Tentei telefonar para a Dilma, comunicando minha solidariedade no caso da espionagem. Não deu. Talvez eu tenha discado o número errado, mas só o que se ouvia era: “Este é um grampo amistoso da NSA. Ouça com atenção e reflita. Brasil: ame-o ou deixe-o. Se preferir deixá-lo, escolha os Estados Unidos. Se escolher os Estados Unidos, será preso, porque quem liga pra Dilma deve ser de esquerda e esquerda aqui só direção de automóvel, mas já há um projeto contra a respeito. Se for preso, vai pra Cuba, lá na prisão de Guantánamo. Se for pra Guantánamo, pode esquecer a vida. Este é um grampo amistoso...”
Desliguei e decidi
telefonar pro seu Chico. “Alô. Seu Chico?” “Este é um grampo amistoso...” Desconsolado,
saí pra rua, não sem antes acrescentar longa barba falsa e só depois, quando
tentava me esquivar das mini-câmeras presas aos postes de luz e a outros
lugares muito secretos é que me dei conta que a barba postiça poderia chamar
ainda mais a atenção, quem sabe me confundiriam com um muçulmano, perigoso
terrorista preparando-se para jogar uma bomba. Assustado, entrei num bar, pedi licença
e fui ao banheiro, onde retirei a barba. Quando voltei, o dono me olhou com uma
cara ainda mais assustada. “Pensei que era carnaval”, tentei explicar.
É carnaval. É claro
que é carnaval! Coisas assim só acontecem no país do carnaval, que dura o ano
inteiro, conforme o programa humorístico das Três Gralhas que ouço, às vezes, pra
desopilar, na Rádio Imponderável. Ainda ontem, entre um e outro ataque ao Mais
Médicos, a Gralha Principal falou: “Eu não disse? Agora ela vai cair. Esperem o
7 de setembro”, referindo-se à diabólica espionagem dos Estados Unidos sobre a
Dilma: grampos nos seus telefones, devassa nos seus e-mails, seqüestro de
senhas, decodificação dos IPs dos seus computadores – enfim, tudo o que já
sabemos que eles fazem com todos no mundo inteiro, mas agora está explícito exatamente
quem, que, quando, onde, como e porque. A Gralha Número Dois respondeu: “Disse,
é claro que disse!” e a Gralha Número Três ecoou: “Vai cair! Vai cair! Oba!”.
Ela estava com a voz muito rouca e eu desconfiei que tivesse pegado, adquirido,
contraído a gripe aviária. Ou a suína: tudo pode acontecer no carnaval.
Por falar nisso, o 7
de setembro está chegando e muitas são as manifestações organizadas. Até em
Três Estrelinhas há cartazes afixados em lugares bem visíveis conclamando para
o grande dia. Algo assim como “Participe da irada manifestação escolhendo o
alvo da sua ira”. Fazendeiros, amigos e agregados já aderiram. Pelo que deu pra
entender, serão atos políticos contra a política. Tem gente, segundo ouvi
dizer, querendo convidar o Reinaldo Azevedo, a Gralha Principal e até o Lobão
para fazer um manishow. Vai ser uma festa!
Ou quase. Durante a
ditadura militar, tanques e similares saíam às ruas, soldados marchavam em passo-de-ganso
e o chefe da cidade, o general, ficava no palanque ao lado do Bispo, do
Prefeito e do Presidente da Câmara de Vereadores. Todos muito sorridentes. O
povo olhava. Nos últimos democráticos anos, os tanques sumiram e há poucos
soldados marchando. Também marcham alunos de escolas. Quando passam em frente
ao palanque são aplaudidos pelo general, pelo Bispo, pelo Prefeito, pelo
Presidente da Câmara de Vereadores e pelos fazendeiros e grandes comerciantes –
os verdadeiros chefes da cidade.
Neste 7 de setembro,
a ira das ruas provavelmente atrairá de volta os tanques e muitos soldados
armados, cantando seus hinos preferidos e até, quem sabe, gritando o seu slogan
favorito: “Yes, we can!”
Dias de ira. Obama
estará atacando a Síria, o Irã, atraindo a Rússia para uma guerra forçada ou
uma paz submissa e aqui e em toda a América Latina, no bric-a-brac do império, sinal
verde para festivos e irados golpes. Questão de segurança nacional.
Devaneios... Devaneios?
Mas onde estará o seu
Chico? Nos últimos dias tenho tentado ligar pra ele, tomar um mate, por os
assuntos em dia, perguntar o que ele acha deste momento tão histórico que
estamos vivendo... Histórico ou histriônico?
Um país que não tem
forças para responder a ultrajes, como espionagem aberta e declarada, ficará
conhecido como o grande histrião da História. No mínimo, a Dilma deveria romper
relações com os Estados Unidos. Terá coragem?
Muito engraçada a matéria. Como engraçados são os dirigentes de um país de nome Brasil. Ah! Dona Dilma. E agora? Estamos esperando. Até quando a submissão continuará frente ao Império? Parabéns, blogueiro.
ResponderExcluirMuito engraçada a matéria. Como engraçados são os dirigentes de um país de nome Brasil. Ah! Dona Dilma. E agora? Estamos esperando. Até quando a submissão continuará frente ao Império? Parabéns, blogueiro.
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