- E então, seu Chico,
o Celso de Mello é quem vai decidir se os mensaleiros merecem outro julgamento.
- Numa sexta-feira 13,
o número do PT. Ficaria muito óbvio, o senhor não acha? Vão deixar pra quarta-feira pra causar suspense e dar maior audiência. O Celso de Mello? Vai ficar famoso. Acredito que lá para o
futuro, quando se falar em corrupção e supremos julgamentos, haverá quem venha
a dizer: “Desde os tempos do Celso de Mello...” Mas veja o senhor que não é o
único. Ao que tudo indica o Celso de Mello apenas vai dar o tiro de
misericórdia na nossa ingênua noção de justiça. Está bem acompanhado:
Lewandovski, Dias Toffoli, Rosa Weber, Teori Zavasck e Luis Roberto Barroso.
Tudo gente boa, mui amigos da Dilma, do Lula... Ainda bem que não tem gaúcho no
meio.
- Tem sim, seu Chico.
A Rosa Weber é de Porto Alegre.
- Vergonha! Me tapei
de quero-quero! Deve ser uma recém nomeada, assim como aquele teórico, e o boi
barroso ou coisa parecida. Meu Deus!, estou até esquecendo os nomes das
supremas autoridades. Mas então a moça é porto-alegrense? Com certeza foi
indicada pela Dilma. Menos mal que é de Porto Alegre e não de Santa Maria, Passo
Fundo, Bagé e todas as outras cidades do interior que são realmente gaúchas.
Porto Alegre, o senhor sabe, sempre com um pé lá e outro cá. E geralmente o pé
que fica do lado de lá puxa o outro. Considerando esses considerandos, nem dá
pra culpar a senhora dona, doutora excelentíssima, com tantas alegres influências
que deve ter recebido na sua vida. Quem sabe é uma alma boa... De boa fé, quero
dizer...
- Ficou atrapalhado,
seu Chico.
- Confesso que
fiquei. Deve ter sido o susto. Vou relevar esse voto feminino, que deve ter
sido moderado e movido pelo bom senso, talvez pela sensibilidade própria
daquele sexo. Ela deve ter imaginado o coitado do Zé Dirceu preso, triste, sozinho
naquele presídio. Deu pena. Quanto aos porto-alegrenses, nem todos são daquele
jeito e com aquele sotaque. Tem muita gente boa por lá. Não foram eles que
iniciaram a Guerra dos Farrapos?
- E terminaram
defendendo o império.
- Começaram e terminaram,
concordo. Lá dentro daquelas lojas maçônicas, com grandes e embevecedores
discursos em nome do Grande Arquiteto e coisa e tal... Queriam trocar o
governador do estado e se viram envolvidos em uma revolução separatista - veja
que coisa!... Imagine o Caxias mandando recados: “Mas quê! Então vocês me
traíram? Traíram o ideal maçônico de um Brasil grande, espichado e marasmento
como um bicho-preguiça, e querem se separar?” E eles respondendo: “Ó irmão Grande
Preboste, grande e poderoso como grandes e poderosos sabem ser os grandes
prebostes! Não é bem assim. Ocorre que a pobre gente do interior se entusiasmou
e cá ‘stamos envolvidos nesta guerra que não desejávamos, até prometemos a
libertação dos escravos (imagine aquela negrada solta, o que não vão aprontar!)
e já lá vão quase dez anos, as nossas fazendas ‘stão abandonadas, a riqueza
diminui, até a peonada anda se dando ares e cá ficamos um tanto quanto
encalacrados...” E Caxias: “Seus incompetentes! Seus aloprados! Segurem as
pontas que eu vou dar um jeito nisso. A propósito, o tal de Canabarro continua
por aí?”
- Só o senhor, seu
Chico...
- É verdade, só eu
sou eu, por incrível que pareça, mas bem que eles podem ter tido umas
conversinhas desse tipo. Irmãos com irmãos. E depois, o massacre de Porongos, o
armistício, os chefes indo para as suas fazendas no Uruguai e voltando para
ajudar o império na Guerra do Paraguai... Tudo entre irmãos. E isso me lembra
que o tal de mensalão, que já perdeu o sal e virou uma saladinha muito frugal,
deve ter muito de irmão com irmão conversando nas grandes salas dos passos
muito perdidos das lojas, e não por acaso loja virou sinônimo de lugar de
compra e venda.
- Loja vem de Logos,
Verbo, manifestação divina. No início do evangelho de São João ele escreve: “No
princípio era o Logos, e o Logos estava com Deus, e o Logos era Deus”.
- Pois tá explicado!
São João não é o grande patrono da Maçonaria? E eu acho que loja, além de
significar Logos, também se refere a logística, lugar onde se organizam os
acontecimentos que, depois, para os profanos, se transformarão em grandes
notícias. Maçom é um bicho que pensa que é Deus e ninguém tira isso da cabeça
deles. Como os juízes do Supremo. Tanto é que se chama Supremo. Aqueles, quando
morrem vão direto pro Céu sentar à mão direita do Deus-Pai-Arquiteto, porque na
esquerda eles não sentam jamais. Já imaginou maçom de esquerda? Nem na época
dos carbonários, do Mazzini e do Garibaldi, que fizeram uma revolução na Itália
para unificá-la sob um rei. Falavam muito em república, que viria a seu tempo,
depois de tudo bem combinadinho dentro das lojas: quem recebe quanto e de que
maneira.
- Como no mensalão?
- Pois não é que o
senhor agora me avivou para essa possibilidade? Se soltarem os ditos cujos
ladrões conhecidos, mas que não podem ser presos, porque ladrão rico nunca vai
preso, ainda mais ladrão ligado ao Governo... Pois se soltarem Zé Dirceu e
camarilha, quer dizer que aí tem coisa.
- Que coisa, seu Chico?
- Mas o senhor não
vê?! Bateu a cegueira com esse tempo osco, que não é inverno nem verão, muito
antes pelo contrário? Se soltarem os qüeras – e vão deixar eles soltos, ao que
tudo indica, com exceção de um ou dois que vão pagar o pato pelos outros e
talvez não sejam irmãos juramentados – é sinal verde para a roubalheira geral,
seja em que governo for. Sendo do Governo, pode roubar. Sempre vão dizer que é
para o bem de todos e para a felicidade geral da nação, e a tal de nação, que
não é a nação colorada ou gremista, vai ter de engolir em seco e aceitar. E tem
mais: daqui pra frente vão fazer os seus roubos de maneira bem mais organizada,
sem deixar furo. O Lula não chegou a dizer que eles, os mensaleiros, são uns
aloprados porque se deixaram pegar?
- Mas seu Chico, isso
seria o fim das instituições.
- Ao contrário, aí é
que o senhor se engana. Seria a instituição de uma lei nova sobre todas as
instituições. Nova, nem tanto, e que pode ser resumida pelo adágio popular: “Quem
pode mais chora menos”. E para a nação obtusa, futebol e carnaval. E estamos
conversados.
- Mas a oposição...
- Pois a tal de oposição
um dia desses vai virar situação e trato é trato. É aí que mora a coruja!
- O senhor está
querendo dizer que os juízes do Supremo são corruptos?
- Claro que não,
vivente! Tanto não são que cinco deles votaram pela lei e a verdade. Os outros
votaram pela volubilidade da lei e da verdade, se acham muito certos e até fizeram
um 'mea culpa' ao desejarem um novo julgamento dos mensaleiros. Admitiram, ou
lembraram, que o julgamento do qual eles participaram teve erros. São muito
humildes, o senhor não acha? E juiz humilde e coisa difícil de se ver. Costumam
ser cheios de conjuminâncias e prolixidades. Estes, pelo jeito, são tão
humildes que até é provável que façam uma peregrinação pelo Caminho de Santiago,
guiados pelo Paulo Coelho com a espada mística na mão. Quem sabe a mística
espada de justiça cega...
- Depois de soltarem
os mensaleiros.
- Claro. Em agradecimento.
- Se bem que o Celso
de Mello pode votar junto com os cinco que não consideram a lei muito volúvel.
- Ah, mas claro que
pode! E o senhor acredita? E isso me lembra a letra de uma música gaudéria. O
senhor deve conhecer. O título é “O BARULHO DO MEU RELHO”, de Germano Fogaça e
Lawrence Wendt. O início é assim: “Ah leleque leque leque leque leque leque
leque/É o barulho do meu relho no lombo desses moleque...” Vem bem a propósito.
Lá no Supremo eles tão dando voltinhas na lei pra soltar esses moleques
- no mínimo moleques! - quando o que eles mereciam era uma surra de relho!
- Mas seu Chico, e a
Lei da Palmada?
- É da palmada e tem
a ver com a palma da mão. Não se fala em relho na lei. E quanto a isso de
lei... Coitada, como ficou caprichosa, volúvel, cheia de vontades, volátil,
inconstante, manhosa!...
S. Chico e interlocutor tiram um verdadeiro sarro sobre nossas leis. Rir é o remédio quando nada podemos ainda fazer. Parabéns!.
ResponderExcluir