De 1853 a 1856 aconteceu a Guerra da Criméia, uma
península localizada nos Bálcãs, ao sul da Ucrânia e no sul da Rússia. França,
Inglaterra, Império Otomano (hoje Turquia) e a Sardenha uniram-se para derrotar
o então Império Russo. A questão foi basicamente estratégica, geopolítica:
dominar os Bálcãs, que ficam na região sudeste da Europa. Agora, 100 anos após a
1ª Guerra Mundial, iniciada em 1914, anuncia-se novo conflito na região.
O parlamento
russo autorizou o presidente Vladimir Putin a enviar tropas para a região da
Criméia, com o objetivo de proteger os cidadãos russos, que ultrapassam 60%
naquela república autônoma ainda ligada à Ucrânia. A outra razão do desembarque
de tropas russas na Criméia – ação que os aliados ocidentais jamais imaginaram tão rápida – é proteger a frota russa localizada no Mar Negro.
Antes disso,
radicais islâmicos de origem tártara, na República Autônoma da Criméia tentaram
fazer o que os ucranianos dirigidos por fascistas, através de uma organização chamada
“Setor de Direitas” – os Black Blocs ucranianos -, fizeram a partir da revolta
concentrada na praça Maidan, agora apelidada de praça Euro, no centro de Kiev,
capital da Ucrânia.
Desde
que o presidente da Ucrânia, Viktor Yanucovich, rejeitou o acordo comercial com
a União Européia, que foi preterida em favor da Rússia, foram necessários
apenas três meses de manifestações contra o governo ucraniano, e um grande
tiroteio na praça Maidan (Euro?) deixou mais de cem mortos e inúmeros feridos,
entre policiais e manifestantes armados, levando Yanucovich a recuar sob as
pressões políticas da Europa e dos Estados Unidos, cedendo o poder para o
parlamento ucraniano (RADA), que o destituiu, e só lhe restou fugir para a
Rússia, sob pretexto de proteger a sua vida e a de sua família, e a ele foram
imputadas todas as mortes ocorridas nas manifestações, inclusive as provocadas
pelos franco-atiradores do “Setor de Direitas”.
Ato-contínuo,
e ante a absurda omissão da Forças Armadas ucranianas, que permaneceram nos
quartéis a tudo assistindo e descumprindo o seu dever de proteger a
Constituição, os Black Blocs tomaram o poder e libertaram políticos presos que
apelidavam de presos políticos, como a ex-primeiro-ministro da Ucrânia, Yulia
Tymoshenko, acusada de vários crimes, tais como: intenção de subornar a Suprema
Corte, mau uso das finanças públicas, abuso de poder e evasão fiscal (desvio de
quase 200 milhões de dólares).
Outro
político preso por peculato e abuso do poder foi o ex- primeiro-ministro Yuri
Lutsenko, que, certa vez, também foi detido no aeroporto de Frankfurt, devido a
embriaguez. Depois de solto, criou o direitista Partido de Auto-Defesa Popular
e declarou-se aliado de Yulia Tymoshenko. Ambos, Tymoshenko e Lutsenko, muito
amigos da União Européia e dos Estados Unidos, aos quais estão prontos a
entregar a Ucrânia, deverão concorrer nas próximas eleições presidenciais,
provavelmente na mesma chapa.
Traçando
um paralelo não muito distante da realidade, é como se os políticos momentaneamente
presos, José Genoíno e José Dirceu, após uma insurreição popular-petista contra
qualquer coisa como, por exemplo, os cinco ministros do STF que preservaram a
sua dignidade não votando a favor dos embargos infringentes, ou resultados de
eleições não favoráveis ao seu partido, fossem soltos por mascarados armados e
concorressem a cargos, como Presidente, vice, etc. Ao lado de Lula, eternamente
embriagado pelo poder.
Na
Ucrânia, a “revolucionária” praça Maidan transformou-se em um centro comercial.
Segundo matéria do dia 23/02 do Jornal de Notícias, de Portugal, vendem-se
souvenirs “para todas as bolsas, credos colecionistas ou preferências
clubísticas”. Canecas decoradas com imagens de milicianos atirando bombas
incendiárias custam 4 euros. “Há Organizações Não-Governamentais de
credibilidade duvidosa a pedir para tudo e mais alguma coisa”. O cachecol do
Dínamo de Kiev custa 12 euros. Ou, como escreve o articulista Alfredo Leite: “Não
foi seguramente por terem vivido tantos anos debaixo de uma economia planificada,
em que o Estado ditava as regras que nada tinham a ver com o mercado, que os
ucranianos não aprenderam – e rápido – os preceitos do capitalismo mais feroz e
oportunista”.
Capitalismo.
Um golpe de estado não é nenhuma novidade em países reticentes quanto ao
capitalismo imposto por Estados Unidos e seus irmãos europeus. No entanto,
muitos dizem que não houve golpe na Ucrânia. Li na Carta Maior que foi um quase-golpe.
E fiquei a matutar: se foi um quase-golpe, então foi um talvez, um quem sabe,
uma possibilidade, uma hesitação, como a dos militares ucranianos que fingiram
que não era com eles. Alguns afirmam que golpe tem que ser fardado, com selo e
marca registrada. Na Ucrânia não foi assim, não houve necessidade. As armas
foram usadas pelos milicianos do “Setor de Direitas”, talvez cedidas pelo
exército. E os milicianos foram liderados por Vitali, Klitschkó, um ex-boxeador
que também deseja ser presidente.
Há
indícios de que o golpe na Ucrânia liderado por políticos corruptos (desculpem
a redundância) apoiados por Estados Unidos, União Européia e OTAN, tem como
objetivo maior forçar uma guerra civil na Ucrânia, com a provável separação da
Criméia, que já é uma república autônoma onde a maioria do povo se identifica
com a Rússia. A Ucrânia servirá apenas como ponto de apoio, base para as tropas
da OTAN, lugar onde serão colocados os mísseis estratégicos apontados para a
Criméia e, principalmente, para a frota da Rússia no Mar Negro.
É
como se, por exemplo, José Dirceu e quadrilha demorassem muito para sair da
cadeia, perdendo o carnaval e outras benesses que o dinheiro roubado ao povo
lhes dá e pedissem o apoio da União Européia, OTAN e Estados Unidos, que
invadiriam a Papuda e outras penitenciárias onde supostamente estão presos.
Estados
Unidos e aliados não hesitarão em provocar uma guerra naquela região. A Rússia,
que apóia a Síria e o Irã, inimigos declarados do “grande Satã” ocidental, já
foi identificada como o inimigo a ser destruído e, se isso acontecer caem todos
os governos ainda independentes, a começar pelos países rivais do Oriente
Médio. Como conseqüência, a China ficará cercada e será obrigada a ceder em
todas as frentes.
É
como se, por exemplo, José Dirceu, José Genoíno, Delúbio Soares e outros ladrões
menos cotados e endeusados pela multidão ululante de petistas de cabeça feita e
desejosos de seguir o exemplo de seus ídolos, resolvessem que o Brasil deve
anexar o Paraguai e mandassem os “brasiguaios”, que já têm quase metade das
terras daquele país, promover manifestações carnavalescas e seguidos jogos do
time do Lula, a ponto de nausear o povo paraguaio, que reagiria gritando
“silêncio ou morte”, momento em que generais amicíssimos de Dilma Roussef, com
grande experiência em invasão de favelas...
Por
enquanto, os aliados ocidentais tentam o levante popular na Criméia, fomentando
a rebelião entre os tártaros fundamentalistas. Por seu lado, a Rússia, que
questiona a legitimidade do novo governo da Ucrânia, já está mobilizando as
suas tropas. Os países imperialistas ocidentais tentam provocar uma guerra
exatamente na fronteira russa, um plano estrategicamente bem urdido, que teve
início com as manifestações em Kiev, seguidas do golpe de estado. A idéia era
justamente causar uma grande tensão na península da Criméia, conforme está
acontecendo. Sebastopol, cidade de 330.000 habitantes, é a sede da frota russa
no Mar Negro e, em caso de guerra, será o principal alvo dos mísseis da OTAN.
Ao contrário
do que alguns analistas escrevem uma guerra na Criméia não é o mesmo que a
invasão do Afeganistão pelos Estados Unidos, país que prefere guerrear muito
longe de suas fronteiras. Segundo André Vitchek e Noam Chomsky em seu livro “On
Western Terrorism”, o governo dos Estados Unidos já assassinou cerca de 60
milhões de pessoas desde o fim da 2ª Guerra Mundial, em guerras e intervenções
por todo o mundo.
E continuam
abrindo frentes de combate em países como Tailândia, Venezuela e Ucrânia,
através de “primaveras coloridas” sob o comando da CIA e de seus mercenários.
Sem contar a Síria, que, tudo indica, está para ser invadida por tropas
européias e estadunidenses. O golpe de estado fascista na Ucrânia é quase uma
declaração de guerra à Rússia, que na atual situação, não poderia se manter
alheia aos acontecimentos e fragilizar ainda mais as suas fronteiras.
Trata-se, também,
de testar armas e poderio bélico: uma queda de braços, que poderá ser decisiva,
entre Rússia e Estados Unidos e seus aliados. Além disso, a Europa está em
franca bancarrota, salvando-se dois ou três países, como Alemanha e Inglaterra
(que não aderiu ao euro), e sempre que houve uma grande quebra em países capitalistas,
a solução encontrada foi uma grande guerra, favorecendo a indústria bélica e os
banqueiros internacionais. O capitalismo, ao contrário do que alardeiam os seus
defensores e propagandistas, é um clube muito exclusivo.
É como se,
por exemplo, o PT perdesse as próximas eleições – devido a erro de programação
nas máquinas virtuais apelidadas de urnas, ou a qualquer outro motivo – e conclamasse
os seus lúcidos seguidores, sempre hipnotizados pelas verdades dos líderes
partidários, a acampar nas principais praças do país, alegando fraudes ou
qualquer outra tramóia do irmão gêmeo opositor, e dos protestos resultasse...
Muito boa matéria sobre o que se passa, hoje, na Ucrânia. Ótimas informações e análises. Valeu, Blogueiro.
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