quarta-feira, 4 de setembro de 2013

DIAS DE IRA




Tentei telefonar para Dilma, comunicando minha solidariedade no caso da espionagem. Não deu. Talvez eu tenha discado o número errado, mas só o que se ouvia era: “Este é um grampo amistoso da NSA. Ouça com atenção e reflita. Brasil: ame-o ou deixe-o. Se preferir deixá-lo, escolha os Estados Unidos. Se escolher os Estados Unidos, será preso, porque quem liga pra Dilma deve ser de esquerda e esquerda aqui só direção de automóvel, mas já há um projeto contra a respeito. Se for preso, vai pra Cuba, lá na prisão de Guantánamo. Se for pra Guantánamo, pode esquecer a vida. Este é um grampo amistoso...”

   Desliguei e decidi telefonar pro seu Chico. “Alô. Seu Chico?” “Este é um grampo amistoso...” Desconsolado, saí pra rua, não sem antes acrescentar longa barba falsa e só depois, quando tentava me esquivar das mini-câmeras presas aos postes de luz e a outros lugares muito secretos é que me dei conta que a barba postiça poderia chamar ainda mais a atenção, quem sabe me confundiriam com um muçulmano, perigoso terrorista preparando-se para jogar uma bomba. Assustado, entrei num bar, pedi licença e fui ao banheiro, onde retirei a barba. Quando voltei, o dono me olhou com uma cara ainda mais assustada. “Pensei que era carnaval”, tentei explicar.

   É carnaval. É claro que é carnaval! Coisas assim só acontecem no país do carnaval, que dura o ano inteiro, conforme o programa humorístico das Três Gralhas que ouço, às vezes, pra desopilar, na Rádio Imponderável. Ainda ontem, entre um e outro ataque ao Mais Médicos, a Gralha Principal falou: “Eu não disse? Agora ela vai cair. Esperem o 7 de setembro”, referindo-se à diabólica espionagem dos Estados Unidos sobre a Dilma: grampos nos seus telefones, devassa nos seus e-mails, seqüestro de senhas, decodificação dos IPs dos seus computadores – enfim, tudo o que já sabemos que eles fazem com todos no mundo inteiro, mas agora está explícito exatamente quem, que, quando, onde, como e porque. A Gralha Número Dois respondeu: “Disse, é claro que disse!” e a Gralha Número Três ecoou: “Vai cair! Vai cair! Oba!”. Ela estava com a voz muito rouca e eu desconfiei que tivesse pegado, adquirido, contraído a gripe aviária. Ou a suína: tudo pode acontecer no carnaval.

   Por falar nisso, o 7 de setembro está chegando e muitas são as manifestações organizadas. Até em Três Estrelinhas há cartazes afixados em lugares bem visíveis conclamando para o grande dia. Algo assim como “Participe da irada manifestação escolhendo o alvo da sua ira”. Fazendeiros, amigos e agregados já aderiram. Pelo que deu pra entender, serão atos políticos contra a política. Tem gente, segundo ouvi dizer, querendo convidar o Reinaldo Azevedo, a Gralha Principal e até o Lobão para fazer um manishow. Vai ser uma festa!

   Ou quase. Durante a ditadura militar, tanques e similares saíam às ruas, soldados marchavam em passo-de-ganso e o chefe da cidade, o general, ficava no palanque ao lado do Bispo, do Prefeito e do Presidente da Câmara de Vereadores. Todos muito sorridentes. O povo olhava. Nos últimos democráticos anos, os tanques sumiram e há poucos soldados marchando. Também marcham alunos de escolas. Quando passam em frente ao palanque são aplaudidos pelo general, pelo Bispo, pelo Prefeito, pelo Presidente da Câmara de Vereadores e pelos fazendeiros e grandes comerciantes – os verdadeiros chefes da cidade.

   Neste 7 de setembro, a ira das ruas provavelmente atrairá de volta os tanques e muitos soldados armados, cantando seus hinos preferidos e até, quem sabe, gritando o seu slogan favorito: “Yes, we can!”

   Dias de ira. Obama estará atacando a Síria, o Irã, atraindo a Rússia para uma guerra forçada ou uma paz submissa e aqui e em toda a América Latina, no bric-a-brac do império, sinal verde para festivos e irados golpes. Questão de segurança nacional. Devaneios... Devaneios?

   Mas onde estará o seu Chico? Nos últimos dias tenho tentado ligar pra ele, tomar um mate, por os assuntos em dia, perguntar o que ele acha deste momento tão histórico que estamos vivendo... Histórico ou histriônico?

   Um país que não tem forças para responder a ultrajes, como espionagem aberta e declarada, ficará conhecido como o grande histrião da História. No mínimo, a Dilma deveria romper relações com os Estados Unidos. Terá coragem?

2 comentários:

  1. Muito engraçada a matéria. Como engraçados são os dirigentes de um país de nome Brasil. Ah! Dona Dilma. E agora? Estamos esperando. Até quando a submissão continuará frente ao Império? Parabéns, blogueiro.

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  2. Muito engraçada a matéria. Como engraçados são os dirigentes de um país de nome Brasil. Ah! Dona Dilma. E agora? Estamos esperando. Até quando a submissão continuará frente ao Império? Parabéns, blogueiro.

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