No
país da corrupção, imagine a seguinte possibilidade: dois times vão jogar na
última rodada do Campeonato Brasileiro de Futebol, vulgo Brasileirão. Um deles
precisa da vitória para disputar a Copa Libertadores da América. O outro
precisa da vitória para escapar do rebaixamento.
O
time que precisa escapar do rebaixamento é muito famoso e é dono de grande torcida
numa Cidade tão Maravilhosa que precisa de intenso policiamento nas favelas, o
que não evita os arrastões, os crimes mais escabrosos e as mortes diárias por
“balas perdidas”.
O
outro time representa um clube mais humilde, que raramente está na imprensa fora
do seu estado, mas é de uma cidade famosa no mundo inteiro pelas suas inovações
urbanísticas e o cuidado com o meio ambiente. Uma cidade que tem altos índices
de educação, o menor índice de analfabetismo e a melhor qualidade na educação
básica entre as capitais. Um modelo para o Brasil.
O
jogo começa e alguns minutos depois o time da cidade-modelo faz um gol.
Merecidamente. Pouco depois começa uma briga generalizada. O jogo é
interrompido e torcedores são levados para hospitais. Os dirigentes do time que
está perdendo pedem que a partida seja suspensa. Recomeçaria, supostamente, no
dia seguinte, com os portões fechados, sem as torcidas. Principalmente sem a numerosa
torcida da casa. O juiz não concorda e espera a garantia de que a partida pode
recomeçar com segurança.
A
partida recomeça e o time da cidade-modelo arrasa o time da Cidade Maravilhosa,
aplicando uma modelar goleada por 5 a 1. Alguns torcedores do time da Cidade Maravilhosa
são presos. Gente especialista em briga, com conhecimento de artes marciais.
A
imprensa da Cidade Maravilhosa diz que todos são culpados, o que é uma óbvia falácia,
porque em qualquer confronto, mesmo num jogo de Xadrez, sempre alguém faz a
primeira provocação ou, se preferirem, o primeiro lance.
Devido
aos acontecimentos, o clube do time que foi goleado e rebaixado para a segunda
divisão avisa que vai entrar com recurso no Superior Tribunal de Justiça
Desportiva para ganhar os pontos da partida e evitar o rebaixamento.
Poucos
acreditam que o recurso seja aceito, mas, no país da corrupção tudo pode
acontecer. Isto posto, algumas perguntas.
1)
Como a imprensa majoritária do centro do país, apesar das suas múltiplas
câmeras não sabe quem começou a briga, dando a entender que tudo aconteceu ao
mesmo tempo – o que seria extremamente estranho, inédito e curioso – qual torcida
você acha que teria maior interesse em interromper a partida, no instante em
que o time da cidade-modelo estava vencendo o time da Cidade Maravilhosa?
2)
Os dirigentes do time da Cidade Maravilhosa não queriam recomeçar a partida,
mesmo depois que todas as condições de segurança foram asseguradas. Foram
obrigados a colocar o time em campo ou perderiam os pontos. A continuação da
partida sem torcida favoreceria psicologicamente a qual time?
3)
Hoje em dia o futebol não é mais o esporte do povo, mas da classe média alta que
pode se deslocar para lá e para cá, acompanhando os seus times. Além dos altos
preços dos ingressos, os torcedores gastam com hospedagem, alimentação e prováveis
compras extras. Segundo a imprensa entre os torcedores do time da Cidade Maravilhosa
estavam pessoas que moram em favelas e são justamente aqueles que comandaram a
pancadaria pelo lado da torcida da Cidade Maravilhosa. Torcedores de futebol dedicados
a outros esportes, como jiu-jitsu, luta livre, etc. Você acredita que a briga
aconteceu por acaso?
Outras
perguntas que não querem calar:
Você
acredita em Papai Noel e Coelhinho da Páscoa?
Dilma
e Clinton fazem um belo par da Nova Esquerda?
É
verdade que o livro de cabeceira do Clinton é sobre os pensamentos de Martin
Luther King e de Gramsci?
Não
ficou bonitinha e coerente a fotografia de Dilma, Lula, Fernando Henrique,
Collor e Sarney indo para o velório de Mandela com o mesmo ar compungido, ou
você acha que faltou o Maluf?
O
Brasil vai lutar muito para vencer a Copa do Mundo?
Interessantee irônica matéria! Perguntas bem articuladas. Concordo inteiramente com as respostas.
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