Em que pensam os
jogadores brasileiros selecionados para a Copa do Mundo? Em futebol, provavelmente,
e nos ganhos que esse esporte pode lhes proporcionar. Pensarão em mais alguma
coisa, além do que lhes apresenta o meio egocêntrico em que vivem?
Eventualmente, serão induzidos a pensar, através da mídia, nas criancinhas, na
cura da AIDS, no racismo ou na fruta que lhes atirarem das arquibancadas. Com
certeza, desejarão a não violência nos estádios, atualmente apelidados de “arenas”.
Acredito que, para eles, o torcedor bom é o torcedor tipo classe média
amestrada, aquele que poderá assistir aos jogos da Copa, porque ao povo – que tem
o mau hábito de revelar-se perigoso - foi vedado esse luxo.
O que estão fazendo
os jogadores da seleção de futebol, neste exato momento, em suas suntuosas
acomodações? Jogarão ping-pong ou estarão a debater os problemas brasileiros,
como a fome, a miséria, a educação, a saúde? Talvez pratiquem Tai-Chi-Chuang,
joguem xadrez, escrevam teses sobre as pernas tortas de Garrincha ou os antigos
amores da Xuxa com o Pelé... Estarão preocupados com as manifestações
populares?
Afinal, eles não se consideram povo. Ganham milhões. São milionários,
e povo, para eles, é aquela massa muito pobre que protesta porque é muito pobre
em relação ao que ganham os heróicos jogadores de futebol.
Sabem que vencerão a
Copa do Mundo e devem estar pensando nos prêmios prometidos. É impossível que
não saibam que a Copa é nossa, é deles, é do Governo que investiu bilhões, a
fundo perdido, para ganhar esse torneio de futebol. Os demais países
participantes provavelmente já foram avisados. Em 1950 deixaram de comunicar ao
time do Uruguai que a Copa deveria ser ganha pelo Brasil e foi aquele desastre.
Aproveitaram para culpar o goleiro brasileiro. Era um negro, e foi muito tempo
depois que inventaram o sistema de cotas, para justificar a escravidão. Nesse
meio tempo surgiu Pelé, o rei do futebol, um negro com alma branca, segundo
dizem.
Os mulatos, brancos e
negros jogadores da seleção brasileira de futebol sentiram-se constrangidos
quando mais de 300 pessoas - a maioria formada por professores da rede pública
fluminense, com o apoio de despejados da favela da Telerj - protestaram contra
a discriminatória Copa no aeroporto do Galeão? Dificilmente. Estavam muito
preocupados em fazer caras e bocas para os entusiasmados fotógrafos.
Foi necessário o
apoio da tropa de choque para tentar dispersar o grupo de manifestantes que
gritavam “Pode acreditar, educador vale mais do que Neymar!”. É uma grande
verdade, mas será que os talentosos jogadores reconhecem essa verdade? A imprensa
bem comportada diz que houve somente um empurra-empurra, sem o uso de gás
lacrimogêneo, gás de pimenta ou balas de borracha. Essas armas, e outras, estão
sendo preservadas para uso intensivo contra as grandes manifestações durante a
Copa do Mundo.
Mas os iluminados
jogadores da seleção de futebol, gênios entre os gênios, fabulosos artistas...
da bola, por um só momento reconhecerão que o privilégio que desfrutam na Copa
onde brilharão como endeusadas estrelas representa um altíssimo custo para um
país governado por pessoas que relevam a educação e a saúde para o último lugar
na sua pauta de compromissos sociais?
Quem sabe eles nem
sabem sobre isso, não querem saber. O grande negócio deles é bola, bolinha,
bolão. Bolada.
Excelente matéria! É bem isso, Blogueiro. Concordo plenamente. Parabéns!.
ResponderExcluir