quarta-feira, 26 de novembro de 2014

O NECKER DE DILMA E AS NOSSAS BASTILHAS





“O mundo se divide em três categorias de pessoas: um pequeno número que produz os acontecimentos; um grupo mais importante que vigia a sua execução e assiste ao seu cumprimento e, enfim, uma grande maioria que jamais saberá o que na realidade está acontecendo.”
(Nicholas Murray Butler – membro do Conselho de Relações Exteriores dos Estados Unidos)

Em 30 de setembro de 2014, o jornal “El País”, da Argentina, publicou a seguinte notícia: “O Brasil saltou de sexta para terceira posição na lista dos países com o maior volume de dívida junto a credores estrangeiros, apontou relatório divulgado nesta terça-feira pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). O país ficou atrás apenas da Espanha, país mais endividado, e dos Estados Unidos, que lidera o ranking. De acordo com os dados do FMI, publicados pelo jornal O Globo, a dívida externa brasileira total atingiu 750 bilhões de dólares (o equivalente a 1,8 trilhão de reais) ou 33,4% do Produto Interno Bruto (1,01% do PIB global). O órgão observou ainda que o governo brasileiro deve agir com rapidez para reduzir o prejuízo”. 

   “Mas o Lula não tinha dito que a dívida externa tinha sido paga ao FMI?” – alarmam-se os petistas de carteirinha. Disse. Em 2008. E para pagar a dívida ao FMI, Lula captou dinheiro junto aos banqueiros, que compraram os títulos da dívida. O Brasil pagava 4% ao ano para o FMI e passou a pagar 19,5% ao ano para os banqueiros, que são os verdadeiros donos do Brasil. 

   Além disso, de 2008 para cá, o governo brasileiro de Lula e Dilma endividou-se ainda mais e somando-se dívida externa com dívida interna o total da dívida alcançou cerca de 2 trilhões de reais, comprometendo 65% do Produto Interno Bruto. Quando Lula foi eleito Presidente, em 2003, somente a dívida externa era cerca de 300 bilhões. Agora é quase o dobro. Junte-se a isso o roubo desenfreado nas empresas públicas, patrocinado pelo PT e partidos aliados e temos um país fraudado e rumo à falência. 

   Para tentar evitar maiores danos e seguir a receita de órgãos internacionais, como o FMI, Dilma está formando um ministério claramente conservador, e se for confirmado Joaquim Levy como ministro da Fazenda – homem de confiança do sistema e que já pertenceu ao FMI, ao Banco Central Europeu e ao Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e hoje é um dos diretores da Bradesco Asset Management - oficialmente Dilma estará entregando a economia brasileira a um dos principais representantes dos bancos que devoram o Brasil. 

   Com o PT estertorando e cada vez mais dividido em lutas internas, quem manda de fato é o PMDB, partido que realmente sustenta o governo, e assim continuará enquanto estiver recebendo excelentes propinas. Por fora, corre o PP, que de progressista tem apenas o nome e é uma continuação da ARENA, partido oficial do regime militar e agora apoiando o governo de Dilma. 

   Os três partidos (PT, PMDB e PP) são os principais envolvidos no que foi apelidado de escândalo do Petrolão – um roubo gigantesco de bilhões de reais desviados da Petrobras para pagar campanhas eleitorais e enriquecer políticos e empresários. 

   Enquanto as investigações prosseguem e cada vez mais vai sendo elucidada a maneira como o roubo era (é?) feito, Dilma revela a sua face muito reacionária, formando um novo ministério que faria inveja aos sonhos mais utópicos da extrema-direita. Entrega o Brasil de vez aos bancos nacionais e internacionais com o objetivo explícito de diminuir o furor da oposição liderada pelo PSDB, talvez com a esperança de que aquele partido volte à sua tradicional atuação apagada no Congresso Nacional em troca de alguma gorjeta do que sobrar do assalto às estatais. 

   Com o Congresso vendido e o Executivo empestado de vez, resta aos brasileiros a esperança na lisura da Polícia Federal, na atuação do Ministério Público e de um Judiciário que, no Supremo Tribunal Federal infelizmente foi devidamente aparelhado para defender o governo e seus aliados. 

   Porém, ainda existe outra possibilidade. Jacques Necker, quando assumiu pela segunda vez o cargo de diretor das Finanças da França, a chamado de Luís XVI, entre outras medidas convocou os Estados Gerais que, ao contrário do que ele planejava, transformou-se em Assembléia Nacional. Na época, tinha sido vetada a proposta de Turgot, antecessor de Necker, para uma reforma econômica que incluísse o imposto sobre as grandes fortunas da nobreza e do clero. A convocação dos Estados Gerais foi uma tentativa de Necker de dar maior poder ao Terceiro Estado – a Burguesia – em troca do seu apoio financeiro. 

   De nada adiantou. Os burgueses queriam todo o poder, esperando que o regime se transformasse em uma monarquia parlamentarista, como na Inglaterra. Necker foi despedido por Luís XVI, devido à sua “condescendência extrema” com os Estados Gerais, para, em 16 de julho de 1789, reassumir com o título de Primeiro Ministro das Finanças. 

   No entanto, a revolução estava em andamento. Insuflado pelos membros burgueses da Assembléia Nacional, que não conseguia avançar, o povo de Paris tinha se rebelado e tomara a Bastilha, em 14 de julho. Havia fome na França, que estava quebrada depois da derrota da Guerra dos Sete Anos contra a Inglaterra e do auxílio a fundo perdido para os revolucionários independentistas da América do Norte. 

   A revolução avançava, enquanto Necker tentava medidas tradicionais de antecipações e empréstimos, recusando-se aceitar a emissão de um novo papel-moeda inflacionário – títulos do Tesouro conhecidos como assignats. Em setembro de 1790, Necker demite-se pela terceira e última vez. Era protestante, judeu-suíço e representava as principais casas bancárias da Europa que desejavam a França como sua eterna dependente. 

   Joaquim Levy poderá ser o Necker de Dilma que, para livrar a cabeça, está apostando em uma política econômica conservadora e recessiva, com aumento de impostos e arrocho nas políticas sociais. As classes mais altas serão favorecidas e as classes mais baixas perderão gradativamente o seu mínimo poder aquisitivo. Nesse meio tempo, ao contrário do que Dilma imagina, os escândalos não serão abafados e as revelações de corrupção se avolumarão. Há muitas bastilhas a derrubar.

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