Tem havido uma grande
confusão sobre a Rússia, não só no Brasil e demais países, como também... na
Rússia. Veículos de informação não muito credíveis devido às suas alianças
ideológicas com Washington procuram passar a falsa idéia de que a Rússia atual
é a mesma União Soviética rediviva 25 anos após a sua (auto?) dissolução e que
Vladimir Putin, o presidente russo, é uma espécie de Stálin que a todos domina
e impõe a sua vontade. E, sendo assim, a anexação da Criméia à Rússia, seguida da
vitória nos novos referendos por independência em Lugansk e Donetsk faria parte
de um maquiavélico plano do governo russo que visa reintegrar os antigos
territórios da União Soviética.
Na Rússia, os canais
oficiais de informação, como “Voz da Rússia” e “Diário da Rússia”, em conformidade
com o seu governo, aproveitam para passar à população por tantos anos
desacreditada e desiludida depois da desintegração da União Soviética, que,
realmente, o antigo poderio soviético voltou, ou está voltando principalmente
através das Forças Armadas que possuem aviões, navios e mísseis de última
geração, além de um poderoso exército muito bem treinado e preparado para todas
as situações. Afirmam esses meios de comunicação que a economia está sólida,
apesar da inflação (controlada, visto o consumo não ter diminuído), que o nível
de patriotismo do povo russo está cada vez maior e que a ciência e a educação da
Rússia se desenvolvem com grande rapidez.
Sem dúvida, a Rússia
é um país em crescimento acelerado em todos os setores. Domina a tecnologia
espacial a ponto de tornar os Estados Unidos dependentes dos motores e foguetes
lançadores russos e até 2020 quase dois trilhões de rublos já estão destinados
para as atividades espaciais, com o objetivo de colocar 100 novos satélites em
órbita, além da ambição de colonizar a Lua a partir daquele ano. Inclusive, na
terça-feira, 13, a Rússia anunciou que, a partir de 2020, não permitirá mais a
presença de astronautas dos Estados Unidos na Estação Espacial Internacional.
A respeito desse
assunto, o vice-primeiro ministro russo, Dmitri Ragozin, afirmou que “o
segmento russo pode existir independentemente do americano. Já o americano depende
de nós”. E ainda: “É preocupante continuar desenvolvendo grandes projetos de
alta tecnologia com um sócio tão pouco confiável como os Estados Unidos, que
politizou tudo e todos”. Além disso, a partir de 1º de junho, as 11 estações
GPS instaladas no território russo serão suspensas e substituídas pelo sistema
Glonass, de fabricação russa – caso os Estados Unidos não aceitem a instalação
de estações russas do sistema Glonass em seu território.
Muitas empresas estatais estão recebendo grandes aportes financeiros e a mão-de-obra especializada tem emprego garantido na Rússia, que pretende estar desenvolvendo uma vacina para a cura da AIDS, tem uma população satisfeita com o seu nível de vida - segundo as últimas pesquisas -, um dos melhores sistemas de ensino do mundo, baixo nível de criminalidade e o controle da economia. É um país que busca a independência econômica e financeira, e está tomando medidas reais para que isso se concretize.
Muitas empresas estatais estão recebendo grandes aportes financeiros e a mão-de-obra especializada tem emprego garantido na Rússia, que pretende estar desenvolvendo uma vacina para a cura da AIDS, tem uma população satisfeita com o seu nível de vida - segundo as últimas pesquisas -, um dos melhores sistemas de ensino do mundo, baixo nível de criminalidade e o controle da economia. É um país que busca a independência econômica e financeira, e está tomando medidas reais para que isso se concretize.
A Rússia está
reabilitando o que houve de melhor durante a União Soviética. Recentemente, a 9
de maio, festejou-se em 24 capitais, a vitória na II Guerra Mundial, dando-se
especial ênfase à luta contra o fascismo, principalmente neste momento em que a
Ucrânia – dominada por fascistas e neonazistas – está sendo usada por Estados
Unidos e União Européia para provocar uma guerra que desestabilize o leste
europeu e interrompa os planos de crescimento da Rússia.
Aproxima-se o governo
russo da China e de alguns outros países que se pretendem socialistas, como
Cuba, Nicarágua e Vietnã; reforça o apoio à CEI (Comunidade dos Estados
Independentes), que já contou com onze países e agora tem a defecção da Geórgia
e da Ucrânia e, tendo em vista a crescente influência do Ocidente na CEI,
fundou a União Euroasiática, que inclui os países mais fiéis, como Bielorússia,
Tajiquistão, Quirguistão e Cazaquistão.
Através do grupo
BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) salienta-se a liderança
russa, que incentiva o intercâmbio científico e cultural entre os países
membros, propõe a criação de um banco de reservas monetárias, para o qual estão
sendo canalizados $100 milhões, e o desenvolvimento de uma grande base de dados
para a troca de informações econômicas, visando a criação do seu próprio Banco
de Desenvolvimento. O objetivo é descentralizar o sistema econômico mundial,
que está concentrado nos Estados Unidos e na União Européia.
A Rússia atual está longe de ser a União Soviética, que se suicidou devido à estagnação política iniciada com Nikita Kruschev e à traição de dirigentes na era pós Brejnev, culminando com o entreguismo de Mikhail Gorbachev. É outra Rússia. É uma Rússia capitalista, que procura esconder a luta de classes e busca o caminho do reformismo e não da revolução. Em muitos lugares Lênin ainda é reverenciado como herói nacional, mas antigo herói de uma época que passou. A Rússia reformista adotou o capitalismo consumista, mesmo que não aceite os padrões estipulados pelos Estados Unidos e procure uma via própria de desenvolvimento.
A Rússia atual está longe de ser a União Soviética, que se suicidou devido à estagnação política iniciada com Nikita Kruschev e à traição de dirigentes na era pós Brejnev, culminando com o entreguismo de Mikhail Gorbachev. É outra Rússia. É uma Rússia capitalista, que procura esconder a luta de classes e busca o caminho do reformismo e não da revolução. Em muitos lugares Lênin ainda é reverenciado como herói nacional, mas antigo herói de uma época que passou. A Rússia reformista adotou o capitalismo consumista, mesmo que não aceite os padrões estipulados pelos Estados Unidos e procure uma via própria de desenvolvimento.
É claro que ainda
existe um partido comunista na Rússia, provavelmente muito parecido com o PCdoB
brasileiro ou, mesmo, com o burocrático PCB. Um partido estagnado em memórias
das glórias passadas, que abdicou da revolução e conserva muito pouco de
marxismo. Assim como a China recuou, passando do socialismo ao capitalismo de
Estado, a Rússia tenta avançar, desejando ultrapassar o capitalismo monopolista
das grandes empresas - onde o Estado é apenas um gerente, como nos Estados
Unidos – para chegar ao capitalismo de Estado.
Isso assusta muito o
Ocidente, liderado por Estados Unidos e Inglaterra, que ainda defende – e
pratica – o capitalismo selvagem multimídia, formador de grandes massas
populacionais absolutamente passivas, onde dominam os bancos e grandes
corporações multinacionais e o lucro torna-se a única ideologia. Esse medo
ocidental traduz-se na suscitação de guerras e golpes de Estado, principalmente
em países muito próximos à Rússia, visando um cerco militar, visto que sanções
econômicas costumam não surtir qualquer efeito decisivo.
Em 2008, a Rússia viu-se
obrigada a defender a Ossétia do Sul, invadida pela Geórgia, com o apoio dos
Estados Unidos e armas e munições compradas da Hungria, Sérvia, Grécia,
Letônia, Lituânia, Turquia, França, República Tcheca, Estônia, Israel,
Bósnia-Herzegovina, Estados Unidos e Ucrânia. Os países da OTAN puseram à
disposição da Geórgia cerca de 300 tanques e carros de combate. A Geórgia
recebeu 67 peças de artilharia e morteiros, 150 equipes de mísseis anti-tanques
e 200 sistemas de defesa antiaérea, além de navios, helicópteros, aviões de
guerra e seis lanchas torpedeiras. Somente a Ucrânia entregou à Geórgia 90
tanques e carros de combate, 10 aviões EL-29, 4 helicópteros e 10 sistemas de
mísseis antiaéreos Aktsiya. Mercenários foram contratados para auxiliar o
exército da Geórgia.
Preparava-se a
operação “Campo Limpo”, antecedida por manobras conjuntas com os Estados
Unidos, intituladas “Resposta Imediata”. Objetivo: invadir a Ossétia do Sul e
colocar tropas da OTAN na fronteira com a Rússia. Para isso – acreditavam os
georgianos e seus assessores dos Estados Unidos – seria necessário “limpar o
campo”. Na madrugada de 8 de agosto de 2008 começou o massacre. Cidades e
aldeias foram destruídas na Ossétia do Sul, centenas de civis assassinados,
entre os quais muitos cidadãos russos. A Rússia reagiu e em cinco dias derrotou
a Geórgia e os Estados Unidos. No mesmo dia 08 de agosto de 2008 iniciavam-se
as olimpíadas de Pequim e, no Ocidente, ficou-se sabendo vagamente que havia
uma guerra na distante Geórgia, por culpa da invasão da Rússia.
A verdade histórica
costuma ser adulterada com muita facilidade, mas é curiosa a semelhança entre a
guerra da Geórgia e a atual crise na Ucrânia, onde Estados Unidos e aliados
tentaram novamente criar um país obediente que faz fronteira com a Rússia.
Perderam a Criméia, o acesso à fronteira russa e estão lutando contra uma
rebelião no leste da Ucrânia. À semelhança da Geórgia, enviaram armas,
assistentes militares e mercenários da famosa organização militar privada
Greystone Academi. Assim como na Geórgia, quando iniciaram o ataque contra a Ossétia
do Sul, apelidaram a repressão ao leste da Ucrânia de “operação antiterrorista”.
E, igualzinho ao que se passou na Geórgia, já começaram os assassinatos de
civis.
No entanto, desta vez, a Rússia não reagiu imediatamente. Limitou-se a colocar o seu
exército de prontidão, mas nada fez. Inclusive, os militantes de Odessa (onde
houve aquele terrível massacre patrocinado por fascistas), da região de
Lugansk, da região de Donetsk e de outros lugares que se revoltaram contra o
governo fantoche da Ucrânia estão estranhando muito a inércia do governo russo
em relação ao que se passa na Ucrânia. Talvez confundam a Rússia de hoje com a
União Soviética, que se fazia respeitar sempre que necessário.
Hoje há outra Rússia,
uma Rússia que só ataca quando é atacada, como aconteceu na Ossétia do Sul e na
Criméia, uma Rússia que não tem como objetivo destruir o capitalismo, sistema
do qual ela faz parte, por opção ou por estratégia, mas do qual depende
economicamente para o seu desenvolvimento. A Rússia de hoje é conservadora,
mesmo buscando novos caminhos, o que pode parecer contraditório, mas são
caminhos estritamente dentro do capitalismo; caminhos que poderão ser chamados
de progressistas, na melhor das hipóteses, e que não descuidam daquilo que já
foi conquistado a duras penas nesses últimos vinte e cinco anos. Por isso não
se expõe, e mesmo recua quando entende necessário.
E por isso faz acordos
com os países que a agridem – como o reconhecimento das eleições na Ucrânia em
25 de maio e o não reconhecimento das recém proclamadas repúblicas de Lugansk e
Donetsk. Se fosse a União Soviética a agir assim, seria chamada de traidora.
Mas não se deve confundir: esta é outra Rússia.
Uma Rússia que eu desconhecia. Obrigada pelas informações e análises. Parabéns!.
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