorjeta, mordida, obséquio, gratificação,
retribuição, recompensa.
Além dos
cerca de cem mil reais que os pequenos cágados que se escondem nas cascas do
Congresso Nacional recebem oficialmente, eles são orientados, assim que eleitos
pelo desmemoriado povo, a aceitar o que advogados chamariam de “prêmio” para
votar a favor de determinados projetos que beneficiem os grandes latifundiários
e empresas que mandam no Governo, assim determinando o desmatamento da Amazônia
e da Mata Atlântica, a aceleração de obras predatórias, como a usina
hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, a aceitação dos transgênicos para
desertificar o solo do país e matar mais rapidamente a população e deixar parada
a Reforma Agrária, que é a grande piada brasileira dos tempos petistas. Também
facilitam licitações para empresas amigas, promovem a compra de votos dos
colegas mais passivos, aceitam a infiltração de agências de espionagem
estrangeiras e nada fazem a favor do povo.
Eles fazem
as leis. Acredita a grande maioria da população que está resguardada pela
Constituição Federal. Pois saiba essa maioria que logo após a promulgação da
Constituição foi dado início à votação e aprovação de PECs – que são projetos
de emenda à Constituição. Algumas delas com teor simbolicamente popular;
outras, e muitas outras, declaradamente contra a nação e a favor dos cágados e
de seus amigos.
Está para
ser votada a PEC 47, que inibe os poderes de investigação do Ministério Público.
Se aprovada, a vida dos criminosos ficará muito mais fácil.
A PEC 33
prevê que parte das decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) tenha que ser
submetida ao Congresso Nacional. Já imaginaram? Se o STF não é uma maravilha,
imaginem sem ele...
A PEC 215,
arquitetada pelos representantes da bancada do agronegócio, visa transferir ao
Legislativo – aquela casa do Congresso formada por cágados muito susceptíveis a
propinas – a demarcação das terras indígenas e quilombolas. É absolutamente
inconstitucional e talvez não passe desta vez, mas eles inventarão outra PEC
com o mesmo teor. Os ruralistas do Congresso querem porque querem liquidar de
vez com os indígenas brasileiros, e roubar as suas terras. Já o fazem
ilegalmente, através de assassinatos e grilagens, mas desejam legalizar o
crime.
A propósito,
a Portaria 303, da Advocacia Geral da União (AGU), de 17 de julho de 2012,
pretende que as terras indígenas podem ser ocupadas por unidades, postos e
demais intervenções militares, malhas viárias, empreendimentos hidrelétricos e
minerais de cunho estratégico, sem consulta aos povos e comunidades. Determina a
revisão das demarcações em curso ou já demarcadas, ataca a autonomia dos povos
indígenas sobre os seus territórios e limita e relativiza o direito dos povos
indígenas sobre o usufruto exclusivo das riquezas naturais existentes nas
terras indígenas. Entre outras coisas.
Por outro
lado, está engavetada no Senado Federal a PEC 73/2005, que dá poder ao povo,
através de iniciativa popular, de cassar mandatos de parlamentares ou
governantes corruptos. Esta continuará engavetada.
No Estado
Democrático de Direito ninguém está acima das leis. Não é como uma ditadura,
onde “manda quem pode e obedece quem precisa” – segundo o rifão. No Estado Democrático
de Direito, imposições ditatoriais são legalizadas. Por exemplo, se um
governante muito democrático deseja extinguir com os indígenas do seu país e
tomar as suas terras, tenta as vias legais através de uma PEC, de portarias, de
projetos de lei e de todas as armadilhas jurídicas possíveis, até conseguir.
Para isso,
costuma se valer do Congresso, daquelas pessoas prontas a receber, como
direi... propinas? Pessoas que foram eleitas legitimamente através daquelas
máquinas extremamente suspeitas apelidadas de urnas eletrônicas. (Você já tentou
pedir verificação de voto em urna eletrônica? Não perca seu tempo: o seu voto
está em algum lugar imaginário do espaço virtual). Pessoas encasuladas naqueles
grandes chapéus que lembram cágados. Pessoas que têm um grande medo do povo.
Excelente matéria! Risível quanto aos que supostamente nos representam. Boa tirada essa dos cágados.
ResponderExcluirExcelente matéria! Risível quanto aos que supostamente nos representam. Boa tirada essa dos cágados.
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