Na madrugada de 1º de
setembro de 1939 a Alemanha invadiu a Polônia, dando início à II Guerra
Mundial. Anteriormente, em 1938, a Alemanha anexou a Áustria, com a anuência
dos austríacos. Em seguida, foi a vez da região dos sudetos, na
Tchecoslováquia, que abrigava minorias alemãs.
Com o Tratado de Versalhes,
imposto ao final da 1ª Guerra Mundial, a Alemanha tinha perdido a
Alsácia-Lorena e a Prússia Oriental, ou seja, o acesso ao mar. Em 1919, a
segunda república da Polônia foi criada quase artificialmente, com partes da
Alemanha, Império Russo e Áustria-Hungria. Dentro dela, e pertencendo à
Polônia, havia uma zona considerada “neutra”, mas habitada por alemães, Dantzig
(hoje Gdansk), que ficou conhecida como o “corredor polonês”.
O governo alemão (o
3º Reich) tinha como objetivo unir a Alemanha, assim dividida desde 1919,
incorporando ao seu território o corredor de Dantzig. Apesar de todas as
demandas, A Polônia mostrou-se inflexível e há versões, inclusive corroboradas
pela Cruz Vermelha, de que cerca de 58.000 alemães teriam sido assassinados por
poloneses na região disputada, acirrando o ódio entre poloneses e alemães. Por
seu lado, a Polônia assinara um tratado com a França e a Inglaterra, que previa
a defesa do seu território em caso de invasão. A armadilha estava montada e a
Polônia era a isca.
Dois dias após a
invasão da Polônia, França e Inglaterra declararam guerra à Alemanha, toda a
Europa foi convulsionada e a paz oferecida pelo governo alemão logo depois da
vitória sobre as tropas francesas e inglesas - que ocasionou a famosa retirada
de Dunquerque - não foi aceita. Nem mesmo o “misterioso” vôo de Rudolf Hess à
Inglaterra para tentar a paz, em 1942, ajudou. A guerra estendeu-se pelo mundo.
No oceano Pacífico, os Estados Unidos combatiam os japoneses e a União
Soviética, invadida pelos alemães em 1941, ofereceu tamanha resistência que
decidiu a guerra a favor dos aliados.
Nesse meio tempo, os
Estados Unidos já estavam com suas tropas na derrotada Itália (onde deixaram os
brasileiros tomando conta), logo após o desembarque na Normandia, e rumavam
celeremente para a Alemanha, apostando corrida com os soviéticos para ver quem
alcançava primeiro a Alemanha. O resultado foi o que se viu. A Alemanha
destruída e dividida entre dois impérios, e a Polônia, que servira de isca para
a deflagração da guerra e conseqüente transformação da Alemanha em colônia,
ficou do lado soviético.
A Europa e parte da
Ásia foi repartida entre os dois grandes centros de poder – Estados Unidos e
União Soviética – e iniciava-se a Guerra Fria que teve como resultado a
dissolução da União Soviética nos anos 1990. Com essa vitória, Estados Unidos e
aliados avançaram sobre o mundo. Não havia adversário a enfrentar, apesar da
China sempre se mostrar respeitável, mas a colônia Japão, com milhares de
tropas dos Estados Unidos, tratava de isolá-la.
A Rússia demorou
quase 24 anos para se recuperar das conseqüências do fim do império soviético
e, mesmo se tornando um país capitalista, logo após os governos entreguistas de
Gorbachev e Bóris Yeltsin, retomou o crescimento, não aderiu ao capitalismo
selvagem, não aceitou a globalização e colocou-se ao lado dos países que são
atacados pelo eixo Estados Unidos-Inglaterra, como Irã e Síria, além de ser
aliada da China.
Isso fez com que o
império visse na Rússia o inimigo a ser destruído. Depois de algumas
“revoluções coloridas” no norte da África, da invasão do Iraque e do
Afeganistão, da tentativa de invasão da Síria, de transformar os palestinos em
pessoas que moram em “campos de concentração” na faixa de Gaza e na
Cisjordânia, assegurando o domínio do aliado Israel no Oriente Médio, de
reiniciar a colonização da África, onde está a principal riqueza do momento – a
água – e de dominar grande parte dos governos latino-americanos, decidiram-se a
cercar, conter e subjugar a Rússia.
A estratégia foi a
mesma empregada no norte da África e em outros lugares: a tentativa de uma
“revolução colorida” coordenada pela internet contra o governo de Kiev, que
preferiu uma aliança comercial com a Rússia, preterindo a União Européia. A
praça Maidan, na capital da Ucrânia, foi o centro do espetáculo dirigido pela
CIA, que manipulou grupos fascistas e neonazistas, agora transformados em
partidos políticos, culminando em um golpe de Estado. O objetivo por trás do
domínio sobre a Ucrânia e seu governo fantoche era cercar definitivamente a
Rússia, controlar a rota do gás que passa pela Ucrânia para a Europa e, com o
tempo, colocar forças da OTAN na Criméia, em confronto aberto com a frota da
Rússia estacionada em Sebastopol.
A Rússia reagiu e, em
tempo recorde, conseguiu a reintegração da Criméia em seguida ao referendo que
revelou a vontade de mais de 97% da população crimeana. Estados Unidos e
aliados europeus pasmaram. Nunca imaginaram que a Rússia fosse reagir com tamanha
rapidez; esperavam, no máximo, protestos diplomáticos, queixas e resmungos, e
se viram frente a uma situação concreta que poderá levar a uma guerra. Resolveram
penalizar a economia russa com sanções comerciais que tem um indigesto efeito
retroativo. Sanções pessoais a membros do governo russo foram alvo de deboche,
e quase 200.000 cidadãos russos assinaram uma petição que será enviada aos
Estados Unidos, requerendo que também sejam sancionados.
O raivoso governo da
Ucrânia resolveu cortar a água da Criméia, fechando as comportas do canal
Severo-Krimsky que fornece 85% da água doce que a Criméia necessita. O leste da
Ucrânia, toda a região carbonífera e industrial, se rebelou contra o governo
artificial da Ucrânia, e foi proclamada a República de Donetsk, que pede a
integração ao território russo. O governo ucraniano começou o que apelidou de
“operação anti-terrorista”, atacando com milhares de tropas os redutos dos
rebeldes. A Rússia avisou que reagirá no caso de violação dos seus direitos ou
morte de cidadãos russos. Algumas mortes já aconteceram.
A Ucrânia, neste
momento, tem 15.000 soldados na fronteira com a Rússia, mais artilharia,
aviação e - muito provável – o apoio da OTAN. Do outro lado, a Rússia dispôs
cerca de 40.000 efetivos e poderá mobilizar o dobro imediatamente, se necessário.
Enquanto isso, tropas da OTAN e dos Estados Unidos estão sendo colocadas em
países limítrofes, como Lituânia e Polônia; grande número de aviões foram
enviados para esses países e navios da OTAN acercam-se do Mar Negro.
Falhas as tentativas para
cercar a Rússia através da Ucrânia, o império ostenta claramente a sua vontade
guerreira. No entanto, a Rússia, em sinal de conciliação, devolveu à Ucrânia os
navios de guerra que tinham sido tomados na Criméia. Não pode desejar a guerra
um país que arma o seu inimigo. Provavelmente, o governo russo ainda conte com
a possibilidade de paz na região e, no caso contrário, preferiria uma guerra de
posições estritamente na Ucrânia e em defesa dos militantes separatistas
pró-Rússia.
Mas dificilmente isso
será possível. Estados Unidos e União Européia necessitam do conflito para
tentar acabar de vez com a força e a influência da Rússia no leste europeu, e
desejam, para isso, de uma guerra ampla, que envolva, de início, todo o leste
europeu e não somente a Ucrânia. Quanto mais longa e abrangente for a guerra,
maior será o desgaste do inimigo, ainda que este consiga algumas vitórias
iniciais.
A mesma estratégia
que foi adotada contra a Alemanha, na 2ª Guerra Mundial. Por seu lado, a Rússia
talvez acredite na aliança com a China. Não deveria. A neutralidade chinesa é
um mau indício. Resta saber se Estados Unidos e aliados estariam dispostos a
agir agora, incitando uma guerra com a Rússia no momento em que têm sérios
problemas com a Coréia do Norte, Síria e Irã – principalmente. Além da Rússia.
Mas talvez se decidam: há muitos interesses envolvidos e, se desejassem a paz,
não estariam provocando a Rússia de todas as maneiras imagináveis.
A isca? O povo da
Ucrânia. A continuar nesse ritmo em que a diplomacia serve de fachada aos
preparativos bélicos, restará à Rússia somente duas opções: a guerra – e, necessariamente, uma guerra rápida, contundente
e decisiva – ou a paz, que poderá equivaler a uma rendição.
O mais sério e responsável artigo que li até agora sobre as armadilhas que envolvem a Ucrânia. Grande maturidade. Uma visão política necessária para ainda tentar salvar alguma coisa nessa política atroz e imperialista vinda do nosso "irmão do norte". Deve ser publicado em algum jornal do centro do país com urgência, notadamente na imprensa alternativa.
ResponderExcluirMuito boa a continuação sobre a Ucrânia e países envolvidos. Aos poucos vou me inteirando. Parabéns!
ResponderExcluirSerá que um futuro nebuloso se avizinha? Longe de mim o pessimismo mas devemos temer que este seja o estopim para a 3ª Guerra Mundial, haja vista que as chamadas grandes nações, em defesa de seus mesquinhos interesses queiram oportunamente exibir seu poderio bélico.
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