sexta-feira, 21 de agosto de 2015

O GOLPE DE DILMA ROUSSEF




A esquerda brasileira começa a acordar do seu sono metafísico que provoca sonhos reformistas e revela o capitalismo com uma aura de bem-estar para os bem alimentados, e piedade para os “desamparados”. Não, não pensem que o Lula anda lendo Marx. Ele já afirmou que não é socialista, mas sindicalista. Eu não me refiro ao pessoal do PT quando escrevo a palavra “esquerda”. Todos sabem que o PT morreu dormindo nas palhas, induzido pelo medo de que suas reformas fossem além do permitido, e acordou temeroso de perder o poder que desapareceu enquanto sonhava. Esse tipo de “esquerda”, como o PT, Psol, PPS, PCdoB, PSB e outros que tais tende a sumir dentro das suas próprias contradições e só atrai oportunistas, que poderiam sentir-se bem em partidos como PMDB ou PDT. 

   Com Dilma Roussef o PT tirou a máscara: é um partido que disputa espaço com o entreguista PSDB, tornando-se igualmente entreguista e antinacionalista. O PT mostrou-se um partido que ignora os trabalhadores e a grande massa de brasileiros enlouquecidos pela fome e pela miséria. O PT entregou a Mata Atlântica e a Amazônia aos latifundiários. O PT entregou todo o país aos oligarcas e aliou-se a conhecidos corruptos, como Paulo Maluf e José Sarney. Igualzinho ao PSDB do Fernando Henrique. 

   Não se pode considerar o PT como um partido de esquerda. Ao contrário, o PT tentou acabar com a esquerda ao propor um sindicalismo de resultados feito de alianças com os patrões, que beneficiou somente um setor trabalhista. Pessoas como Lula e outros demagogos conquistaram um espaço que tradicionalmente pertenceu à verdadeira esquerda contando com o apoio da grande mídia que enfatizava as greves do ABC e faziam de Lula “um grande líder”, a exemplo do direitista Lech Walesa que fundou o sindicato Solidariedade na Polônia para se opor à União Soviética, com o apoio da CIA, e depois se tornou presidente daquele país que hoje é uma das pontas-de-lança da OTAN contra a Rússia. Sem a mídia o PT não existiria como grande partido. 

   O PT foi aparelhado pela direita inteligente – pois, acreditem ou não, existe uma direita inteligente – com o objetivo de diluir os movimentos populares agrupando-os em um partido de massas e, principalmente, evitar que o antigo PTB de Getúlio Vargas e João Goulart – o verdadeiro partido dos trabalhadores que foi golpeado em 1964 – voltasse a ter uma forte influência depois de 25 anos de ostracismo político.  

   O grande medo dos donos da ditadura militar que fizeram um pacto político para entregar o poder aos civis aliados era que o PTB voltasse com força à cena política brasileira. Para impedir que isso acontecesse foi criado o PT. Lula e o PT surgiram na hora certa para fazerem o contraponto, a necessária antítese que leva à síntese do capitalismo reformista. 

   Como produto do capital, o PT tornou-se descartável no momento em que se imaginou dono do poder e não concordou em fazer o revezamento com o PSDB, conforme estava implicitamente proposto no acordo de elites que recriou a república. A política é bem mais do que aquilo que é veiculado pelos meios de comunicação. É provável que esse acordo determinasse dois mandatos para cada partido – a exemplo dos partidos Republicano e Democrático, dos Estados Unidos. Sendo assim, Lula poderia governar por oito anos, ou dois mandatos, e depois “perderia” para algum candidato do PSDB. Não por acaso as suspeitas urnas eletrônicas foram adotadas no sistema eleitoral brasileiro. O voto virtual é realmente virtual. 

   Não interessa ao Sistema um grande partido dominando a cena política. A receita capitalista do que eles chamam de “democracia” propõe dois partidos alternando-se no poder: um supostamente mais à direita, outro supostamente mais à esquerda. Ambos governam para dez por cento da população e enganam o povo. E o povo enganado sente-se feliz acreditando que está em um país livre e democrático. 

    Lula não cumpriu o acordo e quando Dilma foi eleita pela primeira vez, os conservadores ouriçaram-se e começaram a preparar o fim do PT. O processo do Mensalão foi acelerado e líderes presidenciáveis, como José Genoíno e José Dirceu, foram condenados e presos. O PT não cedeu e ameaçou reeleger Dilma Roussef. Então, aconteceram as jornadas de junho de 2013, brilhantemente articuladas para desacreditarem a política e os políticos. O mote era a corrupção, o objetivo final era desmoralizar o PT, facilitando a eleição de um político reacionário em 2014. 

    Em 2014, Aécio Neves perdeu as eleições – com ou sem a ajuda das famosas urnas eletrônicas. Reeleita, Dilma jogou-se nos braços da direita acreditando salvar o seu mandato ao cumprir uma pauta retrógrada. Em seu ministério existem pessoas como Kátia Abreu, representante das oligarquias fundiárias, e o super-ministro Joaquim Levy, que defende os interesses dos grandes bancos nacionais e internacionais e promove reformas políticas nitidamente a favor do capital e contra o povo e os trabalhadores. 

   O temido golpe já foi dado pela própria Dilma e consiste em entregar a economia para os banqueiros, a terra para os latifundiários, as empresas públicas para as multinacionais, acabar com os direitos sociais e trabalhistas e aceitar todas as alianças com os Estados Unidos e países europeus com governos de direita, como a Alemanha de Merkel. Uma guerra com a Rússia está à vista e esses países precisam da matéria-prima brasileira. De quebra, uma lei antiterrorista que segue o ditado estadunidense, permitindo incriminar legítimos movimentos sociais. 

    Um golpe branco, sem a necessidade da ostensiva presença militar. Um golpe respaldado por leis aprovadas no Congresso e pela omissão do Judiciário. Um golpe que se finge de democrático, como em 1964, e que ressuscita grupos fascistas, como o CCC (Comando de Caça aos Comunistas), que pode ter jogado uma bomba no Instituto Lula, recentemente, e o Esquadrão da Morte, que pode estar por trás dos 33 assassinatos em Manaus, no dia 17, e os 18 assassinatos em Osasco e Barueri, no dia 13. 

    Contra o golpe, que já é visível e palpável, a massa trabalhadora marchou no dia 20. Não pela Dilma, mas pelo que ela significa como Presidente: um Estado de direito cada vez menor. Os trabalhadores manifestaram-se contra a retirada dos direitos trabalhistas, contra Joaquim Levy, o golpista dentro do Planalto, a quem Dilma obedece, contra Eduardo Cunha, que simboliza o pior tipo de reacionário corrupto, contra Renan Calheiros, que deseja impor o que chama de “Agenda Brasil”: a rapinagem dos nossos recursos naturais pelo capital internacional, reduzir os gastos sociais para dar o dinheiro aos bancos, desmantelar o SUS, entregando-o ao capital privado. 

    Não foi um protesto em defesa do Lula ou do PT, que já traiu a classe trabalhadora várias vezes. Eles que morram abraçados, “que os mortos enterrem os seus mortos”. A verdadeira esquerda que tenta defender o povo e os trabalhadores está começando a acordar e a entender que o capitalismo, mesmo “reformado”, sempre será capitalismo, trazendo em seu bojo o ódio, a intolerância, o preconceito, a selvageria e a barbárie.

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