Ganha repercussão o
caso do médico cubano que foi autorizado pela administração municipal a fazer
um atendimento dentro do “Pronto Atendimento 24 Horas”, no dia 2 de janeiro, em
Candiota (RS), na ausência de médicos brasileiros. O médico plantonista
brasileiro não estava de plantão. Ou estava passeando ou cuidando do seu carro
ou atendendo outro paciente, fora do estabelecimento. Há várias versões. O fato
é que não havia sequer um plantonista naquele momento em que um dos pacientes
estava em estado grave, sob risco de morte.
Candiota é uma
pequena cidade de cerca de dez mil habitantes e têm seis médicos brasileiros
contratados, todos eles de outras cidades, como Bagé e Pelotas. Nenhum estava
presente no Pronto Atendimento quando o estado do paciente se agravou e a única
solução foi chamar o único médico enviado do programa “Mais Médicos” ao
município. Devido à urgência, o médico cubano Maikel Ramirez Valle foi chamado e
encaminhou o paciente para o pronto-socorro de Bagé, cidade próxima.
Ao chegar a Bagé, o
médico que recebeu o paciente viu que a requisição de internação não continha o
número do registro profissional e fez a denúncia. A situação era tão grave que
o paciente veio a falecer. Mesmo assim, a grande preocupação do médico bajeense
foi denunciar o colega cubano ao Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do
Sul (Cremers), porque os médicos estrangeiros estão limitados a atender nas
Unidades Básicas de Saúde (UBS).
O Cremers estendeu a
denúncia contra o médico cubano, por exercício ilegal da medicina, à Polícia
Federal, ao Ministério Público do Trabalho, ao Ministério da Saúde e ao Sindicato
Médico do Rio Grande do Sul (Cimers). Quando da vinda dos médicos cubanos,
médicos bajeenses fizeram uma greve simbólica de protesto e não se sabe se isso
poderia ter ocasionado alguma piora nas condições de saúde de pacientes que
deixaram de ser atendidos.
O que se sabe é que
aqueles médicos “grevistas” pouco estão ligando para os seus pacientes e muito
para os seus salários. O juramento de Hipócrates, no Brasil, não passa de uma
promessa e promessas podem ser descumpridas no país da cultura da corrupção.
Como conseqüência, e apesar dos esforços do prefeito de Candiota, Luiz Carlos Folador,
em defender o médico cubano, que estava apenas cumprindo o seu dever, se
acatadas as denúncias Candiota poderá ser descredenciada do programa “Mais
Médicos” e o médico cubano impedido de exercer a sua profissão no Brasil.
Este é apenas um dos
fatos, o mais recente, que revela a perseguição dos médicos estrangeiros –
principalmente os cubanos – por médicos brasileiros, desgostosos porque a sua
apática e burocrática prática médica, quando se trata de pacientes pobres, está
sendo posta em evidência e contraditada pela ação de médicos, como os cubanos,
que fazem da medicina um ato de amor.
Largamente veiculado
foi o caso do médico cubano que teria receitado dipirona em excesso para uma
criança, no bairro Viveiros, em Feira de Santana (BA). De acordo com a “Revista
Forum” (http://revistaforum.com.br/blog/2013/12/a-historia-do-medico-cubano-sabotado-por-duas-medicas-brasileiras/,
que publicou matéria de Kika Castro, o caso foi completamente diferente.
Gilmara Santos, a mãe
da criança doente, disse à jornalista que foi muito bem atendida pelo médico
Isoel Gomes Molina. “Ele me atendeu muito bem. Ele tratou meu filho super bem,
porque tem médico que nem olha na cara da mãe e nem da criança. Ele me explicou
direitinho como dar o remédio, disse ainda que a quantidade de gotas é definida
a partir do peso da criança. Ele prescreveu 40 gotas, mas foi apenas um erro.
Ele me disse exatamente o que eu deveria fazer, que era para dar apenas 10
gotas a cada seis horas.”
“Eis que, ao ver a
receita, outra médica — esta brasileira — “entendeu” que o médico havia
sugerido uma dose única de 40 gotas, tirou uma foto da receita médica — que é
um documento particular do paciente — e a publicou na internet, em uma rede
social. Em seguida, um vereador, chamado José Carneiro (PSL), viu a foto na
rede social e resolveu denunciá-la na Câmara Municipal e para a imprensa.
Quando perguntado por repórteres, ao que tudo indica, mentiu, dizendo que
Gilmara é que o tinha procurado para fazer a denúncia, o que ela negou
veementemente.”
Na internet choveram
críticas aos médicos cubanos e não adiantou o desmentido porque o episódio já
havia sido rotulado como “erro médico” e até hoje muita gente acredita que
realmente houve um erro médico, provavelmente devido ao fato do médico ser de Cuba,
um país socialista.
Entrevistada pela
Globo (http://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/2014/01/falta-amor-diz-cubana-que-completa-um-mes-de-mais-medicos-no-rs.html),
a médica cubana Lourdes Richardson Mann, que trabalha em Cristal (RS), cidade
que tem cerca de 8 mil habitantes, diz que “O Brasil vive um problema de falta
de caridade humana. Falta amor ao próximo”.
Lourdes estranha
muito a burocracia existente para casos de urgência. Diz que em Cuba não existe
isso. “Pedir permissão para internar em caso de urgência? Isso não existe lá.
Fiquei sabendo que as pessoas entram na Justiça para conseguir um leito aqui. É
um absurdo”.
Aos poucos, os
médicos estrangeiros estão constatando os absurdos da medicina brasileira.
Também em Bagé, um caso recente ficou famoso: uma pessoa ficou em torno de cinco
horas esperando em uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA). Sentia dores e o
seu caso foi rotulado como não muito grave. E ficou esperando. Ela acredita que
o médico (ou a médica) de plantão estaria na internet.
A internet é outro
grande problema que aflige profissionais de todas as áreas. Não só em Bagé.
Aqui, no entanto, sei de professores que passam o dia inteiro postando no
Facebook e fico me perguntando como eles fazem para preparar as aulas. Ou darão
aulas através das redes sociais. Aulas de comportamento: faça isso, não faça
aquilo. Ou aulas de amor e ódio: fulano é mau, beltrano é ruim. Ou aulas de
civilidade: bom dia, boa noite, já volto, até amanhã...
Não só os professores.
O único perigo que oferecem é o de matar a cultura. Médicos podem matar pessoas
por ação ou omissão, como aconteceu em Candiota. E fica tudo por isso mesmo.
Este é um país que vai pra frente somente quando desfilam as escolas de samba.
Ótima matéria sobre os médicos cubanos e a hostilidade dos médicos brasileiros em relação aos mesmos. É compreensivel, pois a mentalidade dos primeiros os surpreende e assusta. Parabéns!
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