A
república declarada em 1889 foi uma cópia golpista dos Estados Unidos até no
nome: Estados Unidos do Brasil. A primeira bandeira republicana, criada por Ruy
Barbosa era igualzinha á bandeira norte-americana: listras e estrelas. Os
republicanos de primeira hora já nasceram elitizados e entreguistas, reconhecendo
a dívida externa com a Inglaterra e dividindo o país em estados onde governavam
famílias de oligarcas, todos ligados ao exército. Ao contrário dos demais
países sul-americanos onde o povo participou de cruentas guerras contra os
espanhóis para conquistar a sua liberdade, destacando-se líderes como Bolívar e
San Martín, no Brasil o povo ficou sabendo que a república tinha sido
instaurada, ou decretada, no dia seguinte ao golpe militar.
Em 18 de novembro de 1889 três dias após o golpe da república, Aristides Lobo escreveu no Diário Popular, de São Paulo: “Por ora, a cor do governo é puramente militar e deverá ser assim. O fato foi deles, deles só porque a colaboração do elemento civil foi quase nula. O povo chorou com aquilo tudo, bestializado, atônito, surpreso, sem conhecer o que significava. Muitos acreditaram seriamente estar vendo uma parada!”
Em 18 de novembro de 1889 três dias após o golpe da república, Aristides Lobo escreveu no Diário Popular, de São Paulo: “Por ora, a cor do governo é puramente militar e deverá ser assim. O fato foi deles, deles só porque a colaboração do elemento civil foi quase nula. O povo chorou com aquilo tudo, bestializado, atônito, surpreso, sem conhecer o que significava. Muitos acreditaram seriamente estar vendo uma parada!”
Várias
décadas depois, em 1930, Getúlio Vargas liderou a única verdadeira revolução
brasileira, acabando com a república dos generais e dos empresários vendidos e
reconstruindo o Brasil. Em 1994, Darcy Ribeiro escreveu:
“Getúlio
Dornelles Vargas (São Borja, RS 1883-1954) foi o maior dos estadistas
brasileiros. Foi também o mais amado pelo povo e o mais detestado pelas elites.
Tinha de ser assim. Getúlio obrigou nosso empresariado urbano de descendentes
de senhores de escravos a reconhecer os direitos dos trabalhadores. Os
politicões tradicionais, coniventes, senão autores da velha ordem, banidos por
ele do cenário político, nunca o perdoaram.
“Os
intelectuais esquerdistas e os comunistas não se consolam de terem perdido para
Getúlio a admiração e o apoio da classe operária. Com eles, o estamento
gerencial das multinacionais. Getúlio foi o líder inconteste da Revolução de
1930. Tendo exercido antes importantes cargos, Getúlio pôde se pôr à frente do
punhado de jovens gaúchos que, aliados a jovens oficiais do Exército, os
tenentistas, desencadearam a Revolução de Trinta. A única que tivemos digna
desse nome, pela profunda transformação social modernizadora que operou sobre o
Brasil.
“No
plano político, a Revolução de 30, proscreveu do poder os coronéis-fazendeiros
com seus currais eleitorais e destituiu os cartolas do pacto
"café-com-leite", que faziam da República uma coisa deles.
Institucionalizou e profissionalizou o Exército, afastando-o das rebeliões e
encerrando-o dentro dos quartéis.
“No
plano social, legalizou a luta de classes, vista até então como um caso de
polícia. Organizou os trabalhadores urbanos em sindicatos estáveis,
pró-governamentais, mas anti-patronais.
“No
plano cultural, renovou a educação e dinamizou a cultura brasileira. Getúlio
governou o Brasil durante 15 anos sob a legitimação revolucionária, foi
deposto, retornou, pelo voto popular, para mais cinco anos de governo.
Enfrentou os poderosos testas-de-ferro das empresas estrangeiras, que se
opunham à criação da Petrobras e da Eletrobrás, e os venceu pelo suicídio,
deixando uma carta-testamento, que é o mais alto e mais nobre documento
político da história do Brasil. (...)”
Hoje,
no momento em que o Brasil está novamente sendo dilacerado por aves de rapina
de todos os partidos, quando o povo não sabe onde está a verdade, pois é
manipulado pela mídia dos empresários ligados ao capital estrangeiro, quando
ressurge o fascismo que se evidenciou em 1954 e 1964, Getúlio Vargas faz uma
imensa falta. Ou por outra: faz grande falta o espírito nacionalista que ele
encarnou e que se reflete na sua carta-testamento.
“Mais uma vez, as forças e os interesses contra o povo coordenaram-se e
novamente se desencadeiam sobre mim. Não me acusam, insultam; não me combatem,
caluniam, e não me dão o direito de defesa. Precisam sufocar a minha voz e
impedir a minha ação, para que eu não continue a defender, como sempre defendi,
o povo e principalmente os humildes.
Sigo o destino que me é imposto. Depois de decênios de domínio e
espoliação dos grupos econômicos e financeiros internacionais, fiz-me chefe de
uma revolução e venci. Iniciei o trabalho de libertação e instaurei o regime de
liberdade social. Tive de renunciar. Voltei ao governo nos braços do povo. A
campanha subterrânea dos grupos internacionais aliou-se à dos grupos nacionais
revoltados contra o regime de garantia do trabalho. A lei de lucros
extraordinários foi detida no Congresso. Contra a justiça da revisão do salário
mínimo se desencadearam os ódios. Quis criar liberdade nacional na
potencialização das nossas riquezas através da Petrobrás e, mal começa esta a
funcionar, a onda de agitação se avoluma. A Eletrobrás foi obstaculada até o
desespero. Não querem que o trabalhador seja livre.
Não querem que o povo seja independente. Assumi o Governo dentro da
espiral inflacionária que destruía os valores do trabalho. Os lucros das
empresas estrangeiras alcançavam até 500% ao ano. Nas declarações de valores do
que importávamos existiam fraudes constatadas de mais de 100 milhões de dólares
por ano. Veio a crise do café, valorizou-se o nosso principal produto. Tentamos
defender seu preço e a resposta foi uma violenta pressão sobre a nossa
economia, a ponto de sermos obrigados a ceder.
Tenho lutado mês a mês, dia a dia, hora a hora, resistindo a uma pressão
constante, incessante, tudo suportando em silêncio, tudo esquecendo,
renunciando a mim mesmo, para defender o povo, que agora se queda desamparado.
Nada mais vos posso dar, a não ser meu sangue. Se as aves de rapina querem o
sangue de alguém, querem continuar sugando o povo brasileiro, eu ofereço em
holocausto a minha vida.
Escolho este meio de estar sempre convosco. Quando vos humilharem,
sentireis minha alma sofrendo ao vosso lado. Quando a fome bater à vossa porta,
sentireis em vosso peito a energia para a luta por vós e vossos filhos. Quando
vos vilipendiarem, sentireis no pensamento a força para a reação. Meu
sacrifício vos manterá unidos e meu nome será a vossa bandeira de luta. Cada
gota de meu sangue será uma chama imortal na vossa consciência e manterá a
vibração sagrada para a resistência. Ao ódio respondo com o perdão.
E aos que pensam que me derrotaram respondo com a minha vitória. Era
escravo do povo e hoje me liberto para a vida eterna. Mas esse povo de quem fui
escravo não mais será escravo de ninguém. Meu sacrifício ficará para sempre em
sua alma e meu sangue será o preço do seu resgate. Lutei contra a espoliação do
Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto. O
ódio, as infâmias, a calúnia não abateram meu ânimo. Eu vos dei a minha vida.
Agora vos ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo
no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na História.”
Getúlio
Vargas
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