O norueguês de 22 anos, Magnus Carlsen, é o novo
campeão mundial de Xadrez, após vencer, em novembro de 2013, o indiano Anand
por 6,5 a 3,5 em um match que poderia chegar a 12 partidas. Anand era o campeão
mundial desde 2007, tendo enfrentado, até então, cinco matches de desafio pelo
título e vencido todos. A vitória do norueguês, no entanto, não foi surpresa;
ao contrário, era muito esperada, principalmente pelos empresários da
Microsoft, que patrocina o novo campeão de Xadrez. Desde 2002, Carlsen também é
garoto-propaganda da empresa de computadores norueguesa Artic Securities. Além
disso, junto com a atriz Liv Tyler, participou de diversas campanhas
publicitárias e foi considerado pela revista Cosmopolitan como um dos homens
mais sexy de 2013.
Os
enxadristas dizem que ele é o novo Capablanca, mesmo que o cubano, no seu
tempo, não tivesse o auxílio da ciência da computação e, de fato, seja muito
contestado quanto a ter sido o melhor enxadrista da sua geração.
Como
Capablanca, Carlsen aprendeu Xadrez quando tinha apenas 4 anos de idade, como
convém aos gênios, e logo se descobriu a sua prodigiosa memória. Aos cinco
anos, Magnus Carlsen recitou o nome, extensão e população das 430 cidades da
Noruega e o auxílio das empresas de computação, às quais é ligado, desenvolveu
ainda mais a sua memória que atua como um gigantesco banco de dados.
Atualmente, ele é capaz de antecipar 20 lances no tabuleiro e suas ramificações
ou variantes, independente do que o adversário fizer, e não se sabe ao certo se
essa capacidade deriva de criatividade ou da excepcional memória com que foi
dotado.
O ex-campeão
mundial Kasparov afirmou, certa vez, que Magnus Carlsen, ao jogar, lembrava
muito o programa de computador Fritz 13, que ajuda a treinar jovens e
promissores enxadristas. Jogar contra a memória de Magnus Carlsen é o mesmo que
enfrentar o mais forte computador. Quando perde (pois ainda é humano) é por
desatenção. Ao mais das vezes, costuma empatar ou vencer no erro do adversário.
DE RUY LÓPEZ A EMMANUEL LASKER
A história
do jogo de Xadrez resgata como melhores jogadores do mundo, considerados campeões
mundiais até o curto reinado de Capablanca, os seguintes enxadristas.
Ruy López de
Segura, por cinco anos (1570-1575).
Padre e
enxadrista espanhol que estudou e viveu em Salamanca, sendo considerado por
muitos como o primeiro campeão de Xadrez não-oficial. Escreveu um dos primeiros
livros sobre os fundamentos do Xadrez: “Libro De La Invención Liberal Y Arte
Del Juego Del Ajedrez”. É o autor da Abertura Ruy López, também conhecida como
Abertura Espanhola e considerada a mais perfeita de todas as aberturas abertas,
de uma extraordinária complexidade estratégica e tática em suas diversas
variantes.
Gioacchino
Greco, durante 12 anos (1622-1634).
Natural da
Calábria, Greco aprendeu a jogar sem que ninguém o ensinasse, lendo os escritos
de Ruy López e de Alessandro Salvio.
Protegido do
cardeal Saveli percorreu a Europa vencendo inúmeras partidas e impondo um jogo
essencialmente tático, muitas vezes jogando contra vários adversários ao mesmo
tempo. Segundo Salvio, o único que conseguiu vencer Greco seguidamente foi o
padre siciliano Mariano Marano. Atribui-se a Greco a criação da Defesa
Siciliana, a mais famosa das defesas semi-abertas, mas não é improvável que
Mariano Marano tenha sido o verdadeiro autor.
Mesmo assim,
Greco foi aclamado como o melhor enxadrista do século XVII. Deixou o tratado de
Xadrez “Primo Modo Del Gioco De Partito”, de que se conservam 15 exemplares na
atualidade.
François-André
Danican Philidor, durante 50 anos (1745-1795).
Músico,
criou a ópera-cômica na França e diversas outras óperas, como “Tom Jones”, “Le
Maréchal-Ferrant e Themistocle. Foi o principal músico da corte de Luís XV.
Entre os anos 1750 e 1770 compôs uma ópera e 21 óperas-cômicas.
Superou a
todos os adversários da sua época e foi o primeiro enxadrista a jogar partidas
simultâneas às cegas. Era tão superior aos demais, que costumava dar vantagem
material aos oponentes, para tornar o jogo mais interessante. Em 1749, escreveu
“Analyse Du Jeu Des Échecs” (“Análise Do Jogo De Xadrez”), um dos primeiros
tratados sobre Xadrez. No livro aparece a sua Defesa Philidor, situações de
final de jogo, conhecidas como “Posições de Philidor”, além do famoso “Mate de
Philidor” que, recentemente, foi descoberto que pertence a Gioachino Greco e
passou a ser chamado “Mate de Greco” (sacrifício da Dama com mate afogado de
Cavalo na sétima do Bispo). È famosa a sua frase: “Os peões são a alma do Xadrez”.
Louis de la
Bourdonnais, durante seis anos, de 1834 a 1840.
O jogador
mais importante do século XIX e o maior da França, depois de Philidor. Não
tendo adversário à altura na França, viajou para a Grã-Bretanha onde jogou uma
série de 6 matches contra o irlandês Alexander Mcdonnel, com 45 vitórias, 23
derrotas e 13 empates, consagrando-se como o melhor jogador da Europa. Seu
estilo era extremamente agressivo e jogava muito rápido. As partidas contra
Mcdonnel pela primeira vez em um evento desse porte foram anotadas. Deixou
muitas contribuições para o Xadrez, sendo memorável a sua 16ª partida do 4º
match contra Mcdonnel, quando usou uma Defesa Siciliana, Variante Aberta (B32),
dando uma aula sobre a força dos peões passados. Escreveu o “Nouveau Traité Des
Jeu Des Échecs” (“Novo Tratado Do Jogo De Xadrez”), em 1833.
Howard
Staunton, enxadrista inglês campeão do mundo não-oficial de 1841 a 1851.
Em sua
juventude trabalhou como ator, fazendo o papel de Lorenzo em O Mercador de
Veneza. Aos 26 anos começou a levar a sério o Xadrez, unindo-se ao Old
Westminster Chess Club. Foi por essa época que enfrentou e perdeu uma partida
contra o capitão William Evans (criador do Gambito Evans).
Staunton talvez
tenha sido o primeiro jornalista de Xadrez. Em 1840 começa a escrever uma
coluna no New Court Gazette, intitulada “Chess Player’s Chronicle”. O seu nível
já tinha melhorado, a ponto de vencer o melhor jogador de Londres, H. W.
Popert. Em 1842, jogou centenas de partidas contra John Cocchrane, aprimorando
o seu conhecimento. Em 1843 joga um match contra Pierre de Saint-Amant, reconhecido
como o melhor jogador do momento, perdendo por 3 a 2 e 1 empate. Na revanche,
jogada no Café de La Regence, em Paris, consegue consagradora vitória por 11 a
6 e 4 empates. Foi naquele encontro que o lance 1.c4, posteriormente conhecido
como Abertura Inglesa, foi utilizado por Staunton. Nos anos seguintes vence a
Tuckett, Horwitz e Harrwitz e perde para Von der Lasa.
Em 1847 e
1849 escreve “The Chess-Player’s Handbook” e “The Chess-Player’s Companion”.
Também em 1849 anuncia no Ilustrated London News um jogo de peças – o modelo
Staunton - que posteriormente seria adotado pela FIDE (Federation
Internationale Des Échecs – Federação Internacional de Xadrez) para disputas
oficiais. No entanto, as peças foram desenhadas por Nathaniel Cook.
Além disso,
Howard Staunton foi um dos maiores especialistas em William Shakespeare. Em
1856 produziu uma edição anotada das Obras Completas de Wiliam Shakespeare,
publicada mensalmente de 1857 a 1860.
Adolf
Anderssen – 1851 a 1858.
Brilhante
jogador austríaco, considerado clássico, e que deixou duas obras-primas. Na
partida contra Lionel Kieseritizky, em 1851, sacrificou um bispo, duas torres e
a rainha para dar xeque-mate ao adversário e essa partida recebeu o nome de “A
Imortal”. Em 1852, contra Jean Dufresne, fez uma brilhante e inesperada
combinação para vencer – partida que recebeu o nome de “Sempre-Viva”. Anderssen
criou a Abertura Anderssen, que consiste no lance inicial 1.a3, raramente
jogado.
Paul Morphy
– campeão mundial não-oficial de 1858 a 1863.
Venceu a
todos os melhores enxadristas dos Estados Unidos e, na Europa, somente não
jogou com Steinitz. Recebeu a coroa de campeão mundial ao vencer Anderssen por
7 a 2 e dois empates. Voltou para Nova Iorque como herói e dedicou-se a uma mal
sucedida carreira de advogado. Depois de uma decepção amorosa, abandonou o Xadrez.
Em razão de sua curta carreira, é chamado de “gênio efêmero”. Foi um jogador
romântico, que gostava de propor aberturas abertas com rápidos ataques no
flanco do rei adversário, e possuía grande conhecimento teórico. Em 1858 deixou
o seu maior legado: uma partida jogada contra o duque Karl de Brunswick, com o
conde Isouard como consultor, jogada no camarote do duque durante a
apresentação da ópera “O Barbeiro de Sevilha”. Na ocasião, Morphy construiu uma
verdadeira “Jóia de Primeira Água” – apelido que imortalizou a partida.
Wilhem
Steinitz – Oficialmente o primeiro campeão mundial de Xadrez, de 1866 a 1894.
Deu início à
era do jogo posicional. Foi campeão durante 28 anos e disputou 7 matches pelo
título mundial, incluindo a apertada vitória contra Anderssen, por 8 a 6, em
1866.
Contestado
por Zukertort, que se auto-proclamou campeão mundial depois de vencer o Torneio
de Londres em 1883, aceitou o desafio e o venceu duas vezes: em 1872, por 9 a 3
e em 1876, por 12,5 a 7,5. Venceu Tchigorin em dois matches: 10,5 a 6,5 em 1886
e 12,5 a 10,5, em 1892. Ainda aceitou os desafios de Blackburne, a quem arrasou
por 7 a 0, em 1876, e de Gunsberg, em 1890, vencendo por 10,5 a 8,5.
Foi
incontestavelmente o melhor jogador de xadrez da sua geração e sobre ele
contam-se várias anedotas. Certa vez, perguntado se ia vencer um forte torneio,
respondeu: “De saída tenho grande vantagem, pois sou o único que não tem que
enfrentar a Steinitz”.
Emanuel
Lasker. Segundo campeão mundial oficial de Xadrez.
Enxadrista
alemão, considerado por muitos como um dos melhores de todos os tempos. Depois
de vencer Steinitz por 10 a 5 e 4 empates, em 1894, manteve o título durante 27
anos, incluindo em seu currículo a vitória em torneios como o de Londres
(1899), Nuremberg (1896), São Petersburgo duas vezes (1900 e 1914), Paris
(1900) e Nova Iorque duas vezes: em 1893, quando venceu todos os treze jogos
que disputou, e 1924.
Foi
professor de matemática, doutorado na Universidade de Erlangen-Nuremberga e
filósofo. Ainda se dedicou ao Bridge, tendo publicado um livro sobre o assunto.
Além da
vitória no match contra Steinitz, defendeu o título vencendo Tarrasch,
Janowski, Marshal e Slechter. No match contra Tarrasch, que além de grande
enxadrista era um teórico arraigado a determinados princípios estratégicos e
considerava Lasker como um jogador de segunda categoria, ficou famosa a frase
de Tarrasch, quando Lasker foi cumprimentá-lo na cerimônia de abertura: “Senhor
Lasker, eu tenha apenas três palavras para lhe dizer: xeque e mate!” (“Mister
Lasker, i have only three words to say to you: check and mate!”). Lasker
respondeu vencendo as quatro primeiras partidas e terminou o confronto com 8
vitórias, 3 derrotas e 5 empates.
Lasker foi
um dos responsáveis pela profissionalização do jogo de Xadrez. Valorizou muito
o seu título de campeão mundial, impondo condições monetárias muitas vezes
inaceitáveis para os seus desafiantes. Do desafiante Akiba Rubinstein – jogador
que tinha recordes em torneios semelhantes aos de Lasker e superiores aos de
Capablanca - exigiu um penhor de $2.000 (equivalentes hoje a quase $200.000), o
que não foi aceito. Durante a I Guerra Mundial, Lasker investiu todas as suas
economias em títulos de guerra alemães. Chegou a afirmar, mesmo sendo judeu,
que a civilização estaria em perigo se a Alemanha não vencesse aquela guerra.
Em janeiro
de 1920, Lasker assinou um acordo com Capablanca para a disputa do Campeonato
Mundial de Xadrez em Havana, terra do desafiante. Lasker necessitava muito de
dinheiro e Capablanca conseguiu um aporte de $20.000 e mais algumas condições
favoráveis para o velho enxadrista. Em troca, antes do encontro Lasker
renunciou ao título em favor de Capablanca e o match somente aconteceu devido à
insistência de Capablanca. Finalmente, Lasker concordou em jogar, insistindo,
porém, que era o desafiante e que Capablanca era o campeão. Ainda: caso
derrotasse Capablanca, iria renunciar ao título. Portanto, Capablanca iniciou o
match contra Emanuel Lasker como campeão mundial de Xadrez e, mesmo que
perdesse, continuaria com o título.
As partidas
foram realizadas entre março e abril de 1921. Capablanca venceu por 4 a 0 e 10
empates. Lasker alegou problemas com o clima de Havana para jogar de maneira
tão misteriosamente caótica, segundo os críticos da época.
Lasker
escreveu “O Senso Comum em Xadrez”, diversas obras sobre matemática e filosofia
e uma peça teatral em coautoria com o seu irmão Berthold.
(Continua)
Muito boa matéria. Um histórico dos campeões de xadrez com análises e informações fruto de meticulosa pesquisa. Valeu!
ResponderExcluirParabens pela materia, gostosa de ler e cheia de curiosidades interessantes.
ResponderExcluirEu tambem gosto muito de xadrez, jogo e ja dei aulas pra crianças, fiz cursos etc ... Ha muito tempo tive contato com uma cronica bem interessante que nunca mais vi. Por mais que pesquise não a encontro. Trata-se da historia de um jogador que viajando pelo interior do país entra num pequeno bar e vê numa mesa um jogo sendo realizado. Propoe jogar contra o vencedor e toma-lhe quase todas as peças, deixando-o apenas com Rei e peao. Nisso pede um tempo e vai ao banheiro enquanto o adversario pensa no jogo. No banheiro um cara se aproxima dele e diz: - Voce ta louco? Quer morrer? Esse cara que vc esta vencendo é um coronel local e se ele perder essa partida ele vai te matar. O unico jeito de se salvar é deixando-o vencer. Quando o jogador volta pra mesa, assustado com o novo objetivo, procura entregar suas peças...
A sequencia desse jogo é um primor, pois todas as jogadas de entrega de peças são forçadas e nao tem como proceder, a nao ser tomando as peças que ele vai entregando uma a uma até finalmente forçar uma derrota.
Se conseguir encontrar, me diga, se eu achar te aviso.
Abraço
Celso A Pereira - celsoapereira@gmail.com