sábado, 29 de março de 2014

SEU CHICO E A FORÇA DO POVO




- Diga-me, seu Chico, o Pútin recuou? 

- Antes de tudo, trata-se de um político, esta é que é a verdade! Depois, permanecer com as tropas ali na fronteira com a Ucrânia, gastando com alimentação e tudo o que o senhor possa imaginar, é contraproducente – como diria o próprio Pútin. Já fez a sua demonstração militar na Criméia, provou para o mundo que as Forças Armadas russas são muito fortes e coisa e tal, e agora está na hora das conversações. 

- É uma pena, seu Chico. Eu tenho lido comentários de muita gente que acha que a Rússia poderia ser uma alternativa ao império, e agora, com essas conversações políticas, como o senhor diz... 

- Só há uma alternativa ao império: a conscientização popular. No dia em que o povo decidir não beber mais aquele refrigerante venenoso que eu me nego a dizer o nome, não assistir mais aos filmes feitos por babacas e para babacas, dos Estados Unidos, não usar mais as roupas deles, os carros deles, os celulares deles, toda aquela parafernália de produtos que eles querem nos enfiar goela abaixo, como se fossem muito necessários... Nesse dia teremos alguma esperança de uma alternativa ao império, porque este é um império baseado no capital, no lucro, no consumo, na matéria e na absoluta falta de moral. 

- Isso é quase impossível, seu Chico! Imagine o nosso povo não querendo consumir, tão domesticado que está a aceitar qualquer propaganda como verdade incontestável... Tem gente que se endivida só para comprar um carro ou uma roupa de grife ou um daqueles aparelhinhos portáteis, e depois se queixam da vida, da inflação, mas querem aparentar, aparecer aos outros como alguém que tem o que a propaganda manda ter... 

- Materialistas! Esta é uma sociedade de materialistas e de zumbis programados para o consumo – o senhor há de concordar comigo. Salva-se pouca gente. Mas eu não me refiro à sociedade que já está viciada em porcarias e acredita que a vida é feita de chips, anteninhas e trocas de mensagens afetuosas. Cultura zero! Espiritualidade zero! E não entenda espiritualidade o fato de ir à igreja, ficar rezando, praticar ioga ou recitar mantras. É muito mais que isso. Antes de tudo trata-se de sentir a vida, agradecer pela beleza da natureza e lutar para que essa beleza não continue a ser destruída, adquirir consciência social e lutar pelas causas populares, porque só no povo está o poder de transformar a sociedade. 

- Mas no nosso povo, seu Chico! 

- Pois saiba que o nosso povo é surpreendente Assim como está assistindo a novelas ou a jogos de futebol, também está nas ruas exigindo os seus direitos. Chega um momento em que o povo não agüenta mais tanta desonestidade e começa a se dar conta de que a vida é muito séria. Não diziam que o povo da Índia era feito de alienados? Pois expulsaram os ingleses através da desobediência civil e o boicote a todos os produtos importados. 

- Gandhi? 

- Não somente Gandhi, mas toda a sociedade indu. Gandhi foi um dos líderes. Vivemos numa sociedade que adora criar ícones e que detesta reconhecer a união popular. O nosso povo pode, sim, fazer a sua revolução, e não são poucas as opressões que temos sofrido. Um decreto presidencial contra o povo não é opressivo? Um Congresso que legisla em causa própria não é uma vergonha que vemos todos os dias? Um Judiciário que decide de acordo com interesses, muitas vezes escusos, não é um descalabro e uma ofensa à própria Justiça? O povo está vendo tudo isso. E se organizando. 

- Eu não vejo essa organização. 

- Não vemos tanta coisa!... Mas voltando à vaca fria... O tal de Pútin, que um dia eu pensei que era gaúcho, pela valentia demonstrada... Ele também tem que prestar contas ao povo russo, cuidar dos seus interesses. E não é só ele: é o próprio povo que o elegeu e que o apóia quase totalmente que pede uma mudança nas relações internacionais, que não significa, necessariamente, uma guerra neste momento. De preferência, em nenhum momento. A Rússia é um exemplo pela cultura e pela coragem. Não foram eles que venceram a II Guerra Mundial? 

- É verdade, seu Chico. Embora digam que foi os Estados Unidos, que só se aproveitou do caos europeu para lá estacionar os seus exércitos. Enquanto isto, jogavam bombas atômicas nas cidades japonesas. 

- Com a tecnologia dos cientistas alemães, diga-se de passagem. A história da humanidade é uma sucessão de mentiras criadas pelos vencedores das guerras. O grande medo deles é do povo organizado – me acredite. Quanto aos donos do poder, aqueles que aparecem para as fotos, se não obedeceram à vontade do povo, cedo ou tarde serão esquecidos. 

- Mas ainda há uma possibilidade, seu Chico. Eu acredito. 

- Eu também. Eu acredito na força do povo. Dos povos do mundo inteiro.

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