Achei estranho quando a Dilma se manifestou a favor
dos rolezinhos em shoppings, porque estaria indo contra os seus principais
aliados da burguesia e classe média alta, mas logo entendi que ela vislumbrou a
possibilidade de atrair os votos da juventude esvoaçante da periferia, aqueles
que passam dia e noite pensando em festas e que acreditam que ser jovem é um
grande brinquedo, e só então me dei conta que dar um rolê nos shoppings não
significa necessariamente protestar contra a sociedade de consumo que massifica
e transforma as pessoas em produtos. Muito pelo contrário.
Imaginem
que, desde o ano passado, eu tinha uma idéia errada sobre a juventude que
protesta, acreditando que realmente era composta por pessoas bem informadas e a
favor de uma mudança radical no sistema e tal e coisa e coisa e tal. Qual o
quê!
Aos
poucos, fui percebendo que sem os “Anonymous” e os “black blocs” - que todos ou
quase todos sabem que são cobra mandada dos serviços de informação
estrangeiros, atuando desde o Egito até a Síria, Irã, Rússia, Líbia, Venezuela,
Bolívia, Equador, enfim, aqueles países que são ou eram, de alguma forma,
contra o império – não haveria protestos, no máximo manifestações caóticas e
com pedidos mínimos e pontuais, jamais abrangendo o fim da política ou dos
políticos ou o fim do Estado para dar espaço aos boinas azuis da ONU. Ou coisa
pior.
E
para este ano estão previstas novas manifestações, com direito a vandalismo,
bombas de fabricação caseira e outras armas que o pessoal da CIA já deve estar
preparando, porque o Brasil é um país estratégico e deve ser dos Estados Unidos
não apenas através de tratados de boas intenções e trocas de bens e serviços,
mas totalmente - acredita Obama e seus sequazes - e nada como atiçar os mais
histéricos dentre os jovens, os que desejam muito correr e pular e gritar e são
programados para atender a todos os apelos publicitários e palavras de ordem,
principalmente se partirem daquele partido aliado que se finge de muito
esquerda e promete um golpe blanquista para junho.
Porque
o blanquismo é arma utilizada pela direita. Louis Blanc pregava a tomada do
poder político por uma minoria revolucionária, o que sempre foi contestado
pelos marxistas que não acreditam em revolução sem a participação popular, e se
até Luiz Carlos Prestes incorreu nesse pecado em 1935 – provocando uma grande
reação da direita – não significa que deva ser repetido, e sua tentativa
significaria apenas que há grupos de esquerda que agem infantilmente,
provocando a direita a dar seus golpes oportunistas. Mais vale dizer que são
grupos de direita travestidos de esquerda.
Protestar
contra a Copa do Mundo em um país de extrema pobreza é legítimo; denunciar o
barbarismo contra os favelados é uma obrigação; revelar os desmandos e a
corrupção na política deve ser um compromisso dos mais engajados. Mas jamais se
deve dar chance a que a extrema-direita aproveite um momento de caos para dar
um golpe e provocar novo retrocesso.
E o
que tem a ver o pessoal dos rolezinhos com isso? Nada. Absolutamente nada. O
pior é que nem infantis blanquistas eles são. Os rolezinhos são manifestações
de jovens desesperados porque não podem consumir e que tem o capitalismo como
um deus que deve ser cultuado diariamente. Assistem as propagandas de carros,
computadores, relógios, roupas, tênis caríssimos que são expostos em lugares
exclusivos para a classe média alta e ficam indignados, não pelas propagandas
ou pelos produtos que são muito caros, mas porque eles - jovens que moram na
periferia - não têm condições de comprar o que é anunciado.
Não
são comunistas, são consumistas que têm como grande objetivo na vida comprar
produtos de marcas consagradas. Para isso e pensando somente nisso usam gírias,
como “portar o kit” (se vestir bem), “tênis de mil” (gíria para as marcas Mizuno
e Adidas), “lala” (gíria para a marca Lacoste), “onda gigante” (gíria para a
marca Quiksilver), “setas” (gíria para a marca Ciclone), “pano loko” (roupas de
marca) e não gostam de “barracudas” (meninas briguentas), “lókis” (bagunceiros)
e “vermes” (policiais). Eles desejam
muito as “novinhas” (garotas novas) e elas
querem ficar famosas junto com os “garotos do momento” (quem fica famoso no
perfil do Facebook ou pelas roupas que usa). Chamam de “parceiro” ao logista e
muitos não renegam uma “farinha” (cocaína) ou “beck” (maconha).
São
amantes do rap e do funk, principalmente do Funk Ostentação, que fala de carros
(chamados de “naves”), vida de luxo, dinheiro e mulheres, e onde é importante
ostentar o “kit” (tênis, bermuda, camisa, anéis e colares, óculos escuros e
boné). Adoram letras de música como a do rapper 50 Cent, que possui discos como
“Power of the Dollar” (O Poder do Dólar) e “Get Rich or Die Tryin” (Fique Rico
ou Morra Tentando). Os cantores são chamados de Mestres de Cerimônia, ou MC
(deve ser pronunciado emici), os
instrumentistas de DJs (deve ser pronunciado dijeis) e os dançarinos ou participantes tentam ao máximo falar
inglês.
Não se
espere desses jovens qualquer rebeldia, exceto quando não podem comprar o que
desejam. Não serão revolucionários, porque perderam, ainda na juventude, a
capacidade de indagar e é muito provável que não gostem do ensino e detestem a
leitura. Tentam apenas copiar a cultura burguesa que lhes é ditada pelos meios
de comunicação e entregaram a sua força de vida ao capital.
Ultimamente,
resolveram se reunir nos shoppings para um rolezinho, provavelmente para ficarem
mais perto dos produtos desejados. Combinaram os encontros através da internet
e compareceram aos milhares. Foram repelidos, inclusive com bombas e balas de
borracha. Em sua maioria, são negros ou mestiços e logo perceberam a discriminação
e o racismo. Este é o país onde se diz cinicamente que há união entre as raças.
Agora, esses jovens que querem ficar ricos ou morrer tentando possivelmente
estejam aprendendo alguma coisa sobre a divisão de classes que não olha a cor
da pele, mas o dinheiro. Provavelmente, tentarão novos protestos, ou voltarão para
os bailes funk, muitos deles acreditando que em junho, data marcada para a
rebelião, poderão quebrar e assaltar.
Excelente matéria! Não conhecia nem o termo rolezinho. Grata pelas informações e análise sobre o assunto.
ResponderExcluirMuito rico-o texto- de informações dos movimentos ora em efervescência no país.
ResponderExcluirExcelente.
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