sábado, 15 de fevereiro de 2014

O MINISTRO, O SENADOR E O GATO





O ministro Gilmar Mendes, novo alvo do PT (além de Joaquim Barbosa) dentro do Supremo Tribunal Federal, por suspeitar de lavagem de dinheiro nas doações aos apenados do Mensalão e propor que fosse investigada a origem do dinheiro, teve uma excelente idéia. Em carta enviada ao senador Eduardo Suplicy (aquele mesmo que promoveu a vinda ao Brasil da ultra-reacionária blogueira cubana Yoani Sánchez), que se queixava das suspeitas do ministro a tão venerado e, como dizer... incorrupto?... honesto?... partido ao qual pertence o senador, sugeriu que o PT, através de Delúbio Soares – ex-tesoureiro do PT e que cumpre pena por roubo aos cofres públicos –, usasse a sua reconhecida capacidade de angariar fundos para recuperar “pelo menos parte dos R$100 milhões subtraídos dos cofres públicos”.

   Não é uma excelente idéia? Afinal, onde está o dinheiro que os petistas nos roubaram? Em algum paraíso fiscal? Foi dividido entre os membros do partido? Faz parte do caixa 2 da Dilma para, talvez, comprar a sua reeleição? Foi dado para o Corinthians do Lula? Para o Fluminense? Para o Pequeno Príncipe? Para comprar a Copa do Mundo? Para as obras da FIFA? O gato comeu? Quem é o gato?

   Há quem diga que conhece o gato, que todos sabem quem é o gato, o bem alimentado gato, o safado do gato. E há quem pense que a multa que os mensaleiros presos são obrigados a pagar corresponde ao dinheiro roubado, quando faz parte da pena. O dinheiro? Alô, alô Delúbio, Dirceu, Genoíno e comparsas: onde está o dinheiro?

    A culpa é do gato. Sumiu com o dinheiro. Alegando pobreza, os coitados dos ladrões estão pedindo doações pela internet. O PT é um partido muito rico: choveu dinheiro. A tal ponto que Gilmar Mendes - e não somente ele – desconfiou. Não será lavagem de dinheiro? De acordo com a Wikipédia, “lavagem de dinheiro é uma expressão que se refere a práticas econômico-financeiras que tem por finalidade dissimular ou esconder a origem ilícita de determinados ativos financeiros ou bens patrimoniais, de forma que tais ativos aparentem uma origem lícita ou a que, pelo menos, a origem ilícita seja difícil de demonstrar ou provar. É dar fachada de dignidade a dinheiro ilegal.

   Lavagem de dinheiro rima com brasileiro. O que mais funciona no Brasil são as lavanderias especializadas em dinheiro. Todos os dias os banqueiros do jogo do bicho passam para outros banqueiros que não são do jogo do bicho o dinheiro das suas “atividades ilícitas”, que volta branquinho no dia seguinte. Com o devido desconto pelo trabalho. É o que dizem os especialistas, e como o jogo do bicho é uma atividade ilegal “legalizada”, nada acontece, porque bicheiros são pessoas de bens (alheios?) que patrocinam escolas de samba, além de outras atividades beneméritas – como todos sabem.

    O golpe do Mensalão deixou até bicheiro que dá aula pra máfia italiana de queixo caído. Ficaram embevecidos. Que coisa esse tal de poder! Como se faz boas relações! O dinheiro saía por um banco, entrava pelo outro, ia até Portugal, voltava, viajava de novo e acabava branquinho nas mãos do Marcos Valério que repassava para os ilustres defensores do povo. Perfeição! Ou quase. Quando alguém dedurou foi um Deus nos acuda e até hoje o PT está de mal com a rede Globo e outras redes não tão globais.

    Não era pra dizer nada, mas disseram. Tentaram engavetar o processo que ficou sete anos na berlinda e, quando foram a julgamento os indiciados acreditaram que os ministros do STF nomeados por Lula e Dilma corresponderiam à camaradagem. Corresponderam até certo ponto. A maior parte da culpa recaiu sobre o distribuidor Marcos Valério, enquanto os chefes estão praticamente soltos, cumprindo quase simbólicas penas.

   E agora, os pobres coitados dos apenados, políticos presos que querem fazer acreditar que são presos políticos - indiretamente acusando a Dilma de ditadora, pois não há presos políticos em uma democracia -, pedem dinheiro. E o dinheiro aparece. Para eles, só para eles. Não para instituições de caridade ou para ajuda aos indígenas que estão sendo mortos e despejados das suas terras com a complacência do Governo; não para ajudar na construção de casas aos favelados que estão sendo expulsos de perto dos grandes estádios de futebol; não para acabar com Belo Monte, obra grotesca e monstruosa. Não. Arrecada-se dinheiro para os ladrões. Como têm cúmplices esses ladrões!

    Por essas e outras razões o ministro Gilmar Mendes – e não somente ele – suspeita do dinheiro das doações. E essa suspeita já resultou em um ataque furioso do iludido MST ao STF e em injúrias as mais diversas na internet. Neste momento, Gilmar Mendes divide com Joaquim Barbosa o título de inimigo nº1 do PT. Como é notório, o PT se acreditava o partido dos intocáveis. Foi tocado.

    Em resposta ao ministro, o senador Suplicy, amigo de Yoani Sánchez e da oposição cubana, preferiu dar conselhos sobre comportamento e noções de filosofia do “bom-mocismo”. O que não responde à pergunta de Gilmar Mendes (e não somente dele): de onde sai o dinheiro das doações aos ladrões mais famosos do Brasil? Abaixo, ressalto um trecho da carta do ministro do Supremo ao senador petista:

     “(...) Ademais, não sou contrário à solidariedade a apenados. Ao contrário, tenho a certeza de que Vossa Excelência liderará o ressarcimento ao erário público das vultosas cifras desviadas – esse sim, deveria ser imediatamente providenciado. Quem sabe o ex-tesoureiro Delúbio Soares, com a competência arrecadatória que demonstrou – RS600.000,00 em um único dia, verdadeiro e inédito prodígio! -, possa emprestar tal expertise à recuperação de pelo menos parte dos R$100 milhões subtraídos dos cofres públicos. Doravante, porém, sem subterfúgios que dificultem a fiscalização, como esse de usar sites hospedados no exterior para angariar doações moralmente espúrias, porque destinadas a contornar efeitos de decisão judicial.  (...)”

Um comentário:

  1. Excelente matéria sobre os mensaleiros. Mais uma. Ainda dá pano prá muita manga. Parabéns!

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